HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Esperança, na pauta desta associação (7)
Criada
em Santos por Samuel Augusto Leão de Moura, com apoio do Rotary Club de Santos, a Casa da Esperança teve em Cubatão uma outra unidade, que foi enfocada
em trabalho de estudantes de Jornalismo da Universidade Monte Serrat (Unimonte), o qual deu origem ao livro de 62 páginas, coordenado pela professora
Helena Gomes (inédito até fins de 2008, quando ocorre esta publicação eletrônica), Tempo de Esperança. Este, por sua vez, foi reunido a outros
trabalhos de alunos da mesma universidade, no livro-brochura Vidas em Pauta, lançado em 2007 por aquela universidade santista, também com a
coordenação de Helena Gomes. Este é o texto integral de Tempo de Esperança:
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Tempo de Esperança
Ana Lúcia Borges, Ana Paula Mackevicius, Antonio Marcos
Santos Silva,
Júlio César Chaves, Maria Helena Sousa |
Capítulo 5
por Ana Paula Mackevicius
A sensação do dever cumprido
Quando a Casa da Esperança de Cubatão foi criada, para cuidar de crianças e adolescentes especiais que não tinham onde recorrer, não
se esperava que ela pudesse crescer tanto. É um sonho realizado, que hoje completa 27 anos.
Somente quem sentiu na pele a dificuldade em ser deficiente físico poderia dedicar-se tanto à instituição
quanto a presidente Nega Pieruzzi. Desde 1980, ela trabalha na casa e luta pela criança e adolescente especial. É contagiante a expressão de
felicidade e orgulho nos olhos de Nega quando ela fala da Casa da Esperança.
Apesar do trabalho muito elogiado, Nega não perde a humildade e assume que não está na direção tanto tempo por
ser uma excelente presidente e sim por faltarem voluntários para este serviço. Hoje são atendidas cerca de 400 crianças, um orgulho para quem
trabalha no local há muito tempo.
Diversos são as causas que transformaram essas crianças e adolescente em especiais. Há pais que acreditam que,
se receberam uma criança especial, é porque também são especiais e merecem este presente de Deus. Alguns dos pais entrevistados
ficam bravos quando perguntados se seu filho é doente: "não,
meu filho não é e também não está doente. Aliás, de saúde ele está muito bem. Faz exames periódicos como qualquer outra pessoa e no momento goza de
perfeita saúde". Eles demonstram assim que também são especiais para essas crianças, que muitas vezes são os xodós dos pais.
Infelizmente, a maioria das famílias não está preparada para aceitar uma criança especial. Ainda há muito
preconceito a ser combatido. Existe hoje um percentual
obrigatório de deficientes físicos que devem ser contratados pelas
empresas. Por esta razão, as pessoas especiais estão sendo incluídas no mercado de trabalho, ganhando a simpatia de todos e melhorando sua
auto-estima.
Psicólogas, dentistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogas e neurologistas são as especialidades que trabalham
junto à Casa da Esperança buscando a evolução dessas crianças especiais. Conseguir esta evolução traz uma sensação de dever cumprido aos
especialistas. Michele Menezes Fernandes, fonoaudióloga da Casa
há 8 anos, diz que, para que o tratamento seja suficiente, os pais são fundamentais. "Nós fazemos sessões de meia hora, uma
vez por semana com a criança. Se a mãe, nas outras 23 horas e meia do dia não fizer nada, nosso trabalho vai por água abaixo".
As mães são importantes no tratamento e, infelizmente, muitas crianças não conseguem completá-lo. Dependendo
da patologia da criança, do estímulo do
profissional e da ajuda das mães, é possível chegar a um resultado positivo. As mães da Casa da Esperança tentam cooperar, dentro de suas
limitações, com o tratamento. Elas sempre trazem seus filhos para as sessões, mas a maioria permanece do lado de fora, aguardando que a consulta
termine, em razão da própria ansiedade. Quando os profissionais percebem que a mãe é muito ansiosa, eles a encaminham para o tratamento psicológico,
sempre procurando o bem-estar da criança especial.
Por diversos fatores, principalmente pela situação econômica que vivemos, muitas mães, ao descobrirem que
estão grávidas, acabam tentando de forma ilegal, já que esta prática é proibida no Brasil, praticar o aborto. Acontece que, nem sempre, o aborto
alcança o resultado esperado e a criança sobrevive com sérios problemas, tornando-a especial. Se a criança já não era bem-vinda antes, agora menos
ainda. É possível que, em uma gravidez de gêmeos, um deles seja especial e o outro, completamente normal e isto é totalmente traumático para a
criança especial. Ele percebe que, embora tenha a mesma idade, tenha nascido no mesmo dia, não consegue acompanhar a escola, não cresce, enfim, não
se desenvolve como seu irmão.
Em razão de tanto preconceito, essas crianças são
emocionalmente carentes e quando o profissional oferece carinho e atenção, o tratamento passa a
ser mais proveitoso e gostoso para a criança. É desta forma que os profissionais da Casa da Esperança atuam. No setor de odontologia, para que o
tratamento alcance seu fim, os pais passaram a ser tratados para que sejam exemplos para os filhos, tornando-se, assim, aliados neste processo.
Segundo a cirurgiã-dentista Sonia Maria Silva Ferraz de Almeida, que trabalha na Casa há 25
anos, os pais acabam transferindo todos os traumas de crianças com dentista para os filhos. "Em certos casos, em razão deste trauma dos pais, não
conseguimos tratar nossas crianças como deveríamos e, por isso, acabamos tendo que recorrer à anestesia geral".
As profissionais entrevistadas falam com alegria das
diversas vitórias que conquistaram. Para elas, ver uma das crianças trabalhando, aproveitando a
vida, sendo amada e respeitada por todos, com certeza, é o melhor pagamento por todo tratamento realizado e a certeza de que tudo que foi feito foi
por uma boa causa.
Muitos jovens que passaram pela Casa da Esperança hoje fazem quase tudo sozinhos,
alguns deles incentivados principalmente, pelos pais. Com uma expressão de felicidade e agradecimento, os pacientes falam sobre a Casa da Esperança
de Cubatão: "Somos tratados com respeito. Os profissionais que trabalham aqui são
competentes e tudo é realizado com muito amor". |
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