O filhote, que nasceu em novembro, receberá uma anilha
Foto: divulgação, publicada com a matéria
ECOLOGIA
Nasce em Cubatão um bebê muito especial: um gavião-asa-de-telha
Os únicos ninhos dessa ave rara, em todo o Brasil, estão localizados nos manguezais
Os biólogos Robson Silva e Silva e Fábio Olmos inscreveram em
outubro seus nomes nos anais da zoologia brasileira ao descobrirem - depois de muita procura e paciência - um ninho de casal de
gaviões-asa-de-telha, com um espécime que acabara de nascer, nos manguezais de Cubatão.
A descoberta não ganha apenas importância científica: é mais uma comprovação de que a qualidade
ambiental de Cubatão vem registrando significativas melhoras desde meados da década. O programa de controle ambiental das indústrias de Cubatão, que
já investiram mais de um bilhão e 200 milhões de dólares na implantação e uso de equipamentos de redução da carga de poluição, tem sido um sucesso
reconhecido internacionalmente.
Os dois biólogos vêm desenvolvendo um criterioso trabalho de catalogação e controle das diversas
espécimes de aves nesses mangues, com o apoio e patrocínio da Ultrafértil.
Entre suas descobertas está o guará (vermelho), ave que também é considerada em fase de extinção
pelo Ibama, e que se transformou no novo símbolo da recuperação ambiental de Cubatão.
Aventura - Cientificamente conhecido pelo nome de Parabuteo unicinctus, o
gavião-asa-de-telha é muito comum em áreas secas e desérticas dos Estados Unidos, mas no Brasil é considerado raro e praticamente nada se sabe sobre
seus hábitos.
A espécie, ameaçada de extinção no Estado de São Paulo, possui nas áreas de mangue de Santos e
Cubatão os eu único registro atual para todo o Estado. Para se ter uma idéia de sua raridade, o último registro oficial no Estado ocorreu em 1987,
no Vale do Paraíba. E só passou a ser observado em Cubatão, a partir de 1994, pelos dois biólogos.
Em 1997, Robson e Fábio publicaram um artigo na revista científica da Sociedade Brasileira de
Ornitologia, trazendo as primeiras informações sobre a biologia da espécie, incluindo sua reprodução na área, em 1996. Para tanto, um exemplar jovem
foi capturado numa armadilha e recebeu um transmissor que permitiu aos dois biólogos acompanhar seus movimentos na área e localizar o ninho. Porém,
esse ninho, que na ocasião possuía dois ovos, foi destruído por uma pessoa que morava nas proximidades.
Depois disso, os gaviões construíram outros ninhos em diferentes locais. Em 1997, chegou a nascer
um filhote, que acabou morrendo devido às fortes chuvas.
Urubus - No ano seguinte, um outro ninho foi atacado por urubus, que devoraram os ovos.
A sorte dos gaviões e dos biólogos mudou em 1999. Nasceram dois filhotes que foram vistos voando
junto com os pais. Esses filhotes foram marcados com anilhas (tipos de anéis numerados para identificação, presos às patas dos animais, sem os
machucar) fornecidas pelo Centro de Pesquisas para a Conservação das Aves Silvestres, um órgão do Ibama, localizado em Brasília.
Robson é um dos poucos pesquisadores no Brasil autorizados a capturar e marcar estas aves de
rapina.
Neste ano, um ninho foi encontrado e está sendo monitorado pelos biólogos. Continha, em outubro,
dois ovos. Mas, apenas um filhote nasceu, em novembro. Quando o filhote atingir o tamanho ideal, vai ser marcado com uma anilha, assim como foram os
filhotes do ano anterior.
"Como estes são os únicos ninhos conhecidos desta espécie para todo o Brasil, acompanhamos
atentamente todo o seu desenvolvimento", explica Robson.
Rasantes - Os biólogos utilizam uma escada para subir no ninho, que pode chegar a cerca de
oito metros de altura. O casal de gaviões fica sempre nas proximidades observando. Quando o casal está com filhotes, fica mais agressivo, chegando a
desferir vôos rasantes sobre as cabeças dos pesquisadores a fim de proteger suas crias.
Durante o período reprodutivo, os filhotes que nasceram na temporada anterior, ou mesmo outros
gaviões adultos, também podem participar nos cuidados com os novos ninhegos, tornando-se ajudantes.
Uma característica interessante deste gavião é que, ao contrário de outras espécies, pode caçar em
grupo. Vários gaviões atacam e cercam a mesma presa, principalmente quando é grande, da mesma forma como fazem os lobos. Os biólogos já constataram
na região dos mangues de Cubatão e Santos que estes gaviões se alimentam de ratos, preás e aves aquáticas, incluindo filhotes de guarás, garças e
socós. |