MLI –
Falece o major José Joaquim dos Reis com noventa e sete anos. Era o homem que
mais conhecia as Escrituras Sagradas, e as sabia de cor; e me disse que havia quarenta anos que as estudava.
MLII - Cômputo eclesiástico.
Áureo número, 11; ciclo solar, 5; epacta, 20.
MLIII -
Martirológio. Dia 1º de janeiro, segunda-feira; Páscoa a 31 de março; indicação romana, 15; período Juliano, 6.585.
MLIV - No dia 8 de janeiro de
1872 falece, no Rio de Janeiro, pelas seis horas da tarde, Joaquim José Rodrigues Torres, visconde de Itaboraí, e senador do Império.
No mesmo dia e mesmo mês, falece o poeta Francisco José de
Souza e Silva.
No dia 21 de agosto de 1872, falece na Bahia o
desembargador Antonio Calmon do Pin e Almeida, irmão mais moço do marquês de Abrantes, filhos legítimos do tenente-coronel José Gabriel Calmon de
Almeida e de d. Maria Germana de Souza Magalhães, nascido no engenho Santo Antonio, da freguesia de Nossa Senhora da Purificação, em Santo Amaro.
Era formado em 1821 em Coimbra, e serviu como auditor de guerra no exército libertador na Bahia. Foi deputado à Assembleia Constituinte do Brasil.
Era comendador de Cristo e da Rosa.
No dia 20 de agosto de 1872 falece o conselheiro João
Martins Lourenço Vianna, com oitenta e oito anos de idade.
No dia 25 de agosto falece, pelas oito horas da noite, de
um ataque de asma, exercendo o cargo de ministro da Agricultura, o conselheiro visconde e Itaúna, o doutor em Medicina Candido Borges Monteiro,
com sessenta e um anos de idade.
No dia 10 de setembro de 1872, pelas três horas da manhã,
na Bahia, falece Francisco Gonçalves Martins, visconde de S. Lourenço, senador pela mesma província, nascido no Rio Fundo, termo de Santo Amaro,
no dia 12 de março de 1807.
MLV - No dia 22 de maio de 1872 é
dissolvida a Assembleia Geral Legislativa do Império.
MLVI - No dia 10 de agosto de
1872 foi lançada, na Praça dos Remédios, no Maranhão, a pedra fundamental do monumento erigido em memória do poeta Antonio Gonçalves Dias.
MLVII - Cômputo eclesiástico.
Áureo número, 12; ciclo solar, 6; epacta, 1; letra dominical, E.
MLVIII - Martirológio. Dia 1º de
janeiro, quarta-feira; domingo de Páscoa a 13 de abril; indicação romana, 1; período Juliano, 6.586.
MLIX - No dia 28 de janeiro de
1873 falece o comendador Vicente Ferreira de Castro e Silva, de apoplexia cerebral, na idade de oitenta anos. Era natural da província do Ceará, e
foi secretário da Assembleia Geral Legislativa em 1831.
No dia 29 de maio de 1873 falece, no hospital da Ordem
Terceira da Penitência do Rio de Janeiro, o sargento-mor de milícias José Joaquim dos Reis, na idade de noventa e oito anos, nascido a 6 de maio
de 1775, em Evora Monte, em Portugal. Era o indivíduo que melhor conhecia a Bíblia Sagrada, pois a sabia toda de cor em modo a fazer a aplicação a
qualquer leitura que fizesse, até aos próprios jornais diários. Conheceu pessoalmente o marquês de Pombal, e dele dava variadas notícias.
MLX - Cômputo eclesiástico. Áureo
número, 13; ciclo solar, 7; epacta, 12; letra dominical, D.
MLXI - Martirológio. Dia 1º de
janeiro, quinta-feira; Páscoa a 5 de abril; indicação romana, 2; período Juliano, 6.587.
MLXII - O obituário no município
neutro foi de dez mil, duzentas e sessenta e duas pessoas, sendo quinhentas e sessenta e sete crianças, setecentas e noventa de febre amarela,
seiscentas e quarenta e nove de varíola, e mil oitocentas e oitenta e oito de tísica pulmonar e outras moléstias.
MLXIII - No dia 11 de novembro de
1874 falece, na sua chácara do Mendanha, em Campo Grande do Rio de Janeiro, na idade de setenta e sete anos, o sábio naturalista conselheiro
Francisco Freire Allemão Cisneiro, lente jubilado da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, médico da imperial câmara, diretor do Museu Nacional
da Corte (vide a sua biografia escrita e publicada por mim).
MLXIV - No dia 24 de abril de
1874 caiu sobre a cidade do Rio de Janeiro um furioso temporal, e sobre a serra da Tijuca quebrou-se uma nuvem ou tromba, que inundou os lugares
circunvizinhos, produzindo as enchentes dos rios e das ruas do Andaraí, causando mortes e muitos estragos.
Há dois anos que, por espaço de trinta dias, no mesmo mês,
foram as chuvas quase contínuas e por oito dias sem interrupção, com fortes aguaceiros de espaço a espaço.
A cidade capital do Império, assentada em um extenso vale
todo plano, sem inclinação bastante para o escoamento das águas pluviais, mais cedo ou mais tarde sofrera estragos irreparáveis pela imprevidência
dos agentes do governo, na fiscalização das obras que são feitas por pessoas incompetentes, sem direção profissional. É uma vergonha verem-se as
ruas da cidade intransitáveis, quando chove, por causa das inundações.
MLXV - O decreto n. 2.501, de 27
de junho de 1874 (Diario Official n. 176, de 16 de julho de 1874), aprovou a pensão de trinta e seis mil réis mensais, concedida, por
decreto de 2 de agosto de 1873, a d. Francisca Romana de Moraes, mãe dos alferes de comissão Antonio, Pedro e Dircêo Joaquim Corrêa de Moraes e
dos primeiros-cadetes Julio, João e Francisco Joaquim Corrêa de Moraes, os quatro primeiros falecidos em campanha, sendo dois em combate, dois de
cholera-morbus, e os dois últimos que se tornaram inválidos na guerra do Paraguai.
MLXVI - No dia 3 de agosto de
1874 é recolhido preso à fortaleza da Ilha das Cobras o reverendo bispo do Pará, d. Antonio da Costa, para cumprir a pena de quatro anos de prisão
em que lhe foi comutada a de quatro anos de prisão com trabalho.
MLXVII - No dia 10 de outubro de
1874 é inaugurado o segundo dique da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, denominado Santa Cruz.
MLXVIII - No dia 19 de novembro
de 1874, foram achadas, no Ribeirão Vermelho, na cidade de Arcos, província de S. Paulo, nove imagens de Jesus crucificado, sem se saber quem as
deixou ali. Diversos foram os comentários, e o povo afluiu em grande número, a adorar as imagens entoando ladainhas.
MLXIX - Cômputo eclesiástico.
Áureo número, 14; ciclo solar, 8; epacta, 23; letra dominical, C.
MLXX - Martirológio. Dia 1º de
janeiro, sexta-feira; Páscoa a 28 de março; indicação romana, 3; período Juliano, 6.588.
MLXXI - O obituário do município
neutro foi neste ano de onze mil, quinhentas e sessenta e cinco pessoas.
MLXXII - No dia 8 de abril de
1875 falece, em Lisboa, o marquês de Rezende, Antonio Telles da Silva, nascido a 22 de setembro de 1790.
No dia 23 de outubro de 1875 falece, em Pernambuco, o
monsenhor Francisco Muniz Tavares, na sua chácara de Parnamirim, na idade de oitenta anos. Era um dos vultos importantes da independência do
Brasil, foi deputado às Cortes Constituintes de Lisboa, como da Constituinte do Brasil em 1823. Deixou diversos escritos, entre os quais a
Historia da Revolução de Pernambuco de 1817.
MLXXIII - Cômputo eclesiástico.
Áureo número, 6; ciclo solar, 9; epacta, 4; letra dominical, B A.
MLXXIV - Martirológio. Dia 1º de
janeiro, sábado; Páscoa a 16 de abril; indicação romana, 4; período Juliano, 6.589.
MLXXV - No dia 28 de março de
1876 falece, na cidade da Bahia, Joaquim Antonio Moutinho, com oitenta e quatro anos e quatro dias, nascido na Cachoeira no 1º de abril de 1792.
MLXXVI - O Cabelleira,
célebre salteador, natural de Gloria de Goitá, comarca da Victoria (outrora Santo Antão), sofreu a pena capital na forca, em Cinco Pontas, por
sentença da Junta de Justiça, sendo governador de Pernambuco José Cesar de Menezes, que tomara posse do governo em 31 de agosto de 1774.
Com ele foi executado outro salteador, por nome José
Theodosio, e o pai do Cabelleira.
Chamava-se José Gomes e a alcunha de Cabelleira com que se
tornou famoso proveio de ter muito grandes os cabelos. Era mameluco.
Dentre as muitas trovas com que o povo celebrou os seus
feitos e a sua morte, conservam-se ainda na tradição oral de Pernambuco e da Paraíba as seguintes quadras:
Fecha a porta, gente,
Cabelleira aí vem,
Matando mulheres,
Meninos também.
(VARIANTE)
Corram, minha gente,
Cabelleira aí vem,
Ele não vem só,
Vem seu pai também.
Meu pai me pediu
Por sua bênção
Que eu não fosse
carola,
Fosse valentão.
Minha mãe me deu
Contas para rezar,
Meu pai deu-me faca
Para eu matar.
Lá na minha terra,
Lá em Santo Antão,
Encontrei um homem
Feito um guaribão,
Meti-lhe a espingarda,
Foi pa, pi, no chão.
Meu pai me chamou
"- Zé Gomes vem cá;
Como tens passado,
No canavial?"
"Mortinho de fome,
Sequinho de sede,
Só me sustentaria
Em caninha verde".
"- Vem cá, José Gomes,
Anda me contar,
Como te prenderam
No canavial?"
"- Eu me vi cercado
De cabos tenentes
Cada pé de cana
Era um pé de gente.
Quem tiver seus filhos
Saiba os ensinar,
Veja Cabelleira
Que vai a enforcar.
Adeus, ó cidade [24]
Adeus, Santo Antão,
Adeus, mamãezinha
Do meu coração.
Foi preso nos canaviais do Engenho Novo de Pau d'Alho, pelo capitão-mor
Christovão de Hollanda Cavalcanti.
Era insigne tocador de viola.
MLXXVII - O obituário do município neutro foi de
quatorze mil, cento e setenta e cinco pessoas, sendo três mil quatrocentas e setenta e seis de febre amarela.
MLXXVIII - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 16;
ciclo solar, 10; epacta, 15; letra dominical, G.
MLXXIX - Martirológio. Dia 1º de janeiro,
segunda-feira; Páscoa a 1 de abril; indicação romana, 5; período Juliano, 6.590.
MLXXX - Caindo a festa do juramento da Constituição
no dia 25 de março de 1877, domingo de Ramos, em atenção ao dia não houve a festa oficial; no entanto, em 1833 caindo o dia 25 de março,
sexta-feira da Paixão, não obstante a grandeza do dia, se festejou o juramento da Constituição na igreja de S. Francisco de Paula.
MLXXXI - No dia 12 de dezembro de 1877 falece o
conselheiro José Martiniano de Alencar, com quarenta e oito anos de idade, e foi sepultado no cemitério de S. Francisco Xavier. Era orador, poeta
e romancista de nomeada.
MLXXXII - No dia 28 de dezembro de 1877 falece o
conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, senador do Império pela província da Bahia. Foi sepultado no cemitério de S. Francisco de Paula. Era
parlamentar, e de um orgulho extraordinário.
No dia 20 de setembro de 1878, ao meio dia, falece, no convento de Santo
Antonio do Rio de Janeiro, o reverendo guardião frei João Baptista de Santa Roza. Era religioso de muitas virtudes e merecimentos.
MLXXXIII - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 17;
ciclo solar, 11; epacta, 26; letra dominical, F.
MLXXXIV - Martirológio. Dia 1º de janeiro,
terça-feira; domingo de Páscoa a 21 de abril; indicação romana, 6; período Juliano, 6.591.
MLXXXV - Na terça-feira, 26 de novembro de 1878,
falece na vila de Santa Cruz do Rio Pardo, onde era pároco, o reverendo João Domingues Figueira, nascido em 1809 na Ilha da Madeira, e ordenado em
S. Paulo, sendo o reverendo padre Domingues quem mandou fazer a primeira roça, e primeira vivenda ou rancho, sendo ele o primeiro povoador da vila
de Santa Cruz, e o seu primeiro pároco e vigário da Vara, e gozou de bonita reputação, como homem e como sacerdote.
MLXXXVI - No paquete a vapor do dia 14 de janeiro de
1878 seguiu para a província do Ceará a comissão médica mandada pelo governo para tratar dos enfermos atacados da febre negra e da bexiga, tendo
por chefe o dr. José Maria Teixeira.
MLXXXVII - Sendo dissolvida a Assembleia Geral
Legislativa em 1878, mandou-se eleger outra cuja reunião foi marcada para o dia 15 de dezembro do mesmo ano.
MLXXXVIII - No dia 1º de junho de 1878 aparece o
decreto 6.908, mandando construir a estrada de ferro de Piranhas a Jataubá. Os trabalhos foram principiados no dia 23 de outubro do mesmo ano.
MLXXXIX - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 18;
ciclo solar, 12; epacta, 7; letra dominical, E.
MXC - Martirológio. Dia 1º de janeiro, quarta-feira;
domingo de Páscoa a 13 de abril; indicação romana, 7; período Juliano, 6.592.
MXCI - A despesa geral do Império, para o exercício
de 1879-1880, é fixada na quantia de cento e vinte um mil, cento e dezenove contos, quinhentos e noventa e três mil, setecentos e trinta e um
réis, a qual será distribuída pelos sete ministérios na forma seguinte:
Império |
8.822:725$948 |
Justiça |
6.778:845$391 |
Estrangeiros |
1.032:624$666 |
Marinha |
11.352:651$371 |
Guerra |
21.389:783$891 |
Agricultura |
21.389:783$891 |
Fazenda |
56.878:664$000 |
A receita geral do Império está orçada na quantia de cento e um mil contos.
MXCII - No dia 13 de janeiro de 1879, pelas dez horas
da noite de segunda-feira, falece na idade de setenta e seis anos o tenente-coronel, conselheiro de guerra Polydoro da Fonseca Quintanilha Jordão,
visconde de Santa Thereza, vítima de uma febre perniciosa. Nasceu a 2 de novembro de 1802, e foi sepultado no cemitério de S. João Baptista na
Lagoa.
Na segunda-feira, 27 de janeiro de 1879, falece, à uma hora da manhã, na Rua do
Lavradio, o conselheiro Joaquim Marcelino de Brito, nascido na cidade da Bahia em 1799, presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Foi sepultado
no cemitério de S. Francisco de Paula (vide a sua biografia escrita e publicada por mim).
Na segunda-feira, 27 de janeiro de 1879, falece o coronel de engenheiros
Antonio Carneiro Leão, e foi sepultado no cemitério de S. João Baptista.
No dia 19 de fevereiro de 1879 falece, em Minas Gerais, em Santo Antonio do
Machado, com trinta e três anos de idade, o distinto poeta Joaquim Theophilo da Trindade, autor do poema A virgem.
No dia 16 de junho de 1879 falece, na cidade do Pilar, o padre José Henrique de
Amorim, com oitenta e seis anos de idade, nascido a 15 de março de 1793, na cidade das Alagoas. Foi membro do antigo conselho de governo, e muito
se distinguiu por suas opiniões liberais.
MXCIII - No domingo, 2 de fevereiro de 1879, pelas
seis horas da tarde, na presença de suas majestades, fez-se a cerimônia da bênção da pedra fundamental do edifício da Associação Agrícola de
Petrópolis, pelo internúncio monsenhor Matera, ajudado pelo cônego Paiva e vigário Esch.
MXCIV - No dia 23 de novembro de 1879 inaugurou-se a
Santa Casa de Misericórdia da cidade de Pitanguy, na província de Minas Gerais, fundada por iniciativa e esforços do finado José Theodoro da
Silva, que em 1844, com a mais pronunciada dedicação, começou a agenciar os meios para a sua fundação; e em 1847 estava o suntuoso edifício
concluído, sendo bento pelo finado bispo d. Antonio Ditoso. Em 1848, o benemérito fundador procurava abrir o hospital, quando a morte veio
embargar-lhe o intento. Seguiram-se trinta e um anos, e só em 1879 foi que principiou a funcionar.
MXCV - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 19; ciclo
solar, 27; epacta, 18; letra dominical, D C.
MXCVI - Martirológio. Dia 1º de janeiro,
quinta-feira; Páscoa a 28 de março; indicação romana, 8; período Juliano, 6.593.
MXCVII - "Temos
a satisfação de anunciar que os feridos do dia 1º que se acham no hospital da Misericórdia estão considerados livres de perigo, exceto Arséne
Cumange, ao qual têm sobrevindo acessos de febre; todos têm experimentado sensíveis melhoras.
"O brasileiro Francisco Paulo da Silva
Franco pediu ontem alta e retirou-se para a sua casa".
Os mortos
"Sabemos que o sr. chefe
de polícia ordenara que os corpos das vítimas do dia 1º fossem sepultados na vala em caixões da polícia, como pessoas desconhecidas.
"O digno administrador do cemitério deixou de cumprir essa ordem e, baseado nos
decretos ns. 5 e 25 de 24 de julho de 1872, mandou que fossem colocados os corpos em sepulturas separadas, segundo publicamos ontem, a fim de que,
quando o queiram, possam os parentes e amigos dos assassinados pedir e obter tão preciosos restos.
"Não nos admirará, porém, que o sr. Pindahyba mande
qualquer dia dar sumiço aos corpos. Quem foi trigo pode muito bem representar de hiena".
O sr. Fontoura Xavier, na Gazeta da Noite,
publicou a respeito dos estrangeiros mortos na Rua da Uruguaiana o seguinte:
EPITÁFIO INFAMANTE
Povo!
Fitai! Três bravos
estrangeiros,
À fuga d'um milhão de
brasileiros,
Rolaram sobre o pó das
barricadas!...
Morreram defendendo os
nossos brios!
Fechemos esses túmulos
vazios,
Recebamos na História
essas ossadas!
Amanhã sabereis como
se chama
Essa tragédia viu que
nos infama!...
Por hoje, este
epitáfio, e nada mais:
- 'Três bravos
cidadãos da velha Europa,
Que caíram varados
pela tropa,
Em defesa dos brios
nacionais!..."
1º de janeiro de 1880.
Ao povo
Na coroa que Cesar
cinge agora,
Ao grito redentor de
nova aurora,
Vacila a pedra negra
do destino!
Nessa pedra que a
Corte tanto exalça
Reconhece-se enfim a
pedra falsa
Do direito divino
Tu, que há pouco
acordaste aos pés do trono,
Arranca aquela pedra
às mãos do dono,
Substitui por um
brilhante novo!
E que, aos olhos de
quantos te aviltaste,
Apareça a inscrição no
novo engaste:
- DO DIREITO DO POVO.
4 de janeiro de 1880.
Em continuação a esses acontecimentos, com a desaparição da Gazeta
acima, criou o dr. Lopes Trovão um diário intitulado O Combate, no qual o poeta Mathias Carvalho, inspirando-se nas ocorrências que
motivaram o conflito, publica uma poesia da qual destacamos o seguinte trecho:
O IMPOSTO DO VINTÉM
I
O principal
E o rei sentiu-se mal
- fora sinistro o dia!
Passou-lhe no frontal
a contração sombria
Que marca a convulsão
tempestuosa, interna!
Pois que! leproso cão
ousar sujar-lhe a perna!
A lama ousar subir, -
tocar no Privilégio!
A sombra dar um passo!
o diamante régio
Sentir manchas na luz
de sua grande esfera!
O verme avolumar-se em
proporções de fera!
Ter o arrojo brutal, o
grande atrevimento
De comentar a cifra, o
dogma do Orçamento!
E atirar-lhe em cheio
ao seu sagrado rosto:
"Esse imposto é
ilegal! eu não pago esse imposto!"
Oh! isto era demais!
duvidar um instante
Da grande
inteligência, em Londres triunfante,
De um rei que honra o
país como honrara a Garção!
Duvidar do saber, da
vasta ilustração...
- Essa herança imortal
das testas coroadas,
Num protesto
qualquer?!
Ó
turbas condenadas!
O que fora de vós se
vos faltasse o rei,
Esse divino ser o
cérebro da lei,
A Providência, a mão,
a arca d'aliança
Que vos ampara e guia,
a vossa segurança?!
Malditos! não sabeis
que a verba já não basta?
Que aumenta a
parasita, essa divina casta?
Que um rei é um
pobretão com cem contos por mês,
E vós um Rotschild com
cinquenta mil réis?!
Foi decretado o
imposto; e a régia assinatura
Cedendo ao povo - o
vil, faria má figura:
Ficaria afrontada em
órbita econômica,
- Ficava o precedente,
uma moléstia crônica.
Era preciso ser
claramente um tirano!
E o espectro fatal de
Maximiliano
Passou-lhe na cabeça
ardente, ensanguentado!
E no fundo do crânio
um grupo acentuado
Relevava os perfis de
reis de quatro raças,
O desterro e o
desprezo e as explosões das praças...
Longe - a
Misericórdia, envolta no estandarte!
Era preciso erguer um
forte baluarte
Que fizesse abater da
plebe a efervescência!
E silvando feroz nas
mãos da violência
O raio do poder,
armado até os dentes,
O imperial portão
girou nos seus batentes:
"Dais um passo e
morreis!"
É um
requerimento... -
"Voltai! tende juízo!"
Então,
um movimento
Ia fazendo o povo,
alevantado e franco,
Como o leão que sente
uma picada ao flanco.
Mas veio a reflexão:
O que despedaçar?
Umas coisas sem nome?
uns átomos no ar?
.........................................................
.........................................................
- Está morto o sistema
e descoberto o réu! -
Disse a filosofia.
A
multidão venceu
Retrocedendo ao lar.
Sentia-se a grandeza
Das profundas lições
da Convenção Francesa.
MXCVIII - No dia 14 de janeiro de 1880 falece, na
cidade de Cuiabá, o barão de Melgaço, Augusto Leverger, nascido em França a 30 de janeiro de 1802. Naturalizando-se cidadão brasileiro, prestou
bons serviços à causa pública (vide o Jornal do Commercio de 25 de fevereiro de 1880).
MCXIX - No dia 24 de setembro de 1876 chegou ao Rio
de Janeiro o dr. Moura Brazil.
Logo depois da sua formatura em 1872 pela Bahia, partiu para a Europa, onde
demorou-se até julho de 1875.
Em começo de 1874 foi convidado pelo sábio professor L. de Wecker para seu
chefe de clínica, lugar que exerceu até sua vinda para o Brasil. Esta distinção muito nos honrou, pela importância do serviço clínico dirigido por
um dos professores de oftalmologia mais notáveis da Europa e por ser ele brasileiro.
Em Viena d'Áustria acompanhou as clínicas de Arlt Jager e Stellwag. Em Londres,
as de Soelberg-Wells, Bowmann e Crittcket, com quem manteve as melhores relações.
O dr. Moura Brazil é inteligência de distinção e coração aberto a todos os
sentimentos grandes. Na prática de sua especialidade e pelas notáveis memórias de ciência oftalmológica, vertidas para várias línguas, o ilustre
mestre tem conquistado na Europa e na América do Sul um nome glorioso e justamente admirável.
MXCX -
(N. E.: SIC- forma romana correta é MC) - A
Associação Promotora da Instrução foi criada em 1874, com o fim de difundir o ensino primário e secundário no Município Neutro.
Seu presidente, o senador Manoel Francisco Corrêa,
incansável nos meios de dar a esta humanitária instituição o desenvolvimento preciso para satisfazer aos seus intuitos, fundou em 1876 uma série
de conferências, que ainda hoje se realizam na Escola da Glória.
[24]
Olinda.