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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1600-1700 (22)

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 459 a 479 do Tomo I:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 459/tomo I da obra

1600-1700

[...]

DCLI – Martirológio. Domingo de Páscoa 22 de abril; dia 1º de janeiro segunda-feira; indicação romana 8; período Juliano 6.398.

DCLII - No dia 16 de maio de 1685, Gomes Freire de Andrade desembarca na cidade de S. Luiz do Maranhão e toma posse do governo com real ou fingido contentamento do povo, ficando com a sua presença e administração restabelecida a ordem legal, e terminada a revolta de Beckman.

No dia 25 de julho deste mesmo ano, o capitão-mor Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho toma posse do governo do Pará.

DCLIII – No dia 15 de maio de 1685 chega à vista da cidade de S. Luiz, capital do Maranhão, uma esquadrilha levando Gomes Freire de Andrade, novo governador, nomeado pela Corte de Lisboa para sufocar a revolta chamada de Beckman, dissolvendo-se imediata e precipitadamente o governo ilegal, e fugindo todos os principais chefes do movimento revoltoso.

DCLIV – Cômputo eclesiástico. Áureo número 15; ciclo solar 15; epacta 5; letra dominical F.

DCLV – Martirológio. Domingo de Páscoa 14 de abril; dia 1º de janeiro terça-feira; indicação romana 9; período Juliano 6.399.

DCLVI – Em maio de 1686 apareceu em Pernambuco uma terrível epidemia, a que o povo chamou de males, que se ignorando as causas, atribuiu-se a umas barricas de carne, que voltaram em viagem da Ilha de S. Thomé, e abertas por um tanoeiro, que sendo atacado do mal caiu gravemente enfermo e morreu; e logo algumas pessoas da sua casa que tiveram a mesma sorte.

Este mal se foi ateando logo na população do Recife, em tanto excesso que morreram mais de duas mil pessoas, número grande para a povoação daquela vila. Daí foi passando à cidade de Olinda e seu recôncavo, sendo mui poucas as pessoas que escaparam daquele mal, pela malignidade e veemência, em cujos sintomas diferentes não podia atinar a ciência médica, conformando-se os médicos em lhe darem o nome de Bicha, da qual livrando-se poucos, eram sem número os que morriam, deixando ermas de moradores as casas e famílias de Olinda e do Recife.

Da calamidade de Pernambuco, refere uma memória manuscrita antiga que possuo, chegou com a notícia o contágio à Bahia, ou pelos avisos comunicados, ou porque os eclipses não teriam nela disposto para tanta corrupção o ar, tão brevemente como em Pernambuco.

Os primeiros feridos do ataque foram dois homens, que jantando em casa de uma mulher meretriz, morreram em vinte e quatro horas, caso que a fez assustar, por se lhe arguir que em um prato de mel lhes disfarçara o azibar do veneno; mas pelos sintomas e sinais com que foi ferindo o contágio, se conheceu que dele faleceram.

Continua com alguma pausa mas com tal intensidade e força, que era o mesmo adoecer, que em breves dias acabar lançando pela boca copioso sangue. Destes foi no princípio o desembargador João do Couto de Andrada. Foram logo adoecendo e acabando tantas pessoas, que se contavam os mortos pelos enfermos.

Houve dia em que caíram duzentas, e não escaparam duas; os sintomas do mal eram os próprios na Bahia que em Pernambuco, mas entre si tão diferentes e vários, que não mostravam sinal certo. Era em uns o calor tépido e o pulso sossegado; em outros inquieto e grande febre; uns tinham ânsias e delírios, outros ânimo quieto e discurso desembaraçado. Uns com dores de cabeça, outros sem ela; e finalmente desiguais até na crise mortal do contágio, porque acabavam ao terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e nono dia; algumas pessoas ao primeiro e ao segundo.

Estavam cheias as casas de moribundos, as igrejas de cadáveres, as ruas de tumbas; não havia já pessoas para acompanharem o Santíssimo Sacramento etc. (Vide o governo do marquês das Minas).

Na Bahia o contágio cessou, segundo as crenças do tempo, pelo voto que a população fez a S. Francisco Xavier, interpondo o valimento deste santo a conseguir do eterno Deus a cessação do mal, ficando como o padroeiro da cidade da Bahia.

Conta o autor de outro manuscrito antigo, que tenho à vista, que a Bicha, já degenerada, durou até 1688, desenvolvendo uma disenteria pútrida com gangrena do reto. Seguiu-se à peste da Bicha a das bexigas, em Pernambuco e na Bahia, havendo dias de duzentas pessoas. Nesta grande calamidade se distinguiram o governador da Bahia o marquês das Minas, e a viúva d. Francisca de Sande, que não só tratava com as suas mãos as pessoas indigentes como fez da sua casa hospital, onde recebia a pobreza enferma que não cabia no hospital da Misericórdia.

DCLVII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 16; ciclo solar 16; epacta 16; letra dominical E.

DCLVIII – Martirológio. Domingo de Páscoa 30 de março; 1º de janeiro quarta-feira; indicação romana 10; período Juliano 6.400.

DCLIX – "Aos dezessete dias do mês de março de 1667, nos paços de sua majestade, em sua real presença, deu menagem em suas reais mãos Mathias da Cunha, pelo governo e capitania geral do Estado do Brasil, sendo presentes como testemunhas, segundo a ordenança, d. Manuel de Souza e Tristão da Cunha; e eu Mendo de Feyos Pereira, do conselho de sua majestade e secretário de Estado, que a dita menagem e juramento tomei, subscrevi e assinei, do que passei esta certidão, por constar do referido. Lisboa no mesmo mês de março do dito ano acima referido. – Manuel de Feyos Pereira". (N. E.: SIC: notado que em outra mensagem, no verbete DCXCIV, o nome aparece grafado como Mendo de Foyos Pereira).

DCLX – "Honrado marquês das Minas, Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar, como aquele que prezo. A Mathias da Cunha fui servido fazer mercê do governo desse Estado, como vos constará da carta patente que lhe mandei passar. Encomendo-vos que, na forma costumada, lhe deis a posse do dito governo, que estais exercitando, com as cerimônias que em semelhantes atos se costumam, de que se fará assento, em que ambos assinarei; e havendo-lhe dado a dita posse, e as notícias que julgardes por convenientes a meu serviço, vos hei por desobrigado da homenagem que pelo dito governo me fizestes. Escrita em Lisboa a 27 de fevereiro de 1687. – Rei. – O conde de Val de Reis. P. – Para o governador e capitão general do Estado do Brasil".

DCLXI – Mathias da Cunha tomou posse do governo geral a 4 de junho de 1687, e nele esteve até 24 de outubro do ano seguinte de 1688, dia em que faleceu, como consta do livro das posses, com grande sentimento de todo o povo, sendo sepultado na capela-mor do mosteiro de S. Bento no dia seguinte ao em que faleceu.

Mathias da Cunha morreu de febre amarela ou da bicha, e embora este mal deixasse os habitantes da Bahia e Pernambuco, contudo acometia aos que pela primeira vez chegavam ao país.

Ainda em seu juízo perfeito, reconhecendo que morria, mandou reunir em palácio a Câmara e as demais pessoas gradas para nomear-se sucessão ao governo, e a eleição recaiu no arcebispo d. fr. Manuel da Ressurreição, ficando os negócios da Justiça a cargo do chanceler da Relação, Manuel Carneiro de Sá.

No mesmo dia da eleição do novo governador se amotinaram os soldados no campo do Desterro, exigindo o pagamento de nove meses de soldo que a Câmara lhes devia, e só se apaziguaram quando foram pagos e obtiveram o perdão, assinado pelo arcebispo e por Mathias da Cunha, que quase agonizante também assinou.

Governo interino: o arcebispo d. Manuel da Ressurreição; o chanceler Manuel Carneiro de Sá.

O arcebispo, para aquietar os amotinadores, foi em pessoa ao campo do Desterro, e em frente da tropa fez uma alocução, e sendo ouvido com muita atenção, recebidos os soldos, ficou a cidade em sossego.

Governaram os dois eleitos até o dia 8 de outubro de 1690, em que tomou posse o novo governador.

DCLXII – Arthur de Sá de Menezes tomou posse do governo do Maranhão no dia 14 de julho de 1687.

DCLXIII – Amaro Velho Cerqueira, em setembro de 1687, tomou posse do governo da Paraíba do Norte, e nela permaneceu quatro anos e sete meses.

DCLXIV – "Fará presente o secretário deste Estado, ao dito sr. Mathias da Cunha, o que sua majestade há escrito ao sr. marquês das Minas, pertencente às Missões, como consta das cartas que estão na secretaria.

"Entregar-se-á mais a carta de el-rei, meu senhor, que deixo na secretaria com as prematicas, para que conste, que o dito senhor há mandado, pertencente à moeda, dando conta o secretário do Estado do que obrei, neste negócio, nos poucos dias que tive depois dela chegar.

"Fará presente o secretário do Estado a importância da fortificação da barra de Camamú, por requerimentos dos oficiais da Câmara e pessoas mais práticas deste Estado, para cujo efeito mandei por esta obra em praça, a quem mais barato o fizesse, como consta da minha portaria, que está nos livros da Fazenda, e que convirá muito ao serviço de sua majestade, que neste particular se não perca horas nem instante.

"Que a infantaria do presídio desta praça fica paga de tudo o que se lhe devia, pagando-se-lhe de três em três meses, e que será conveniente ao serviço de el-rei, meu senhor (suposto há consignações aplicadas ao tal pagamento), não se lhe falte com ele, que é certo não experimentará, enquanto o sr. Mathias da Cunha governar este Estado.

"Pelas cartas e ordens de sua majestade, que ficam na secretaria, principalmente as que nesta frota se entregaram, que compreendem vários negócios, fará presente o dito secretário de Estado ao sr. Mathias da Cunha.

"Que ao desembargador Bento de Barros Bezerra nomeei para cobrar o que pertence ao Donativo, como consta da portaria, que sobre este particular lhe mandei passar; e será conveniente que o secretário do Estado faça presente ao dito sr. governador, para que nomeie ministro; porquanto o dito Bento de Barros Bezerra se vai para o reino; e este papel se registrará nos livros da secretaria do Estado, em que se assinará o secretário dele, para que conste dos negócios mais precisos, que me pareceu se fizessem presentes ao dito sr. Mathias da Cunha. Bahia, 1º de junho de 1687. – Bernardo Vieira Ravasco".

DCLXV – Cômputo eclesiástico. Áureo número 17; ciclo solar 17; epacta 27; letra dominical DC.

DCLXVI – Martirológio. Páscoa 18 de abril; 1º de janeiro quinta-feira; indicação romana 11; período Juliano 6.401.

DCLXVII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 18; ciclo solar 18; epacta 8; letra dominical B.

DCLXVIII – Martirológio. Domingo de Páscoa 10 de abril; dia 1º de janeiro sábado; indicação romana 12; período Juliano 6.402.

DCLXIX – "Reverendo em Cristo, padre arcebispo da Bahia. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar, como aquele de cujo virtuoso acrescentamento muito me prezaria. Ao almotacel-mor, Antonio Lins Gonçalves da Câmara Coutinho, fui servido fazer mercê desse governo, como vos constará da carta patente que lhe mandei passar; encomendo-vos que, na forma costumada, lhe dês posse do dito governo que estais exercitando, com as cerimônias que em semelhantes atos se costumam, de que se fará assento, em que ambos assinareis; e havendo-lhe dado a dita posse e as notícias que julgardes por convenientes a meu serviço, vos hei por desobrigado da homenagem que pelo dito governo fizestes. Escrita em Lisboa a 8 de junho de 1689. – Rei – Conde de Val de Reis P. – Para o arcebispo da Bahia".

DCLXX – Cômputo eclesiástico. Áureo número 19; ciclo solar 19; epacta 19; letra dominical A.

DCLXXI – Martirológio. Domingo de Páscoa 26 de março; 1º de janeiro domingo; indicação romana (N. E.: não indicada no original); período Juliano 6.294.

DCLXXII – Pela carta régia de 28 de fevereiro de 1690, mandou el-rei ao governador do Rio de Janeiro que proibisse a fabricação do sal que se preparava em Cabo Frio, por ser a sua fartura tal, que prejudicava o consumo do que se importava de Portugal.

DCLXXIII – Antonio de Albuquerque, sendo nomeado governador do Maranhão, toma posse do cargo no dia 17 de maio de 1690.

DCLXXIV – O capitão-mor Hilario de Souza e Oliveira, nomeado governador do Pará, toma posse da administração no dia 27 de agosto de 1690.

DCLXXV – "Em os oito dias do presente mês de outubro deste ano de 1690, na sala do colégio de Jesus desta cidade da Bahia, fez preito e homenagem nas mãos do arcebispo deste Estado, pelo governo e capitania geral dele, o almotacel-mor do reino, Antonio Luiz Gonçalves da Camara Coutinho, e deu juramento na forma da patente de sua majestade, retro escrita, segundo o uso e costume dos reinos de Portugal, assistindo como testemunhas o chanceler da Relação Manuel Carneiro de Sá a cujo cargo estava o governo da Justiça, e o mestre de campo Antonio Guedes de Brito, e um dos três governadores que dele formou; e eu Bernardo Vieira Ravasco, secretário do mesmo Estado, que a dita menagem escrevi e assinei na Bahia a 10 de outubro de 1690. – Bernardo Vieira Ravasco".

DCLXXVI – Antonio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho, almotacel-mor do rei, cujo desvelo no real serviço e interesse comum na distribuição da Justiça, e desinteresse em conveniências particulares, se admirou Pernambuco e venerou a Bahia em três anos, sete meses e catorze dias, tendo ele chegado em 8 de outubro de 1690, tomou posse na Relação a 22 do mesmo mês, e o deixando a 22 de maio de 1694, como consta do livro de posse à folha 79.

Antonio Luiz, logo que tomou posse do governo, mandou publicar em 10 de novembro de 1690 um bando, pelo qual determinou que os moradores residentes dentro da distância de dez léguas, em redor da cidade, fossem obrigados a plantar quinhentas covas de mandioca, para haver abundância de mantimentos e evitar fomes, sob pena de pagar cada infrator a quantia de cem mil réis, que seriam aplicados para as obras das fortificações.

Mandou distribuir, pelas capitanias do Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro, sementes de pimenta negra e canela da Índia, autorizado pela carta régia de 16 de janeiro de 1691.

Mandou dividir os portos de mar do Ceará em capitanias particulares a quem os quisesse povoar e fortificar.

Estando o célebre jesuíta Alexandre de Gusmão construindo o famoso seminário de Belém, no termo da vila (hoje cidade) da Cachoeira, o auxiliou em tudo que ele exigiu.

No seu governo, ano de 1693, vieram a fundar casa na Bahia os religiosos descalços de Santo Agostinho, com a invocação de Nossa Senhora da Palma.
Continuou ele a fortificação das trincheiras, que cercavam a cidade pela parte de terra.

Findo o tempo do seu governo, passou-se para Lisboa em 22 de maio de 1694, e depois para a Índia, para governá-la como vice-rei, e no seu regresso, tocando na Bahia, aí faleceu, e foi sepultado na igreja do Colégio de Jesus em 1702.

DCLXXVII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 1; ciclo solar 20; epacta 1; letra dominical G.

DCLXXVIII – Martirológio. Domingo de Páscoa 15 de abril; 1º de janeiro segunda-feira; indicação romana 14; período Juliano 6.404.

DCLXXIX – Por carta régia de quinta-feira 18 de janeiro de 1691, manda el-rei terminante ordem ao governador geral do Estado do Brasil, que não consentisse consumo de outro sal, senão o que fosse fabricado no reino, e dele importado no Estado do Brasil.

DCLXXX – Cômputo eclesiástico. Áureo número 2; ciclo solar 21; epacta 12; letra dominical F E.

DCLXXXI – Martirológio. Domingo de Páscoa 6 de abril; 1º de janeiro terça-feira; indicação romana 15; período Juliano 6.405.

DCLXXXII – "Antonio Luiz Gonçalves da Camara. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Viu-se o que informastes em carta de 17 de novembro do ano passado, sobre a obra da igreja paroquial de S. Pedro, dessa cidade, e instituição da capela de Antonio Cordeiro, e pareceu-me dizer-vos que, se o administrador da dita capela, Francisco Ferreira, seu imediato sucessor, me quiser ceder livremente o direito e padroado da dita igreja, ficando somente com uma das capelas que se nela fizerem, à custa da Fazenda Real, para que nesta somente se verifique as cláusulas da instituição, terá lugar que pela minha Fazenda se acabe toda a igreja, pois ao administrador será impossível acabá-la, por ser grande e muita a obra de que necessita; e nesta conformidade vos ordeno, proponhais este negócio e ajusteis, ouvida a instituição e ao procurador da Coroa e Fazenda desse Estado, e me deis conta para que se confirme, como parecer mais conveniente. Escrita em Lisboa aos 9 de dezembro de 1692. – Rei".

DCLXXXIII – Manuel Nunes Leitão, nomeado governador para a Paraíba do Norte, toma posse da administração em junho de 1692, e governa a Paraíba cinco anos e três meses.

DCLXXXIV – Cômputo eclesiástico. Áureo número 3; ciclo solar 22; epacta 23; letra dominical D.

DCLXXXV – Martirológio. Domingo de Páscoa 22 de março; dia 1º de janeiro quinta-feira; indicação romana 1; período Juliano 6.406.

DCLXXXVI – "Por aviso de 23 de fevereiro de 1693 se comunica ao governador geral do Estado do Brasil que sua majestade, que Deus guarde, teve notícia, por uma carta de Francisco Lamberto, que dessa cidade se haviam levado algumas árvores de canela para Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo, e ainda para o Maranhão; e como podem resultar grandes prejuízos de se cultivar canela nestas capitanias, sua majestade, que Deus guarde, é servido que v. s. ponha particular cuidado em que se não levem mais plantas nem sementes para outras partes, contando-se no melhor modo que for possível, que bem considero a dificuldade que terá esta proibição. Deus guarde a v.s. Lisboa, 23 de fevereiro de 1693. – Mendo de Souza. – Sr. governador geral do Brasil".

DCLXXXVII – Sucedeu-lhe no governo Caetano de Mello e Castro, que tomou posse no dia em que ele acabou e serviu até 15 de março de 1699. Ainda hoje se não aboliu em Pernambuco a memória do nome deste governador, pela lembrança do zelo, justiça, desinteresse e valor com que governou aquela capitania; a memória das suas relevantes virtudes tem por despertador a da guerra dos Palmares, e completa vitória que conseguiu dos negros fugitivos, que dali infestavam os povos de Pernambuco.

No tempo em que os holandeses possuíam esta capitania, haviam fugido de diversas fazendas quarenta ou mais negros para um sítio intermédio das vilas de Porto Calvo e Alagoas, pela latitude de nove graus no interior do continente, a que deram o nome de Palmares, pelas muitas palmas que nele plantaram, cujo sítio e suas imediações se acham catorze léguas, pouco mais ou menos, distante da cidade das Alagoas; foram recrutando à sua povoação muitos outros que se lhes agregavam, com mulheres e concubinas, em forma tal que juntaram uma povoação de mais de vinte mil pessoas, de ambos os sexos, composta de negros, pardos e mestiços.

Era a sua povoação circunvalada de uma estacada de duas ordens de altos paus, falquejados em quatro faces, de madeiras rijíssimas, circuito de uma légua, com três portas para a serventia, suas plataformas de distâncias em distâncias iguais, guarnecidas cada uma por um capitão dos de maior suposição, e mais de duzentos homens armados, ainda em tempo de paz, com muitas armas de fogo, de arremesso e brancas, furtadas umas e compradas outras.

Haveria dentro desta estacada uma elevadíssima eminência (hoje Serra do Barriga), donde atalaiavam pra toda a parte, bem como uma lagoa e diferentes cacimbas e regatos, que lhes subministravam água com abundância. Por fora da trincheira tinham muitas lavouras e pomares; e para guarda desta, havia diversas povoações pequenas, com o nome de mocambos.

Formaram para o seu governo uma espécie de república, para cabeça, ou principal membro dela, elegeram dentre todos um que diziam ser mais bem morigerado e valente, a que deram o nome de Zambi (N. E.: este nome passou à história com a grafia Zumbi);era dignidade eletiva, mas vitalícia, e só tinham acesso a ela os negros, pardos ou cabras de maior experiência ou valor. Além destes, tinham outros cabos de milícias e ministros de justiça.

Pelo que pertence à religião, se podia ter por cristãos cismáticos, pela miscelânea de dogmas e cerimônias que praticavam. Pelo horror dos acometimentos destes servis republicanos, haviam alguns dos habitantes daqueles distritos secretas inteligências com eles, subministrando-lhes armas, pólvora, balas, roupa etc., pelo dinheiro e peças que haviam roubado a outros, pelo que foram muitos deles castigados.

Tão grande era já a opressão que causavam aqueles escravos rebelados em Pernambuco, e tanto o auge das suas forças, que os governadores se não achavam com força precisa para combatê-los e aniquilarem aquele opróbrio, e muito mais pelas notícias que davam alguns escravos, que lhes escapavam, do grande aumento da população, destreza dos cabos, fornecimento de munições e fortaleza da estacada, com diferentes baluartes para defender-lhe o acesso.

Tendo porém o governador Caetano de Mello por ignomínia conservar-se no distrito do seu governo uma tal congregação de rebeldes, se entendeu com o governador capitão general do Estado, d. João de Lencastro, que pronto lhe enviou um terço de milícias para Porto Calvo.

Antes de chegar a esta vila, quis o mestre de campo daquele terço de paulistas, que residiam no sertão da Bahia, dar uma vista às fortificações dos negros dos Palmares; e alojando-se no sítio de Garanhús, a pouca distância delas, com o seu terço, composto de mil homens, a tempo que se achavam empregados em desfrutar um bananal dos negros, se viram atacados por um grande troço deles, saídos da fortificação, e de tal forma se atacaram, que de ambas as partes ficaram mortos no campo mais de quatrocentos homens, não sendo menor o número dos feridos, depois do que se retirou o mestre de campo Domingos Jorge para Porto Calvo.

Naquela vila se vieram incorporar com ele três mil homens, vindos de Olinda, do Recife e das povoações mais vizinhas; incluíam-se neste número muitas pessoas ricas e queixosas; além de algumas companhias dos terços pagos, vieram mais mil e quinhentos homens das vilas das Alagoas, Penedo, S. Miguel e Lagoa do Norte, vindo a compor-se o exército de seis a sete mil homens, sujeito às ordens de Bernardo Vieira de Mello, com a nomeação de capitão-mor, com que o governador o condecorou. Pôs este em ordem o exército e marchou para os Palmares, onde achou já destruídas todas as roças e mocambos.

Dividiu-se o exército em torno da estacada ou muralha, arvoraram-se escadas, repetiram-se assaltos: tudo, porém, era rechaçado pelo ânimo dos cercados, com espingardas, flechas e mais armas de arremesso, com que atiravam dos baluartes, sendo muita a perca de uma e outra parte; e como se visse o pouco que, para arrombar as portas e muralhas, serviam machados e mais instrumentos que se lhes aplicavam, e a muita gente que nisso se perdia, pediram ao governador lhes enviasse soldados e artilharia para combatê-los.

Ao tempo, porém, que estes se aprontavam a muito custo no Recife, e mantimentos,que já no campo se carecia muito, iam os negros afrouxando pela falta de mantimentos e armas de arremesso que tinham perdido. Quando, pois, descobriram do cume da sua atalaia ou da serra o muito gado, carros e cargas, que das vilas do Sul vinham com alguma gente para reforçar o exército, então desanimaram, vendo frustradas as esperanças que tinham de levantar-se-lhes o sítio; viram as portas e trincheiras batidas e escaladas por diversas partes; viram o seu Zambi e mais esforçados guerreiros precipitarem-se voluntários do despenhadeiro da serra, motivos estes por que todos os mais se renderam, sendo pobre o despojo que se achou; participou-se logo a notícia ao governador, que com dois mil homens e seis peças de artilharia estava a partir para o campo.

Recebeu ele a notícia com sumo prazer; deram-se solenes graças a Deus, e assim teve Caetano de Mello e Castro a glória de destruir, no tempo do seu governo, aquele perniciosíssimo quilombo, formidável já a muitos dos seus antecessores, pois que os negros destruídos eram vistos já dos primeiros que para ali haviam fugido. (Brazil Hist.)

DCLXXXVIII – No dia 3 de fevereiro de 1693 faleceu em Lisboa fr. Paulo de Santa Catharina, que nasceu em Pernambuco no ano de 1632. Em Lisboa publicou vários sermões, pregados por ele em diversas ocasiões.

DCLXXXIX – "Antonio Luiz Gonçalves de Camara Coutinho. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar.

"Havendo visto o que se me representou por parte de Pedro Fernandes de Azevedo, mestre carpinteiro nessa cidade, acerca da dúvida que se lhe pôs no pagamento do custo que fez a casa nova, que por ordem de Mathias da Cunha, que governou esse Estado, construiu no palácio, e consertos que nele fez, com o fundamento de estar proibido mandar fazer obra nova, sem particular ordem minha, e dar-me primeiro conta, o que lhe havia dado grande perda, pelo custo que havia feito na dita obra, com os materiais que estava devendo às pessoas que os deram, e o apertavam para seus pagamentos, que ele dito Pedro Fernandes não devia fazer, pelo obrigarem ao trabalho, e dispêndio da dita obra, e lhes não tocava averiguar se se podia, ou não, mandar fazer pelo governador Mathias de Albuquerque, e vendo também, sobre que esta matéria informastes, documentos, vistoria e avaliação, que remetestes, porque se mostra estar se devendo ao dito mestre carpinteiro, de toda a dita obra trezentos e trinta e um mil e trinta réis líquidos.

"Fui servido resolver, se lhe paguem prontamente pela Fazenda Real, com declaração que esta graça não fará exemplo a outra obra nova, que algum governador fizer, sem primeiro dar conta, e ter minha aprovação, porque em todos se pagarão os oficiais, por seus bens, e não pela minha Fazenda, de que vos aviso para o terdes assim entendido.

"Escrita em Lisboa a 2 de março de 1693. – Rei. – Conde de Alvor P. – Para o governador e capitão general do Estado do Brasil".

DCXC – Cômputo eclesiástico. Áureo número 4; ciclo solar 23; epacta 4; letra dominical C.

DCXCI – Martirológio. Domingo de Páscoa 11 de abril; 1º de janeiro sexta-feira; indicação romana 2; período Juliano 6.407.

DCXCII – El-rei, em 12 de fevereiro de 1694, escreve a d. João de Lencastro que empregue os seus cuidados conjuntamente com o chanceler da Relação, Manuel Carneiro de Sá, para que as sobras dos rendimentos do Conselho, e as dos subsídios, se apliquem nas obras da cadeia da Bahia.

DCXCIII – "D. João de Lencastro. Amigo. El-rei vos envia muito saudar. Da parte do glorioso Santo Antonio, se me representou aqui o estado em que se acha a sua igreja de Além do Carmo, com a ruína da sacristia, assim os seus prejuízos não podem acudir por pobres; requereu uma ajuda de custo para o reparo e aumento da dita igreja, ordeno-vos informeis com vosso parecer, o que se poderá aplicar por esmola para o reparo e conserto dessa igreja, para que se possa deferir a obra tão pia e do serviço de Deus; é justo que este glorioso santo esteja em seu templo com toda a decência. Escrita em Lisboa a 22 de novembro de 1694. – Rei. – Para o governador do Estado do Brasil. – Conde de Val de Reis".

DCXCIV – "Aos onze dias do mês de março do ano de 1694, nesta cidade de Lisboa, nos paços de sua majestade, deu menagem em suas reais mãos, segundo a ordenança, d. João de Lencastro, pelo governo e capitania geral do Estado do Brasil, sendo presentes, como testemunhas, o marquês de Marialva, gentil-homem da câmara de sua majestade, seu mordomo-mor e o conde de Vianna, estribeiro-mor. E eu, Mendo de Foyos Pereira, do conselho de sua majestade, seu secretário de Estado, que a dita menagem e juramento tomei, subscrevi e assinei, de que passei esta certidão em Lisboa aos 18 dias do dito mês de março e ano acima referido. – Mendo de Foyos Pereira." (N. E.: SIC: notado que em outra mensagem, no verbete DCLIX, o nome aparece grafado como Manoel de Feyos Pereira).

DCXCV – D. João de Lencastro chegou à Bahia a 22 de maio de 1694, como consta do livro de posses à folha 84, e tomou posse na relação a 25 do mesmo mês e ano até o dia 3 de junho de 1702, em que deixou o poder, tendo governado oito anos e onze dias.

O seu primeiro cuidado foi atender para as obras das fortificações; deu fim às obras dos fortes de S. Diogo, Santa Maria e Santo Antonio da Barra.
Levantou os dois revelins, ou redutos, que defendiam as portas da cidade.

Pela insuficiência da casa em que trabalhava a Relação, a mudou para a em que hoje trabalha, na qual mandou fazer as acomodações e um passadiço para palácio, que existiu até poucos anos. Edificou a Casa da Moeda, servindo-se do edifício em que primitivamente foi a alfândega da cidade, e do qual saíram oficiais e instrumentos para a fundação das casas da moeda de Pernambuco e Rio de Janeiro.

Mudou a alfândega para o lugar onde hoje existe, e ampliou a casa da câmara e cadeia da cidade. Reedificou a fortaleza do morro de S. Paulo, fazendo de novo a fortaleza de Camamú. Em seu tempo se introduziu a moeda provincial.

Fundou as vilas da Cachoeira, Jaguaripe e S. Francisco de Sergipe do Conde, e as cinco vilas da capitania de Sergipe de El-Rei, que são as de Santo Amaro de Brotas, Itabaiana, Lagarto, Vila-Nova Real de El-Rei e Santa Luzia.

Durante a sua administração foram destruídos célebres quilombos dos Palmares, na província das Alagoas, entre os termos das vila da Atalaya e Porto Calvo, sendo a sede do principal na serra do Barriga e suas imediações. Depois de extintos os quilombos dos Palmares, sabendo ele da existência das extensas nitreiras naturais, nos sertões da vila de Jacobina, desejou estabelecer ali fábricas de salitre, e para mais acertadas providências foi ele próprio examinar aquela comarca e outros lugares do recôncavo.

O grande e assaz celebrado padre Antonio Vieira, que já há anos tinha voltado para a Bahia, e já muito enfermo e cego, faleceu no seu colégio e na última cela do primeiro pavimento, à direita, à uma hora da manhã do dia 18 de julho de 1697, com quase noventa anos de idade e setenta e cinco de hábito, tendo feito profissão do quarto voto a 26 de maio de 1644. No dia seguinte da morte deste grande orador sagrado e grande político, faleceu seu irmão e íntimo amigo Bernardo Vieira Ravasco.

No seu governo foi que se criaram os lugares de ouvidor-geral da comarca, juiz de fora da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco.

Estabeleceu d. João de Lencastro, na capital da Bahia, uma aula de fortificações, e para a qual foi autorizado pela carta régia de 11 de janeiro de 1699.

Foi este benemérito fidalgo incansável em governar bem, não se esquecendo em dar providências para a domesticação dos índios, até que entregou o governo em 3 de junho de 1702.

DCXCVI – D. João de Lencastro, em 27 de julho de 1694, tendo dado parte a el-rei d. João IV de ter feito a casa da Relação da Bahia sem dispêndio da Fazenda Real, sua majestade em carta de 7 de dezembro do mesmo ano lhe agradece o zelo e solicitude com que o serve, mandando construir uma casa decente para os trabalhos do Tribunal da Relação.

DCXCVII – "Antonio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. A d. João de Lencastro fui servido fazer mercê do governo geral desse Estado, como vos constará da carta patente, que lhe mandei passar. Encomendo-vos, que, na forma costumada, lhe deis a posse do dito governo, que estais exercitando, com as cerimônias que em semelhantes atos se costumam, de que se fará assento, em que ambos assinareis; e havendo-lhe dado a dita posse, e as notícias que julgardes convenientes ao meu serviço, vos hei por desobrigado da homenagem, que pelo dito governo me fizestes. Escrita em Lisboa a 22 de fevereiro de 1694. Visconde de Alvar. – Para o governador geral do Estado do Brasil".

DCXCVIII – "D. João de Lencastro. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Viu-se a vossa carta de 27 de julho, deste ano, em que dais conta de haver mandado fabricar, sem dispêndio da Fazenda Real, uma casa para a Relação, por não estar com a decência devida a este tribunal na parte em que se achava. Me pareceu agradecer-vos, como por esta o faço, o zelo e diligência com que vos empenhastes a edificar a dita casa da Relação, sem que nesta fábrica entrasse algum custo de minha Fazenda, cujo serviço me fica muito em lembrança. Conde de Alvar P. – Para o governador geral do Estado do Brasil".

DCXCIX – Thomé de Souza, mandando quadrar a praça no alto da montanha, onde construiu o seu palácio de taipa, mandou também fazer casa para cadeia, conforme as circunstâncias, e casa no mesmo edifício para a Municipalidade, que foi nomeada, as quais no mesmo lugar foram substituídas por outra de pedra e cal, muito espaçosa, elegante e segura, a qual foi principiada pelo governador Francisco Barreto de Menezes, à custa do povo, em 1660.

Este edifício da cadeia e câmara, construído de pedra e cal, com vinte e uma braças de frente, com treze janelas sobre doze arcos e colunas, e vinte e uma braças e cinco palmos de fundo, isto na Praça do Palácio, com um sobrado de um andar, no meio do qual o governador d. João de Lencastro mandou fazer um torreão, no ano de 1696, para colocar a sineta da cadeia.

O mesmo governador, no mesmo ano, mandou fazer no mesmo edifício a casa das audiências, as salas livres e fechadas, os segredos e enxovias, pondo tudo em última perfeição, pelas rendas do senado da Câmara.

DCC – "Antonio Luiz Gonçalves da Camara. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Viu-se o que escrevestes, em carta de 8 de julho deste ano, em que me dais conta de estar para acabar a cadeia desta cidade, sendo tão precisa para se recolherem os presos, e não ter casa de segredo e outras coisas necessárias para este fim, mando delas os arcebispos, por presos, enquanto se não faz aljube. E pareceu diversos, que se reconhece ser mui conveniente a obra da cadeia, e que assim trateis de aperfeiçoar e acabar, aplicando para a sua despesa a mesma consignação e efeitos com que ela principiou. Escrita em Lisboa a 23 de outubro de 1691. Rei. – Conde de Val de Reis. Para o governador geral do Estado do Brasil".

CADEIA – "1694 – Governador do Estado do Brasil. Eu el-rei vos envio muito saudar. Vendo-se o que me escrevestes, em carta de 16 de julho do ano passado, sobre vos haver ordenado que o chanceler da Relação desse Estado tomasse conta aos oficiais da Câmara dessa cidade dos efeitos próprios, sem encontrarem os subsídios como se lhe tinha mandado e que achando que neles havia alguns sobejos, os aplicásseis à obra da cadeia, e quando totalmente não fossem bastantes, informásseis se em cada cabeça de gado, que vem do sertão, se poderia lançar cem réis, para com este rendimento se poder acudir à despesa dela, o que vos não pareceu conveniente, por não estar esse Estado capaz de tributo, dando-me conta em como o chanceler Manuel Carneiro de Sá não tivera ordem para tomar conta aos ditos oficiais da Câmara das rendas do conselho, senão do que tocava aos subsídios, dos quais só estavam a dever mais de trinta contos de réis.

"Me pareceu mandar ordenar ao chanceler da Relação desse Estado, por carta datada desta, faça cobrar o que se está devendo dos subsídios, e que pagas as consignações de que for necessário valer-se para pagamento da infantaria se meta o mais no cofre para suprimento dos soldados a pé, quando não chegarem os mesmos subsídios, ou se retarde o seu pagamento, como tenho mandado, remetendo do reino o que nos anos adiante cobrar para o emprego das munições, e juntamente que examine as rendas próprias que tem a Câmara e que se despendem, e em que importam, e se delas cobrar alguma coisa, para se aplicar à obra da cadeia, que se julga por tão necessária e útil a essa praça, de que vos aviso, para que tenhais cuidado de aplicar a este ministro, e que tenha efeito estas diligências, dando todo o calor a elas, e às cobranças de que o encarrego.

"Escrita em Lisboa a 12 de fevereiro de 1694. – O conde de Alvôr. Para o governador geral do Estado do Brasil".