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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1800-1883 (13)

Clique aqui para ir ao índice do segundo volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 139 a 149 do Tomo II:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 139/tomo II da obra

 

1800-1883

[...]

CI – Em consequência de continuados conflitos de jurisdição entre o governador do Maranhão, que se arrogava com maior autoridade, e o governador do Piauí, que não queria se sujeitar a tal arbítrio, e ultimamente pelo conflito entre d. Thomaz de Menezes, governador do Maranhão, e Carlos Cesar Burlamaque, governador do Piauí, por aquele suspenso, preso e sequestrado nos bens, o que el-rei reprovou, reintegrando a Burlamaque; por carta régia de 3 de março de 1811, foi o dito d. Thomaz suspenso do lugar no dia 24 de novembro de 1810, e chamado à Corte; ficando separado o governo do Piauí do do Maranhão.

CII – Por decreto de 4 de dezembro de 1810, mandou o príncipe regente criar no Rio de Janeiro a Academia Militar.

CIII – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 7; ciclo solar, 28; epacta, 6; letra dominical, F.

CIV – Martirológio. Dia 1º de janeiro, terça-feira; Páscoa a 14 de abril; indicação romana, 14; período Juliano, 6.524.

CV – Em 1811 foi visto no céu um bonito cometa, e no dia 7 de janeiro desabaram sobre a cidade do Rio de janeiro chuvas torrenciais que duraram até o dia 11. As águas cresceram tanto que as canoas andavam pelas ruas com passageiros dentro. Por esta ocasião desmoronaram as terras do Morro do Castelo; e me referiu o dr. Manoel Joaquim de Menezes, que as casas da Rua da Ajuda ficaram entulhadas de barro, saindo as águas pelas janelas dos sobrados. O dilúvio do Rio de Janeiro ficou com o nome de Águas do Monte.

CVI – Por decreto de 22 de janeiro de 1811, o príncipe regente ordena que o edifício da Sé Nova, que se constrói no Largo de S. Francisco de Paula, fique destinado para o estabelecimento do arquivo das aulas da nova Academia Real Militar, gabinetes de Física, Química, Mineralogia e História Natural.

CVII – O tenente general João Baptista Vieira Godinho, que tinha sido do regimento de artilharia da praça da Bahia, falece na mesma cidade, às 11 horas do dia 14 de fevereiro de 1811, e foi sepultado na igreja matriz de S. Pedro Velho.

CVIII – No dia 21 de fevereiro do mesmo ano de 1811, por carta régia, foi erigido em vila o arraial e freguesia de S. João Marcos, separando-se da de Rezende de novo criada.

CIX – Por decreto de 4 de abril de 1811, é criada a Repartição da Vacina na Corte do Rio de Janeiro.

CX – A rainha d. Maria I era senhora muito virtuosa, e muito soberba, e só respeitava a seus pais. Depois que subiu ao trono de Portugal, teve para com sua mãe, a rainha d. Marianna, as maiores considerações, dando-lhe sempre a direita em todos os atos públicos, não querendo que ela deixasse o lugar que ocupava no tempo de seu marido, el-rei d. José I. Quis que sua mãe continuasse a governar o paço, no que diz respeito à família mulheril, e criadagem pertencente às senhoras, e como senhora da casa, pondo e dispondo de tudo como no tempo de seu marido.

A morte da mãe lhe foi mui sensível, porque era uma senhora de muito juízo, e que lhe tinha dado e às irmãs excelente educação. Enquanto viveu d. Marianna e d. Maria I esteve em seu juízo, o paço real era o lugar mais respeitado, sendo a religião e a moralidade mantidos e garantidos convenientemente. Só depois que perdeu a razão foi que principiou a desmoralização no paço, e que tantos escândalos houveram.

CXI – Tempos depois, o príncipe regente, tendo contratado casamento dos filhos, d. Maria Isabel com o rei de Espanha, e d. Maria Francisca com o irmão do rei, foi participar à mãe do contrato de casamento que havia feito, ao que ela lhe respondeu: "Maria Isabel casa muito bem; mas Maria Francisca, não".

Sabendo a rainha que d. Carlota Joaquina queria ir para a Espanha com os filhos, e que levava consigo as duas filhas d. Maria da Assumpção e d. Anna de Jesus Maria, porque d. Carlota foi quem lhe comunicou isto, ela lhe respondeu: "Faz muito bem; deve ir para sua pátria; cá fica João com seus filhos".

CXII – D. Maria, todas as tardes, saía a passeio de carruagem, e para o quê a carregavam em cadeira até ao degrau da sege, indo ela com vestido de seda preta, xale de lã ou de seda de cor honesta ou branco; cabelos soltos para as costas, cabeça descoberta, tapando o rosto com o leque, dizendo para Joanninha, que ia ao seu lado: "- Vou para o inferno; estou no inferno; e não quero que o diabo me veja".

Andava sempre em uma carruagem muito dourada, e com ricas pinturas sobre o dourado; puxada por duas bestas, guiadas por um boleeiro, dois moços da estribeira, lacaios, e todos vestidos do mesmo modo, como os que andavam com o filho.

Levava mais dois cadetes batedores, um homem montado na garupa de um burro, levando ao arção da sela um degrau que desdobrava, coberto com pano encarnado.

Era costume de ir um homem com o degrau para as senhoras entrarem nas carruagens ou montarem a cavalo, era para todas as princesas; nenhuma saía de carruagem ou a cavalo, que não levasse o seu degrau.

Seguia-se o homem que levava a frasqueira com água; depois o criado particular; guarda de capitão, que acompanhava a carruagem.

Seguia-se o camarista em uma sege de boleia. Este camarista foi, nos primeiros anos, o velho marquês de Angeja, porque a rainha não queria outro camarista; no seu impedimento, ela não quis mais que a servisse, senão o velho marquês de Bellas, que a acompanhou até o seu falecimento no dia 20 de março de 1816.

O passeio da rainha era do paço da cidade até a Rua de S. Christovão defronte do aterrado: aí parava todo esse estado, e não se movia até a Ave Maria. Toda a gente que passava na rua a pé vinha curvando o joelho; e, se montada a cavalo, ou de sege, apeava-se, menos as senhoras, que se limitavam em fazer os seus cumprimentos de cortesia e passavam.

O mesmo se dava no passeio da Rua de S. Christovão, dava-se para o lado de Botafogo, parando a comitiva ao desembocar na praia até Ave Maria, que era quando se recolhia. Se se encontrava com as pessoas de sua família, era costume pararem as carruagens uma perto da outra, para se falarem na portinhola; porém a rainha nada dizia.

O príncipe regente, os filhos e sobrinha apeavam-se e iam falar-lhe à portinhola, e ela estendia a mão para eles beijarem; e ao filho dizia: "- Vou para o inferno".

CXIII – Por alvará de 27 de julho, são elevados à categoria de vilas, na capitania de Pernambuco, os seguintes povoados: Cabo de Santo Agostinho; Santo Antão; Pau d'Alho; Limoeiro.

CXIV – Meia noite para uma hora da manhã do dia 14 de julho de 1841, morre na enfermaria do convento de Santo Antonio do Rio de Janeiro o sábio ilustre frei José Mariano da Conceição Velloso, natural de Minas Gerais, autor da Flora Fluminense e do Fazendeiro do Brazil, e de outras obras preciosas.

Foi sepultado na terceira carneira térrea do lado do poente e próxima à porta da sacristia. Seus ossos não foram exumados, e ficaram confundidos com os de outros religiosos que lá se sepultaram.

Procurando ter particulares notícias desse ilustre e sábio naturalista, não as pude obter do meu amigo guardião do convento de Santo Antonio,pois no convento não se fizeram outras memórias mais que as que publiquei na minha Phytogravia.

CXV – No dia 12 de agosto de 1811, na cidade da Bahia, apresentaram-se pela primeira vez a nova artilharia miliciana e a companhia dos nobres, criadas pelo conde dos Arcos com o título de Regimento de Sua Alteza Real – ricamente fardados.

CXVI – O príncipe regente, em presença das distâncias das capitanias, resolveu em 10 de setembro de 1811 criar em Goiás, e em todas as capitais dos governos, e capitanias dos domínios ultramarinos de Portugal, uma junta para resolver os negócios que se expedirem pelo recurso à mesa do desembargo do paço.

CXVII – Pela carta régia de 10 de outubro de 1811, determinou o príncipe regente que a capitania do Piauí fique separada e independente da do Maranhão.

CXVIII – Pelas oito horas da noite do dia 28 de outubro de 1811, sentiu-se na cidade do Recife, em Pernambuco, um grande tremor subterrâneo, acompanhado de três grandes e prolongados estrondos. Causou muito susto a todos.

CXIX – Luiz Telles da Silva, marquês de Alegrete, nomeado governador e capitão general para S. Paulo, toma posse do governo da capitania no dia 1º de novembro de 1811.

CXX – O infante d. Sebastião, filho do infante da Espanha e da infanta d. Maria Thereza, e neto do príncipe regente, nasce no Paço da Boa Vista, em S. Christovão, no dia 4 de novembro de 1811.

CXXI – Por provisão de 13 de novembro de 1811, o príncipe regente faz doação das salinas de Cabo Frio às seguintes personagens:
A d. Manoel João de Lossio.
Ao visconde da Vila Nova da Rainha.
A Joaquim José de Souza Lobato.
A Luiz Antonio de Faria de Souza Lobato.

CXXII – Por decreto de 27 de dezembro de 1811, o príncipe regente nomeia o marechal de Exército conselheiro de guerra, e marquês de Vagos, governador das armas da Corte e capitanias do Rio de Janeiro.

CXXIII – Na noite do dia 31 de dezembro de 1811 foi trasladada com pomposa procissão a imagem de Santo Antonio dos Pobres, que se achava na capela de Nossa Senhora da Lampadosa, para a sua nova capela à Rua de S. Lourenço, depois Rua dos Inválidos, indo com ela também a imagem de S. Lourenço.

CXXIV – Os que traficavam em escravos no Rio de Janeiro de 1811 até 1850, para os vendera a particulares, eram João Gomes Barroso, José Ignacio Vaz Vieira, João Gomes do Valle, Manoel Pinto da Fonseca, José Bernardino de Sá e barão da Vila Nova do Minho.

Na Bahia, Joaquim Pereira Marinho, hoje conde de Pereira Marinho; Quirino e André Pinto da Silveira.

Este destemido comércio era favorecido pelas leis e muito aplaudido pelo povo.

CXXV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 8; ciclo solar, 1; epacta, 17; letra dominical, DE ou ED.

CXXVI – Martirológio. Dia 1º de janeiro, quarta-feira; domingo de Páscoa a 29 de março; indicação romana, 15; período Juliano, 6.525.

CXXVII – No dia 17 de janeiro de 1812, por uma lei, foram emancipados todos os escravos em Buenos Aires.

CXXVIII – Tendo sido nomeado Sebastião Francisco de Mello Povoas, para ir governar a capitania do Rio Grande do Norte, em substituição a José Francisco de Paula Cavalcante, ali chegando tomou posse do governo no dia 22 de janeiro de 1812.

CXXIX – Caindo sobre a cidade da Bahia uma grande trovoada, na sexta-feira 24 de janeiro de 1812, na ocasião de um pomposo Te Deum Laudamos, que se entoava em ação de graças pela feliz chegada ao Brasil da família real, um raio cai na igreja do colégio dos extintos jesuítas e faz grandes estragos, aterrorizando a todos os que concorreram ao Te Deum.

CXXX – Por alvará do dia 25 de janeiro de 1812, o príncipe regente manda criar no Rio de Janeiro um laboratório químico e prático.

CXXXI – O conde de Linhares, d. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro de Estado, tendo levado duas ou três bastonadas, que lhe deu o príncipe regente, por um ato de deslealdade, seguindo para casa na Rua do Sabão, que faz esquina com a Rua do Nuncio, caiu na cama ardendo em febre e dentro de três dias deixou de existir, falecendo no dia 26 de janeiro de 1812. O conde de Linhares foi um benemérito do Brasil.

CXXXII – No dia 26 de abril de 1812, morre no Rio de Janeiro o desembargador d. José Luiz de Vasconcellos e Sousa, primeiro marquês de Bellos, presidente da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordem do Brasil. O marquês de Bellos nasceu em Lisboa, no dia 9 de junho de 1740.

CXXXIII – Por decreto de 13 de maio de 1812, o príncipe regente cria a Relação do Maranhão, sendo nomeado chanceler dela o desembargador do paço Antonio Rodrigues Velloso de Oliveira, com mais nove ministros togados.

No mesmo dia 13 de maio apareceu o alvará dando regimento à Relação do Maranhão, mandada criar pela resolução de 23 de agosto de 1811, e confirmada a resolução de 5 do mesmo mês de maio de 1812.

CXXIV – No dia 13 de maio de 1812, aniversário natalício do príncipe regente, inaugura-se na Bahia o teatro de S. João, mandado construir por iniciativa do governador conde dos Arcos, no Largo da Quitanda, ou portas de S. Bento, com assistência do mesmo conde dos Arcos, que se mostrou muito satisfeito.

CXXXV – Morre no Rio de Janeiro, coberto de bexigas, o infante de Espanha d. Pedro Carlos de Bourbon, genro e sobrinho do príncipe regente. Esta morte foi para o sr. d. João VI de dolorosíssimo sentimento.

CXXXVI – O marquês de Pombal, d. Henrique José de Carvalho e Mello, filho do grande marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Mello, morreu no Rio de Janeiro em 1812, saindo o seu corpo da casa de sua residência na Rua da Ajuda, onde hoje é teatro da Phoenix.

CXXXVII – No dia 26 de maio de 1812, o governo de Buenos Aires assinou com João Rademarker a convenção do armistício para suspensão das armas. O Exército português, comandado pelo capitão general d. Diogo de Sousa, que ocupava grande parte do território da banda oriental, recolhe-se às fronteiras do Sul.

CXXXVIII – No dia sexta-feira 12 de junho de 1812, morre o tenente general Francisco da Cunha Menezes, governador e capitão general que tinha sido de S. Paulo e Bahia. Era irmão dos condes Lumiares, e havia nascido no dia 10 de abril de 1747.

CXXXIX – Neste mesmo dia 12 de junho, o tenente-coronel Ignacio Santos Abreu destroça completamente as forças do general Artigas junto ao arroio Laureles, compostas de índios charruas e mimanos.

CXL – No dia 8 de agosto de 1812, morre no Rio de Janeiro o benfeitor sargento-mor Alexandre Dias de Resende.

CXLI – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 9; ciclo solar, 2; epacta, 28; letra dominical, C.

CXLII – Martirológio. Dia 1º de janeiro, sexta-feira; Páscoa a 18 de abril; indicação romana, 1; período Juliano, 6.526.

CXLIII – Em 1813, fora da barra da Bahia, deu-se um combate entre as esquadras inglesa e americana, indo a pique uma fragata. Um general inglês, ferido de bala, recolheu-se à terra para tratar-se, e apesar dos muitos cuidados faleceu. Foi sepultado junto ao pau da bandeira da Fortaleza de S. Pedro, conforme o costume dos protestantes. A respeito deste general inglês há uma lenda de que fiz menção na história das fortificações, tratando da Fortaleza de S. Pedro, da Bahia.

CXLIV – No dia 3 de março de 1813, morre no Rio de Janeiro o conde de Anadia, José Pereira de Sá, antes visconde de Alverca.

CXLV – No dia 8 deste mesmo mês, o conde dos Arcos, governador e capitão general da capitania da Bahia, passou a ter em seu palácio guarda comandada por capitão.

CXLVI – No domingo 16 de maio de 1813, pelas nove e meia horas da noite, falece de dispepsia, na Corte do Rio de Janeiro, com quase setenta e sete anos de idade, a infanta d. Marianna, irmã da rainha d. Maria I.

Seu corpo foi depositado, pelas oito horas da noite do dia 19, no convento das religiosas de Santa Clara da Ajuda da cidade do Rio de Janeiro.

CXLVII – No dia 23 de julho de 1813 faleceu o tenente-coronel Francisco Antonio da Silva Bittencourt.

CXLVIII – No dia 11 de agosto morre o chefe de divisão Luiz da Cunha Moreira.

CXLIX – No dia 24 do mesmo mês morre o coronel Joaquim Braucant.

CL – No dia 19 de outubro de 1813, abriu-se pela primeira vez o real teatro de S. João, do Rio de Janeiro, que depois chamou-se de S. Pedro de Alcantara.

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