Esqueletos misturados a utensílios foram encontrados...
Foto: Manoel Gonzalez/divulgação, publicada com a matéria
PRÉ-HISTÓRIA
Cubatão inicia busca em sambaqui
Manuel Alves Fernandes
Da Redação
Cubatão começa literalmente a desenterrar esqueletos do seu rico passado histórico na segunda quinzena de agosto. Não se trata
de desrespeitar mortos. A finalidade é científica e educativa: o arqueólogo Manoel Mateus Bueno Gonzalez, diretor do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas (Cerpas), vai iniciar as escavações do Cotia Pará II, o segundo maior sambaqui do Estado
de São Paulo, localizado em Cubatão.
Os primeiros esqueletos já descobertos, sepultados em meio a cascas de mariscos calcificados, têm entre 5 e 8 mil anos antes da nossa época.
A área é uma ilha localizada a cerca de 300 metros do Parque Ecológico Cotia Pará, no KM 57 da Via Anchieta, do lado oposto
ao lago do Jardim Nova República. Sambaqui é uma montanha de conchas onde se encontram sítios funerários.
Misturados a esses sepultamentos, há adornos, dentes, machados de pedra polida e até peças de pedra no formato de animais. O arqueólogo, doutor pela Universidade de São Paulo (USP),
avalia que haja mais esqueletos e esculturas feitas por cubatenses pré-históricos enterrados em outros sambaquis da cidade, atestando a presença humana mais antiga da região.
Aberto ao público - O objetivo do especialista é documentar a pesquisa e, até o final do próximo ano, criar o Parque Arqueológico do Vale do Cotia-Pará, na Região do
Rio Paranhos, em Cubatão. As escavações deveriam ter começado no final de julho, mas as chuvas dificultaram o acesso. Futuramente, um pontilhão de madeira, sustentado sobre o mangue, vai permitir visitas monitoradas a
essa ilhota, onde os habitantes primitivos da região viviam e se alimentavam de peixes, ostras, raízes e frutos silvestres.
O testemunho desse período são os esqueletos. Submetidos a análises de carbono 145, indicaram que viveram antes das múmias egípcias. Embora, segundo Gonzalez, o sambaqui do Cotia Pará II
seja de menor porte que o maior já descoberto, na região de Guarujá, supera o do município vizinho a Cubatão, na questão de volume. "Na última visita ao local, constatamos que é bem maior do que havíamos
estimado. Podemos encontrar parte dele submerso".
Segundo o diretor do Cerpas, a intenção é transformar o local em mais uma atração turística da Cidade.
PROPRIEDADE |
Uma das preocupações do arqueólogo Manoel Gonzalez é evitar a evasão de material arqueológico de Cubatão para outros municípios |
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Meta é construir um parque arqueológico
Se o projeto for aprovado pela Câmara de Cubatão, o município ganhará o primeiro parque arqueológico no Estado de São Paulo. A proposta do museu baseia-se em experiências desenvolvidas
nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e de Goiás, nas quais as comunidades tornam-se parte integrante e ativa desse empreendimento cultural e educativo, explica Manoel Gonzalez.
Um dos objetivos centrais do projeto é estimular a participação de munícipes - principalmente os residentes nos bairros do entorno da área do parque - para promover a preservação
patrimonial junto com melhoria da qualidade de vida da população.
A idéia adota como base as recomendações da Lei Estadual nº 3.743, de 9/6/83, que estimula a criação de parques municipais, para fins de "recreação e lazer da população" e preservação de
áreas florestais.
O arqueólogo já manteve contatos com a prefeita Marcia Rosa, a secretária municipal de Cultura e Turismo, Marilda Canelas, e conta com o apoio do presidente do conselho de preservação
histórica de Cubatão, Wellington Ribeiro Borges. O projeto está em fase de elaboração. Em breve será enviado aos vereadores, pela prefeita.
Acervo cultural - O estudo dos sambaquis do Município de Cubatão é resultado do projeto desenvolvido pelo Cerpas, denominado " A Pré-História da Baixada Santista", autorizado pelo
Iphan através da Portaria nº 11 de 25 de março de 2008, com a colaboração da Prefeitura de Cubatão através do Conselho de Defesa do patrimônio de Cubatão (Secretaria da Cultura e Turismo) e Secretaria do Meio-Ambiente).
Todo material retirado dos sambaquis de Cubatão para a realização dos estudos ficará depositado no centro até a construção do museu.
... a 300 metros do Parque Ecológico Cotia Pará
Foto: Manoel Gonzalez/divulgação, publicada com a matéria |