Como o cientista José Bonifácio descreveu Cubatão
ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. e ANDRADA, Martin Francisco Ribeiro de. Viagem
Mineralógica na Província de São Paulo, traduzida em francês pelo Conselheiro Antonio de Menezes Drummond, e publicada no Journal des Voyages,
e em Português por... , in: Obras Científicas, Políticas e Sociais de José Bonifácio de Andrada e Silva. Coligidas e
reproduzidas por Edgard de Cerqueira Falcão, Edição Monumental comemorativa do bicentenário do nascimento de José Bonifácio, 3 volumes, 1964, 1º
volume, p. 503 e seguintes.
"A 23 de março de 1820 partimos da Vila de Santos, situada na ilha de S. Vicente,
Província de S. Paulo, na Costa do Brasil. Esta Vila foi fundada dois anos depois da de S. Vicente, antiga Capital da Província, e o primeiro
estabelecimento de todo o Brasil, presentemente em completa decadência. A ilha na sua parte montuosa (cujo ponto mais elevado é o monte chamado de
Monserrate) é composta de gneiss, que passa muitas vezes ao verdadeiro granito, e outras vezes ao Sienito de
Werner, quando a hornblenda é mais abundante."
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"Embarcando-nos em uma canoa, chegando ao porto ou cais do Cubatão, dirigindo-se para
o Sudoeste, primeiramente por uma corrente de água salgada rodoce que atravessa o mato virgem. Do Cubatão, que se deixa à direita do rio d'água
doce, vai-se até ao pé da grande serra de Paranapiacaba ou de S. Paulo, por uma planície que corta a ribeira chamada das pedras, a qual se precipita
dos mesmos montes, por uma grande quebrada.
Esta corrente arrasta no seu curso muitos seixos rolados: é sujeita a grandes
inundações quando chove sobre o pendio dos montes, ou na chapada em que nasce. Observamos nesta planície, até a superfície do terreno gneiss muito
decomposto, o qual passa algumas vezes a micaschisto, e a schisto argiloso primitivo, que, tintos pelo ferro, decompostos pelas águas ou meteoros, e
mais ou menos transportados, formam o que os Portugueses chamam pissarrão, ou banco superficial e triplo; este pissarrão compõe o cume estreito do
monte por onde se dirige o caminho que conduz ao cimo. A rocha primitiva é atravessada, de vez em quando, por veios de quartzo branco, dos quais
alguns têm uma mão travessa de largo, porém a maior parte são mais pequenos.
Depois de descer o cume do monte continua a mesma formação, até que se chega a uma
planície de areia quartzosa branca, de grão mais ou menos grosso, que parece proceder da decomposição do grés sobre que assenta.
Esta planície é regada por vários ribeiros, que por não terem declívio, e por causa
das enchentes ocasionadas pelas chuvas, formam charcos cheios de muitos bancos de ótima turfa negra, mui grossos, de que os habitantes não se servem
porque não conhecem o seu uso, e também pela abundância que tem de lenhas.
Este grés decomposto e misturado com argila ferruginosa e mica em lâminas, muitas
vezes de mais de uma polegada de grossura, forma um pissarrão arroxado ou vermelho entresachado de pisssarra mais fina de cor branca. Em uma ou duas
destas camadas onde o caminho se abaixa mais, observamos pequenos depósitos de areia fina aglomerada, que provavelmente aumenta na proporção que se
afastam da superfície. Não os examinamos para ver se continham ouro em pó, porque não tínhamos bates.
Destes terrenos que formam diversas ondulações, se levantam pequenas protuberâncias de
grunstein, e de rocha globosa de Werner, de que não podemos observar a posição por causa dos obstáculos dos bosques e do terreno que os cobrem.
Servem-se destas rochas para calçar a estrada.
Esta formação de pissarra continua mais ou menos até S. Paulo, variando de grão, e
cor, como acontece em semelhantes casos aos bancos de turfa.
Pernoitamos na pousada chamada Ponte Alta - que valia mais chamar Ponto Alto, visto
que, o seu nível excede a altura ao do mesmo cume da montanha -. Saindo desta pousada, o terreno é montuoso e retalhado em pequenos vales.
A 24, continuamos o caminho saindo do lugar chamado Borda do Campo, o aspecto do país
no espaço de 3 léguas é muito agradável". |