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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - VILA SOCÓ - (4)
Vinte anos depois

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Uma das maiores tragédias de Cubatão, senão a maior, foi o incêndio de um oleoduto da Petrobrás que passava sob uma favela, Vila Socó, destruída pelas chamas com a morte de cerca de uma centena de pessoas, em 24/2/1984. Cerca de vinte anos depois, em 15 de fevereiro de 2004, o jornal Folha de São Paulo destacou o tema assim:
 


Labaredas consomem barracos na Vila Socó, em incêndio causado após vazamento de gasolina
Foto: Ademir Barbosa - 25/2/1984 - Folha Imagem

MEMÓRIA - Vinte anos após incêndio ter matado ao menos 93 pessoas, moradores querem receber mais atenção da empresa
Vila Socó afirma que Petrobrás "esqueceu" tragédia

Fausto Siqueira
Da Agência Folha, em Cubatão

Duas imagens são recorrentes nos relatos de quem, há 20 anos, sobreviveu ao inferno da Vila Socó, em Cubatão (SP): a do homem que colocou os filhos numa geladeira, na ilusão de assim salvá-los do fogo, e a de uma família ilhada pelas chamas em um barraco que nem sequer ficou chamuscado.

Em um culto multirreligioso na terça-feira de Carnaval, no próprio bairro, os que ficaram vão reverenciar a memória dos que desapareceram na noite de 24 de fevereiro de 1984, tragados pelo devastador incêndio, uma das maiores tragédias do país.

O fogo resultou do vazamento de 700 mil litros de gasolina de um duto da Petrobrás que passava sob as palafitas da favela, à época com quase 6.000 moradores. Oficialmente, 93 pessoas morreram, o equivalente ao número de corpos encontrados.

"O que mais me revolta é ouvir que morreram 93 pessoas. E os bebês que derreteram? E os corpos que acharam em pedaços, divididos? Morreram mais de 200", suspeita a dona-de-casa Maria do Carmo da Silva Fagundes, 59.

Após a tragédia, a favela foi extinta e, no lugar, surgiu um bairro urbanizado, com 1.253 casas de alvenaria, 4.317 habitantes (segundo censo da prefeitura), ruas asfaltadas, escola e posto de saúde. A Justiça não apontou responsáveis pelo acidente, mas os atingidos pelo acidente foram indenizados pela Petrobrás e construíram novas casas na própria Vila São José - eles não se referem mais ao local como Vila Socó - ou em outros bairros.

Mesmo assim, avaliam que as ações da Petrobrás não reparam a perda das famílias. "Fiquei com trauma de fogo, até mesmo na minha própria cozinha", diz a aposentada Maria José dos Santos, 52.

"A Petrobrás foi a responsável e nunca investiu nada no bairro. A única coisa que existe é um curso de alfabetização de adultos, com 30 alunos. A empresa ainda está em dívida com a comunidade", afirma Ednei Manoel de Souza, 28, presidente da sociedade de melhoramentos local.

Para ele, as condições de segurança no bairro - por onde ainda passam os oleodutos - são hoje bem melhores, mas a estatal falha, em sua opinião, ao "esquecer" o lugar da maior tragédia relacionada à empresa. "A Petrobrás investe no Complexo da Maré, na Rocinha, mas aqui não", disse, em referência aos programas sociais mantidos nas duas favelas do Rio.

O prefeito de Cubatão, Clermont Silveira Castor (PL), que, como médico, atendeu às vítimas no pronto-socorro na noite do incêndio, discorda. "Eles [a Petrobrás] fizeram a parte deles, sim. Houve um resgate do lado social, com a construção de novas moradias, e hoje a fiscalização dos dutos é maior."

O coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros da Baixada Santista (filiado à CUT), Alexandre Jatczak Almeida, aprova a tecnologia de controle operacional, implantada pela empresa para monitorar os dutos. Mas, para ele, o ganho é desperdiçado pela falta de pessoal.

"Há poucos operadores na área para tomar as medidas corretivas necessárias", afirma o sindicalista, que atribui o problema à política de terceirização adotada pela empresa.

Estatal afirma que mantém trabalho social

Da Agência Folha, em Santos

Para a Petrobrás, nada é capaz de compensar as mortes na Vila Socó, mas a empresa diz manter uma "ação contínua de responsabilidade social" em Cubatão, segundo nota enviada pela Gerência de Comunicação Institucional da estatal, no Rio.

Como providências "imediatas", após o acidente, a empresa aponta a construção de 400 casas para as vítimas e a implantação de projeto de urbanização, escola e área de lazer. Hoje, a Petrobrás diz executar obras de urbanização e reforma, como construção de canaletas, muros, plantio de grama e remoção de entulho.

Além disso, segundo a nota, Cubatão está no programa de alfabetização Mova-Brasil, parceria entre a empresa, o instituto Paulo Freire e a FUP (Federação Única dos Petroleiros). [FS]

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