PAGU INÉDITA
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O resgate de Pagu
Eugênio Martins Júnior
Escritora,
jornalista, ativista política, apaixonada pelas artes e pela vida, Patrícia Galvão foi, sem dúvida, uma das personalidades mais importantes da
história santista e - por que não dizer? - brasileira do século passado.
Após um período de esquecimento, sua vida e obra vêm sendo resgatadas pelas mãos de duas mulheres:
a jornalista Márcia Costa e a professora Lúcia Maria Teixeira Furlani.
A dissertação de mestrado Jornalismo Cultural: A Produção de Patrícia Galvão no Jornal A
Tribuna, da jornalista Márcia Costa, analisa a produção de Pagu entre 1954 e 1962, aprofundando-se na coluna Literatura, do
suplemento A Tribuna, publicado sempre aos domingos, entre 1957 e 1961. Já a professora Lúcia, cujo interesse por Pagu em 20 anos de
pesquisa rendeu duas obras e a criação do Centro de Estudos Pagu, na Unisanta, está prestes a lançar
No Angu de Pagu - Uma Fotobiografia, pelas editoras Santa Cecília/Cosacnaify. A previsão de lançamento é para agosto.
São duas visões distintas com a sensibilidade que somente as mulheres poderiam imprimir ao
pesquisar a vida agitada de Pagu. Porém, sem esquecer o rigor histórico que os temas exigem.
Em dois anos de pesquisa, a jornalista Márcia Costa compilou, em mais de 200 páginas, informações
preciosas sobre a produção jornalística de Patrícia Galvão, como quando Pagu chegou a criar quatro colunas sobre cultura, entre elas a
primeira do Brasil a falar sobre televisão.
"A maior produção de Pagu foi mesmo como jornalista. Ela escreveu em jornais por mais de 30
anos e em todo o País sua palavra era respeitada nos meios culturais. Sua casa era freqüentada por Jorge Amado e Érico Veríssimo. Além deles, Sábato
Magaldi, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Antunes Filho também faziam parte de seu círculo de amizade", diz a autora da dissertação.
Outra faceta revelada no trabalho de Márcia Costa é a generosidade de Patrícia Galvão com os novos
talentos. Na verdade, como lembra a autora, não era bem generosidade, "Pagu sabia reconhecer o talento dos novos escritores, foi a primeira a
elogiar o trabalho de Clarice Lispector, e a bancar com seu prestígio o jovem Plínio Marcos".
Além dessas informações, a dissertação mostra ainda que na época em que Pagu passou por
A Tribuna, o jornal possuía um time de colunistas de peso, o que valoriza ainda mais seus textos como ativista cultural. Escreviam Otto Maria
Carpeaux, Carlos Drummond de Andrade e Narciso de Andrade.
Para realizar seu trabalho, Márcia entrevistou 17 pessoas, entre elas o jornalista Geraldo Galvão
Ferraz, filho de Pagu com o também jornalista Geraldo Ferraz; Augusto de Campos, Narciso de Andrade, Júlio Bittencourt, Gilberto Mendes, Willy
Correia de Oliveira, Flávio Viegas Amoreira, Cid Marcos Vasquez e o brasilianista David K. Jackson, além de consultar o precioso acervo da
professora Lúcia Maria Teixeira Furlani.
Fotografia da década de 1950, quando Patrícia Galvão trabalhava como jornalista
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Guardiã do legado
Depositária da confiança da família de Pagu, Lúcia guarda com carinho e cuidado manuscritos
produzidos há décadas pela ativista cultural modernista, além de fotos e documentos usados em No Angu de Pagu.
Em um primoroso trabalho de resgate, todas as imagens estão dispostas em ordem cronológica e são,
uma a uma, seguidas por explicações rápidas, mas esclarecedoras. Estão ali, por exemplo, sua primeira foto com Oswald de Andrade, na Bahia; seu
passaporte da época em que, perseguida por ser comunista, se viu obrigada ao auto-exílio; e até uma radiografia da face com um projétil alojado,
fruto de uma tentativa de suicídio mal-sucedida.
"Nossa principal preocupação foi contextualizar todos os documentos, para melhor entendimento do
leitor", explica a autora que, na obra, reuniu mais de 253 imagens, muitas vindo à luz pela primeira vez. Segundo Lúcia, cerca de 80% do que há
nesse "angu" nunca foi publicado.
Há também o prefácio do sobrinho de Patrícia, o jornalista Clóvis Galvão, hoje em A Tribuna,
e ainda um poema inédito de Rudá de Andrade, filho do primeiro casamento, com Oswald de Andrade. O poema se chama "Homenagem às loucuras de minha
mãe", e prova que o filho, deixado aos cuidados do pai, Oswald, não guardou os mesmos ressentimentos que os detratores de Patrícia Galvão.
O trabalho da professora não se limita a guardar os documentos doados pela família de Pagu.
No momento, o centro de pesquisas está empenhado em recuperar e digitalizar mais de 2.300 documentos recolhidos pela pesquisadora ao longo dos 20
anos de busca em todo o Brasil.
Ela afirma que ainda há muita coisa a ser dita sobre a obra de Pagu. Outro trabalho em
andamento é o que está sendo realizado em conjunto com o norte-americano David K. Jackson, estudioso sobre a obra de Patrícia Galvão. "Dessa vez,
será uma obra de peso, cinco volumes com muito material inédito", avisa.
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Exposição - A história mais uma vez se vinga e a cadeia
que um dia aprisionou a comunista Patrícia Galvão e que agora foi transformada em um centro cultural que leva o seu nome, recebe, a partir do dia
24, a exposição Croquis de Pagu. A mostra reúne letras de poemas, músicas e 55 gravuras já publicadas em um livro homônimo de Lúcia Maria
Teixeira Furlani. Na abertura, dia 24, às 19h30, a professora fará a leitura dramática de um texto inédito de Patrícia Galvão.
Márcia Costa e Lúcia Teixeira Furlani: trabalhos resgatam importância da trajetória de Pagu
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