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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Ribeiro Couto - BIBLIOTECA NM
Rui Ribeiro Couto (16-[38])

Clique na imagem para ir ao índice desta obraUma das principais obras de Rui Ribeiro Couto é o romance Cabocla, aqui transcrito em primeira edição digital, a partir do livro publicado em 1945 (terceira edição) pela Livraria Sá da costa Editora, de Lisboa, Portugal, com prefácio de João de Barros, sendo todos os exemplares autenticados com as rubricas do autor e editores. A obra faz parte do acervo de Rafael Moraes transferido à Secretaria Municipal de Cultura de Santos e cedida a Novo Milênio pelo secretário Raul Christiano para digitação/digitalização (ortografia atualizada nesta transcrição - páginas 185 a 187):

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Cabocla

Ribeiro Couto

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XXXVII- Más línguas

No outro dia, ainda cedo, voltei à Vila. Se tudo estava acabado só me restava seguir para diante. Para o Rio? Para a Europa? A vida devia recomeçar, o episódio sertanejo chegara ao fim.

Prima Emerenciana me viu entrar e ficou confusa. Atrás estava alguém que ela procurava esconder de mim. Só então compreendi que a prima era a responsável exclusiva do retraimento de Zuca e que aquela reclusão no quarto, que impusera à afilhada, era para me fazer partir... já eu era demais na casa...

- Então que é isso, por aqui outra vez? - indagou a prima com desusada secura.

- Estou de passagem. Vou pegar o trem no Pau d'Alho.

- Ah!

Foi a vez de Zuca avançar um passo, vir a mim com a mão estendida, sorrindo com ar de mágoa, um pouco pálida. Não sei dizer o que senti. Estava vestida como quem vai sair. Onde ia, àquela hora: Tive a impressão de um bem que me pertencia e voltava a mim - um bem que a minha ausência fizera adoecer de saudade.

Prima Emerenciana tinha-se arranjado para afastá-la da Vila, com receio das más línguas. Zuca estava à espera da condução que ia levá-la ao Pau d'Alho.

- Não precisa, eu vou - ofereci audacioso.

Prima Emerenciana olhou-me com reprovação:

- Não esqueça que estamos na roça e que Zuca é uma moça noiva

Olhei, pela janela, o fordinho parado à porta, o fordinho que naquele instante me inspirava uma ternura inexplicável.

- Ela vai para o Pau d'Alho, mas não é você que a leva, é o Anastácio - explicou a prima com autoridade.

As crianças lá dentro fizeram berreiro. Prima Emerenciana correu para ver o que era. Ficamos os dois na sala, Zuca e eu, um com os olhos no outro, em silêncio.

Todo o meu ser era um apelo: apertá-la contra o peito. Cheguei-me para perto dela.

- Então? - perguntei apenas, sem saber o que perguntava.

Zuca deu de ombros, sorriu triste.

- Venha comigo - murmurei, saindo sem barulho.

Ela me acompanhou em silêncio. Na porta da igreja, o vigário, o Xéxéu e o capitão Macário, surpresos, mal corresponderam ao meu cumprimento.

O fordinho partiu, atravessou a praça, levantando poeira e escândalo. Às portas, pessoas olhavam, admiradas de nos ver um ao lado do outro; como era possível que a comadre Emerenciana permitisse aquilo?