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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 1)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 24 de dezembro de 1961 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

Lydia Federici, diariamente

Os leitores desta folha passarão a contar, diariamente, a partir desta data, com uma crônica de Lydia Federici. Todos aqueles que já se habituaram a encontrar, na seção de esportes de A Tribuna, a colaboração de Lydia Federici abordando aspectos da vida esportiva feminina em Santos, terão a oportunidade, agora, de vê-la escrever a respeito das coisas, dos fatos, dos aspectos, dos detalhes e da gente da cidade. Seu trabalho de hoje, o primeiro de uma série que se estenderá ao correr do tempo, é amostra válida do nível de qualidade a que se acostumarão os leitores a encontrar em nossas páginas, nos escritos de Lydia Federici.

GENTE E COISAS DA CIDADE

Zangarêlho

Lydia Federici

Fazia calor na escuridão tranquila da noite.

Dois homens, de shorts e camisa, um carregando ao ombro uma coisa parecida com rede, passam em direção à praia. Não eram os primeiros naquela noite. Mas que rede esquisita era aquela? Picaré não era. Que picaré é grande e os que o carregam verga nas costas ao peso da vara sobre a qual, ensanfonada, balança a rede comprida. Puçá também não.

Na sétima rede, gloriosamente empunhada, a moça reconheceu, nos carregadores, uns conhecidos de rua acima. Principalmente o Néco, tão esquivo. Num impulso gritou: "Ei, vocês aí. Esperem um instante". Pulou, rápida, da mureta do terraço, puxando para baixo a bainha do short curto. Mal cumprimentou os rapazes sorridentes, na curiosidade de ver a rede, em forma de meia lua, no ombro do Néco. "Que novidade é essa? Picaré de bebê?" Seus olhos, zombeteiros, brilhavam.

"Não. Apenas de malandro. Grande invenção", responderam os outros.

"Mas pega peixe? Ou é pretexto pra ir à praia? Sozinhos?

"Ora. Quando há peixe é lógico que pega. Mas é boa mesmo pra camarão. Ontem, em três arrastadas, agarramos uns 12 quilos do 'sete barbas'. Não foi, Néco? E, na outra noite, um sujeito de sorte, sozinho na praia, pegou pra mais de 60 quilos. Foi ou não foi, Néco?" A moça sorriu. O rapaz também, coçando o queixo.

"De onde saiu isso? Como se chama?", insistiu ela, na sua fala mansa para arrefecer a pressa dos pescadores, que se remexiam, inquietos.

"Uns chamam de zangarêlho. Outros de puçá catarinense. O cara que inventou isso não gostava de fazer força. "Quer ver como é leve?" A mão do rapaz roçou na da moça. "Mas rende bem, sabe? É por isso que todo mundo virou pescador. A mania pegou firme. E agora vamos ver se sobraram alguns camarões para nós". De longe, numa lembrança tardia: "Quando quiser experimentar, é só avisar".

Meia hora depois, passaram de volta, a roupa grudada no corpo.

"Neca de camarão, hoje. Só siri muito rampeiro". E seguiram. Com exceção de Néco, que perguntara à moça, meio hesitante: "Você gostaria de saber como se puxa o zangarêlho?"

Muito tempo depois, as explicações continuavam…


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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