XVII - Regresso debaixo de chuva
Eu não lhe disse, seu doido, que não tomasse chuva: Ah,
Jerónimo, que é que eu agora vou dizer a seu pai!
Desta vez o caso era sério. Prima Emerenciana estava nervosíssima com a congestão violenta que eu apanhara, sob a chuva, por ter insistido em sair de
manhã no Pigarço, aproveitando uma estiada ilusória.
O dr. Teles viera de Vila da Mata e achara conveniente a aplicação de ventosas sarjadas. Prima Emerenciana tinha horror a esse nome: ventosas sarjadas.
Na sua imaginação, tratava-se de uma verdadeira tortura, um sistema diabólico de medicação. Não quis olhar quando o médico, nas minhas costas nuas, disparou o aparelhozinho cortante, aplicando na carne, sobre os finos talhos invisíveis, a ampola de
vidro, que chupou o sangue.
Pedi que não escrevessem nada a meu pai, aquilo passaria logo.
À noite, nos conciliábulos em surdina da sala de jantar, percebi que se tramava a separação de pratos e talheres, pelo receio de contágio. Sofri.
Fosse tudo por amor das crianças, que eu decerto agora não poderia mais beijar. O médico dissera que o meu estado era grave, mesmo que a congestão cedesse logo.
Prima Emerenciana se queixou de dores no ventre. Era uma ameaça de aborto, devido ao susto e à contrariedade; em vista disso, o dr. Teles teve que
tornar à noite à fazenda, fora de horas, com uma valise cheia de ferrinhos; mas não foi preciso intervir, porque as dores passaram.
Primo Boanerges estava tratando da política em Vitória e o Anastácio foi no Pigarço ao Pau d'Alho levar um telegrama, chamando-o.
Siá Bina, sabendo do incômodo da comadre, mandou Zuca voltar à fazenda para fazer companhia, tanto mais agora. Tobias Pinto partiu, deixando o
casamento ajustado para o próximo abril.
Zuca chegou debaixo de chuva no fordinho conduzido pelo Tomé. Ergui-me da cama ao escutar o ronco do motor no terreiro e a algazarra da criançada na
varanda, festejando a moça.
Pela primeira vez chorei. |