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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 417)

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Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 22 de maio de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Museu de Pesca

Lydia Federici

Se duvidarem, peguem um guia de turismo. Como isso é quase impossível, procurem na página IX da Lista Telefônica. Está lá. Sob o título de ‘roteiro turístico”. Uma das 18 curiosidades que um turista ovidadeiro pode visitar. Diz assim a breve nota: Museu de Pesca. Localizado na Bartolomeu de Gusmão, na Ponta da Praia. Instituição que mantém um mostruário de exemplares da fauna marinha. Com seções de utensílios de pesca. Toda a história da navegação. Mostrada em miniaturas. E em cujo prédio funciona escola de pesca e náutica. Para os que querem se dedicar à vida no mar.

E é isso mesmo. Basta ir à Ponta da Praia. Um pouco antes do balão dos bondes, há um casarão antigo. De frente comprida. Larga como quê. Na fachada de um amarelo triste, abrem-se granes janelas. Mais altas que largas. E que, apesar de abertas, só nos mostram a escuridão de salas de teto alto. E escuro.

De pitoresco, ali, visto de fora, só aparece um grande mastro. Enforquilhado como o de navio. Mas essa curiosidade perde toda sua beleza. Por motivo de cor. Um mastro cinzento contra uma parede triste, não chama a atenção de ninguém. Todo o orgulho de seu tamanho, toda a altivez de seu rendilhado forte, desaparecem. Transforma-se num monumento sem graça. Nem bandeiras, desfraldadas ao vento constante da Ponta da Praia, lhe melhoram a beleza das linhas. A força do significado.

E, na frente de tudo isso, piorando o aspecto total, surge um pretenso jardim. São gramados sem grama. Gramados de maio. A dar ideia de desleixo. De abandono. Dois ou três vasos com palmeiras amarelas, raquíticas, colocados na bela escadaria de entrada, em lugar de dar um ar de festa, aumentam o aspecto de abandono.

Sim. Isso é o que se vê por fora. E por ser, externamente, um local pouco cuidado, não tem o condão de despertar a curiosidade. Nem provoca o desejo de uma visita. Não convida a entrar. Quem por ali passa, a fazer horas, se chega a ver e a saber que o prédio é Museu de Pesca, dificilmente sentirá vontade de visitar-lhe a exposição.

Mas por que? Porque, querendo ou não, à força de ver coisas belas, há, indubitavelmente, uma melhoria em nosso gosto. Entre uma loja bem iluminada e outra às escuras, qual preferimos? Entre uma casa risonha e outra macambúzia, qual a que nos prende o olhar? Entre um jardim enfeitado e outro coberto de mato, qual o que nos convida a sonhar? Uma cara cinzena e triste nos chamará mais a atenção que outra toda feliz?

É isso que acontece com o Museu de Pesca. É escuro, sem cor, com ar de abandono. Triste. Enganados pela aparência externa, dificilmente sentimos vontade de visita-lo. O que é uma pena. Mais que pena. Um verdadeiro pecado. Porque o que há lá por dentro é cosia que merece ser vista por qualquer santista. Além de mostruário, é um hino ao mar.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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