Imagem: reprodução da primeira página de A Tribuna
de 16 de setembro de 2011
"Parecia o fim do mundo"
Acidente na Imigrantes envolve 300 veículos e deixa um morto
A cena impressionava: 300 veículos, segundo a Polícia Rodoviária, envolvidos num
gigantesco engavetamento na Pista Norte da Rodovia dos Imigrantes. Era início da tarde. O saldo do desastre: um homem morto no local e 29 pessoas
feridas. "Parecia o fim do mundo, um filme de horror', disse o caminhoneiro Josimar Alves de Alencar, um dos envolvidos no acidente. Os trabalhos de
limpeza no local avançaram pela madrugada.
O que aconteceu
Infografia de Alex Ponciano, publicada com a matéria
A neblina intensa no local foi a explicação para o
acidente: amontoados na pista e fora dela, carros retorcidos ou incendiados, ônibus e caminhões amassados e motos irreconhecíveis por quase dois
quilômetros
Fotos: Walter Mello, publicadas com a matéria
Imagem: reprodução das páginas A-4 e A-5 de A Tribuna
de 16 de setembro de 2011
TRAGÉDIA NA IMIGRANTES
O dia em que tudo parou
Um dos maiores acidentes no local: 29 ficaram feridos e um morreu. 300 veículos
envolvidos
Maurício Martins
Da Redação
"Parecia o fim do mundo,
um filme de horror". O desespero do caminhoneiro Josimar Alves de Alencar dá a dimensão do que aconteceu ontem, por volta das 13 horas, na Rodovia
dos Imigrantes. Ele foi um dos muitos motoristas envolvidos no acidente que aconteceu no Km 41 da Pista Norte, usada para subida, nos limites de São
Bernardo do Campo e Cubatão. Um homem morreu no local e 29 pessoas ficaram feridas.
A cena era realmente terrível: 300 veículos, segundo a Polícia Rodoviária. Um
engavetamento que parecia não ter fim. Quase dois quilômetros de carros retorcidos, ônibus e caminhões amassados e motos irreconhecíveis. Veículos
que se amontoavam na pista e fora dela. Muitos foram parar no canteiro central. As marcas na grama mostravam o desespero dos motoristas em acionar
os freios. Em vão. Por toda a estrada, havia pedaços de veículos e óleo espalhados.
Um carro ficou completamente esmagado entre dois caminhões. Era difícil, até, saber o
modelo do veículo, tamanho foi o estrago. Os ocupantes se salvaram porque conseguiram sair antes de o segundo caminhão acertar a parte traseira do
carro.
Quem presenciou o acidente lembrou-se de freadas e batidas sucessivas. Tudo em poucos
segundos. Pneus explodiram, peças voaram. Sons que não saem da mente do administrador Fábio Aoki. "Eram batidas que não paravam". Ele bateu a cabeça
e sofreu arranhões pelo corpo. Recebeu o primeiro atendimento e seria encaminhado ao pronto-socorro.
O tanque de um caminhão pegou fogo com o impacto. Outros dois automóveis que estavam
ao lado também foram destruídos pelas chamas. Enquanto os bombeiros controlavam o fogo, a empresária Karim Regina Barros, dona de um dos carros
queimados, observava. Ainda tentava entender o que aconteceu. Parecia anestesiada com a proporção do acidente. Ela escapou da morte por instantes:
saiu do veículo segundos antes de seu carro pegar fogo.
Neblina - A neblina intensa no local foi a explicação para o enorme acidente
que, segundo a Polícia Rodoviária, teve início após a colisão entre dois caminhões.
"Provavelmente, a causa foi a densa neblina. A visibilidade estava entre 20 e 30
metros. É uma condição inusitada, adversa. Pega de surpresa os motoristas", disse o major Newton Michelazzo, comandante do 1º Batalhão da Polícia
Rodoviária de São Bernardo do Campo, responsável pela ocorrência. "Sabíamos da neblina e existia uma viatura monitorando a velocidade dos carros,
mas não conseguimos evitar o acidente".
Socorro - O socorro veio de todas as partes. A Polícia Rodoviária estava com
grande parte do efetivo no local. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também mobilizou equipes.
O Corpo de Bombeiros de São Paulo levou 20 viaturas ao local e teve o apoio de mais
quatro de Santos. "Foi um acidente de grande porte. Nunca vi tantos veículos no mesmo acidente", disse o major Alexandre Augusto de Souza, do Corpo
de Bombeiros, no momento em que coordenava a distribuição das vítimas entre hospitais da Capital e cidades da Grande São Paulo.
As ambulâncias levaram os que corriam maior risco, e casos mais leves eram atendidos
ali mesmo, de forma improvisada.
Fotos: Walter Mello, publicada com a matéria
Atendimento aos feridos vira operação de guerra
Fernanda Balbino
Da Redação
Os 29 feridos no acidente do Km 41 da Pista Norte da Rodovia dos Imigrantes foram
encaminhados para hospitais de cidades próximas, como Diadema, Cubatão e São Vicente. De acordo com a Polícia Rodoviária, todas as remoções foram de
vítimas leves, levadas por ambulâncias do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
A única vítima fatal, o condutor de um caminhão, ficou preso nas ferragens e morreu no
local. Ele sofreu fraturas múltiplas no crânio. Conforme informações do 4º DP de São Bernardo (Riacho Grande), onde os boletins de ocorrência foram
registrados, o corpo ainda estava preso nas ferragens ontem à noite. Quando for retirado, será levado ao IML de São Bernardo.
Cubatão - O Hospital Municipal de Cubatão parecia ontem um posto de socorro de
guerra. A unidade recebeu 15 vítimas do acidente.
Segundo a diretora do Departamento de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de
Saúde, Paula Mammana, dez pessoas passaram pelo pronto atendimento e receberam alta.
Outros cinco pacientes inspiravam mais cuidados. Até a noite de ontem, dois ainda
permaneciam em estado grave e esperavam vagas em outros hospitais. Todos os demais sofreram fraturas e foram transferidos para outros hospitais, a
pedido das famílias.
Gravidade - O caso mais grave é de um paciente que sofreu uma hemorragia
intracraniana. Apesar de consciente, ele corre risco de morte. "Poderia ter sido muito pior pela magnitude do acidente mas existe a necessidade de
tratamento em UTI (Unidade de Terapia Intensiva", afirma a médica.
Por este motivo, o paciente aguardava transferência para outro hospital. O mesmo
aconteceu com o segundo caso mais grave, que teve suspeita de trauma lombar.
A hipótese foi levantada por conta da diminuição da sensibilidade das pernas, mas não
foi confirmada. Este e mais uma vítima foram removidos para o Hospital Frei Galvão, em Santos.
Em Diadema, outros oito feridos foram encaminhados ao Hospital Municipal da cidade.
Destes, dois permanecem internados em observação, com ferimentos leves.
Duas vítimas foram levadas ao Centro de Referência em Emergências e Internação (Crei)
de São Vicente. Os que tinham ferimentos leves foram liberados logo em seguida.
A Polícia Rodoviária não confirmou o paradeiro dos outros quatro feridos no acidente.
Informações podem ser obtidas em contato com o 1º Batalhão de Policiamento Rodoviário,
pelo telefone (11) 3465-5300.
Inacreditável |
|
"Foi muito barulho. Não dava pra saber o que estava acontecendo. Eram batidas que não
paravam. Não dá nem pra acreditar" |
Fábio Aoki, administrador |
Depoimentos |
"Quando eu vi, já estava em cima de outro caminhão. Parecia o fim do mundo, um filme de
horror. Foi a pior coisa que já vi. Na estrada, acompanhamos muitos acidentes, mas esse foi demais" |
Josimar Alves de Alencar, caminhoneiro |
"Só deu tempo de frear e ouvir o barulho da batida. Foi um susto grande. Houve muitas
explosões, vários estouros. Acho que foram os pneus dos carros" |
Pedro Alves dos Santos, motorista |
"Seguia para o Aeroporto, quando tudo
parou, do nada. O freio não segurou. Desviei de um caminhão e o meu carro acabou saindo da pista. Só agradeço por não ter acontecido o pior" |
Rodrigo dos Santos, motorista |
"Tive sorte de não acontecer algo mais grave. Não sei nem descrever o que houve" |
José Valdemir, motorista |
"Estava voltando de uma reunião em Santos e
não dava para ver quase nada, por causa da neblina. Cheguei a frear quando vi que o trânsito parou, mas as rodas deslizaram. Saí do carro e
corri para o outro lado da pista" |
Diógenes Sahd, publicitário |
"Só lembro de jogar o carro para desviar de um e bater em outro. Consegui sair do carro um
pouco antes de pegar fogo. Saí correndo... foi coisa de segundos" |
Karim Regina Barros, empresária |
O caos e a confusão seguiram noite adentro
Muitos passageiros que pretendiam viajar de Santos para São Paulo (ou vice-versa)
tiveram que mudar seus planos. Por causa do engavetamento de mais de 300 veículos na Rodovia dos Imigrantes, as empresas de ônibus suspenderam suas
atividades.
A Tribuna entrou em contato com os guichês do Expresso Luxo e da Viação Rápido
Brasil, e ambas confirmaram que a situação era crítica.
Um ônibus que saiu de Santos às 17h10 ainda estava na altura do
Jardim Casqueiro, em Cubatão, três horas depois.
A venda de passagens foi suspensa sem hora para reabertura, pois não havia previsão de
quando os ônibus conseguiriam chegar ao Terminal Rodoviário do Jabaquara, em São Paulo.
O jovem Marcelo Marques aguardava pacientemente por um ônibus para viajar para Santos.
"Tem muita fila nos guichês e não estão vendendo mais bilhetes. O jeito será ficar na casa de minha irmã, em São Paulo", relata.
Na estrada, segundo a Ecovias, os trabalhos seguiriam noite adentro. Depois da
retirada de todos os veículos, a pista teria de ser lavada, devido ao derramamento de produtos químicos.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o nevoeiro continuaria
durante a madrugada.
A Polícia Civil de São Paulo informa que vai investigar as causas e eventuais
responsabilidades pelo engavetamento. |