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Pagu
A vida da jornalista escritora Patrícia Galvão foi rica em experiências. Boas e ruins.
A mulher considerada musa do Movimento Modernista tornou-se, depois, segurança do Partido Comunista, foi presa 23 vezes, viajou o mundo, trouxe a
soja ao Brasil e viveu em Santos os últimos 22 anos de sua vida
Gustavo Klein
Da Redação
Patrícia Galvão era uma
mulher tão plural que abrigava tantas, que a tarefa de lhe definir é inglória e destinada ao fracasso. Era movida por paixão, por uma dedicação
fervorosa aos próprios interesses que beirava a religiosa. Foi assim, por exemplo, com a militância política no Partido Comunista, que depois
refutou com a mesma veemência.
Tinha personalidade e nenhum medo de assumir as conseqüências do que fazia. Em plena década de 20,
fumava na rua, um escândalo. Usava blusas transparentes. Falava palavrões. Ainda assim, era respeitada por sua grandeza.
Sua vida é repleta de episódios marcantes, polêmicos e interessantes. Viajou à China e conheceu o
último imperador, Pu-Yi, de quem recebeu sementes de soja que trouxe para o Brasil e deu início ao cultivo da planta por aqui. Participou do
movimento modernista e se casou com um de seus ícones, Oswald de Andrade. Foi presa 23 vezes por conta do envolvimento com o Partido Comunista.
Em um quarto alugado no bairro do Boqueirão, passa com o
filho alguns de seus momentos mais felizes. Depois, na vida tumultuada que viveu, pouco pôde conviver com Rudá, que morou desde pequeno com o pai,
Oswald de Andrade, e suas várias mulheres
Foto: Acervo Geraldo Galvão Ferraz,
publicada com a matéria
Imagens de dias felizes - ou nem tanto - de uma mulher à frente de seu tempo
Uma vida que renderia um bom roteiro de filme. Pagu chegou a ser retratada, em 1988, em uma
(terrível e polêmica) produção: Eternamente Pagu, dirigida por Norma Benguell, que teve Carla Camurati como protagonista.
Mas, em meio a todas essas viagens e andanças, ela própria definiu: viveu na cidade de Santos seus
momentos mais felizes, ao lado do filho Rudá, em seu quartinho cheio de chuva, ainda uma jovem recém-casada, no início da década de 1930.
Foi também em Santos que passou alguns de seus piores dias, presa na pior
cadeia do continente, na Praça dos Andradas. É a cidade à qual voltou para viver seus últimos anos de vida,
trabalhando em A Tribuna e casada com o também jornalista Geraldo Ferraz.
Na semana em que se comemora o centenário de seu nascimento (próximo dia 9, quarta-feira), A
Tribuna publica imagens inéditas de Pagu em Santos. Elas fazem parte da fotobiografia Viva Pagu, de Lúcia Teixeira Furlani e
Geraldo Galvão Ferraz (filho de Pagu), que será lançada em breve, ainda dentro das comemorações do centenário.
O material reúne mais de 400 imagens, documentos e fotos inéditas. As que ilustram esta página
foram cedidas para publicação pela autora do livro, com exclusividade.
Na edição de quarta-feira de A Tribuna, o leitor confere uma
entrevista com Lúcia Teixeira (uma dedicada pesquisadora de Pagu), que mostra as diversas facetas desta mulher extraordinária, que marcou a
história do Brasil e faz parte daquele seleto grupo de pessoas que, de fato, saíram da vida e entraram para a história.
Pagu freqüentava as praias de Santos desde muito jovem, com a família. Já adolescente, veio
a Santos diversas vezes com amigas e, boa nadadora, fazia a travessia do canal de Santos. Foi aqui também que passou suas duas luas-de-mel, com
Oswald de Andrade e Geraldo Ferraz
Foto: Acervo Geraldo Galvão Ferraz,
publicada com a matéria
Em 1931 se torna a primeira mulher presa na luta política, em uma manifestação na Praça da
República. Fica detida na "pior cadeia do continente", hoje conhecida como cadeia Velha, na Praça dos Andradas. É a primeira das 23 prisões de
Pagu por motivos políticos
Foto: Acervo Lúcia Maria Teixeira Furlani,
publicada com a matéria
Um dos croquis de Pagu, produzidos entre 1929 1930, que fazem parte do acervo da
própria Lúcia Teixeira Furlani e já foram, também, lançados em livro. Retrata, nos traços até um pouco infantis, a visão de Pagu do
Morro Nova Cintra (N.E.:
Morro São Bento, citado na imagem)
Foto: Acervo Geraldo Galvão Ferraz,
publicada com a matéria
Linha do Tempo - momentos marcantes da vida de Pagu
1910 - Nasce Patrícia Rehder Galvão em São João da Boa Vista, no dia 9 de
junho
1925 - Aos 15 anos, passa a colaborar no Brás Jornal, assinando
Patsy.
1928 - Aos 18 anos integrar o movimento antropofágico, de cunho modernista,
sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. É logo considerada a musa do movimento.
1930 - Oswald separa-se de Tarsila e casa-se com Pagu, um escândalo
para a sociedade. Ainda neste ano, nasce Rudá de Andrade, segundo filho de Oswald e primeiro de Pagu. Os dois se tornam militantes do Partido
Comunista.
1935 - É presa em Paris como comunista estrangeira, com identidade falsa, e é
repatriada para o Brasil. Separa-se de Oswald, retoma a atividade jornalística, mas é presa e torturada. Fica na cadeia por cinco anos. Sai em 1940,
muda-se para Santos e passa a trabalhar em A Tribuna.
1952 - Freqüenta a Escola de Arte Dramática de São Paulo, trazendo seus
espetáculos a Santos. Traduziu e dirigiu Fando e Liz, de Arrabal, numa montagem amadora onde estreava um jovem artista:
Plínio Marcos,
1962 - Morre em 12 de dezembro, em decorrência de um câncer.
Imagem: reprodução parcial da matéria
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