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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Ribeiro Couto
Rui Ribeiro Couto (2)

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A biografia de Rui Ribeiro Couto foi publicada no terceiro volume da obra conjunta História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos Santos/Fernando Martins Lichti (Ed. Caudex Ltda., S. Vicente/SP, 1996):
 
Ribeiro Couto - dr.
(Ruy Ribeiro Couto)

Nasceu na cidade de Santos, a 12 de março de 1898, tendo freqüentado os primeiros anos da Escola Barnabé, passando depois para a Escola de Comércio José Bonifácio, onde se diplomou em 1914.

Em 1913 tiveram início suas primeiras colaborações na imprensa local, publicando artigos e pequenos trabalhos no Cidade de Santos e na revista A Fita. Em 1915 matriculou-se na Faculdade de São Paulo, passando a residir naquela cidade, trabalhando então como revisor no Jornal do Comércio em 1916 e depois, em 1917, na redação do Correio Paulistano.

No ano de 1918, Ribeiro Couto transferiu-se para o Rio de Janeiro, terminando lá, na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, em 1919, o seu curso de Direito. Trabalhou então, sucessivamente, em A Noite, A Época, A Gazeta de Notícias, Rio-Jornal, colaborando ao mesmo tempo em diversas revistas. Devido a problemas de saúde, em 1922, transferiu-se para Campos do Jordão, para repouso.

Em 1923 foi nomeado delegado de polícia de São Bento do Sapucaí, de onde foi removido para Cunha em 1924, seguindo depois para S. José do Barreiro como promotor público, passando daí, e sempre no mesmo cargo, para S. Bento do Sapucaí, Santa Branca e Areias.

No ano de 1926, residindo em Pouso Alto, Estado de Minas Gerais, foi nomeado promotor de Justiça da comarca, onde serviu até 1928, ano em que foi designado para o Consulado Geral do Brasil em Marselha, como auxiliar extranumerário.

Em 1929, foi efetivado no cargo. Serviu como vice-cônsul honorário até 1931, ano em que foi transferido para o Consulado Geral em Paris, de onde, sendo promovido a cônsul de terceira classe, veio para o Ministério das Relações Exteriores. Em 1934 foi promovido a cônsul de segunda classe e, logo em seguida, transferido para o Corpo Diplomático, como segundo-secretário de legação.

Durante a sua primeira permanência na Europa, foi correspondente do Jornal do Brasil e de O Globo e, de regresso ao Rio em 1932, entrou para a redação do Jornal do Brasil, à qual pertenceu até aproximadamente 1935.

Em 1933, foi Ribeiro Couto condecorado pelo Governo de Portugal, com o grau de Cavalheiro da Ordem de S. Thiago, e, a 10 de março de 1934, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em setembro de 1935, foi agraciado pelo Papa com o grau de Cavalheiro da Ordem de São Gregório.

Os primeiros versos de Ribeiro Couto foram produzidos aos 11 anos de idade, em 1909, mas data o seu primeiro soneto de 1912, e a partir desta época teve sempre uma produção literária destacada.

Foi colaborador de inúmeras revistas no Brasil, e no exterior em países como a Argentina, Uruguai, Portugal, França, Itália e outros, sendo numerosos os estudos que a respeito das suas obras têm sido publicados no Brasil e no estrangeiro, destacando-se, entre eles, no Brasil: Tristão de Atayde, Agripino Griecco, Antônio de Alcântara Machado, Manoel Bandeira, Múcio Leão, Medeiros e Albuquerque, João Ribeiro etc. ... e no exterior: Jean Duriau, Geordes Readers, Marcel Brion, Adolfo Casais Monteiro, Osório de Oliveira, Enrique Bustamante, J. Torrendell etc.

Por volta de 1936, ocupava o cargo de secretário da Embaixada do Brasil em Haia.

Como poeta e escritor, a sua obra é fecunda e variada, tendo publicado obras de poesia, romances, contos, crônicas, ensaios, peças teatrais, crítica literária, entre outros gêneros desenvolvidos por Ribeiro Couto, além de tradução de diversas obras de caráter literário e científico.

Na mesma obra, há também este resumo biográfico:

SÍNTESE ANTOLÓGICA DOS POETAS DE SANTOS
Rui Ribeiro Couto

Nasceu em Santos a 12 de março de 1898 e morreu em Paris, a 30 de maio de 1963. Seu nome literário é Ribeiro Couto. Estudou em Santos as primeiras letras. Formou-se em Direito. Adentrou à carreira diplomática, tendo sido cônsul em Genebra e embaixador em Haia e em Belgrado. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Artes de Lisboa. Foi, ainda jornalista e promotor de Justiça.

Editou dez livros de poesias entre 1921, "O jardim das confidências", e 1952, "Entre Mar e Rio". Editou "Os Poemetos de Ternura e Melancolia" (1924); "Um homem na multidão" (1926); "Canções de Amor" (1928); "Noroeste e outros poemas do Brasil" (1933); "Correspondência de Família" (1933); "Cancioneiro de Dom Afonso" (1939); "Cancioneiro do Ausente" (1943); "Entre Mar e Rio" (1952).

Lamentações do Caiçara

Minha infância é um porto, navios e bandeiras.
Diante de um cais comercial foi que nasci.
A gesticulação dos mastros que partiam
Dava-me o desejo das travessias aventureiras
E o monótono adeus que as sereias mugiam
Fazia-me sonhar com terras estrangeiras.

À noite, era longo o cais sonolento.
Luzinhas vermelhas picavam o escuro
E um cheiro de além chegava no vento.
Eu ficava a pensar - cismas de menino -
Que além desse escuro, além desse mar,
Um bem qualquer estava à espera do meu destino,
Um bem que se eu partisse iria encontrar.

Um bem esperado ainda hoje o não tenho,
Mas pelo mundo andei e até me perdi,
Agora, a um outro cais é que cismar eu venho
E fica noutro mar o porto em que nasci.
Irão até ele estas ondas que passam ligeiras?
Levarão meu corpo a uma praia com palmeiras?
Se levarem, posso morrer aqui.

 

Do livro "Longe", publicadas no jornal santista A Tribuna, 26 de março de 1964:

Travessia

É a sensação de um barco que naufraga
Este passar do incerto para o certo,
O descobrir do sol quando desperto
E logo a vida que vivi é vaga.

Por onde andei? Que misteriosa plaga?
Muito longe talvez, ou muito perto:
Um litoral em névoas encoberto
E um perfil de paisagem que se apaga.

Que fio do real prende este mundo
Ao mundo que acordado tenho à vista,
Pois que em ambos respiro e me confundo?

Na viagem que à noite recomeça
Já qualquer coisa agora me contrista
Mas não sei se a partida, ou se o regresso.

Comércio

Por onde andei? Quem navegou comigo?
Por mais perto que fosse, era lonjura
Esse país que o sono me procura
E cada noite me oferece abrigo.

Bandeiras vejo de nação obscura
Adormecidos cais de um porto antigo;
Sempre me esperam braços de um amigo
Esbatidos num corpo sem figura.

Devo ter feito uma fortuna imensa.
É tudo meu nos armazéns de bruma
Não há navio que me não pertença.

De olhos cerrados ao clarear do dia,
Sinto fugir-me o porto que se esfuma,
Onde escondi minha mercadoria.

Meu mar

Este não é meu mar, o mar sereno,
Aquele que em segredo ainda me banha
Porque a praia dos dias de pequeno
É que salga meu sangue em cada entranha.

Aquele sim, mar de país moreno,
Água gentil que me não era estranha,
Chama de longe, posso ver-lhe o aceno
- Areia e coqueirais junto à montanha.

Este que tenho à vista e enfurecido
Cobre de espumas o penhasco escuro,
Não sei que quer de mim no seu rugido:

Rolam nos vagalhões olhos de espanto
E abrem-se bocas em que em vão procura
Vozes do mar que foi meu acalanto.

Litoral

À noite, no refúgio que me faço
Num mar de nuvens me descubro imerso,
Digo palavras tantas pelo espaço
E de cada palavra nasce um verso.

Se um braço estendo, já não é meu braço,
É qualquer coisa solta no universo;
Se me quero mover me despedaço
E em mim mesmo ficando estou disperso.

Surpreso, volto ao natural de em torno:
No quarto claro a luz me acaricia,
Tudo tem sua forma e seu contorno.

Daquele mar noturno enfim liberto,
Deste, na praia ao sol vem a alegria,
Posso nele saltar de peito aberto.

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