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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - PAGU
Patrícia Galvão (8)

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Artigo publicado na seção Tribuna Livre do jornal santista A Tribuna, em 25 de julho de 2005:
 


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Pagu resgatada

Adelto Gonçalves (*)
Colaborador

A professora Lúcia Maria Teixeira Furlani é, hoje, a maior especialista na obra e na vida de Patrícia Galvão (1910-1962), a Pagu, musa do Movimento Antropofágico, que foi casada com Oswald de Andrade (1890-1954) e Geraldo Ferraz (1903-1979). Depois de lançar em 1999 Pagu - Patrícia Galvão: livre na imaginação, no espaço e no tempo (São Paulo, Editora Unisanta), que já está em quinta edição, publicou em 2004 Croquis de Pagu e outros momentos felizes que foram devorados reunidos (São Paulo, Editora Cortez/Editora da Unisanta) em que organizou desenhos produzidos pela artista entre 1929 e 1930.

Além disso, desde 18 de maio, por iniciativa da autora, está no ar o site www.pagu.com.br, que reúne artigos, poemas, dados biográficos, trechos de livros e muitas fotografias de Pagu. Também foi lançado nesse dia, na Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos, o Centro de Estudos Pagu, que tem por objetivo resgatar a memória de Patrícia Galvão, além de preservar e difundir a cultura brasileira.

Organizado por Lúcia Teixeira com a colaboração de Rudá de Andrade, filho de Pagu com Oswald de Andrade, e da jornalista Leda Rita Cintra Ferraz, Croquis de Pagu tem prefácio do jornalista e crítico de livros e cinema Geraldo Galvão Ferraz, filho da homenageada com Geraldo Ferraz. Para a organizadora, Patrícia Galvão, sem fazer carreira artística, foi "uma personalidade rara, rebelde e inovadora na vida, na arte e na cultura, em todos estes domínios: jornalismo, poesia, romance, desenho, crítica de artes, política militante, dissidência política".

 

Desenhos ficaram guardados durante décadas

 

O livro reúne 23 desenhos do Caderno de Croquis de Pagu, a maioria dos quais possui legendas do próprio punho da artista. Traz também o Álbum de Pagu, produção pertencente ao mesmo período do Caderno, quando ela emergiu no Modernismo, mais precisamente na Antropofagia, sob a influência de Oswald e da pintora Tarsila do Amaral.

O movimento da Antropofagia, alegoricamente, baseava-se no exemplo dos índios caetés que devoraram o padre português Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil, no litoral de Alagoas em 1556, depois de um naufrágio, para argumentar que o intelectual brasileiro deveria, primeiro, digerir as idéias européias para, depois, produzir suas próprias criações. Seu veículo de expressão foi a Revista da Antropofagia, de 1929.

Os desenhos do Caderno de Croquis de Pagu, um tanto ingênuos, ficaram guardados por anos com o filho de Patrícia Galvão, Rudá de Andrade que, em 2001, dirigiu com Marcelo Tassara um documentário baseado no livro Pagu - livre na imaginação, no espaço e no tempo, de Lúcia Teixeira, e, por isso, com o mesmo título. Já os desenhos do Álbum de Pagu haviam sido publicados por Augusto de Campos em Pagu: vida-obra (São Paulo, Brasiliense, 1982).

Patrícia Rehder Galvão, nascida em São João da Boa Vista-SP, foi jornalista, escritora, animadora cultural e militante política. Como jornalista, trabalhou no Diário da Noite, A Fanfulha, Diário de S. Paulo, Correio da Manhã, A Tribuna, de Santos, e Agência France-Presse, em São Paulo. Publicou os romances Parque Industrial (edição da autora, 1933), sob o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista (Americ Edit., 1945), em colaboração com Geraldo Ferraz.

Parque Industrial foi publicado nos Estados Unidos, em tradução de Kenneth David Jackson em 1994 pela editora da University of Nebraska. Seus contos policiais, escritos sob o pseudônimo King Shelter e publicados originalmente na revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980), foram reunidos em Safra Macabra (Livraria José Olympio Editora, 1998). Como animadora cultural, traduziu grandes autores até então inéditos no Brasil como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz. Teve um trabalho marcante como incentivadora do teatro amador, especialmente em Santos. Finalmente, como ativista política e membro do Partido Comunista Brasileiro, combateu a ditadura de Getúlio Vargas, o que lhe valeu 23 prisões.

Doutora e mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, Lúcia Maria Teixeira Furlani é diretora-presidente do Instituto Superior de Educação Santa Cecília, que mantém a Universidade Santa Cecília. Publicou também A claridade da noite - os alunos do ensino superior particular noturno (Cortez, 2004) e Fruto proibido - um olhar sobre a mulher (Pioneira/Unisanta, 1992).

(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo.

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