Vegetação remanescente da Mata Atlântica, na encosta da Serra do Mar
Foto: foto-geógrafo César Cunha Ferreira, em 8/5/2004
O revestimento vegetal
ANDRADE, Maria Amélia Braga de, e LAMBERTI, Antonio. A Baixada Santista, aspectos geográficos. São Paulo, Editora da USP, 1965, vol. 1, p. 169 e seguintes.
1. VEGETAÇÃO DOS BREJOS DE ÁGUA DOCE:
No interior de Cubatão, em áreas protegidas, da invasão das águas do mar pelas "pinças de caranguejo" - vales do Mogi e Cubatão -, formam-se regiões brejosas, invadidas pelas águas dos
rios e dos riachos durante as chuvas. Aí se desenvolve uma vegetação conhecida como "vegetação dos brejos de água doce".
Aí encontramos algumas espécies comuns a todos os brejos do Estado de São Paulo. Entre as ervas mais comuns temos a taboa (Tipha dominguensis), várias espécies de gramíneas,
formando prados. Muitas espécies formam também florestas baixas, cujos componentes principais são: o ipê do brejo (Tabebuia umbellata), guanandi, jacareúba.
Entre as encontradas somente no litoral temos: a palmeira tucum, algumas variedades de ervas e arbustos como o algodoeiro de praia (hibiscus tiliaceus) e o vegetal mais
característico de Cubatão, cuja presença é constante na obra de Afonso Schmidt - Hedychium coronarium - o lírio do brejo.
Para alguns autores, entretanto, o lírio do brejo não parece ser nativo na região, mas sim corresponder a uma planta invasora.
Manacá-da-serra, jacatirão ou quaresmeira
Foto: folheto de divulgação turística: Jardim Botânico/Prefeitura Municipal de Santos - 1998
2. VEGETAÇÃO DAS ESCARPAS DA SERRA E DOS MORROS:
Essa vegetação corresponde à mata tropical, adaptada ao clima quente e úmido da região. Inicialmente uma vegetação intrincada, rica em espécies vegetais: lianas, epífitas, ervas,
arbustos, com o predomínio das árvores.
Entre os elementos arbóreos temos: embaúba-preta, araúba, embiruçu, amarelinho, muriois, cajarama, briúva, guatambu, brejaúva, indaiá, tucum, quaresmeira etc. A quaresmeira é também
chamada quaresma, manacá-da-serra e jacatirão. É uma árvore da família das Melastomáceas (Tibouchina mutalibiss Cogn.). Com o nome de Jacatirão, é presença constante nos livros de Afonso Schmidt inspirados no Cubatão.
Ver o trecho "A Serra do Mar" de Menino Felipe.
Aliás, nos outros trechos selecionados do mesmo autor, há belas descrições da natureza local, onde se pode perceber num todo, tal como aparece na realidade, e que aqui é
estudado isoladamente, por motivos práticos. Entre as lianas, temos: cipó suma, cipó do reino, sambaíba; arbustos: samambaia-ussu, urucurana etc. Ervas: taquarassu, navalha de macaco etc. Entre as epífitas contam-se inúmeras orquídeas
(1).
Essa vegetação foi em grande parte devastada, principalmente nos morros, para a exploração das pedreiras, ou substituída pelos bananais. A lenha também foi causa da sua devastação.
Estes trechos foram baseados nos trabalhos Vegetação dos Brejos de Água Doce e Vegetação das Escarpas da Serra e dos Morros, de M.A. Braga de Andrade e Antonio Lamberti;
A Baixada Santista, Aspectos Geográficos, vol. 1, S.P., Editora da USP., 1965.
Vegetação remanescente da Mata Atlântica, na encosta da Serra do Mar
Foto: foto-geógrafo César Cunha Ferreira, em 8/5/2004
O trecho seguinte nos oferece uma extraordinária visão dos manguezais:
3. VEGETAÇÃO DO MANGUE:
"Para imaginar-se a importância da vegetação do manguezal na região da Baixada Santista é suficiente atentar-se para a vasta área coberta por essa associação vegetal, cerca de 100 km²,
excluindo-se as zonas devastadas.
Cobrindo um solo areno-barrento, rico em matéria orgânica, surge essa vegetação bastante característica e de ampla distribuição geográfica, ocorrendo nas Américas, na África e na Ásia.
No Brasil, os manguezais aparecem em praticamente toda a orla marítima, chegando ao Sul do Estado de Santa Catarina, na região de Laguna, a cerca de 28º30' de latitude Sul.
As plantas dos mangues estão adaptadas essencialmente a dois fatores ambientes: o teor salino e a carência de oxigênio no solo. A falta de aeração do solo tem como determinantes
primordial sua inundação periódica pela água do mar.
Pelo baixo teor de oxigênio e pela pouca consistência do solo, poucos são os vegetais que ali medram. Aqueles que ali se adaptarem têm muito desenvolvido seu sistema radicular, que deve
funcionar não só para aumentar a superfície de sustentação da planta, como também, para oferecer maior área para as trocas gasosas. Surgem assim as raízes escoras e os pneumatóforos, destinados a cada uma daquelas importantes funções.
Não são todas as plantas que exibem esses dois tipos de raízes. Em Rhizophora (mangue branco), as raízes escoras nascem ao longo do tronco e dirigindo-se ao sol como verdadeiros arcos,
ramificando-se a poucos centímetros da superfície. Pneumatóforos são pequenas raízes com cerca de 10 cm de comprimento por 1,5 cm de diâmetro e que saem para fora do solo em posição vertical. Ocorrem abundantemente em Avicennia (mangue branco).
Lembram dedos apontando o céu.
Quem observa um manguezal na maré alta, vê praticamente só as copas das árvores e arbustos e na maré baixa os emaranhados das raízes escoras e pneumatóforos.
Na maré baixa podem também ser observadas as plantas jovens em diferentes etapas de desenvolvimento, desde o início da germinação das sementes até seu perfeito estabelecimento no
substrato.
A composição florística do manguezal da Baixada Santista é muito semelhante, não só aos demais manguezais brasileiros, como todos que ocorrem nas áreas banhadas pelo Oceano Atlântico.
Porém, comparado aos mangues dos oceanos Índico e Pacífico, é muito pobre, não só no número de gêneros como também quanto ao número de espécies.
As áreas cobertas primitivamente por manguezais foram e estão sendo gradativamente despojadas das matas virgens, drenadas e usadas para o plantio de bananeiras e hortaliças e na
edificação de vilas de casas modestas.
Não podemos deixar de citar a importância da Avicennia como fonte de tanino para as indústrias de couros (cerca de 36% na casca e porcentagens menores nas folhas e nos frutos).
Como já havia sido observado por Luederwaldt, essas plantas eram frequentemente despidas das folhagens e cortadas com intervalos de poucos anos. Talvez se deva principalmente a isso a
baixa ocorrência de Avicennia não só nos manguezais da Baixada Santista, como em todo o litoral de São Paulo.
Rhizophora mangue (mangue bravo) tem sido derrubada para obtenção de lenha ou preparo de carvão e, depois da Avicennia, é a planta mais visada pelo homem da região.
Ipê-Amarelo (Tabebuia chrysotricha Standl.) - Árvore comum na Mata Atlântica, possui intensa
florada amarela nos meses de inverno. Por ser bastante ornamental e de fácil cultivo, é muito
usada na arborização de ruas e áreas verdes das cidades da região
Foto: folheto de divulgação turística: Jardim Botânico/Prefeitura Municipal de Santos - 1998
Entre outras espécies, destacam-se nos mangues da Baixada Santista:
...Hibiscus tiliaceus é um arbusto de folhas grandes e lindas flores amarelas, que geralmente aparece nas margens dos rios e canais que cortam os manguezais, porém nunca avança
para o interior.
Spartina brasiliensis, uma gramínea, e Fimbristylis glomerata, uma ciperácea, surgem como as primeiras plantas da associação, logo em contato com os rios e canais, formando
uma tira verde que cinge o manguezal.
Crinun attenuatum é uma amarilidácea de flores vistosas que orlam as margens, muitas vezes ao lado da Spartina, como observamos nas margens do rio Itapanhaú.
Acrostichum aureum é uma samambaia, cuja grande quantidade de esporângios na face interior dos trofoesporófilos lhe empresta uma coloração dourada. As folhas dessa samambaia são
radicais e atingem mais de um metro de comprimento, com folíolos grandes...
"Como epífitas sobre caules de Rhizophora e Laguncularia, encontramos várias orquídeas, samambaias e um gênero de Cactácea".
Silveira (1b), referindo-se à importância do manguezal, diz à pág. 138: "Não se pode esquecer, um só
momento, o valor destas plantas na fixação das terras litorâneas e marginais. A ação protetora oferecida pela muralha forte desses seres vivos é extraordinária".
NOTAS EXPLICATIVAS:
(1) (1b) Silveira, João Dias de - "Baixadas Litorâneas Quentes e Úmidas".
(2) Este trecho foi selecionado pela professora Maria Izabel Carvalho A. Ferreira.
Vegetação remanescente da Mata Atlântica, na encosta, perto do sopé da Serra do Mar
Foto: foto-geógrafo César Cunha Ferreira, em 8/5/2004
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