V - De Joaquim Vieira Pires, na Capital Federal, ao filho, na fazenda do Córrego Fundo
Meu filho,
Tomei as duas assinaturas do "Jornal das Modas Femininas" e remeto hoje o terno preto, com as gravatas pedidas. Os 300$ seguem por intermédio do
correspondente, em Vila da Mata, do Banco Comercial do Distrito Federal. Procure, que a ordem deve ter chegado já. Peço-lhe que deixe de escrever cartas longas, verdadeiros testamentos, que nem tenho tempo de ler nem convêm à sua saúde. Estou
aborrecidíssimo com a queda do açúcar. O Ananias da Silva, aquele meu gerente que esteve doente há dois meses, morreu. Aqui tudo sem novidades. Não abuse do cavalo. Seja moderado em tudo. Ouça os conselhos dos nossos bons primos, a quem breve
escreverei e a quem peço que me recomende com muita consideração. Pese-se todas as semanas. Dei a sua carta ao dr. Edmundo Esteves, que se mostrou contente com o seu moral. O açúcar está arruinando muita gente aqui no Rio, mas eu farei frente à
tempestade, que remédio? O Moreira, que o ano passado procurou fazer-me mal na praça, faliu, coitado.
Abraços do seu pai que o estima
Joaquim.
Em tempo. Ontem telefonou para o escritório uma moça que disse chamar-se Pequetita, pedindo notícias suas. Como ignoro esse nome entre as moças das
suas relações, adivinhei logo que se tratava de alguma dançarina de cabaré e tratei de dizer que você não tenciona voltar ao Rio tão cedo, estando mesmo com ideias de se tornar fazendeiro. Ela soltou uma gargalhada no telefone e eu desliguei, pois
não admito essas coisas comigo.
Seu
Pai. |