Imagem: reprodução parcial da página
113/tomo II da obra
1800-1883
[...]
I – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 15; ciclo solar,
17; epacta, 4; letra dominical, E.
II – Martirológio. Dia 1º de janeiro, quarta-feira;
domingo de Páscoa a 13 de abril; indicação romana, 3; período Juliano, 6.513.
III – No começo deste século o Brasil era constituído
administrativamente por um vice-rei no Rio de Janeiro, oito capitanias gerais - no Pará, Maranhão, Pernambuco, Bahia, S. Paulo, Minas Gerais, Goiás
e Mato Grosso – e oito governos subalternos – no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe d'El-Rei, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio
Grande do Sul.
IV – No dia 1º de janeiro de 1800 falece o governador de
Santa Catarina, e o governo da capitania passa a ser administrado por um triunvirato composto do tenente-coronel José da Gama Lobo Coelho d'Eça, do
ouvidor Aleixo Maria Caetano e do vereador da Câmara José Pereira da Cunha, que governou até o dia 8 de dezembro do mesmo ano de 1800.
V – Na cidade das Alagoas, antiga cabeça de comarca de
Pernambuco, uma senhora de nome Anna, mulher do português Carlos José, deu à luz, de um só parto, quatro filhos, e com tanta facilidade, como se
eles viessem ao mundo em quatro partos. As crianças batizaram-se, e a mãe ficou de perfeita saúde como se tivesse dado à luz um só filho.
VI – Junto ao arroio Abaeté, em 1800, Antonio Gomes achou
o grande diamante que pesava sete oitavas, que passou para a Coroa de Portugal. Em recompensa do tal achado, lhe deram o emprego de tesoureiro da
casa de fundição de Sabará.
VII – No dia 27 de maio de 1800 nasce, na Bahia, o ilustre
advogado, escritor, bacharel em Direito e atualmente o decano da imprensa brasileira, Joaquim Alves Branco Muniz Barreto, que muitos serviços
prestou à causa pública, na redação e direção do antigo Correio Mercantil.
VIII – Angelo Rondou lembrou-se de querer uma pensão em
remuneração de seus serviços, e ia frequentemente à audiência do príncipe regente em S. Christovão, e nada podia obter. Em uma ocasião em que
exagerava os seus serviços, disse ao príncipe d. João: Senhor! Vós, a um BOI, mandaste dar um cruzado por dia, e a mim que sou um BODE mandai-me
dar dois tostões.
Os semanários, que faziam ala junto ao príncipe, levaram os lenços à boca para
encobrir o riso, e o mesmo fez o príncipe, procurando disfarçar; e, despedindo-o com bondade, mandou não só abonar-lhe os duzentos réis nas despesas
do paço, como fornecer-lhe uma ração, e um quarto no palácio da quinta de S. Christovão.
Como estas, há outras anedotas de muito espírito, acontecidas com o príncipe
regente; e, entre elas, conta-se que era capitão de um navio, que navegava para a Índia, um sujeito muito falador, por nome José Francisco, o qual
dizia mal de todos e de tudo. Quando chegava da Índia e dava entrada no porto, ia logo falar ao príncipe regente, que minuciosamente o interrogava.
Em uma ocasião, o príncipe, depois de o ouvir, lhe disse: José Francisco, tu
que a ninguém poupas, e relatas os defeitos de todos, deves também ter formado o teu juízo a meu respeito, e portanto te ordeno que me fales com
franqueza: dize, dize…; José Francisco hesitou, mas o príncipe insistindo, respondeu: Já que vossa alteza me ordena, lhe direi o que penso.
Vossa alteza real é muito bom homem, justiceiro, bom católico, mas para ser bom rei falta-lhe ainda uma coisa…, ao que mandou o príncipe que
continuasse, e José Francisco, cobrando ânimo, lhe tornou. Senhor! Vossa alteza, para ser um bom rei, tem precisão de uma costela de brejuro.
O príncipe, rindo-se, o despediu com benevolência.
(N.E.: as pesquisas em dicionários da época - como os
do frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo e
do padre Rafael
Bluteau - não apontam qualquer registro do termo brejuro,
indicando que o interpelado teria respondido, por outras palavras, que nada falta para d. Pedro ser um bom rei).
IX – As audiências do príncipe regente d. João VI duravam
muitas horas, conservando-se ele sempre em pé.
Depois que ficou doente da perna, ouvia a todos assentado. A enfermidade teve por
origem o seguinte motivo:
Pouco tempo depois da chegada ao Rio de Janeiro, foi à fazenda de Santa Cruz, com
o sobrinho e filhos, e ali um carrapato, encravando-se na perna do príncipe, e não sabendo sua alteza o que aquilo significava, entendeu tirar o
carrapato com violência, ficando o dente do inseto cravado na real canela, e, agravando-se-lhe a mordedura, formou-se uma grande ferida
inflamatória, que lhe ia custando a perda da vida.
Foi esta a única enfermidade que teve o sr. d. João VI no Brasil, durante treze
anos e alguns dias que aqui residiu.
A ferida da canela do príncipe regente moveu a toda gente ir à fazenda de Santa
Cruz. D. Carlota Joaquina para lá foi com os filhos. As pessoas de tal ou qual representação iam repetidas vezes cumprimentar o príncipe; e como não
houvesse aposentos suficientes no palácio, para muitas acomodações, visto ser o palácio o antigo Colégio dos Jesuítas, nele só se acomodava a
família real e as pessoas do indispensável serviço.
Toda essa multidão de gente era hospedada na fazenda do Mato da Paciência,
propriedade de João Francisco da Silva e Sousa, que recebia em sua casa a todos, sem distinção, dando mesmo transporte a muitos que o não tinham;
chegando a hospitalidade desse cidadão a dar em sua casa quartel à guarda de polícia, e sustentá-la à sua custa.
Melhorando o príncipe regente, veio para a capital, deixando descansado e
aliviado das enormes despesas ao honrado João Francisco da Silva e Souza, que foi a quem mais custou a mordedura do carrapato na canela real.
Depois do falecimento de João Francisco, quem aguentava com as despesas de
hospedagem e dava quartel e sustento à polícia, as vezes que a família real ia para Santa Cruz, era d. Marianna Eugenia Carneiro da Costa, viúva de
João Francisco.
Algumas vezes a família real se hospedava na fazenda do Bangu, pertencente a d.
Anna de Moraes e Castro, que a recebia e tratava com bizarria; menos a guarda de cavalaria ou polícia, por ser esta de privativa pensão da casa do
Mato da Paciência, pelo menos duas vezes em cada ano, não se demorando menos de dois meses a família real em Santa Cruz.
O príncipe regente esteve seis anos doente, pelo que se mandou chamar todos os
médicos e cirurgiões de nomeada e conceito público para conferenciarem, sendo muitos deles em seguida nomeados médicos e cirurgiões da real câmara.
O príncipe regente por muito tempo não se levantou do leito, e passou a sair em
cadeira envernizada, carregada por escravos da fazenda de Santa Cruz, os quais andavam vestidos de encarnado, semelhante ao uniforme dos soldados,
com a copa das barretinas douradas e com as armas reais.
Eram doze os escravos, que carregavam o príncipe regente; e este, em
reconhecimento a tão bons serviços, os libertou e às suas mulheres, filhos e pais, dando-lhes uma pensão suficiente.
X – Quando o príncipe regente regressou para a capital,
os negros vieram com ele para S. Christovão, com suas famílias, onde lhes mandou dar casas, servindo eles de carregadores da cadeira, enquanto não
pôde passear a pé pela quinta de S. Christovão.
É preciso notar que, às vezes, sua alteza sentia dor na perna onde teve a ferida,
e nessas ocasiões manquejava, e, para melhor firmar-se, trazia uma bengala com castão de ouro e uma pequena muleta.
XI – O príncipe regente, quando estava na fazenda de
Santa Cruz, e saía a passeio, os escravos da fazenda o acompanhavam, gritando atrás:
Viva nosso senhor!
Nosso rei já chegou:
Cativeiro já cabou;
Viva nosso senhor.
Os escravos da fazenda de Santa Cruz falavam-lhe com mais liberdade e segurança
que com o feitor da fazenda; e como gostava muito do sítio de Santa Cruz, e da Ilha do Governador, para eles ia frequentes vezes.
Na ilha não havia palácio particular, e servia-se da casa de Joaquim José de
Azevedo, que foi almoxarife do paço, e criado particular, com honras de oficial maior da casa real, e depois barão e visconde do Rio Secco.
Aí passava o príncipe regente o tempo; porque, rodeado de todas as comodidades,
se entretinha na caça; e para isso se armava uma barraca, onde ele, assentado ou debaixo de alguma árvore, esperava que passasse alguma caça, para
nela atirar, porque não podia montar a cavalo.
Quando o príncipe d. João ia para a Ilha do Governador, antiga
Ilha do Gato, levava os filhos, que moravam com ele. Embarcavam na galeota, no Engenho da Pedra, seguiam para a ilha, para a casa de Joaquim José de
Azevedo [1], e
onde nunca se demorava mais que oito dias. O dono da casa e sua família iam para lá recebê-los; e para isso tinham a casa ricamente mobiliada; mas
toda a despesa de ucharia era feita por conta da casa real.
O príncipe regente d. João visitou outros lugares da província do Rio de Janeiro,
como fossem a Ilha de Paquetá, onde passava dois a três dias. Nessa ilha hospedava-se em casa de Francisco Gonçalves da Fonseca (Angolista), oficial
de milícias, a quem recompensou elevando-o a brigadeiro; foi à fazenda da baronesa de S. Salvador de Campos e a outros lugares onde o trataram com
bizarria e luxo.
El-rei d. João VI foi muito reconhecido às pessoas que o obsequiavam; e assaz gostava dos passeios que fazia não só pela segurança pessoal, com que
contava, como pelos sinceros agasalhos que de todos recebia.
XII – Enquanto a sra. d. Maria I foi
viva, foi este o modo de vida que teve o sr. d. João VI, mas depois da morte da mãe, teve alguma mudança de proceder no Rio de Janeiro; pois fixou
de todo a sua residência na quinta de S. Christovão, e só vinha à cidade para assistir às festas das igrejas e novenas, ou nos dias de grande gala;
e isto mesmo não acontecia sempre, porque depois que recebia o cortejo e dava beija-mão [2]
se retirava. Muitas vezes, nos dias de grande gala, recebia a todos no paço da quinta de S. Christovão.
XIII – No dia 22 de dezembro de 1800, o coronel Joaquim
Xavier Curado, com patente régia, assume o governo da capitania de Santa Catarina. Este distinto governador pugnou tanto pela prosperidade da
capitania, animando o comércio e a lavoura, que, conquistando o respeito de todos, teve a vontade pública à sua disposição.
XIV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 16; ciclo
solar, 18; epacta, 15; letra dominical D.
XV – Martirológio. Dia 1º de janeiro, quinta-feira;
domingo de Páscoa a 5 de abril; indicação romana, 4; período Juliano, 6.514.
XVI – Por carta régia do dia 14 de janeiro de 1801,
expedida a todos os governadores do Brasil, ordenando-lhes que não consentissem enterrarem-se os cadáveres humanos em sepulturas dentro das igrejas,
e que, de acordo com os bispos, se fizessem construir cemitérios, onde se sepultassem todas as pessoas que falecessem.
XVII – No dia 27 de fevereiro de 1801, a Espanha declara
guerra a Portugal.
XVIII – No dia 13 de agosto de 1801, um desertor do corpo
de dragões, de nome José Borges do Canto, à frente de uma força capitaneada por ele, parte para as fronteiras do Rio Grande, e toma aos espanhóis as
Missões de S. Miguel; e em seguida as de S. João Baptista, de Santo Anjo, de S. Francisco de Borja, S. Nicolau, S. Lourenço e S. Luiz Gonzaga,
formadas de índios charruas, guaranis e tap, na margem oriental do Rio Uruguai. O tenente general Sebastião Xavier da Veiga Cabral, tendo
conhecimento do serviço feito à causa pública por José Borges do Canto, levanta-lhe a nota da deserção, e o nomeia capitão de milícias.
XIX – Achando-se impedido o governador da capitania do
Rio Grande do Sul, é nomeado o major Joaquim Felix da Fonseca Manso para governar a capitania, e toma posse da administração dela em setembro de
1801.
XX – Tratado de paz entre a França e Portugal em 1801.
XXI – D. Fernando José de Portugal é nomeado sexto
vice-rei do Brasil e governador do Rio de Janeiro, em 1801.
XXII – Em 30 de outubro de 1801, o coronel Manoel Marques
de Souza toma o forte do Serro Largo no Rio Grande do Sul.
XXIII – No dia 5 de novembro, às 11 ½ da manhã de 1801,
falece na vila do Rio Grande do Sul o tenente general e governador da capitania, Sebastião Xavier da Veiga Cabral e Câmara, sendo substituído no
governo pelo brigadeiro João Roscio.
O tenente general Veiga Cabral foi comandante do primeiro regimento de linha, no
tempo do vice-rei conde de Rezende.
XXIV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 17; ciclo
solar, 19; epacta, 26; letra dominical, C.
XXV – Martirológio. Dia 1º de janeiro, sexta-feira;
domingo de Páscoa a 18 de abril; indicação romana, 5; período Juliano, 6.515.
XXVI – Apareceu no Rio de Janeiro, entre os anos de 1802
a 1803, uma catarral epidêmica, com febre tão violenta e tosse semelhante à da coqueluche, que os afetados do mal, com a força de tossir, acabavam
por curvar-se, e o povo em consequência do estado em que deixava o indivíduo a denominou de Corcunda.
XXVII – É nomeado o sargento-mor Lopo Joaquim de Almeida
Henrique, no dia 2 de junho de 1802, governador da capitania do Rio Grande do Norte, e toma posse da administração no dia 30 do mesmo mês,
recebendo-a das mãos de Antonio de Barros Passos. O sargento-mor Lopo Joaquim de Almeida Henrique esteve no governo até março de 1806, em que o
entregou ao novo governador José Francisco de Paula Cavalcante e Albuquerque.
XXVIII – No dia 2 de novembro de 1802, nasce no Rio de
Janeiro Polydoro da Fonseca Quintanilha Jordão, tenente-general e visconde de Santa Thereza.
XXIX – É nomeado o marechal Antonio José da Fonseca Horta
para governador da capitania de S. Paulo, e toma posse no dia 10 de dezembro de 1802, em cuja administração se conservou até 11 de maio de 1811,
sendo o tempo do seu governo oito anos, dez meses e vinte dias.
XXX – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 18; ciclo
solar, 20; epacta, 7; letra dominical, B.
XXXI – Martirológio. Dia 1º de janeiro, sábado; domingo
de Páscoa a 10 de abril; indicação romana, 6; período Juliano, 6.516.
XXXII – No dia 25 de agosto de 1803, nasceu no Rio de
Janeiro Luiz Alves de Lima, que depois foi barão, visconde, conde, marquês e duque de Caxias.
XXXIII – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 19; ciclo
solar, 21; epacta, 18; letra dominical, A G.
XXXIV – Martirológio. Dia 1º de janeiro, domingo; Páscoa
a 1º de abril; indicação romana, 7; período Juliano, 6.517.
XXXV – Oficialmente foi importada a vacina no dia 30 de
dezembro de 1804.
XXXVI – O chefe de esquadra Paulo José da Silva Gama
tomou posse do governo do Rio Grande do Sul, no dia 30 de janeiro de 1805. Por seus serviços à causa pública foi nomeado barão de Bagé, e depois
almirante, falecendo no dia 22 de março de 1823.
XXXVII – Antonio Pires da Silva pontes Leme, que foi
governador da capitania do Espírito Santo, faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de abril de 1805.
XXXVIII – D. Luiz Maurício da Silveira, sendo tenente de
um regimento em Lisboa, veio com patente régia nomeado governador de Santa Catarina, e tomou posse da administração da capitania no dia 3 de junho
de 1805.
Neste governo, conservou-se até 16 de agosto de 1817, sendo o verdadeiro
contraste a sua administração com a de Joaquim Xavier Curado, Veiga Cabral e outros, porque nada fez nos vinte anos que permaneceu em Santa
Catarina.
XXXIX – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 2; ciclo
solar, 23; epacta, 11; letra dominical, E.
XL – Martirológio. Dia 1º de janeiro, quarta-feira;
Páscoa a 6 de abril; indicação romana, 6.519.
XLI – Carlos Cesar Burlamaque, nomeado governador do
Piauí, toma posse do governo da capitania no dia 21 de janeiro de 1806. Em outubro de 1810 é suspenso das funções públicas e preso. Em 1807 aparecem
de novo os índios pimenteiras, nas cabeceiras da capitania do Piauí, e são por dois anos perseguidos, batidos e por fim aniquilados.
Em princípios de outubro de 1810 é Burlamaque suspenso e preso. Burlamaque
pertencia à marinha real, cuja primeira praça teve lugar em 28 de maio de 1790, donde sendo guarda marinha passou a alferes do exército.
XLII – José Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque
toma posse do governo da capitania do Rio Grande do Norte em março de 1806, em substituição a Lopo de Almeida Henriques.
XLIII – No dia 7 do mesmo mês e ano morre no Rio de
Janeiro o coronel José Caetano de Araujo.
XLIV- O conde dos Arcos, d. Marcos de Noronha e Brito,
que governava a capitania do Pará, sendo nomeado vice-rei do Brasil, chega ao Rio de Janeiro em uma fragata com cento e vinte nove dias de viagem e
toma posse do governo no dia 7 de agosto de 1806, em cujo governo esteve até 7 de março de 1807, em que entregou o governo ao príncipe regente, o
sr. d. João VI de Portugal (N.E.: SIC - a data correta é 7 de março de 1808, em que a família
real viajou de Salvador para o Rio de Janeiro, cidade em que desembarcou na tarde do dia 8 – ver o verbete LVI).
XLV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 3; ciclo solar,
24; epacta, 22; letra dominical, D.
XLVI – Martirológio. Dia 1º de janeiro, quinta-feira;
Páscoa a 29 de março; indicação romana, 10; período Juliano, 6.520.
XLVII – Por decreto de 25 de fevereiro de 1807, é o
território do Rio Grande do Sul elevado à categoria de capitania geral, subordinando-lhe a de Santa Catarina; com a denominação de capitania geral
de S. Pedro do Rio Grande do Sul, sendo nomeado d. Diogo de Souza, conde do Rio Pardo, o primeiro capitão general para a governar, o qual tomou
posse da administração no dia 9 de outubro de 1809.
XLVIII – Na segunda-feira, 11 de março, morre na Bahia a
célebre feiticeira Nicacia, que o conde da Ponte havia mandado prender pelos muitos danos causados às pessoas crédulas e fanáticas que a
consultavam. Morava no Cabula, e como era aleijada foi conduzida em um carro pra a cadeia pública. A este acontecimento do tempo fizeram-se muitas
poesias, que não foram impressas.
No dia 16 de maio do mesmo ano, morre o sargento mor Claudio José da Silva.
No dia 28 de agosto de 1807, falece no Rio de Janeiro o desembargador Manoel
Carlos.
No dia 17 de outubro do mesmo ano morre no Rio de Janeiro o desembargador
intendente Joaquim José de Mendonça Cardoso.
XLIX – No dia 26 de novembro de 1807, o
príncipe regente de Portugal fez baixar em Lisboa um decreto declarando a sua intenção de mudar a corte de Lisboa para o Brasil, criando a regência
que devia governar o reino na sua ausência [3].
No dia 29 sai a esquadra do Tejo, conduzindo o príncipe regente e a rainha, a sra. d. Maria I, com toda a família real, para o Brasil, acompanhada
da esquadra inglesa, e o ministro lorde Strangfort.
A família real compunha-se das seguintes pessoas:
A rainha mãe, a sra. d. Maria I, com setenta e um anos de idade.
O príncipe regente d. João Carlos de Bragança, com quarenta e um anos.
A princesa d. Carlota Joaquina, com trinta e dois anos.
O príncipe d. Pedro de Alcantara, depois imperador do Brasil, com dez anos de idade.
O infante d. Miguel, com seis anos.
A princesa d. Maria Thereza, com quinze anos.
A infanta d. Maria Izabel, com doze anos.
A infanta d. Maria Francisca, com oito anos.
A infanta d. Izabel Maria, com sete anos.
A infanta d. Maria da Assumpção, com três anos.
A infanta d. Anna de Jesus Maria, com um ano.
L – A princesa do Brasil d. Maria Francisco Benedicta,
viúva do príncipe d. José, de idade de sessenta e dois anos.
A infanta d. Marianna, com setenta e dois anos. Esta senhora faleceu no dia 16 de
maio de 1813, com setenta e sete anos de idade.
O infante d. Pedro Carlos de Bourbon, que casou no dia 13 de maio de 1810 com a
princesa d. Maria Thereza, e faleceu de bexigas, no paço de S. Christovão, no dia 16 de maio de 1812, com vinte e seis anos, e se acha sepultado em
um mausoléu de mármore no convento de Santo Antonio do Rio de Janeiro.
No dia da morte do infante d. Pedro houve tantas chuvas
que, alagando as ruas, davam as águas pelas pernas dos soldados, e as ondas na baía eram tão grandes que lambiam a base da fortaleza da Ilha das
Cobras. Este príncipe deixou um filho de nome Sebastião, nascido no paço de S. Christovão do Rio de Janeiro.
[...]
[1] Joaquim José de
Azevedo, visconde do Rio Secco, no reinado do imperador d. Pedro I foi elevado a marquês de Jundiaí, e grão-cruz da Ordem de Cristo. Estava muito
rico; e foi quem edificou, como já disse, a grande casa que faz esquina na Rua do Conde da Cunha com o Largo do Rocio, hoje Praça da Constituição, a
qual sendo comprada por muito dinheiro, foi transformada em colmeia para a Secretaria do Império!!!
[2]
El-rei d. João era muito pouco asseado: tinha impigens nas coxas, nádegas e em outros lugares reservados, e de quando em quando coçava-se por detrás
e por diante, e com a mão assim mesmo dava a beijar, o que faziam de joelhos em terra.
[3]
Vide no tomo 1º da 2ª parte (ou o 5º) da minha Chorographia Historica, a exposição circunstanciada da trasladação da corte portuguesa para o
Brasil. |