HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Esperança, na pauta desta associação (6)
Criada
em Santos por Samuel Augusto Leão de Moura, com apoio do Rotary Club de Santos, a Casa da Esperança teve em Cubatão uma outra unidade, que foi enfocada
em trabalho de estudantes de Jornalismo da Universidade Monte Serrat (Unimonte), o qual deu origem ao livro de 62 páginas, coordenado pela professora
Helena Gomes (inédito até fins de 2008, quando ocorre esta publicação eletrônica), Tempo de Esperança. Este, por sua vez, foi reunido a outros
trabalhos de alunos da mesma universidade, no livro-brochura Vidas em Pauta, lançado em 2007 por aquela universidade santista, também com a
coordenação de Helena Gomes. Este é o texto integral de Tempo de Esperança:
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Tempo de Esperança
Ana Lúcia Borges, Ana Paula Mackevicius, Antonio Marcos
Santos Silva,
Júlio César Chaves, Maria Helena Sousa |
Priscila: um exemplo de vida
Foto: Maria Helena Sousa - enviada a Novo
Milênio pelos autores do livro
Capítulo 4
por Maria Helena Sousa
Vinte e quatro anos de luta e dedicação
Sentado à minha frente, em uma cadeira de plástico que parece não ser capaz de suportar seu peso, Manoel
Teixeira Neto, 58 anos, começa a falar sobre a própria história e também
da convivência com a filha Priscila, que em suas palavras é o seu xodó. A voz é rouca e
estridente. Seu jeito espalhafatoso chega a assustar num primeiro momento, mas em seguida apresenta um senhor atencioso e gentil. Casqueiro, como
todos o conhecem, é muito popular e na rua onde mora, como ele mesmo se define, é uma espécie de síndico, com a diferença de não receber qualquer
salário.
Casqueiro, muito emocionado, narra os fatos com riqueza de detalhes e, sem perceber, conta a própria história.
"Minha esposa, falecida há 10 anos, teve uma complicação na gravidez", afirma, de
maneira simples e sem qualquer termo técnico. A complicação ocasionou falta de oxigenação no cérebro e resultou na paralisia cerebral da filha, hoje
com 24 anos.
Crianças e adolescentes com necessidades especiais são aquelas que, por alguma espécie de limitação, requerem
certas modificações ou adaptações no programa educacional a fim de que possam atingir seu potencial máximo. Estas
limitações podem decorrer de problemas visuais, auditivos, mentais ou motores.
Priscila, que se define como muito feliz, apesar de suas limitações, é um exemplo de vida. Sua dependência é
parcial. Depende de ajuda para se locomover e realizar higiene pessoal, por exemplo. Seu principal auxiliar é o pai, que diz ajudar com muito amor.
A quase independência da filha é resultado do tratamento realizado na Casa da Esperança. "Foi o meu amor e a de outros pais que possibilitou a
fundação da Casa da Esperança de Cubatão, um verdadeiro diferencial na vida da minha filha", diz Casqueiro.
Ele conta que, graças à fisioterapia e à fonoaudiologia, os avanços foram significativos. "A atenção especial
de que ela precisa é totalmente compensada através do carinho e demonstrações de amor que recebo em troca. A capacidade de demonstrar essas emoções
e também o aprendizado de controle de suas emoções e ansiedade se deve à base educacional que teve na Escola Princesa Isabel. Para Priscila, ir para
a escola é sagrado".
Manoel garante ser de extrema importância que sejam consideradas primeiramente todas as possibilidades de
utilização da escola comum, como um recurso integrado com outras formas de atendimento. O que, segundo ele, ainda está longe de ser uma realidade.
"O poder público parece trabalhar muito mais para separar do que para incluir. O preconceito seria muito menor na vida adulta se todas as crianças
tivessem a possibilidade de conviver com as diferenças desde cedo".
Ao falar do atendimento recebido pela filha na Casa da Esperança, Manoel diz que foi o melhor possível.
Destaca que, há cerca de 15anos, a instituição passou por grandes transformações. "Deixou de ser escondida, trouxe as crianças e os pacientes para o
convívio social", explica. "A Casa da Esperança de Cubatão está completando 25 anos e há cerca 24 a Pri faz tratamento fisioterápico lá. O único
problema é que a Casa, assim como tantas outras coisas, tem um limite. O limite dela é que não há nem espaço, nem projeto e muito menos verba para
dar continuidade ao tratamento".
De acordo com o pai, sua maior preocupação está no fato de que não há um projeto para atender, capacitar e dar
perspectiva para os portadores de necessidades especiais na fase adulta e em sua velhice. Casqueiro acredita que seria muito importante se, baseado
no trabalho já desenvolvido na entidade, o poder público desenvolvesse um projeto com as pessoas especiais na fase adulta.
"Não gosto nem de imaginar a vida da Pri sem minha tutela", preocupa-se. "Contudo,
embora minha idade também esteja avançando, sei que encontrarei forças para unir esforços e em breve podermos atender nossos especiais adultos". |
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