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HISTÓRIAS E LENDAS DE BERTIOGA
Bertioga, no começo de sua história (3)

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Um capítulo é dedicado na História de Santos/Poliantéia Santista pelos autores Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti (Ed. Caudex Ltda., São Vicente/SP, 1986) à história de Bertioga, que assim continuou o seu relato:

Bertioga e suas comunicações

Bertioga adentrou ao século XX em total decadência. Restringia-se a uma pequena vila de pescadores, sem água potável e sem luz, com precário serviço telegráfico e uma deficiente comunicação, por lanchas, com a sede do município.

Bertioga permanecia isolada, sem qualquer comunicação, salvo os barcos de pesca esporádicos e os que faziam navegação regular com o Monte de Trigo (Ilha oceânica), os quais transportavam passageiros e carga, duas vezes por semana, e as lanchas da Cia. Docas de Santos, que faziam a ligação entre o porto e o terminal do pequeno trem que transportava o pessoal de manutenção da Usina Elétrica de Itatinga, e cujo ancoradouro marítimo se localizava no Rio Itapanhaú, que separa a Vila de Bertioga da área continental, naquela ponta, também conhecida como "Pontal".

A Usina Elétrica de Itatinga, pertencente à Cia. Docas de Santos (hoje Codesp - Cia. Docas do Estado de São Paulo), por muitas décadas, forneceu energia e luz ao porto (zona portuária) e ao serviço de bondes elétricos de Santos, e hoje alimenta o território continental santista, de Bertioga a Boracéia, através da Centrais Elétricas do Estado de São Paulo (Cesp).

As lanchas da Cia. Docas, freqüentes e regulares, para o transporte do pessoal, gêneros alimentícios, peças, máquinas e ferramentas à Usina de Itatinga, prestavam esse serviço público à Vila de Bertioga, transportando carga, medicamentos, doentes e os próprios caiçaras.

Posteriormente, já na terceira década do século, surgiu a Cia. Santense de Navegação, que ligava Bertioga a Santos, pelo canal, com duas barcas diárias saindo de ambos os terminais - uma estação flutuante no porto e um trapiche na vila.

No final dos anos 30, o industrial José Ermírio de Moraes, proprietário da Indústria Votorantim, tendo adquirido o sítio "Indaiá" - na ponta da praia da Enseada (que fora do poeta Vicente de Carvalho) -, não se conformando com a demorada viagem através do canal de Bertioga, mesmo com embarcação própria, resolveu abrir um acesso rodoviário entre a praia do Perequê, em Guarujá, e o outro lado da Ilha de Santo Amaro, junto ao canal, em frente à vila de Bertioga. Mesmo com a precariedade dessa estrada, a princípio um simples rodeiro, que não dava passagem após algumas chuvas, estava criada uma alternativa terrestre, via Guarujá, para a interligação de Bertioga com a cidade de Santos.

Essa estrada, na década de 40, passou a ser conservada pela Prefeitura de Guarujá, e na década 50 passou à jurisdição do Departamento de Estrada de Rodagem do Estado (D.E.R.), quando foi inaugurado o serviço de balsas, em 1954, ligando definitivamente Bertioga a Guarujá, via rodoviária, pois para tal a estrada foi alargada, retificada e asfaltada. Sílvio Rodrigues, subprefeito de Bertioga, teve ação decisiva para a obtenção desse importante melhoramento, que possibilitou a ligação de Bertioga com todos os quadrantes da pátria. Brasílio Machado Neto, José Ermírio de Moraes e o prefeito de Santos, Antonio Feliciano da Silva, foram elementos de extraordinária valia nessa magnífica conquista, em prol de Bertioga, que assim se libertou de seus quatrocentos anos de dependência marítima.

Até 1940, a interligação de Bertioga através de suas praias - Enseada, com 12 km; São Lourenço, com 8 km; Guaratuba, com 6 km; e Boracéia, com 5 km (os quilômetros restantes pertencem ao município de São Sebastião), num total de 34 quilômetros de praias santistas, na área continental - era feita com muita precariedade.

A partir de 1950 a comunicação com São Sebastião foi sendo aberta, por etapas, pelas prefeituras, tanto de lá para cá, como vice-versa, em condições quase intransitáveis, com muitos riscos, e essa estrada, que só muito depois passou à jurisdição do D.E.R., sempre permaneceu em abandono, com esporádicas melhorias, apesar de ter um grupo de manutenção a partir do final dos anos 60, conseguido pelo empenho pessoal do prefeito de São Sebastião, Mansueto Pierotti, ao qual se ficou devendo a possibilidade de uso regular dessa estrada, que passou a ser mais uma opção de comunicação rodoviária, ligando Bertioga ao Litoral Norte e ao Vale do Paraíba.

Surgiu no final dos anos 70, por etapas, a sonhada ligação de Bertioga com Moji das Cruzes, cujo município e região adjacente buscava, através dessa estrada, colocar o mar e as praias a apenas 50 minutos, para o uso de seus munícipes. Essa estrada foi muito falada, cogitada e tentada, por diversas vezes, inclusive com grandes influências políticas, desde os anos 40. Ela só se tornou realidade pela ação decisiva da Prefeitura Municipal de Moji as Cruzes, que se dispôs a abri-la, inicialmente, mesmo à revelia do Governo do Estado, com seus próprios recursos financeiros, em convênio com a Prefeitura Municipal de Santos, à qual coube executar as obras correspondentes à Baixada, no território santista.

Restava abrir a estrada no trecho da serra, onde as dificuldades técnicas e os custos eram mais elevados, conseguindo então, as duas municipalidades, que o Estado assumisse a execução desse trecho, através do Departamento de Estrada de Rodagem. A ligação Moji-Bertioga foi aberta, mesmo com trechos sem asfalto, em 1982, e só agora, recentemente, foi concluída e inaugurada, quase que concomitantemente com a Rodovia Rio-Santos, que estão proporcionando uma explosão turística sobre Bertioga e suas praias, que está tendo grande dificuldade, por absoluta falta de infra-estrutura, para receber mais de 100 mil pessoas nos fins de semana prolongados e ensolarados. Com essas integrações rodoviárias, este aprazível e pitoresco balneário santista se projeta entre as grandes opções turísticas nacionais.

No final da década 50, o velho telégrafo com fio foi substituído pelo sistema de rádio, tornando mais rápida e mais eficiente essa comunicação, complementada com uma agência postal.

Em meados da década 40 a Cia. Telefônica brasileira (C.T.B.) instalou um posto público na vila, com um único aparelho, inicialmente instalado no Hotel Lido, posteriormente transferido para um anexo à Padaria São João da Barra.

Essa Colônia de Férias também construiu uma pequena pista para aviões, que só era utilizada por altas autoridades estaduais e federais, em alguns casos de emergência pública e pelo próprio Sesc, em situações de maior dificuldade. Antes do advento das balsas, os comerciários e suas famílias, que se revezavam a cada 14 dias na colônia, eram transportados em barcas especiais e pelas lanchas de carreira. Posteriormente, com as balsas, passaram a ser transportados de ônibus.

O Sesc, desde a inauguração de sua Colônia Rui Fonseca, dispunha de um serviço de rádio, através do qual mantinha sua intercomunicação com sua sede, em São Paulo, pois o telefone PS-2 da C.T.B. só foi instalado na Colônia alguns anos depois e, por muito tempo, permaneceu precaríssimo, com constantes interrupções, principalmente depois de ventos e chuvas mais fortes, pois a fiação da linha telefônica de Bertioga vinha através da Ilha de Santo Amaro, em frágeis condições, atravessando matas e mangues, pelo mesmo trajeto da linha do Telégrafo Nacional, também interrompida com muita freqüência.

Mesmo depois do advento da estrada interligando Bertioga a São Sebastião, numa distância superior a 100 quilômetros, constantemente intransitável, a comunicação dos caiçaras radicados nessa região litorânea, bem como da sua população flutuante de férias e fins-de-semana, de alguns pequenos agricultores e, ainda, dos que se utilizavam dessa estrada, era muito difícil, em qualquer necessidade, pois os telefones mais próximos estavam em suas extremidades - S. Sebastião e Bertioga -, para a chamada de uma ambulância, de um guincho ou de um transporte.

Com a inauguração do oleoduto da Petrobrás, que liga o Terminal Marítimo Almirante Barroso, em São Sebastião, com a Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, esse distanciamento ficou mais reduzido, em razão dos postos de radiocomunicação que a Petrobrás mantém nesse trajeto, para controle do oleoduto, e dos quais se servem todos os que tenham quaisquer emergências, ainda hoje.

O primeiro serviço de transporte coletivo, através de um único velho ônibus particular, que interligava a vila às praias, inicialmente até a Praia de São Lourenço, depois até a Barra de Una (no Município de São Sebastião), surgiu na década 60. Hoje, esse transporte, ainda deficiente, mas melhorado, com mais veículos e maior freqüência, é feito pela Companhia Santista de Transportes Coletivos (C.S.T.C.).

Desde a abertura da estrada Bertioga-São Sebastião, tão logo as pontes de madeira, em profusão, foram reforçadas, no final da década 60, o Expresso Rodoviário Atlântico S/A mantém uma linha de ônibus regular, com transporte de encomendas e passageiros, com dois horários por dia, de Santos e de S. Sebastião, com agência em Bertioga - sem dúvida um transporte pioneiro na integração de quase duzentos quilômetros do litoral paulista.

O Expresso Rodoviário Atlântico S/A possibilitou aos caiçaras do litoral Norte de São Paulo que se comunicassem com os centros urbanos, livrando tantos núcleos de modestos pescadores e lavradores diversificados pelas numerosas praias de muitas décadas enfrentando a miséria, a doença e o analfabetismo de tantas gerações.