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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
A Bruxa da Ponte


Nos primeiros anos do século XX, começou a circular a lenda de que existiria uma bruxa na ponte sobre o Rio Cubatão. A história foi registrada no Jornal de Cubatão, na página 6 de sua oitava edição, publicada em 16 de junho de 1968. A ortografia foi atualizada e corrigida nesta transcrição:

Imagem: reprodução parcial da página original, conservada no Arquivo Histórico de Cubatão

A Bruxa da Ponte

Antônio Simões de Almeida

(Da Soc. Amigos da Cidade)

Ainda não havia o século XX transposto a linha divisória, marcadora do término da sua primeira década, Cubatão se alarmara com o aparecimento de uma bruxa, na cabeceira da ponte do Rio Cubatão.

Mal a madrugada pirilampejava, os canoeiros que desciam o rio para o corte do mangue ou a colheita de sua folhagem e os trabalhadores empregados na rude tarefa da extração da areia do Rio Cubatão e que seguiam "rio arriba" para as imediações da Ilha do Poço Fundo, traziam a notícia do aparecimento de uma bruxa na ponte do Rio Cubatão, junto à casa comercial de Bernardo da Silva Gomes, a casa conhecida em toda redondeza pela "Casa do Seu Funca".

Por muito tempo o assunto do dia nas reuniões das vendas, no Largo do Sapo, na estação ou nos encontros entre amigos, era o aparecimento da bruxa, na ponte. Ninguém, alta noite, usava atravessá-la.

Os crédulos teciam os mais variados comentários em torno das bruxas. Havia os que diziam-se bem informados. A bruxa era a sétima filha do casal. Sete filhas, uma era bruxa. Sete rapazes, um era lobisomem. Relatavam as diabruras que as bruxas praticavam nos seus folguedos.

O certo é que o povoado de antanho vivia assombrado. As mães adormeciam com os filhos nos braços para evitar algum rapto por parte das bruxas. Depois afirmava-se que a ponte do Rio Cubatão era o lugar onde as bruxas das circunvizinhanças marcavam seus colóquios.

E, assim que a noite envolvia Cubatão num imenso amplexo, as casas cerravam de par em par suas portas, os canoeiros que antes do raiar do Sol seguiam para o seu labor, já agora esperavam o clarear do dia. "Nenhuma viva alma" - murmurava-se - aproximava-se da ponte. Era o terror.

Porém, certa vez, um morador das imediações da ponte, mais corajoso, resolveu saber da bruxa o que pretendia ali... Era Manoel Dias de Oliveira o herói. Numa noite em que as estrelas espalhavam-se pelo firmamento na sua palidez como prenúncio da madrugada, anunciadora do dia que se aproximava, Manoel Dias de Oliveira dirigiu-se para a ponte. O primeiro galo cantou lá pelas alturas do Sítio da Porteira. Um outro, cantou para os lados da Serra. Um terceiro, respondeu para as bandas do Capivari.

Manoel Dias de Oliveira suspendeu seus passos e por um momento contemplou a Serra. A montanha ao longe deixava ver o seu verde escuro por entre as nuvens. Não tardaria que a Serra, abandonando o manto branco escuro do nevoeiro, mostrasse na sua pujança o roxo e amarelo dos jacatirões e dos ipês. Havia um aroma macio das flores de laranjeiras impregnado na maresia que errava levemente pelo ar.

Manoel Dias de Oliveira sorveu o ar perfumado, animou-se e aproximou-se da ponte. Lá estava a bruxa, enrodilhada em amplo xale. Aproxima-se. A bruxa sussurrou: - Compadre, peço que não revele a ninguém. Eu sou sua comadre... Estava desvendado o mistério. Era a Guilhermina do Funca que esperava o Camilo Padeiro...

Manoel Dias de Oliveira só muito mais tarde revelou aos seus familiares quem era a Bruxa.

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