Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/bertioga/bh005d.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/04/04 10:02:58
Clique aqui para voltar à página inicial de Bertioga
HISTÓRIAS E LENDAS DE BERTIOGA
Bertioga, no começo de sua história (4)

Leva para a página anterior

Um capítulo é dedicado na História de Santos/Poliantéia Santista pelos autores Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti (Ed. Caudex Ltda., São Vicente/SP, 1986) à história de Bertioga, que assim continuou o seu relato:

Um grande precursor

A Bertioga simples e pobre das três primeiras décadas do século XX; a Bertioga dos piqueniques, das pescarias, das orquídeas e dos palmitos amargos nativos; a Bertioga da fartura de ostras, mariscos, siris, caranguejos, garoupas e tainhas; a Bertioga da Festa do Divino, movimentando todo o vilarejo, foi perdendo, lentamente, essas características caiçaras à medida que foi sendo conquistada, com muito empenho e sacrifício de alguns poucos, pelo progresso.

Já nos reportamos a muitos precursores, aos quais Bertioga deve a reversão de seu ostracismo em processo de desenvolvimento. Alguns nomes como Elias Nehme, Rafael Costábile, José Ermírio de Moraes, Alberto Caldas, Sílvio Rodrigues, Henrique Costábile, Coriolano Mazzoni, José Rodrigues, Sílvio Fernandes Lopes, general Clóvis Bandeira Brasil e Antonio Manoel de Carvalho, dentre outros, estão marcantemente ligados a essa fase redentora da velha Bertioga histórica e legendária.

Entre os valorosos precursores da recuperação de Bertioga, e de sua extraordinária projeção em termos turísticos, há, indiscutivelmente, um nome a ser destacado: Armando Lichti.

Por certo muitos serviram devotamente a Bertioga, mas, em verdade, ninguém a amou mais do que ele. Armando Lichti "vivia" Bertioga no seu quotidiano, onde estivesse, mesmo nos seus negócios de navegação, levando, constantemente, armadores e oficiais da marinha mercante, de todos os quadrantes do mundo, para conhecer a sua paradisíaca Bertioga. Todos os graves problemas que afligiam a vila, como transporte, água, luz, policiamento, emergência médica, comunicações, eram "seus" problemas, com os quais ocupava grande parte de seu tempo, em Santos.

Ele sempre servia a Bertioga, sem que jamais se servisse dela. Sentia prazer em servir, sentia-se feliz divulgando o vilarejo histórico que "descobrira" no início dos anos 30, para a ele dedicar grande parte de sua vida, a partir de 1936, quando alugou uma das casas de Norberto Luiz, para os seus fins-de-semana.

Em 1942 alugou a vivenda de Germano Besser, tão pronto o casal se mudou, em razão da guerra, e a seguir, comprando as propriedades contíguas, de Miguel Saiad Bichir, Joaquim Pedro Cardim, Emydio de Souza e Gabriel Fernandes Garcez, uniu-as, formando um grande parque, reconstituindo, quase por completo, a velha Chácara do Basílio, também conhecida como "chácara dos jambeiros" ou "das palmeiras imperiais".

Aí, Armando Lichti montou a sua aprazível Granja Zilá - uma granja exclusivamente decorativa, sem nenhum objetivo comercial, que logo seria transformada num encantador bosque, plenamente aparelhado para grandes convescotes e, para tal, freqüentemente solicitado e ocupado. A Granja Zilá foi, indiscutivelmente, a grande e fidalga anfitriã que recepcionou embaixadores, cônsules, prefeitos, bispos, militares, empresários, senadores, secretários de Estado, deputados, vereadores, oficiais militares, jornalistas e tantas outras marcantes personalidades que Armando Lichti convidava e hospedava, para constatarem as belezas da terra que proclamava.

Naqueles faustosos dias da década 40, em qualquer parte onde se falasse de Bertioga, se estaria, por certo, falando de Armando Lichti, de sua lhaneza de trato, de sua fidalguia - da beleza, da fartura e da alegria contagiante de sua Granja Zilá.

Mas, Armando Lichti não foi apenas o generoso anfitrião, o extraordinário divulgador e o grande apaixonado de Bertioga. Ele, com o seu prestígio pessoal, por vezes sozinho, outras vezes apoiando figuras representativas da localidade, foi o grande propulsor de Bertioga, pois fê-la despertar do ostracismo e do abandono, chamando para aquela vila histórica a atenção de todos, fazendo, a muitos, conhecer seus problemas, suas reivindicações e suas necessidades.

Armando Lichti trouxe para Bertioga o seu primeiro Posto-Ambulatório Médico-Dentário, instalado pela Cruz Vermelha Brasileira, seção de Santos, em convênio com a Prefeitura, em 1936. Pugnou em prol da melhoria do serviço telegráfico e do precário serviço das lanchas de carreira. Foi um dos artífices da instalação do primeiro telefone - P.S.-1. Foi líder na conquista da Subprefeitura de Bertioga, cujos dois primeiros subprefeitos - engenheiro Carlos Lang e Sílvio Rodrigues - foram por ele indicados, os quais, em suas idas semanais à vila, para acompanhar os serviços de topografia, alargamento, retificação e melhoria das ruas (até então, simples caminhos estreitos, tortuosos e alagadiços) se hospedavam na Granja Zilá.

O grande alargamento e retificação da Av. Vicente de Carvalho foi sua inspiração junto ao engenheiro Carlos Lang, que a projetou, e ao subprefeito Sílvio Rodrigues, que a executou, com a colaboração e exemplo de Armando Lichti que, além de ceder mais de 600 metros quadrados de sua área, sem qualquer ônus à municipalidade, ainda derrubou as completas instalações do estábulo da granja e persuadiu a família Besser e outros proprietários a permitirem o alargamento da avenida sobre suas propriedades, sem qualquer indenização.

Não se conformando com o abandono das ruínas históricas, lutou até conseguir permissão para mandar limpá-las, abrindo os caminhos de acesso, derrubando as matas que as cobriam, restaurando-as parcialmente, com suas pedras espalhadas (que ainda sobravam, pois muitas já haviam sido carregadas pelos próprios caiçaras e utilizadas nos alicerces de suas casas) e mantendo-as limpas e até caiadas, visíveis à distância, e assim as conservando, por sua conta, durante oito ou dez anos, enquanto viveu.

Em 1948 editou o opúsculo "Bertioga histórica e legendária", distribuindo os seus 3.000 exemplares, gratuitamente. Foi a única publicação informativo-cultural editada, exclusivamente, sobre Bertioga, até hoje. Ele pugnou muito pela solução do abastecimento de água, pela melhoria da estrada de rodagem na Ilha de Santo Amaro e pela instalação do ferry-boat interligando Bertioga a Guarujá. Deixou essas sementes germinando, pois esses frutos foram colhidos após 1950, quando faleceu.

Não houve uma só reivindicação em prol de Bertioga, de 1935 a 1950, da qual não participasse. A vila não dispunha de uma escola compatível, pois a velha casa que abrigava uma só classe, na Av. Vicente de Carvalho, ali ao lado do terreno onde hoje está instalada a A Viga Mestra, estava em ruínas, oferecendo sérios riscos às crianças. Com a valiosa cooperação de sua esposa, professora Alzira Martins Lichti, que fora, ao lado do professor Delfino Stockler de Lima, valorosa propulsora do desenvolvimento do ensino municipal de Santos, os prédios escolares foram reformados, tanto na vila, como na Enseada e, posteriormente, construídas novas unidades.

Desejando proporcionar atrações aos turistas, construiu grandes tanques no Sítio da Armação, na Ilha de Santo Amaro, próximo às velhas ruínas, onde criava carpas e desenvolveu a cultura da vitória-régia, sem qualquer objetivo comercial. Com excepcional espírito comunitário, Armando Lichti estimulou a Sociedade de Amparo aos Praianos de Bertioga; apoiou as atividades esportivas, promovendo jogos e festivais, bem como todas as festividades religiosas e folclóricas, principalmente a tradicional "Festa do Divino". Encaminhava, colocava, assistia e visitava muitos doentes de Bertioga, na Santa Casa da Misericórdia de Santos. Foi um enorme coração "bertiogano" atendendo a tudo e a todos...

***

Terminamos este capítulo que registrou toda a opulência de Bertioga no início da Colonização brasileira e toda sua decadência.

Aqui registramos o seu extraordinário ressurgimento, no século XX.

Hoje, Bertioga é a região litorânea paulista que apresenta maior potencial de valorização imobiliária, e ela dispõe de 36 loteamentos aprovados, com mais de 25 mil lotes. Tem uma população fixa na ordem de 15 mil habitantes e um afluxo de mais de 100 mil turistas que "descobriram" as belezas da vila histórica, através das rodovias Santos-Rio e Moji-Bertioga. Já dispõe de 5 hotéis: Marazul, Balsa, Indaiá, São Lourenço e o Riviera (em construção). Tem 80 km de ruas abertas, das quais 10 km já asfaltados. Conta com uma Delegacia de Polícia de 1ª classe, 2 postos da Polícia Militar, 1 bom Pronto-Socorro Municipal, 1 Posto de Salvamento de banhistas e 1 Posto da Polícia Rodoviária.

Tem 3 agências bancárias: Itaú-centro, Itaú-Sesc e Caixa Econômica Estadual. Sua principal praia - Enseada - terá um jardim a beira-mar de 12 km, já iniciado, com mais de um quilômetro já construído. Dispõe de 10 mil residências, das quais cerca de 6 mil pertencem à sua população flutuante. Conta com bons serviços de energia elétrica, fornecimento de água e rede telefônica, não dispondo, entretanto, de saneamento básico - a principal reivindicação, hoje, de sua comunidade.

Oxalá seus administradores e sua população saibam lutar pela preservação paisagística e ecológica, que tanto a enriquece.

Bertioga cresceu tanto, que já reivindica sua emancipação política. Para acelerar esse processo, já dispõe de um Posto da 272ª Zona Eleitoral, da Comarca de Santos, com mais de 5 mil eleitores registrados.

Não opinamos quanto ao seu futuro, apenas registramos a história.

O importante é que os bertioganos não continuem a formar suas gerações, sem memória. Para isso, registramos esta contribuição, que se nos parece valiosa ao seu futuro, dentro do contexto da História de Santos!