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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Curiosidades do primeiro censo

Em 1765, a vila tinha população estável e vivia das atividades do entreposto

Texto incluído na obra Antologia Cubatense, selecionada e organizada pela professora Wilma Therezinha Fernandes de Andrade e publicada em 1975 pela Prefeitura Municipal de Cubatão, nas páginas 172 a 176:

Em 1765, Cubatão era basicamente  um pouso para as tropas de burros

O primeiro recenseamento de Cubatão

O mais antigo recenseamento que se conhece da população paulista é de 1765 e se intitula Listas Gerais da Ordenança das Vilas desta Capitania. Dentro da parte da Vila de Santos, há o recenseamento de Cubatão, então um bairro desta vila, que reproduzimos na íntegra.

SOUZA, Alberto. Os Andradas. S. Paulo, Tipografia Piratininga, 1922, 3º volume, páginas 216/220.

"BAIRRO DO CUBATÃO GERAL ATÉ O RIO GRANDE

1 - Antonio Xavier de Lima, alferes de ordenança branco casado 48 anos - Vive de lavoura e aluguel de bestas.
Maria Joaquina, sua mulher branca casada 40 anos.
FILHOS:
Antonio branco solteiro 17 anos
Francisca branca solteira 1 ano
Tem 5 escravos.

2 - Bento Francisco branco casado 60 anos - Vive de aluguel de bestas. 
Ana Francisca, sua mulher branca casada 40 anos.
FILHOS:
Joaquim branco solteiro 12 anos
Salvador branco solteiro 10 anos
Rosa branca solteira 8 anos

3 -  Maria Francisca branca viúva 36 anos - Vive de sua venda.
FILHOS:
José branco solteiro 9 anos
Joaquim branco solteiro 2 anos.

4 - Raphael Joaquim branco casado 50 anos - Carpinteiro.
Mathilde, sua mulher branca casada 40 anos.
FILHOS:
Alexandrina branca solteira 20 anos
Mafalda branca solteira 11 anos
Tem 2 escravos

5 - Rosa Maria parda solteira 80 anos - Vive de sua venda.
Tem 2 escravos.

6 - Francisco Manuel da Silva pardo casado 30 anos - Vive de seu negócio.
Maria das Dores, sua mulher parda casada 20 anos.

7 - Antonio Francisco Pereira branco solteiro 20 anos
Agregada.
Antonia branca solteira 10 anos.

8 - Antonio Espinola branco casado 30 anos - Vive de sua venda.
Catarina, sua mulher branca casada 35 anos.
FILHOS:
Antonio branco solteiro 12 anos
Joaquim branco solteiro 8 anos.

9 - Gregório da Silva pardo casado 60 anos - Vive de sua venda.
Maria, sua mulher parda casada 40 anos.
FILHOS:
Fernanda parda solteira 16 anos
Maria parda solteira 20 anos
Miguel pardo solteiro 10 anos
Delphim pardo solteiro 8 anos
José pardo solteiro 5 anos
Thereza parda solteira 4 anos.

10 - Manuel de Mello branco casado 50 anos - Vive de negócio de sua venda.
Maria, sua mulher branca casada 40 anos.
FILHOS:
Manuel branco solteiro 18 anos
Domingos branco solteiro 12 anos
Marianna branca solteira 16 anos
Maria branca solteira 14 anos.

11 - Manuel Antonio branco casado 30 anos - Vive de negócio de sua venda.
Domingas, sua mulher branca casada 28 anos.
FILHOS:
Manuel branco solteiro 12 anos
Antonio branco solteiro 6 anos
Maria branca solteira 4 anos
Rosa branca solteira 5 anos.

12 - Cypriano Pereira pardo casado 70 anos - Vive de sua venda.
Felizarda, sua mulher parda casada 30 anos.
FILHA:
Florinda parda solteira 12 anos.

13 - João Ferreira negro casado 50 anos - Vive de lavoura.
Maria, sua mulher negra casada 40 anos.
FILHOS:
Juliana negra solteira 16 anos
Florinda negra solteira 10 anos.

14 - Miguel Francisco do Couto branco casado 24 anos - Vive de seu negócio
Maria, sua mulher branca casada 20 anos.

15 - Joaquim Gomes alferes reformado branco casado 30 anos - Vive de seu negócio.
Anna, sua mulher branca casada 20 anos.

16 - Fernando Gomes, alferes reformado branco casado 40 anos - Caixeiro do Contrato.
Gertrudes, sua mulher branca casada 28 anos.
FILHOS:
Antonio branco solteiro 4 anos
Fernando branco solteiro 2 anos
Tem 1 escravo.

17 - José de Siqueira branco casado 50 anos - Carpinteiro.
Rosa, sua mulher branca casada 35 anos.

18 - Joaquim Rodrigues d'Oliveira, capitão reformado, e Com. do Cubatão, branco casado 50 anos - Vive de seu soldo.
D. Gertrudes, sua mulher branca casada 40 anos.
FILHOS:
Maria branca solteira 20 anos
Joaquim branco solteiro 12 anos
João branco solteiro 10 anos
Polyena branca solteira 8 anos
Antonio branco solteiro 3 anos
Tem 1 escrava.

19 - Maria Joaquina parda viúva 40 anos - Vive de sua venda.

20 - Manuel Espinola branco casado 60 anos - Vive de aluguel de pasto.
Ana sua mulher branca casada 50 anos.
FILHOS:
Francisco branco solteiro 20 anos
José branco solteiro 16 anos
Tem 2 escravos.

21 - José Machado soldado pago branco casado 60 anos - Vive de seu soldo.
Maria, sua mulher branca casada 50 anos
FILHA:
Anna branca solteira 20 anos.

22 - Joaquim pardo casado 60 anos - Vive de lavoura.
Ignácia sua mulher parda casada 20 anos.

23 - Lusitano Gomes negro casado 60 anos - Vive de lavoura
Maria, sua mulher negra casada 50 anos."

NOTA EXPLICATIVA

Este recenseamento do Bairro do Cubatão Geral até o Rio Grande é valiosa fonte de informações sobre o Cubatão do século XVIII.

Contava o Cubatão com 23 casas, sendo que em cada uma morava uma família. O total de pessoas era de 94, dessas 94 apenas 13 eram escravos. A média dos moradores por casa era de 4,08. Apenas 6 famílias possuíam escravos, um ou dois, no máximo 5.

Do total, 81 eram livres e 13 escravos, ou seja 86% livres e 14% escravos.

Quanto à cor: havia 58 brancos ou seja 61,7%; 17 pardos ou 18,0% e 6 pretos ou seja 6,3%. A cor desses foi declarada, por serem livres. Havia, ainda, 13 escravos cuja cor não foi registrada. Se eram pretos, o total dessa cor sobe a 19 pessoas, ou seja 20,1% (cálculos aproximados). Não há menção de índios.

A maioria esmagadora da população compunha-se de famílias, casais com vários filhos, o que dá idéia de estabilidade social.

Quanto às atividades da população livre, fica evidente o seguinte: 9 viviam de sua venda, sendo que dessas pessoas, 3 eram mulheres e os 6 restantes, homens.

Uma pessoa declarou viver de seu negócio, sem especificar nada.

Quatro se dedicavam às atividades agrícolas. A produção agrícola era, provavelmente, destinada ao abastecimento dos viajantes do Caminho do Mar, sem esquecer a lavoura de subsistência.

Dois carpinteiros atendiam às necessidades do povoado e podemos supor que construíssem ou consertassem barcos para a travessia de 4 léguas entre Cubatão e Santos e vice-versa.

De alugar pastos vivia uma pessoa; do aluguel de bestas, duas.

Relativas ao Contrato ou cobrança da Passagem fluvial havia o Comandante do Cubatão, um caixeiro, um soldado e dois alferes reformados.

Havia um alferes da ordenança, mas as ordenanças formavam tropas de reserva, nada recebiam, o que obrigava o alferes de Cubatão a viver da lavoura, sendo também um dos que viviam do aluguel de bestas.

A maior parte destas atividades está relacionada à função de passagem e de mudança do meio de comunicação, de terrestre para fluvial ou vice-versa.

Por estas rápidas considerações, podemos concluir que a população de Cubatão, na 2ª metade do século XVIII, estava ligada ainda à condição de porto de pé-de-serra.

A vida era, de modo geral, modesta, familiar e socialmente estável.

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