Cabocla

Ribeiro Couto

IX - De Joaquim Vieira Pires, na Capital Federal, ao filho, na fazenda do Córrego Fundo

Meu querido filho,

Você não me tem escrito. Acho isso estranho da sua parte.

Fui há dias apresentado por um amigo, o Brown, do Cincinnati Bank, a uma moça que me riu muito no nariz, e logo me disse a razão. É a tal Pequetita, que há tempos, pelo telefone, eu tomei por alguma dançarina de clube. Fiquei vermelho até à raiz dos cabelos. "Nos somos velhos conhecidos!" disse ela. É muito irônica. Li nos jornais que vai recitar umas poesias em Petrópolis, numa festa de caridade, e sem que ela saiba de nada mandei comprar vinte cadeiras, para dar de presente a amigos. Como é que você nunca me falou dessa pequena: O Brown, achei-o muito caído por ela. E é pena, porque nunca vi ninguém com cara mais talhada para ser minha nora. Que lhe parece esta ideia?

Sobre o inventário de sua mãe: o nosso advogado, o besta do Linhares, disse-me que como você entrou na maioridade precisa ratificar a procuração que tem nos autos, assistido por mim. Veja portanto se quer continuar com esse moleirão ou se nomeia outro advogado. O escrivão me disse que o culpado de todos os atrasos tem sido o Linhares. Este diz que é o curador de órfãos, que agora não funcionará mais no processo. Fui falar com o curador, e ele acusou o escrivão. É um jogo de empurra de que ando enjoado! Tudo uma corja.

O mercado de açúcar melhorou. Estou com mais alento. Enfim, é preciso escorar os trancos da sorte. Paciência.

O dr. Esteves me viu ontem no Heim, ao almoço, e me pediu notícias suas. Eu disse que eram boas, visto que você não escreve.

Seguem as caixas de brinquedos para os priminhos, como me pediu há tempos. Veja se agradam. A boneca é de louça muito frágil e tenho receio que chegue em cacos. Os trenzinhos, soldados etc., é chumbo e lataria, correm menos perigo. Disse-me o empregado da casa que tudo seria bem acondicionado. Esperemos que assim suceda.

Lembranças para os bons primos e para você a bênção do seu extremoso pai

Joaquim.