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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - Os sambaquis
Montes de conchas contam a pré-história (22)

Em 1959, anunciava-se datações de sete mil anos, do sambaqui cubatense
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As pesquisas nos sambaquis cubatenses foram o tema desta matéria do jornal paulistano Folha da Manhã, página 10 da edição de sexta-feira, 20 de março de 1959, mesmo dia em que a manchete era os Estados Unidos terem feito contato com o planeta Vênus, através da reflexão de um sinal de radar (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da página com a matéria

 

Homens pré-históricos em Santos 5.000 anos antes de Cristo nascer

 

Será instalado dentro em breve em São Paulo o Museu do Homem Americano, junto ao Instituto de Pré-História e Etnologia

Logo após a Semana Santa será instalado, no Museu do Ipiranga, o Instituto Pré-Histórico e Etnológico de São Paulo, para defesa, coleta e pesquisa do farto material pré-histórico existente no Brasil. Em prazo não superior a um ano, funcionará também, como parte integrante do Instituto, o Museu do Homem Americano, inspirado no Musée de l'Homme de Paris e destinado a estudos sobre o habitante do continente.

O sr. Paulo Duarte, eleito diretor-presidente do Instituto, em reunião de que participaram numerosos cientistas ligados à criação da entidade, em entrevista às Folhas, afirmou que o homem americano, provindo da Ásia, chegou ao continente há 15.000 ou 20.000 anos. Fósseis encontrados em sambaquis da área de Cubatão, e medidos em Paris através do carbono-14, mostraram ser de seres humanos que habitavam essa região há mais de 7.000 anos.

- Quatro ou cinco mil anos antes de Cristo nascer - observa o sr. Paulo Duarte - homens já viviam ao largo de Santos. Numa gruta do Chile foram encontrados fósseis e restos de comida de 9.000 anos atrás: é esse achado o mais antigo de que se tem notícia na América do Sul.

Dos fósseis encontrados em Cubatão e medidos em Paris, consta um crânio feminino, quase integral, e que tem também aproximadamente 7.000 anos. A preciosidade dessa peça valeu-lhe um título por parte dos pesquisadores da Comissão de Pré-História do governo do Estado: "miss-sambaqui". O crânio nem precisa mais de ficha ou catálogo: falando-se de "miss-sambaqui", todos sabem de que peça se trata.

O sr. Paulo Duarte apresenta "miss-sambaqui", um crânio feminino encontrado num sambaqui de Cubatão e que tem mais de 7.000 anos

Foto publicada com a matéria

3.000 peças - Informou o sr. Paulo Duarte que o Museu do Homem Americano contará, a princípio, com cerca de 3.000 peças, grande parte delas colhidas pela Comissão de Pré-História na área de Santos.

Pesquisadores e técnicos do Instituto serão recrutados na França e nos Estados Unidos, até que se forme no Brasil pessoal especializado. A entidade contará para seu funcionamento com doações de particulares, o seu patrimônio inalienável e subvenções oficiais. Destas, há 10 milhões de cruzeiros do governo federal e uma verba específica na Comissão de Pré-História do governo estadual.

- A sede do Museu do Homem Americano seria no Ibirapuera, se houvesse no Ibirapuera homens de visão cultural - afirmou o sr. Paulo Duarte, após dizer que o local para instalação do museu ainda não foi escolhido.

Fêmur, de um sambaqui da área de Santos, "medido" em Paris, revelou ser de homem que viveu há mais de 7.000 anos. A peça está sobre o documento em que o pesquisador francês J. Empéraire, falecido no ano passado, dava notícia ao sr. Paulo Duarte, da "medição" feita na França

Foto publicada com a matéria

 

Manancial - O Brasil é um território riquíssimo de jazidas pré-históricas, principalmente sambaquis, grutas e lapas. Paul Rivet, quando diretor do Musée de l'Homme, se apercebeu disso e criou lá, uma seção de etnologia e pré-história dedicada exclusivamente ao Brasil. Esse cientista francês, considerado o maior americanista de seu tempo, foi um dos grandes incentivadores da criação do Instituto de Pré-História de São Paulo - assinalou o sr. Paulo Duarte.

Disse ainda que desde o século XVII vêm sendo destruídos os sambaquis brasileiros, mas que nem esse vandalismo continuado conseguiu acabar com todos os nossos mananciais de peças pré-históricas. Em São Paulo há disposições legais para punir os violadores de sambaquis (imensos jazigos de seres que viveram há milhares de anos) e tramita atualmente no Congresso - acrescentou - projeto de lei que visa estender essa proteção a todo o território nacional.

- A criação do Instituto de Pré-História - terminou o sr. Paulo Duarte - é o coroamento da nossa longa campanha para preservação do patrimônio pré-histórico do Brasil, que vem sendo vandalicamente destruído pela exploração comercial.

Primeira página da edição e a página com a matéria, em 20 de março de 1959

Imagens: reprodução

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