GENTE E COISAS DA CIDADE
Museu de Pesca
Lydia Federici
Se duvidarem, peguem um guia de turismo. Como isso é quase impossível, procurem na página IX da Lista Telefônica. Está lá. Sob o título de ‘roteiro turístico”. Uma das 18 curiosidades que um turista ovidadeiro pode visitar. Diz assim a breve nota: Museu de Pesca. Localizado na Bartolomeu de Gusmão, na Ponta da Praia. Instituição que mantém um mostruário de exemplares da fauna marinha. Com seções de utensílios de pesca. Toda a história da navegação. Mostrada em miniaturas. E em cujo prédio funciona escola de pesca e náutica. Para os que querem se dedicar à vida no mar.
E é isso mesmo. Basta ir à Ponta da Praia. Um pouco antes do balão dos bondes, há um casarão antigo. De frente comprida. Larga como quê. Na fachada de um amarelo triste, abrem-se granes janelas. Mais altas que largas. E que, apesar de abertas, só nos mostram a escuridão de salas de teto alto. E escuro.
De pitoresco, ali, visto de fora, só aparece um grande mastro. Enforquilhado como o de navio. Mas essa curiosidade perde toda sua beleza. Por motivo de cor. Um mastro cinzento contra uma parede triste, não chama a atenção de ninguém. Todo o orgulho de seu tamanho, toda a altivez de seu rendilhado forte, desaparecem. Transforma-se num monumento sem graça. Nem bandeiras, desfraldadas ao vento constante da Ponta da Praia, lhe melhoram a beleza das linhas. A força do significado.
E, na frente de tudo isso, piorando o aspecto total, surge um pretenso jardim. São gramados sem grama. Gramados de maio. A dar ideia de desleixo. De abandono. Dois ou três vasos com palmeiras amarelas, raquíticas, colocados na bela escadaria de entrada, em lugar de dar um ar de festa, aumentam o aspecto de abandono.
Sim. Isso é o que se vê por fora. E por ser, externamente, um local pouco cuidado, não tem o condão de despertar a curiosidade. Nem provoca o desejo de uma visita. Não convida a entrar. Quem por ali passa, a fazer horas, se chega a ver e a saber que o prédio é Museu de Pesca, dificilmente sentirá vontade de visitar-lhe a exposição.
Mas por que? Porque, querendo ou não, à força de ver coisas belas, há, indubitavelmente, uma melhoria em nosso gosto. Entre uma loja bem iluminada e outra às escuras, qual preferimos? Entre uma casa risonha e outra macambúzia, qual a que nos prende o olhar? Entre um jardim enfeitado e outro coberto de mato, qual o que nos convida a sonhar? Uma cara cinzena e triste nos chamará mais a atenção que outra toda feliz?
É isso que acontece com o Museu de Pesca. É escuro, sem cor, com ar de abandono. Triste. Enganados pela aparência externa, dificilmente sentimos vontade de visita-lo. O que é uma pena. Mais que pena. Um verdadeiro pecado. Porque o que há lá por dentro é cosia que merece ser vista por qualquer santista. Além de mostruário, é um hino ao mar.
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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