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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
A vila da usina Henry Borden

Também conhecida como Vila da Light

A matéria foi publicada no jornal santista A Tribuna, em 24 de setembro de 2000, e a escola a que se refere o texto foi preservada, permanecendo em atividade:


Os ex-alunos da escola da vila se reuniram em frente ao Monumento dos Emancipadores
(situado  no Paço Municipal de Cubatão) 
Foto de Fábio Oliveira, publicada com a matéria

HENRY BORDEN
Vila na encosta da serra traz recordações

A contribuição da hidrelétrica para o desenvolvimento da indústria paulista é motivo de orgulho

Manuel Alves Fernandes
Da Sucursal

Tal como numa novela de costumes ou em um filme de Hollywood, o passado volta com um intenso colorido e vida, nas histórias contadas por antigos alunos da professora Lucy Burgos Pereira. Parece que se ouve o barulho das máquinas da Usina Henry Borden, o movimento de cavalos, caminhões e carros tirando e puxando terra e pedras, os aviões que bombardeariam a usina mais tarde.

E pairando acima de tudo, dois orgulhos: o da importante contribuição da Usina Henry Borden para o desenvolvimento da indústria paulista, que ajudou as fábricas dos Matarazzo e dos Crespi e, principalmente, do Pólo Industrial de Cubatão.

O outro, que mais toca os antigos trabalhadores: a Vila da Light. Era uma vida paradisíaca, desenvolvida dentro de uma área florestal encostada na Serra do Mar, abençoada pela água de cachoeiras, nas casas construídas em estilo inglês pelos canadenses que ergueram a usina, a partir de uma idéia genial de Asa Billings e da empresa presidida por Henry Borden, que deu nome à usina.

Filhos - Os olhos de Ana Maria Ribeiro Pedersen e Rubens de Oliveira parecem refletir a figura doce, porém austera, de Lucy Burgos Pereira. Nascida em 1917 e curiosamente falecida em um 9 de abril, na década de 70, Lucy não se casou, mas deixou nas diversas gerações de alunos que formou na escola da usina a idéia de uma espécie de mãe, e acima de tudo, educadora.

Ana e Rubens foram seus alunos. Jorgem Waldemar Pedersen, marido de Ana, assim como Waldemar Barbosa (50 anos de vida na usina, e que hoje escreve as histórias daquela época) e Maria Aparecida Vienna da Silveira, todos antigos funcionários da usina e moradores na vila, recordam com reverência a figura da professora Lucy. Há menos de três anos, um dos irmãos de Lucy recebeu a homenagem em nome dela, proposta na Câmara de Cubatão.

Os antigos alunos lideram a proposta de dar à escola da usina o nome da professora que mais tempo lecionou nessa casa de estilo inglês, integrada à vila. Contam histórias edílicas de um tempo que parece tirado de filmes antigos. Falam das festas, das amizades, dos jogos de futebol e passam a impressão de que nos intervalos é que se trabalhava e trabalhava duro, segundo Jorgem, um descendente de nórdicos, para manter o progresso de São Paulo.

Memória - Afinal, eles são da época em que São Paulo era chamado de locomotiva do Brasil. E o motor dessa máquina, com certeza, ficava em Cubatão, na encosta da serra, exibindo canos por onde descia a água para gerar a energia que movia o progresso.

Filha do antigo administrador da usina, Maria Aparecida guarda no apartamento em Santos a foto da casa onde morou na usina, a entrada coroada por uma guirlanda de flores. Rubens é hoje dirigente da liga ciclística de Santos; Ana mora no Litoral Norte; Waldemar escreve em Santos. Na memória e no coração, todos continuam morando na usina da Light e o fechamento da escola e a eventual derrubada das casas representa um golpe nessa saudade.

Para eles, que posaram para uma foto em frente ao monumento dos emancipadores de Cubatão, a usina tem um significado semelhante: "Foi essa força motriz que tornou São Paulo autônomo, industrial, rico, o espelho do Brasil. Esse passado deve ser preservado com respeito. A usina deve continuar gerando energia", diz Maria Aparecida.


Quem fala da usina lembra imediatamente da professora Lucy 
Foto: reprodução, acervo de Fábio Oliveira, publicada com a matéria

Ex-alunos querem homenagear professora

A figura da professora Lucy Burgos Pereira paira hoje sobre a Usina Henry Borden, semi-paralisada desde o inicio da década de 90, por força de um dispositivo constitucional que preserva as águas da Represa Billings.

Antigos moradores da vila e ex-alunos de Lucy querem que o nome dessa professorinha, que dedicou toda a sua vida à população da usina, seja dado à escola.

O abandono da Henry Borden, a ameaça da demolição das casas e, pelo menos até o final do ano, o fechamento da escola da usina, preocupam esses políticos. Mantida pela Emae, a escola tem um ensino de alto padrão, tendo vários dos ex-alunos se destacado na vida pública, ao ingressarem direto em faculdades, ultrapassando vestibulares sem passar por cursinhos preparatórios.

"A escola merece ser preservada, e a vila muito mais", revela o vereador Romeu Magalhães, que desde criança conhece o local. "Nasci na Fabril e ia namorar no parquinho infantil localizado no começo da avenida, ao lado da casa que foi do médico Pedro Tosta de Sá. Ali ficou o primeiro hospital de Cubatão. Tem histórias demais que devem ser preservadas".

Sobre todas essas histórias e acima das casas e da escola, num patamar tão alto quanto o topo da usina, colocada a 730 metros de altura, sobressai a figura da professora Lucy Burgos Pereira. Quem fala da usina, das casas e da escola, lembra imediatamente dessa figura doce de mãe de todos, educadora de muitas gerações.

Energia - Neste final de século (N.E.: século XX), com a ameaça de falta de energia elétrica no Brasil, a Usina Henry Borden poderá recuperar o prestígio das décadas de 30 a 70, quando ajudou a desenvolver o progresso industrial de São Paulo.

O governador Mário Covas assinalou nesta semana a sua vontade de mandar retomar o bombeamento das águas do Rio Pinheiros para a represa, com o objetivo de aumentar a produção de energia da usina de Cubatão.

Covas quer unir a Sabesp à Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (Emae), possibilitando a expansão da produção de energia elétrica em Cubatão.

Isso está se tornando possível porque existiria uma companhia privada interessada em investir US$ 100 milhões na despoluição do Rio Pinheiros, para possibilitar o bombeamento para a Billings e aumentar a geração da usina.

Essa notícia está provocando júbilo nos círculos políticos de Cubatão, porque representará também a sobrevivência das 150 casas em estilo inglês e da escola da usina, um patrimônio da industrialização de São Paulo. E, principalmente, porque permitirá fazer justiça ao nome de Lucy Burgos Pereira.

O pesquisador e historiador Waldemar Barbosa, ex-funcionário da usina, explica que a hidrelétrica foi construída a partir de 1924, com duas unidades geradoras de 35 MW, que passaram a operar em 1926 a primeira e 27 a segunda.

Ele prepara um livro sobre a usina. Em 1936 entrou em operação a terceira unidade geradora; em 1938, outras duas e entre 1947 e 50 mais três, com 65 MW unitários. Em 1956, além da usina externa já existente, foi feita uma interna, com seis geradores e 70 MW cada.

"De um projeto de início humilde, a usina transformou-se num complexo gigantesco cuja concepção causa ainda hoje admiração geral. É uma incoerência permitir a ociosidade de uma usina de cerca de 900 MW, com essa previsão de falta de energia", lamenta Waldemar.


As casas são ocupadas por 150 famílias de trabalhadores
Foto de Fábio Oliveira, publicada com a matéria

Políticos se mobilizam para preservar usina

Salvar a usina é um esforço que em sendo desenvolvido sem muito sucesso por personalidades políticas, dentre elas o governador Mário Covas. O prefeito Nei Serra também tem interesse em preservar o patrimônio histórico constituído pelas casas construídas no estilo inglês. Pensamento semelhante já foi manifestado pelos outros três candidatos à sucessão municipal: Marilda Canelas, Clermont Silveira Castor e João Ivaniel de França Abreu.

Na Câmara, os vereadores José Rubens Marino, Romeu Magalhães, Deodoro Chagas, Marly Reinoso e Maria Aparecida Pieruzzi de Souza vêm alertando para a importância de preservar o patrimônio da usina, há mais de dois anos. Marino esteve visitando o local na sexta-feira.

"Fui informado que ainda há 150 famílias de trabalhadores da usina e seus familiares ocupando essas casas. Mas, a minha preocupação imediata é preservar a Escola da Usina, que pode encerrar as atividades no final do ano. Concordo inteiramente com a idéia dos antigos alunos. Se for procurado por eles, terei prazer em propor na Câmara que se dê a esse estabelecimento o nome de Professora Lucy Burgos Pereira. Ninguém melhor do que ela para representar esse passado glorioso da Usina Henry Borden, pois centenas de moradores da cidade e da região foram seus alunos".

Emae - Marino é amigo do presidente da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), Márcio Magalhães. "Ele já propôs, em meados deste ano, a abertura de negociações para municipalizar essa escola, que tem um alto padrão de qualidade de ensino, e mais de 70 anos de idade. Ele quer também iniciar um processo junto ao Condephaat para o tombamento desse patrimônio constituído pelas casas, que não se pode negar, fazem parte do desenvolvimento energético e industrial de São Paulo".

Segundo o vereador, "há uma grande vontade política do prefeito em resolver a questão. Márcio Magalhães conhece bem a usina de Cubatão, pois foi superintendente de Relações Humanas da Cosipa e é antigo companheiro de trabalho de Serra, na siderúrgica".

A professora Maria Aparecida Pieruzzi de Souza viveu parte da época áurea do bairro da Light e tem muitos amigos que ali residiram. "Tenho a certeza que poderemos na Câmara fazer um trabalho conjunto, para preservar esse patrimônio e fazer justiça à professora Lucy Burgos".

Embora municipalizada, a escola não mudou de nome. Ao festejar os 70 anos de funcionamento, foi tema do informativo Intervalo, da Secretaria de Desenvolvimento Educacional de Cubatão, que destacou na edição 12/Ano II, de agosto de 2004:


Escola comemora aniversário no próximo dia 23 de agosto
Foto publicada com a matéria

EMEF. Usina Henry Borden completa 70 anos de atividades
 
A EMEF. Usina Henry Borden completa, no dia 23 de agosto, 70 anos de atividade. Funcionando desde 1934 na vila erguida para abrigar funcionários da extinta Light, a escola tem sua história ligada ao progresso de Cubatão, principalmente ao desenvolvimento do parque industrial.

Para comemorar a data, o diretor da escola, Odair Ciríaco Fernandes, e sua equipe técnica, formada por Maria de Lourdes Santos Lousada e Ana Maria Lino Gouveia, estão programando atividades para os alunos e para a comunidade.

"O próximo dia 23 será um dia diferenciado, com atividades recreativas internas para que os alunos e funcionários possam demonstrar todo o carinho que possuem pela escola", explica Ana Maria.

Além desta atividade, a programação da comemoração dos 70 anos terá outros dois momentos: no dia 3 de setembro, haverá solenidade no Bloco Cultural, às 20h, com a participação da comunidade funcionários, professores, pais e ex-alunos. E no dia 15 de outubro será realizado um baile comemorativo.

Diretor da escola há 20 anos, Odair explica que desde 2001, quando a Empresa Metropolitana de Água e Energia (EMAE) deixou de ser a única mantenedora daquela unidade de ensino, a escola vem sendo mantida por um convênio tripartite, que envolve a Prefeitura de Cubatão, a EMAE e a Associação de Pais e Mestres (APM).

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