XXXVII- Más línguas
No outro dia, ainda cedo, voltei à Vila. Se tudo estava acabado
só me restava seguir para diante. Para o Rio? Para a Europa? A vida devia recomeçar, o episódio sertanejo chegara ao fim.
Prima Emerenciana me viu entrar e ficou confusa. Atrás estava alguém que ela procurava esconder de mim. Só então compreendi que a prima era a
responsável exclusiva do retraimento de Zuca e que aquela reclusão no quarto, que impusera à afilhada, era para me fazer partir... já eu era demais na casa...
- Então que é isso, por aqui outra vez? - indagou a prima com desusada secura.
- Estou de passagem. Vou pegar o trem no Pau d'Alho.
- Ah!
Foi a vez de Zuca avançar um passo, vir a mim com a mão estendida, sorrindo com ar de mágoa, um pouco pálida. Não sei dizer o que senti. Estava
vestida como quem vai sair. Onde ia, àquela hora: Tive a impressão de um bem que me pertencia e voltava a mim - um bem que a minha ausência fizera adoecer de saudade.
Prima Emerenciana tinha-se arranjado para afastá-la da Vila, com receio das más línguas. Zuca estava à espera da condução que ia levá-la ao Pau
d'Alho.
- Não precisa, eu vou - ofereci audacioso.
Prima Emerenciana olhou-me com reprovação:
- Não esqueça que estamos na roça e que Zuca é uma moça noiva
Olhei, pela janela, o fordinho parado à porta, o fordinho que naquele instante me inspirava uma ternura inexplicável.
- Ela vai para o Pau d'Alho, mas não é você que a leva, é o Anastácio - explicou a prima com autoridade.
As crianças lá dentro fizeram berreiro. Prima Emerenciana correu para ver o que era. Ficamos os dois na sala, Zuca e eu, um com os olhos no outro, em
silêncio.
Todo o meu ser era um apelo: apertá-la contra o peito. Cheguei-me para perto dela.
- Então? - perguntei apenas, sem saber o que perguntava.
Zuca deu de ombros, sorriu triste.
- Venha comigo - murmurei, saindo sem barulho.
Ela me acompanhou em silêncio. Na porta da igreja, o vigário, o Xéxéu e o capitão Macário, surpresos, mal corresponderam ao meu cumprimento.
O fordinho partiu, atravessou a praça, levantando poeira e escândalo. Às portas, pessoas olhavam, admiradas de nos ver um ao lado do outro; como era
possível que a comadre Emerenciana permitisse aquilo? |