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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1800-1883 (32)

Clique aqui para ir ao índice do segundo volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 414 a 430 do Tomo II:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 414/tomo II da obra

 

1800-1883 

[...]

MLI Falece o major José Joaquim dos Reis com noventa e sete anos. Era o homem que mais conhecia as Escrituras Sagradas, e as sabia de cor; e me disse que havia quarenta anos que as estudava.

MLII - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 11; ciclo solar, 5; epacta, 20.

MLIII - Martirológio. Dia 1º de janeiro, segunda-feira; Páscoa a 31 de março; indicação romana, 15; período Juliano, 6.585.

MLIV - No dia 8 de janeiro de 1872 falece, no Rio de Janeiro, pelas seis horas da tarde, Joaquim José Rodrigues Torres, visconde de Itaboraí, e senador do Império.

No mesmo dia e mesmo mês, falece o poeta Francisco José de Souza e Silva.

No dia 21 de agosto de 1872, falece na Bahia o desembargador Antonio Calmon do Pin e Almeida, irmão mais moço do marquês de Abrantes, filhos legítimos do tenente-coronel José Gabriel Calmon de Almeida e de d. Maria Germana de Souza Magalhães, nascido no engenho Santo Antonio, da freguesia de Nossa Senhora da Purificação, em Santo Amaro. Era formado em 1821 em Coimbra, e serviu como auditor de guerra no exército libertador na Bahia. Foi deputado à Assembleia Constituinte do Brasil. Era comendador de Cristo e da Rosa.

No dia 20 de agosto de 1872 falece o conselheiro João Martins Lourenço Vianna, com oitenta e oito anos de idade.

No dia 25 de agosto falece, pelas oito horas da noite, de um ataque de asma, exercendo o cargo de ministro da Agricultura, o conselheiro visconde e Itaúna, o doutor em Medicina Candido Borges Monteiro, com sessenta e um anos de idade.

No dia 10 de setembro de 1872, pelas três horas da manhã, na Bahia, falece Francisco Gonçalves Martins, visconde de S. Lourenço, senador pela mesma província, nascido no Rio Fundo, termo de Santo Amaro, no dia 12 de março de 1807.

MLV - No dia 22 de maio de 1872 é dissolvida a Assembleia Geral Legislativa do Império.

MLVI - No dia 10 de agosto de 1872 foi lançada, na Praça dos Remédios, no Maranhão, a pedra fundamental do monumento erigido em memória do poeta Antonio Gonçalves Dias.

MLVII - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 12; ciclo solar, 6; epacta, 1; letra dominical, E.

MLVIII - Martirológio. Dia 1º de janeiro, quarta-feira; domingo de Páscoa a 13 de abril; indicação romana, 1; período Juliano, 6.586.

MLIX - No dia 28 de janeiro de 1873 falece o comendador Vicente Ferreira de Castro e Silva, de apoplexia cerebral, na idade de oitenta anos. Era natural da província do Ceará, e foi secretário da Assembleia Geral Legislativa em 1831.

No dia 29 de maio de 1873 falece, no hospital da Ordem Terceira da Penitência do Rio de Janeiro, o sargento-mor de milícias José Joaquim dos Reis, na idade de noventa e oito anos, nascido a 6 de maio de 1775, em Evora Monte, em Portugal. Era o indivíduo que melhor conhecia a Bíblia Sagrada, pois a sabia toda de cor em modo a fazer a aplicação a qualquer leitura que fizesse, até aos próprios jornais diários. Conheceu pessoalmente o marquês de Pombal, e dele dava variadas notícias.

MLX - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 13; ciclo solar, 7; epacta, 12; letra dominical, D.

MLXI - Martirológio. Dia 1º de janeiro, quinta-feira; Páscoa a 5 de abril; indicação romana, 2; período Juliano, 6.587.

MLXII - O obituário no município neutro foi de dez mil, duzentas e sessenta e duas pessoas, sendo quinhentas e sessenta e sete crianças, setecentas e noventa de febre amarela, seiscentas e quarenta e nove de varíola, e mil oitocentas e oitenta e oito de tísica pulmonar e outras moléstias.

MLXIII - No dia 11 de novembro de 1874 falece, na sua chácara do Mendanha, em Campo Grande do Rio de Janeiro, na idade de setenta e sete anos, o sábio naturalista conselheiro Francisco Freire Allemão Cisneiro, lente jubilado da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, médico da imperial câmara, diretor do Museu Nacional da Corte (vide a sua biografia escrita e publicada por mim).

MLXIV - No dia 24 de abril de 1874 caiu sobre a cidade do Rio de Janeiro um furioso temporal, e sobre a serra da Tijuca quebrou-se uma nuvem ou tromba, que inundou os lugares circunvizinhos, produzindo as enchentes dos rios e das ruas do Andaraí, causando mortes e muitos estragos.

Há dois anos que, por espaço de trinta dias, no mesmo mês, foram as chuvas quase contínuas e por oito dias sem interrupção, com fortes aguaceiros de espaço a espaço.

A cidade capital do Império, assentada em um extenso vale todo plano, sem inclinação bastante para o escoamento das águas pluviais, mais cedo ou mais tarde sofrera estragos irreparáveis pela imprevidência dos agentes do governo, na fiscalização das obras que são feitas por pessoas incompetentes, sem direção profissional. É uma vergonha verem-se as ruas da cidade intransitáveis, quando chove, por causa das inundações.

MLXV - O decreto n. 2.501, de 27 de junho de 1874 (Diario Official n. 176, de 16 de julho de 1874), aprovou a pensão de trinta e seis mil réis mensais, concedida, por decreto de 2 de agosto de 1873, a d. Francisca Romana de Moraes, mãe dos alferes de comissão Antonio, Pedro e Dircêo Joaquim Corrêa de Moraes e dos primeiros-cadetes Julio, João e Francisco Joaquim Corrêa de Moraes, os quatro primeiros falecidos em campanha, sendo dois em combate, dois de cholera-morbus, e os dois últimos que se tornaram inválidos na guerra do Paraguai.

MLXVI - No dia 3 de agosto de 1874 é recolhido preso à fortaleza da Ilha das Cobras o reverendo bispo do Pará, d. Antonio da Costa, para cumprir a pena de quatro anos de prisão em que lhe foi comutada a de quatro anos de prisão com trabalho.

MLXVII - No dia 10 de outubro de 1874 é inaugurado o segundo dique da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, denominado Santa Cruz.

MLXVIII - No dia 19 de novembro de 1874, foram achadas, no Ribeirão Vermelho, na cidade de Arcos, província de S. Paulo, nove imagens de Jesus crucificado, sem se saber quem as deixou ali. Diversos foram os comentários, e o povo afluiu em grande número, a adorar as imagens entoando ladainhas.

MLXIX - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 14; ciclo solar, 8; epacta, 23; letra dominical, C.

MLXX - Martirológio. Dia 1º de janeiro, sexta-feira; Páscoa a 28 de março; indicação romana, 3; período Juliano, 6.588.

MLXXI - O obituário do município neutro foi neste ano de onze mil, quinhentas e sessenta e cinco pessoas.

MLXXII - No dia 8 de abril de 1875 falece, em Lisboa, o marquês de Rezende, Antonio Telles da Silva, nascido a 22 de setembro de 1790.

No dia 23 de outubro de 1875 falece, em Pernambuco, o monsenhor Francisco Muniz Tavares, na sua chácara de Parnamirim, na idade de oitenta anos. Era um dos vultos importantes da independência do Brasil, foi deputado às Cortes Constituintes de Lisboa, como da Constituinte do Brasil em 1823. Deixou diversos escritos, entre os quais a Historia da Revolução de Pernambuco de 1817.

MLXXIII - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 6; ciclo solar, 9; epacta, 4; letra dominical, B A.

MLXXIV - Martirológio. Dia 1º de janeiro, sábado; Páscoa a 16 de abril; indicação romana, 4; período Juliano, 6.589.

MLXXV - No dia 28 de março de 1876 falece, na cidade da Bahia, Joaquim Antonio Moutinho, com oitenta e quatro anos e quatro dias, nascido na Cachoeira no 1º de abril de 1792.

MLXXVI - O Cabelleira, célebre salteador, natural de Gloria de Goitá, comarca da Victoria (outrora Santo Antão), sofreu a pena capital na forca, em Cinco Pontas, por sentença da Junta de Justiça, sendo governador de Pernambuco José Cesar de Menezes, que tomara posse do governo em 31 de agosto de 1774.

Com ele foi executado outro salteador, por nome José Theodosio, e o pai do Cabelleira.

Chamava-se José Gomes e a alcunha de Cabelleira com que se tornou famoso proveio de ter muito grandes os cabelos. Era mameluco.

Dentre as muitas trovas com que o povo celebrou os seus feitos e a sua morte, conservam-se ainda na tradição oral de Pernambuco e da Paraíba as seguintes quadras:

Fecha a porta, gente,

Cabelleira aí vem,

Matando mulheres,

Meninos também.

(VARIANTE)

Corram, minha gente,

Cabelleira aí vem,

Ele não vem só,

Vem seu pai também.

 

Meu pai me pediu

Por sua bênção

Que eu não fosse carola,

Fosse valentão.

 

Minha mãe me deu

Contas para rezar,

Meu pai deu-me faca

Para eu matar.

 

Lá na minha terra,

Lá em Santo Antão,

Encontrei um homem

Feito um guaribão,

 

Meti-lhe a espingarda,

Foi pa, pi, no chão.

Meu pai me chamou

"- Zé Gomes vem cá;

Como tens passado,

No canavial?"

 

"Mortinho de fome,

Sequinho de sede,

Só me sustentaria

Em caninha verde".

 

"- Vem cá, José Gomes,

Anda me contar,

Como te prenderam

No canavial?"

 

"- Eu me vi cercado

De cabos tenentes

Cada pé de cana

Era um pé de gente.

 

Quem tiver seus filhos

Saiba os ensinar,

Veja Cabelleira

Que vai a enforcar.

 

Adeus, ó cidade [24]

Adeus, Santo Antão,

Adeus, mamãezinha

Do meu coração.

Foi preso nos canaviais do Engenho Novo de Pau d'Alho, pelo capitão-mor Christovão de Hollanda Cavalcanti.

Era insigne tocador de viola.

MLXXVII - O obituário do município neutro foi de quatorze mil, cento e setenta e cinco pessoas, sendo três mil quatrocentas e setenta e seis de febre amarela.

MLXXVIII - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 16; ciclo solar, 10; epacta, 15; letra dominical, G.

MLXXIX - Martirológio. Dia 1º de janeiro, segunda-feira; Páscoa a 1 de abril; indicação romana, 5; período Juliano, 6.590.

MLXXX - Caindo a festa do juramento da Constituição no dia 25 de março de 1877, domingo de Ramos, em atenção ao dia não houve a festa oficial; no entanto, em 1833 caindo o dia 25 de março, sexta-feira da Paixão, não obstante a grandeza do dia, se festejou o juramento da Constituição na igreja de S. Francisco de Paula.

MLXXXI - No dia 12 de dezembro de 1877 falece o conselheiro José Martiniano de Alencar, com quarenta e oito anos de idade, e foi sepultado no cemitério de S. Francisco Xavier. Era orador, poeta e romancista de nomeada.

MLXXXII - No dia 28 de dezembro de 1877 falece o conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, senador do Império pela província da Bahia. Foi sepultado no cemitério de S. Francisco de Paula. Era parlamentar, e de um orgulho extraordinário.

No dia 20 de setembro de 1878, ao meio dia, falece, no convento de Santo Antonio do Rio de Janeiro, o reverendo guardião frei João Baptista de Santa Roza. Era religioso de muitas virtudes e merecimentos.

MLXXXIII - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 17; ciclo solar, 11; epacta, 26; letra dominical, F.

MLXXXIV - Martirológio. Dia 1º de janeiro, terça-feira; domingo de Páscoa a 21 de abril; indicação romana, 6; período Juliano, 6.591.

MLXXXV - Na terça-feira, 26 de novembro de 1878, falece na vila de Santa Cruz do Rio Pardo, onde era pároco, o reverendo João Domingues Figueira, nascido em 1809 na Ilha da Madeira, e ordenado em S. Paulo, sendo o reverendo padre Domingues quem mandou fazer a primeira roça, e primeira vivenda ou rancho, sendo ele o primeiro povoador da vila de Santa Cruz, e o seu primeiro pároco e vigário da Vara, e gozou de bonita reputação, como homem e como sacerdote.

MLXXXVI - No paquete a vapor do dia 14 de janeiro de 1878 seguiu para a província do Ceará a comissão médica mandada pelo governo para tratar dos enfermos atacados da febre negra e da bexiga, tendo por chefe o dr. José Maria Teixeira.

MLXXXVII - Sendo dissolvida a Assembleia Geral Legislativa em 1878, mandou-se eleger outra cuja reunião foi marcada para o dia 15 de dezembro do mesmo ano.

MLXXXVIII - No dia 1º de junho de 1878 aparece o decreto 6.908, mandando construir a estrada de ferro de Piranhas a Jataubá. Os trabalhos foram principiados no dia 23 de outubro do mesmo ano.

MLXXXIX - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 18; ciclo solar, 12; epacta, 7; letra dominical, E.

MXC - Martirológio. Dia 1º de janeiro, quarta-feira; domingo de Páscoa a 13 de abril; indicação romana, 7; período Juliano, 6.592.

MXCI - A despesa geral do Império, para o exercício de 1879-1880, é fixada na quantia de cento e vinte um mil, cento e dezenove contos, quinhentos e noventa e três mil, setecentos e trinta e um réis, a qual será distribuída pelos sete ministérios na forma seguinte:

Império 8.822:725$948
Justiça 6.778:845$391
Estrangeiros 1.032:624$666
Marinha 11.352:651$371
Guerra 21.389:783$891
Agricultura 21.389:783$891
Fazenda 56.878:664$000

A receita geral do Império está orçada na quantia de cento e um mil contos.

MXCII - No dia 13 de janeiro de 1879, pelas dez horas da noite de segunda-feira, falece na idade de setenta e seis anos o tenente-coronel, conselheiro de guerra Polydoro da Fonseca Quintanilha Jordão, visconde de Santa Thereza, vítima de uma febre perniciosa. Nasceu a 2 de novembro de 1802, e foi sepultado no cemitério de S. João Baptista na Lagoa.

Na segunda-feira, 27 de janeiro de 1879, falece, à uma hora da manhã, na Rua do Lavradio, o conselheiro Joaquim Marcelino de Brito, nascido na cidade da Bahia em 1799, presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Foi sepultado no cemitério de S. Francisco de Paula (vide a sua biografia escrita e publicada por mim).

Na segunda-feira, 27 de janeiro de 1879, falece o coronel de engenheiros Antonio Carneiro Leão, e foi sepultado no cemitério de S. João Baptista.

No dia 19 de fevereiro de 1879 falece, em Minas Gerais, em Santo Antonio do Machado, com trinta e três anos de idade, o distinto poeta Joaquim Theophilo da Trindade, autor do poema A virgem.

No dia 16 de junho de 1879 falece, na cidade do Pilar, o padre José Henrique de Amorim, com oitenta e seis anos de idade, nascido a 15 de março de 1793, na cidade das Alagoas. Foi membro do antigo conselho de governo, e muito se distinguiu por suas opiniões liberais.

MXCIII - No domingo, 2 de fevereiro de 1879, pelas seis horas da tarde, na presença de suas majestades, fez-se a cerimônia da bênção da pedra fundamental do edifício da Associação Agrícola de Petrópolis, pelo internúncio monsenhor Matera, ajudado pelo cônego Paiva e vigário Esch.

MXCIV - No dia 23 de novembro de 1879 inaugurou-se a Santa Casa de Misericórdia da cidade de Pitanguy, na província de Minas Gerais, fundada por iniciativa e esforços do finado José Theodoro da Silva, que em 1844, com a mais pronunciada dedicação, começou a agenciar os meios para a sua fundação; e em 1847 estava o suntuoso edifício concluído, sendo bento pelo finado bispo d. Antonio Ditoso. Em 1848, o benemérito fundador procurava abrir o hospital, quando a morte veio embargar-lhe o intento. Seguiram-se trinta e um anos, e só em 1879 foi que principiou a funcionar.

MXCV - Cômputo eclesiástico. Áureo número, 19; ciclo solar, 27; epacta, 18; letra dominical, D C.

MXCVI - Martirológio. Dia 1º de janeiro, quinta-feira; Páscoa a 28 de março; indicação romana, 8; período Juliano, 6.593.

MXCVII - "Temos a satisfação de anunciar que os feridos do dia 1º que se acham no hospital da Misericórdia estão considerados livres de perigo, exceto Arséne Cumange, ao qual têm sobrevindo acessos de febre; todos têm experimentado sensíveis melhoras.

"O brasileiro Francisco Paulo da Silva Franco pediu ontem alta e retirou-se para a sua casa".


Os mortos

"Sabemos que o sr. chefe de polícia ordenara que os corpos das vítimas do dia 1º fossem sepultados na vala em caixões da polícia, como pessoas desconhecidas.

"O digno administrador do cemitério deixou de cumprir essa ordem e, baseado nos decretos ns. 5 e 25 de 24 de julho de 1872, mandou que fossem colocados os corpos em sepulturas separadas, segundo publicamos ontem, a fim de que, quando o queiram, possam os parentes e amigos dos assassinados pedir e obter tão preciosos restos.

"Não nos admirará, porém, que o sr. Pindahyba mande qualquer dia dar sumiço aos corpos. Quem foi trigo pode muito bem representar de hiena".


O sr. Fontoura Xavier, na Gazeta da Noite, publicou a respeito dos estrangeiros mortos na Rua da Uruguaiana o seguinte:

EPITÁFIO INFAMANTE

Povo!

Fitai! Três bravos estrangeiros,

À fuga d'um milhão de brasileiros,

Rolaram sobre o pó das barricadas!...

Morreram defendendo os nossos brios!

Fechemos esses túmulos vazios,

Recebamos na História essas ossadas!

 

Amanhã sabereis como se chama

Essa tragédia viu que nos infama!...

Por hoje, este epitáfio, e nada mais:

- 'Três bravos cidadãos da velha Europa,

Que caíram varados pela tropa,

Em defesa dos brios nacionais!..."

1º de janeiro de 1880.


Ao povo

Na coroa que Cesar cinge agora,

Ao grito redentor de nova aurora,

Vacila a pedra negra do destino!

Nessa pedra que a Corte tanto exalça

Reconhece-se enfim a pedra falsa

Do direito divino

 

Tu, que há pouco acordaste aos pés do trono,

Arranca aquela pedra às mãos do dono,

Substitui por um brilhante novo!

E que, aos olhos de quantos te aviltaste,

Apareça a inscrição no novo engaste:

- DO DIREITO DO POVO.

4 de janeiro de 1880.

Em continuação a esses acontecimentos, com a desaparição da Gazeta acima, criou o dr. Lopes Trovão um diário intitulado O Combate, no qual o poeta Mathias Carvalho, inspirando-se nas ocorrências que motivaram o conflito, publica uma poesia da qual destacamos o seguinte trecho:

O IMPOSTO DO VINTÉM

I

O principal

E o rei sentiu-se mal - fora sinistro o dia!

Passou-lhe no frontal a contração sombria

Que marca a convulsão tempestuosa, interna!

Pois que! leproso cão ousar sujar-lhe a perna!

A lama ousar subir, - tocar no Privilégio!

A sombra dar um passo! o diamante régio

Sentir manchas na luz de sua grande esfera!

O verme avolumar-se em proporções de fera!

Ter o arrojo brutal, o grande atrevimento

De comentar a cifra, o dogma do Orçamento!

E atirar-lhe em cheio ao seu sagrado rosto:

"Esse imposto é ilegal! eu não pago esse imposto!"

Oh! isto era demais! duvidar um instante

Da grande inteligência, em Londres triunfante,

De um rei que honra o país como honrara a Garção!

Duvidar do saber, da vasta ilustração...

- Essa herança imortal das testas coroadas,

Num protesto qualquer?!

Ó turbas condenadas!

O que fora de vós se vos faltasse o rei,

Esse divino ser o cérebro da lei,

A Providência, a mão, a arca d'aliança

Que vos ampara e guia, a vossa segurança?!

Malditos! não sabeis que a verba já não basta?

Que aumenta a parasita, essa divina casta?

Que um rei é um pobretão com cem contos por mês,

E vós um Rotschild com cinquenta mil réis?!

Foi decretado o imposto; e a régia assinatura

Cedendo ao povo - o vil, faria má figura:

Ficaria afrontada em órbita econômica,

- Ficava o precedente, uma moléstia crônica.

Era preciso ser claramente um tirano!

E o espectro fatal de Maximiliano

Passou-lhe na cabeça ardente, ensanguentado!

E no fundo do crânio um grupo acentuado

Relevava os perfis de reis de quatro raças,

O desterro e o desprezo e as explosões das praças...

Longe - a Misericórdia, envolta no estandarte!

Era preciso erguer um forte baluarte

Que fizesse abater da plebe a efervescência!

E silvando feroz nas mãos da violência

O raio do poder, armado até os dentes,

O imperial portão girou nos seus batentes:

"Dais um passo e morreis!"

É um requerimento... -

"Voltai! tende juízo!"

Então, um movimento

Ia fazendo o povo, alevantado e franco,

Como o leão que sente uma picada ao flanco.

Mas veio a reflexão:

O que despedaçar?

Umas coisas sem nome? uns átomos no ar?

.........................................................

.........................................................

- Está morto o sistema e descoberto o réu! -

Disse a filosofia.

A multidão venceu

Retrocedendo ao lar. Sentia-se a grandeza

Das profundas lições da Convenção Francesa.

MXCVIII - No dia 14 de janeiro de 1880 falece, na cidade de Cuiabá, o barão de Melgaço, Augusto Leverger, nascido em França a 30 de janeiro de 1802. Naturalizando-se cidadão brasileiro, prestou bons serviços à causa pública (vide o Jornal do Commercio de 25 de fevereiro de 1880).

MCXIX - No dia 24 de setembro de 1876 chegou ao Rio de Janeiro o dr. Moura Brazil.

Logo depois da sua formatura em 1872 pela Bahia, partiu para a Europa, onde demorou-se até julho de 1875.

Em começo de 1874 foi convidado pelo sábio professor L. de Wecker para seu chefe de clínica, lugar que exerceu até sua vinda para o Brasil. Esta distinção muito nos honrou, pela importância do serviço clínico dirigido por um dos professores de oftalmologia mais notáveis da Europa e por ser ele brasileiro.

Em Viena d'Áustria acompanhou as clínicas de Arlt Jager e Stellwag. Em Londres, as de Soelberg-Wells, Bowmann e Crittcket, com quem manteve as melhores relações.

O dr. Moura Brazil é inteligência de distinção e coração aberto a todos os sentimentos grandes. Na prática de sua especialidade e pelas notáveis memórias de ciência oftalmológica, vertidas para várias línguas, o ilustre mestre tem conquistado na Europa e na América do Sul um nome glorioso e justamente admirável.

MXCX - (N. E.: SIC- forma romana correta é MC) - A Associação Promotora da Instrução foi criada em 1874, com o fim de difundir o ensino primário e secundário no Município Neutro.

Seu presidente, o senador Manoel Francisco Corrêa, incansável nos meios de dar a esta humanitária instituição o desenvolvimento preciso para satisfazer aos seus intuitos, fundou em 1876 uma série de conferências, que ainda hoje se realizam na Escola da Glória.


[24] Olinda.