Imagem: reprodução parcial da matéria original
Barman de pés no chão
– Será mesmo chic este bar? Estamos certos de que a maioria dos leitores rirá da pergunta, pelo seu caráter de dúvida. Quem será capaz de
achá-lo chic? Não estão vendo no cliché todo o oposto do significado do francesismo? Rendemos todo respeito à opinião alheia, como
Voltaire, mas pedimos licença para também emitirmos a nossa, achando que a maneira de conceber o chic pode variar.
Naturalmente que, para a maioria, "o belo é o que agrada aos olhos" e talvez não
precisemos dizer qual é esse belo de que todos gostam, tão conhecido ele é: coisas arrumadinhas, pintadinhas, bonitinhas, como nos quadros dos
pintores fotográficos.
Vendo-se, porém, o "Bar-Chic" com outros olhos, os olhos da poesia, que poema de
beleza não descobrimos nele? Beleza do simples, beleza do ingênuo, beleza do humilde, beleza do pau-a-pique, do chão de terra batida, da coberta de
sapé, compondo tudo uma história viva de resignação com ambição do caiçara. Sim, porque aqui o barman de pés no chão está mostrando que não
estava isento de projetos na vida, quis progredir, estabeleceu-se.
Conquanto vivam clamando os outros homens contra a indolência do praiano, quando este
quer sair do charco do fatalismo, eis que não o ajudam. Como no caso do proprietário do "Bar-Chic", que já se encontra às portas da falência, pois
que não é que os impostos são uma carga danada para ele? À beira de uma estrada de mínimo trânsito, entre a enseada da Bertioga e a praia de S.
Lourenço, o "estabelecimento" não pode agüentar um imposto de Cr$ 130,00 por trimestre. Resultado: o barman caiçara tem que volver à
indolência e à resignação fatalista.
Quem poderá acudi-lo? Não existe uma sociedade "Amparo aos praianos da Bertioga"? Que
ela tenha a palavra, dando o maior valor à descoberta que o repórter fotográfico Rafael Dias Herrera acaba de fazer para a A Tribuna.
Descoberta que tem não só o mérito do furo, como o de focalizar, em magnífica síntese pela imagem, o problema de miséria de todo o nosso
litoral, miséria tão sugestiva que nem para beber pinga com limão e gengibre os praianos têm dinheiro. Que o diga esse barman de pés no chão.
- (F. A.). |