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125/tomo II da obra
1800-1883
[...]
LI – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 4; ciclo solar,
25; epacta, 3; letra dominical, C. B.
LII - Martirológio. Dia 1º de
janeiro, sexta-feira; Páscoa a 17 de abril; indicação romana, 11; período Juliano, 6.521.
LIII – No dia 22 de janeiro de 1808, às onze horas da
manhã, entrou na barra e porto da cidade da Bahia a esquadra composta de três naus e um fragata, conduzindo a família real portuguesa, que
desembarcou no dia 25, pelas quatro horas da tarde.
José da Silva Lisboa, depois visconde de Cairu, aconselha a d. Fernando José de Portugal, para pedir
ao príncipe regente que abra os portos do Brasil ao comércio de todo o mundo, o que sendo bem considerado por d. Fernando, levou ao príncipe regente
as considerações de conveniência, que teve bom efeito no dia 28 do mesmo mês de janeiro [4].
LIV – Por carta régia, de 28 de janeiro de 1808, o
príncipe regente de Portugal manda abrir os portos do Brasil, trancados há mais de três séculos, a todas as nações amigas de Portugal que quisessem
comerciar no Brasil. Este extraordinário acontecimento foi o primeiro passo para a independência política do Brasil, porque com ele não podia mais o
Brasil ser colônia de Portugal.
Neste mesmo dia, mandou por carta régia excetuar da franqueza do comércio os
gêneros notoriamente estancados, e extinguir as antigas proibições a este respeito.
No dia 26 de fevereiro criou na Bahia uma casa de seguros. No dia 10 de março de
1808, mudou o pessoal do ministério que trouxe de Lisboa, e organizou o primeiro gabinete ministerial luso-brasileiro, para dirigir os negócios do
novo Império que acabava de criar.
(Vide: a legislação no livro Beneficios Politicos, pelo visconde de Cairu).
LV – Na sexta-feira, 26 de fevereiro de 1808, embarca-se
na Bahia o príncipe regente, com a família real, para o Rio de Janeiro, ficando por doente o duque de Cadaval, hospedado na casa de Manoel Joaquim
Alves Ribeiro, sita no largo e ao pé da fortaleza de S. Pedro. O duque de Cadaval falece na Bahia no dia 14 de março seguinte, pelas três horas da
manhã, e foi sepultado no convento de S. Francisco da mesma cidade, passando a viúva duquesa, com a família, para o Rio de Janeiro.
LVI – No dia 7 de março, entra pela barra do Rio de
Janeiro a esquadra que conduz o príncipe regente e a família real. Nesse mesmo dia, o sétimo e último vice-rei do Brasil, d. Marcos de Noronha e
Brito, depois conde dos Arcos, entrega o governo ao seu legítimo soberano. O príncipe regente desembarcou no dia seguinte, 8 de março, às quatro
horas da tarde, indo dar graças a Deus, com toda a família, na igreja do Carmo, por sua feliz viagem e chegada ao Rio de Janeiro a salvamento.
Fizeram-se esplêndidas festas.
LVII – No dia 10 de março foi mudado o ministério que
acompanhou o príncipe regente e a família real para o Brasil; e o novo ministério ficou composto das seguintes personagens:
1º D. Fernando José de Portugal (depois marquês de Aguiar), para os negócios do
Reino.
2º D. Rodrigo de Souza Coutinho (depois conde de Linhares), para os negócios
estrangeiros e da guerra.
3º D. João Rodrigues de Sá de Menezes (visconde de Anadia, depois conde), para os
negócios da marinha e ultramar. Foi este ministro o primeiro fidalgo português que acompanhou a família real, falecendo no Rio de Janeiro, o que
teve lugar no dia 30 de dezembro de 1809, sendo sepultado na igreja do convento de Santo Antonio, saindo o seu cadáver e préstito da casa e sobrado
que faz frente para a fonte e Rua das Marrecas, na Rua dos Barbonos, e hoje de Evaristo da Veiga.
LVIII – No dia 11 de março de 1808 são criadas as três
secretarias de Estado; 1ª, dos negócios do reino; 2ª, a dos negócios estrangeiros e da guerra; 3ª, a da marinha e ultramar, ficando o real erário a
cargo de d. Fernando José de Portugal.
LIX – No dia 1º de abril de 1808, o príncipe regente cria
no Rio de Janeiro um Conselho Supremo Militar.
LX – No manifesto que o príncipe faz às nações, expõe os
motivos que o obrigaram a declarar a guerra ao imperador dos franceses.
No meu Brazil Reino e Brazil Imperio escrevi a história circunstanciada da
conquista de Cayena, e para ela convido o leitor. Não faço um resumo dos acontecimentos por ser, ainda assim, um pouco longo.
LXI – No dia 5 se criou a Academia Real dos
Guardas-marinhas.
No dia 10, a Relação do Rio de Janeiro passa à categoria de Casa da Suplicação.
No dia 13 cria-se a Imprensa Régia no Rio de Janeiro, sendo ela estabelecida na
casa térrea da Rua dos Barbonos que faz esquina para a das Marrecas, em frente à casa de moradia do conde de Anadia. Esta casa hoje é uma taverna.
No dia 13 é reformada a Ordem da Torre e Espada, para remunerar as pessoas que
acompanharam a real família.
No dia 17 criou-se no Rio de Janeiro o primeiro corpo de artilharia a cavalo, com
duas companhias.
LXII – A vila de Macacú foi em outro tempo intitulada de
Santo Antonio de Cassarabú, e está situada quase a quatro léguas da embocadura do Rio Macacú. Em 1708 a sua igreja era capela curada e filial a
Santo Antonio de Cassarabú; e no ano de 1716,já estando ereta em freguesia, sendo bispo d. frei Francisco de S. Jeronymo, foi seu primeiro vigário o
padre Luiz Ferreira.
Tem a matriz quatro irmandades, sendo a primeira da Santíssima Trindade, criada
no ano de 1724, com compromisso aprovado por el-rei; a segunda irmandade é a da Boa Morte, ereta em 1736, e é dos homens pardos, em tempo do bispo
S. Jeronymo, e o seu compromisso não foi aprovado; 3ª, a irmandade de Nossa Senhora do Rosario e S. Benedito, ereta em 1677 por provisão do
administrador do bispado e vigário geral padre Francisco da Silva Dias, tem compromisso confirmado por el-rei; 4ª, irmandade de S. Miguel e Almas,
ereta em 1756 por provisão do bispo d. frei Antonio do Desterro, e tem compromisso confirmado por el-rei. (Extraído do Livro do Tombo que me
proporcionou o vigário Emygdio).
No dia 6 de dezembro de 1800, uma furiosa tempestade de Noroeste danificou a
igreja matriz.
LXIII – No dia 8 de maio de 1808 nasce, no Rio Grande do
Sul, Luiz Manoel Ozorio, que depois foi barão, conde e marquês de Herval.
LXIV – No dia 15 de junho de 1808, a igreja do convento
dos religiosos carmelitas do Rio de Janeiro é elevada à primazia de capela real.
LXV – No dia 22 de junho de 1808, é criado o Conselho da
Fazenda dos conselheiros de capa e espada, extinto em maio de 1832 pela carta de lei de 4 de setembro de 1831.
LXVI – No dia 28 de junho de 1808 cria-se no Rio de
Janeiro o erário régio e o conselho da Fazenda.
LXVII – O brigadeiro Antonio José de Souza Portugal, que
foi comandante do 1º regimento de linha da Bahia, falece na quarta-feira, 13 de julho de 1808, e é sepultado na igreja da Piedade daquela cidade.
LXVIII – Por alvará de 23 de agosto de 1808, o príncipe
regente cria no Rio de Janeiro a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, para regularizar e favorecer a marcha do comércio e da
indústria nacional.
LXIX – Pelo alvará de 23 de agosto de 1808, com força de
lei, é erigida em vila a povoação de Porto Alegre, hoje capital da província do Rio Grande do Sul.
LXX – Por decreto do 1º de setembro de 1808, ordena o
príncipe regente que em todas as capitanias do Brasil corram as moedas de ouro, prata e cobre, sem que ninguém duvide da sua legalidade, e ao mesmo
tempo proíbe que se receba o ouro em pó como moeda corrente.
LXXI – O príncipe regente, desejando ser agradável a sir
Sidney Smith, contra-almirante e comandante da esquadra inglesa surta no porto do Rio de Janeiro, por decreto de 17 de setembro de 1808 lhe fez
presente das terras situadas junto à Armação de S. Domingos, que estavam arrendadas a Manoel Martins Ferreira, a Agostinho Vicente e a Joaquim
Pereira, e das quais era então possuidor Jacintho de Mello Menezes Palhares, e igualmente uma chácara que foi de João de Deus, com casa e vivenda,
seis escravos e uma canoa do serviço da mesma chácara, que parte com as sobreditas terras, na forma que consta dos títulos apresentados pelo
referido último proprietário, para que gozem ele e seus sucessores, e possuam como suas, que ficaram sendo, sem pensão ou outro qualquer ônus, e com
facilidade de dispor delas livremente como lhe parecer.
LXXII – Por carta régia do dia 12 de outubro de 1808, foi
criado o Banco do Brasil.
LXXIII – O conselheiro José Pedro, chanceler da Relação e
desembargador do paço, morre no Rio de Janeiro no dia 22 de outubro de 1808.
LXXIV – No dia 5 de novembro de 1808, cria-se o Hospital
Militar e Real na Corte do Rio de Janeiro.
LXXV – No dia 3 de dezembro de 1808 o tenente coronel de
artilharia Manuel Marques d'Elvas Portugal, à frente de seiscentos homens, segue da cidade de Belém do Pará para tomar Cayenna. Ao corpo que
comandava se deu o nome de Voluntários Paraenses, o qual, dobrando o Cabo de Orange, no dia 6 entra na baía do Oiapoque.
Manuel Marques d'Elvas Portugal, já sendo tenente general, faleceu no Rio de
Janeiro no dia 21 de abril de 1882.
Era natural da vila de Penamacor, em Portugal, e nascido no dia 2 de fevereiro de
1762. (Vide o meu Brazil Reino e Brazil Imperio).
LXXVI – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 5; ciclo
solar, 26; epacta, 14; letra dominical, A.
LXXVII – Martirológio. Dia 1º de janeiro, domingo; Páscoa
a 2 de abril; indicação romana, 12; período Juliano, 6.522.
LXXVIII – No dia quinta-feira, 12 de janeiro de 1809, o
general francês capitula, e Manoel Marques apodera-se de Cayenna, em nome do príncipe regente de Portugal; no dia 14, sendo arreado o pavilhão
francês das fortificações e içado o português, tomou o tenente coronel Manoel Marques posse da cidade de Cayenna, e da colônia francesa.
LXXIX – O conde da Ponte, João de Saldanha da Gama Mello
Torres Guedes de Brito, governador e capitão general da capitania da Bahia, e que teve a honra de hospedar o príncipe regente de Portugal, a rainha
a senhora d. Maria I e família real, quando chegaram no dia 21 de janeiro de 1808, faleceu na cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos na
quarta-feira 24 de maio de 1808, e foi sepultado no dia quinta-feira seguinte no convento dos Barbadinhos de Nossa Senhora da Piedade.
No dia 2 de junho deste mesmo ano morre no Rio de Janeiro João Antonio da
Silveira, pai do ilustre orador sagrado e filósofo padre Manuel Frei Francisco do Monte Alverne.
LXXX – Por alvará de 11 de julho de 1809, foi criada em
Santa Catarina a paróquia de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão, sendo governador da capitania d. Luiz Maurício da Silveira.
LXXXI – E no dia 21 do mesmo mês e ano, falece no Rio de
Janeiro João José Nunes, governador do Forte do Castelo.
LXXXII – No dia 22 de outubro do mesmo ano, morre nesta
Corte José Joaquim de Souza Lobato, guarda-joias de sua alteza o príncipe regente.
LXXXIII – No dia 28 de outubro do mesmo ano morre
monsenhor Bernardo da Silva Soares.
LXXXIV – No dia 29 de dezembro de 1809, morre o conde de
Anadia (João Rodrigues de Sá).
LXXXV – Em Pernambuco, pela uma hora da noite de um dos
dias do ano de 1809, houve um sensível tremor de terra e contavam os antigos ter havido outro idêntico setenta anos antes.
LXXXVI – No dia 14 de dezembro de 1809, faleceu o tenente
geral dos exércitos reais Antonio João Henrique, na idade sessenta e oito anos.
LXXXVII – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 6; ciclo
solar, 27; epacta, 25; letra dominical, G.
LXXXVIII – Martirológio. Dia 1º de janeiro,
segunda-feira; domingo de Páscoa a 22 de abril; indicação romana, 13; período Juliano, 6.523.
LXXXIX – D. João VI, como queria firmar o seu trono no
Rio de Janeiro, mandou vir de Lisboa a livraria e manuscritos da Casa do Infantado, para servir de base à Biblioteca Pública do Rio de Janeiro,
vindo obras raríssimas e de muito valor e entre elas a segunda Bíblia impressa por Fuste, companheiro de Gutenberg, que segundo consta foi comprada
por quatrocentos mil cruzados.
Esta biblioteca foi aumentada com a livraria do cavaleiro Araújo, depois conde da
Barca. Mandou vir vários quadros de muito preço, dos quais alguns estão no museu do Rio de Janeiro.
Igualmente deu ordem para virem os grandes coches, feitos na Europa para o
casamento de el-rei d. João V com d. Marianna d'Áustria. Estes coches não puderam servir no Rio de Janeiro pela estreiteza das ruas desta cidade.
Por muitos anos ficaram depositados no Arsenal, onde se estragaram alguns, e outros voltaram para Lisboa.
XC – D. Maria Thereza, princesa da Beira, era linda,
muito elegante, e com um ar soberano, parecendo à primeira vista soberba. Seus olhos, quando firmava em algum objeto, eram encantadores, e tinha
muito espírito e habilidade para tudo, era perfeita em obras de agulha, falava bem o francês e o espanhol e sustentava bem uma conversação.
O pai que muito a amava, conversava com ela as coisas mais reservadas, até
negócios de estado, e muitas vezes a fazia sua secretária por ser preguiçoso em escrever. Às pessoas de quem era afeiçoada se mostrava muito amável,
e mesmo buscava adivinhar os pensamentos para obsequiar. Era muito somítica e ambiciosa, mas não falava mal de ninguém: não era esmoler.
Chegou ao Rio de Janeiro com quinze anos, e já era uma beleza. O seu casamento
estava tratado com seu tio Fernando VII, e depois que aqui chegou namorou-se do primo, o infante d. Pedro Carlos, que tinha vinte e três anos de
idade, e se quiseram tanto que d. João VI, como era muito amigo do sobrinho e da filha, não se mostrava zangado pelo namoro de ambos.
A mãe desesperava porque não queria o casamento, e dizia que a filha não tinha
pressa, e esperava pela restauração da Espanha, porque o domínio de Bonaparte não duraria muito; e que sua filha, podendo ser rainha da Espanha, não
era para se casar com um infante; mas nada foi capaz de destruir a paixão da filha pelo primo. O pai, vendo que ambos se amavam muito, concordou no
casamento, no dia 13 de maio de 1810, dia de seus anos, tendo a princesa dezessete anos, e o infante vinte e cinco, por completar no dia 26 de
julho.
Foi este o primeiro casamento que se fez no Rio de Janeiro, com todo o
cerimonial, concorrendo tudo o que havia de esplendor, durando as festas um mês e sete dias com luminárias, havendo outeiros, cavalhadas, carros
triunfais; cada ofício mecânico aprontou um carro; os ciganos, ricamente vestidos, dançavam fandangos de que d. João VI e d. Carlota gostaram.
O primeiro carro tinha a figura da América, sendo puxado por índios, que nesse
tempo havia muitos no Rio de Janeiro. No último dia da iluminação houve um curro, sendo a primeira argola oferecida a d. João VI, a segunda aos
noivos, e a terceira foi oferecida à vontade de quem a tirava, os quais sempre ofereciam às pessoas da família real.
A princesa, desde o seu casamento, sempre acompanhava o pai, de quem só se
separou quando foi para a Espanha. Em 4 de novembro de 1811 nasceu-lhe o filho, e foi batizado no dia 17 de dezembro do mesmo ano, natalício da
rainha d. Maria I, sendo padrinhos d. João VI e a rainha d. Carlota, pondo-se o nome de Sebastião em obséquio ao Rio de Janeiro, sendo Sebastião
Maria Carlos João. Seu avô, por um decreto, o fez reconhecer infante português, e como tal foi apresentado à Corte pelo duque de Cadaval, chefe da
nobreza portuguesa, descendente da casa de Bragança, que lhe deu um beijo na face quando lhe apresentaram o recém-nascido.
D. João VI disse, com um ar muito formalizado: - "Duque,
beije-lhe a mão que é um infante português, como o pai o é". O duque assim o fez, como toda a
Corte. As mesmas honras dadas por sua avó ao pai, foram dadas ao filho.
O príncipe d. Pedro Carlos faleceu, como já disse, no dia 26 de maio de 1812, no
paço de S. Christovão, sendo seu cadáver depositado na igreja do Convento de Santo Antonio. Ele obedecia ao tio, como se fora seu pai, bem como à
avó. O príncipe era perfeito em obras de marcenaria. Durante a enfermidade, a princesa não se afastou dele um só instante. O seu sentimento pela
morte do marido foi extraordinário, passando-se para a sua quinta de Macaco.
D. Maria Thereza sofreu muito do irmão d. Pedro de Alcantara, que lhe fazia as
maiores desfeitas, e sofria ainda mais por causa do filho d. Sebastião, a quem d. Pedro maltratava e lhe puxava as orelhas, obrigando a criança a
não andar pelos corredores, com medo dele. D. Miguel lhe era indiferente, e os tios não faziam caso dele; no entanto, o avô o estimava muito.
D. Sebastião tinha grande fortuna na Espanha, sendo os rendimentos de sua casa
para mais de quinhentos mil cruzados. Ele muito se alegrava em ser brasileiro, e quando a princesa d. Januaria chegou a Nápoles, dizem que ele lhe
dissera: "Minha prima, devemos ser muito amigos não só pelos laços de parentesco que nos ligam,
como por sermos ambos brasileiros, batizados na mesma pia e pelo mesmo bispo". E assim foi,
tomando-o a princesa por padrinho de seu filho, a quem pôs o nome de Sebastião.
D. Maria Thereza, em 1817, foi pedida em casamento pelo grão-duque da Toscana,
Fernando, irmão do imperador da Áustria. D. João VI não aprovou, porque o pretendente tinha filhos do primeiro matrimônio, e não queria que os de
sua filha fossem filhos segundos e que, tendo ela de ir par a Europa, poderia fazer vantajoso casamento. Que ele estava trabalhando para pôr a coroa
de Montevidéu na cabeça de seu neto, e para isso tinha mandado vir tropas para fazer a guerra no caso de resistência, e ela devia acompanhar o filho
durante a minoridade. A princesa conformou-se para fazer a vontade a seu pai.
XCI – O governo inglês, aproveitando as circunstâncias do
tempo, julgou tirar partido em seu proveito conseguindo do príncipe regente, em 19 de fevereiro de 1810, o tratado de comércio e navegação entre a
Inglaterra e Portugal.
XCII – Na Bahia, os negros africanos, no dia 19 de
fevereiro de 1810, se insurgem de novo; e em setembro o governador recebe ordens reservadas do ministério do Rio de Janeiro, para puni-los.
XCIII – No dia 13 de maio de 1810, dia aniversário
natalício do príncipe regente o sr. d. João VI, casou-se, na capela real, o infante da Espanha d. Pedro Carlos, sobrinho do príncipe regente, com a
princesa da Beira, d. Maria Thereza, filha do sr. D. João VI, sendo oficiante o bispo d. José Caetano da Silva Coutinho.
XCIV – No dia 27 de maio de 1810 morre, no Rio de
Janeiro, Manoel da Cunha Souto Maior, visconde de Cesimbra e almirante da armada real.
XCV – No dia 31 do mesmo mês e mesmo ano morre Francisco
Antonio da Veiga Cabral da Camara, visconde de Mirandela, marechal de Exército, conselheiro do Supremo Conselho Militar e de Justiça, e governador
das armas da Corte e província do Rio de Janeiro, nascido em 1734 e irmão do tenente-general Sebastião Xavier da Veiga Cabral e Camara, que foi
governador do Rio Grande do Sul.
XCVI – Por carta régia, do 1º de abril de 1809, funda-se
no dia 17 de junho de 1810 a primeira missão nos campos de Quarapuava, debaixo do nome de povoação da Atalaia.
XCVII – O conde dos Arcos, d. Marcos de Noronha e Brito,
sétimo vice-rei do Rio de Janeiro, sendo nomeado governador e capitão general da Bahia, chega àquela cidade no dia 29 de setembro de 1810, e
desembarca à tarde, e ao dia seguinte, domingo 30, toma posse do governo e dá logo ordem para que houvessem seis dias de iluminações; e no dia 3 de
outubro anui ao pedido do povo, concedendo licença para folguedos de máscaras.
XCVIII – A rainha d. Maria I destinava o neto D. Pedro
Carlos para marido da neta d. Maria Thereza, e o príncipe regente, antes de efetuar o casamento, nomeou, no dia 13 de maio de 1808, o infante de
Espanha, d. Pedro Carlos, almirante general da Marinha Real portuguesa, com todas as atribuições e independência, junto à sua real pessoa, sem
interposição alguma de outra autoridade, que a sua real.
Esta nomeação pôs em embaraços o conde de Anadia
[5], ministro da
Marinha; e os conflitos foram tão sérios que o ministro chegou a pedir a sua demissão do cargo que exercia. No entanto, como o rei amava
extremosamente o sobrinho, se pronunciava sempre em favor do que fazia, para manifestar-lhe a sua dedicação; e para dar ao público o grau de estima
e o preço em que o tinha, casou-o com sua filha dileta d. Maria Thereza no dia 13 de maio (domingo) de 1810, às cinco horas da tarde, na capela
real, em presença da Corte, fidalgos e grandes do reino, sendo testemunhas, conforme o Concílio Tridentino, o príncipe regente e a princesa d.
Carlota Joaquina.
O regozijo, por este enlace, foi imenso, e as festas nupciais mui pomposas.
Passados meses depois do casamento, nasceu no palácio de S. Christovão do Rio de Janeiro, na segunda-feira 4 de novembro de 1811, o infante d.
Sebastião, que foi batizado no dia 17 de dezembro do mesmo ano.
No ano seguinte, adoecendo de bexigas, o infante d. Pedro
Carlos sucumbiu à violência e todo podre, no dia 26 de maio, sendo trasladado o seu cadáver no dia 29 às oito horas e quarenta e cindo minutos da
noite, para a igreja do convento de Santo Antonio, no meio de alas de soldados, e acompanhado de toda a nobreza, onde chegou às dez horas debaixo de
copiosa chuva, que, inundando as ruas, dificultava o trânsito. Os pobres soldados, todos molhados e com água pelos joelhos, praguejavam o defunto
[6].
A casa real sentiu muito esta perda; mas, com o correr do tempo, a viúva, para
matar saudades, passou-se para a fazenda do Macaco, hoje Vila Izabel, onde achou consolação e conforto à sua viuvez.
No dia 25 de março de 1817 foi encerrado o cadáver do infante d. Pedro Carlos no
túmulo de mármore que o rei mandou fazer em Lisboa, onde se acha na igreja dos religiosos de Santo Antonio do Rio de Janeiro.
XCIX – Frei Luiz do Carmo, frade turbulento, vindo preso
da Ilha Grande, à ordem do governo, entrou para a cadeia do Aljube no dia 10 de novembro de 1810, e no dia 16 de junho de 1811 seguia para o degredo
na Índia.
C – O governo de Portugal e o
rei de Argel concluem uma convenção estipulando uma trégua de dois anos e o resgate de seiscentos e quinze portugueses, que há muito gemiam no
cativeiro; e como a soma exigida era avultada e dificílima para o reino, e urgindo satisfazer o compromisso, o príncipe regente exigiu que com o
título de subscrição voluntária todas as capitanias do Brasil concorressem para tão caritativo fim.
[...]
[4]
Vide as minudências desses acontecimentos na minha Chorographia Historica.
[5]
Vide o tomo 5º da minha Corographia Historica a págs. 137 e seguintes.
[6] Vide a Gazeta do Rio
de Janeiro d 1812. |