ECOLOGIA
Manguezais recebem aves de outro hemisfério
Até falcões da Groenlândia são encontrados na região
Com o início da primavera, começam a chegar aos manguezais de
Santos e Cubatão alguns turistas que poucas pessoas sabem que aparecem por aqui: são aves do Hemisfério Norte.
As pessoas que mais conhecem e recepcionam estes ilustres visitantes são os biólogos, que estudam
a avifauna da região através do patrocínio da Ultrafértil. Eles já registraram 200 espécies de aves em toda a área, mas destas 12 migram para cá
todos os anos, vindas de diversas regiões do Hemisfério Norte, fugindo do frio rigoroso do inverno.
A migração é um fenômeno que ocorre em diversas espécies de aves e suas distâncias variam de
acordo com cada espécie. Em alguns casos, podem percorrer até 22 mil km nestas migrações contando-se apenas a ida e volta.
Estas aves se reproduzem apenas nestas regiões do Norte, como o Canadá, Estados Unidos e até
Groenlândia. Mas são praticamente obrigadas a deixar estes locais por causa do frio. Então se dirigem para o Sul, em busca de temperaturas mais
amenas, chegando na América do Sul e atingindo até os países bem ao Sul, como Uruguai e Argentina.
Durante este período de estadia, estabelecem os locais onde ficarão entre os meses de outubro e
abril. Os biólogos chamam estes locais de áreas de invernada, pois corresponde ao período de inverno no Hemisfério Norte.
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Em alguns casos, as aves chegam a percorrer até
22
mil quilômetros nas migrações, contando ida e volta
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Maçaricos - Encontramos na região águias-pescadoras, falcões peregrinos, maçaricos e
batuíras em números altos durante esta época.
Os maçaricos e batuíras, que são aves pequenas de pernas compridas e bicos longos ou curtos,
formam bandos que podem chegar a centenas de exemplares e são vistos sempre se alimentando de pequenos caranguejos ou vermes (poliquetos, que
parecem um macarrão), nos bancos de lama dos manguezais.
Um fato interessante na maioria destas espécies é que chegam aqui com uma plumagem diferente
daquela que saíram de seus locais de origem, dificultando a sua identificação. As espécies mais comuns são: o maçarico-grande-de-pernas-amarelas,
maçarico-pequeno-de-pernas-amarelas, maçarico-pintado e batuíra-de-bando.
Já o falcão-peregrino vem para a região para capturar estes maçaricos e batuíras, que também são
seu alimento no Hemisfério Norte. Realiza vôos rasantes sobre estas pequenas aves, enquanto se alimentam em áreas abertas mas não é nada fácil, pois
os maçaricos estão sempre atentos para a presença de predadores.
Groenlândia - Os biólogos já encontraram, na região da Alemoa, um falcão que estava com uma
anilha (anel de identificação) que havia sido colocada na ave enquanto era um filhote, em seu ninho, num penhasco da Groenlândia.
A águia-pescadora, como o próprio nome diz, é uma grande ave de rapina que se alimenta quase
exclusivamente de peixes. Possui garras afiadas e pés especialmente adaptados para capturar suas presas escorregadias. Caça principalmente paratis,
tainhas e caratingas nas águas dos mangues. Assim que observa a sua presa, enquanto está voando, realiza rapidamente uma manobra para mergulhar,
sempre com as garras voltadas para a frente. Depois sai da água carregando seu peixe para ser comido logo em seguida.
Não possuem inimigos naturais. Mas, outra ave de rapina, o carcará, às vezes tenta se aproveitar
do momento em que a águia está carregando o peixe para roubá-lo. Em alguns casos até 4 carcarás perseguem a águia até esta deixar o peixe cair. Os
biólogos estão preparando uma publicação científica sobre a ecologia das águias-pescadoras nos manguezais da região, onde serão apresentadas
informações sobre alimentação e comportamento.
"Praticamente nada se conhece sobre a biologia das águias-pescadoras no Brasil, principalmente
quais espécies de peixes fazem parte da sua dieta", diz o biólogo patrocinado pela Ultrafértil, Robson Silva e Silva. |