Capela de São Lázaro, em 1969, pouco antes da demolição
Foto cedida a Novo Milênio por Arlindo Ferreira
Os lázaros do sopé da serra
Marildo Passerani
Essa história faz parte do imaginário popular de Cubatão, e foi descrita na década de 60 por Antonio Simões de Almeida
Conta-se que, no início do século XX, os habitantes do povoado de Cubatão notaram que um casal se estabelecera num dos contrafortes da Serra do Mar, à
direita de quem ingressa na Estrada Velha, no ângulo oposto à Calçada do Lorena, numa área hoje ocupada pela Refinaria Presidente Bernardes.
Este casal, não se sabe de onde originário, viera asilar-se na Serra em função de portar a Doença de Hansen, na época chamada de lepra ou doença de São Lázaro (pois, segundo a tradição
cristã, Jesus havia ressuscitado Lázaro, que era leproso).
Para evitar que eles esmolassem na vila, os cubatenses passaram a deixar seus óbolos numa subida da Serra, onde os dois pudessem recolhê-los: roupas, alimentos, sal, sabão, entre outros.
Essa situação convinha a todos, pois nem o casal se expunha, uma vez que a doença era repugnante e desfigurante, nem os cubatenses tinham-nos a esmolar pelo povoado.
Dia de festa na Capela de São Lázaro, em 1950
Foto cedida a Novo Milênio por Arlindo Ferreira
Ambos eram vistos ocasionalmente, quando vinham buscar os donativos. Depois de algum tempo, notou-se que só o homem descia de seu refúgio. Mais tarde, os habitantes notaram que nenhum
dos dois vinha buscar os donativos.
Isso gerou curiosidade, que se materializou numa busca pelo casal. Logo se entendeu o sucedido: a mulher morrera, e o marido, mesmo debilitado pela doença, cavara a última morada da
esposa com as próprias mãos. Aqui entra a dúvida: ele a enterrou e caiu morto sobre seu sepulcro, ou, sentindo-se agonizar, buscou partir junto da companheira?
A capela de São Lázaro, quando os automóveis ainda passavam à sua porta,
na ligação Santos/São Paulo pelo Caminho do Mar
Foto: jornal santista A Tribuna, edição especial do Sesquicentenário da Independência, 7/9/1972
Sensibilizados pelo que viram, os cubatenses acabaram por erguer no local uma capela para São Lázaro. Essa capela subsistiu muitos anos, e contava-se que as velas acesas junto à sua parede não
eram apagadas nem pelo vento Noroeste, típico da região.
A capela foi demolida na década de 1960, a pedido da própria Petrobrás, por questões de segurança, já que a área era dominada agora por tanques de combustível, gerando o risco de explosão.
A capela de São Lázaro, no Caminho do Mar
Foto: Arquivo Histórico Municipal de Cubatão
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