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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1600-1700 (23)

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 479 a 495 do Tomo I:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 479/tomo I da obra

1600-1700

[...]

DCCI – Cômputo eclesiástico. Áureo número 5; ciclo solar 24; epacta 15; letra dominical B.

DCCII - Martirológio. Domingo de Páscoa 3 de abril; dia 1º de janeiro sábado; indicação romana 3; período Juliano 6.408.

DCCIII – No dia 27 de outubro de 1695 apareceu no céu do Brasil um cometa em forma de espada ou de palma que durou até o fim do ano.

DCCIV – "D. João de Lencastro, do conselho de sua majestade, que Deus guarde. Sábado, que se contam 23 deste mês de julho, há de partir com o favor Divino, infalivelmente, a frota. Todas as naus e navios que se acham neste porto, sigam a capitania do comboio, tanto que se fizer a vela; com cominação a seus capitães e mestres ficarem invernando, além das mais pessoas, que parecer a meu arbítrio. E para ser manifesto a todos, se publicará este bando, na forma costumada, e se registrará nos livros da secretaria de Estado. Manuel Rogero o fez nesta cidade do Salvador, Bahia de Todos os Santos, em os 19 dias do mês de julho de 1695. – Bernardo Vieira Ravasco, o fez escrever. – D. João de Lencastro".

DCCVBando de Perdão. "D. João de Lencastro, do conselho de sua majestade que Deus guarde. A todos os criminosos, por culpas, que no desembargo do paço se podem perdoar; que descobrirem minas de ouro, prata, salitre, ou outro qualquer metal. e dando-me conta de tal mina, em qualquer parte onde eu me achar, para me ser presente a qualidade dela, e a parte donde está. para o que lhe concedo todo o acesso, não só lhes hei por perdoados quaisquer crimes, dos que podem perdoar o desembargo do paço, mas em nome de sua majestade, que Deus guarde, prometo as honras e mercês de que for digna a importância das ditas minas. E para que venha a notícia a todos, se publicará este bando a som de caixas, nesta cidade, e enviarão cópias dele, aos lugares que eu ordenar, e se registrará nos livros da secretaria de Estado. Antonio Lopes Saavedra o fez nesta cidade do Salvador, Bahia de Todos os Santos em os sete dias do mês de setembro, ano de 1695. Declaro que mandei fazer assento desta faculdade na Relação deste Estado. Bernardo Vieira Ravasco o fez escrever. - D. João de Lencastro".

DCCVI - Cômputo eclesiástico. Áureo número 6; ciclo solar 25; epacta 26; letra dominical A G.

DCCVII - Martirológio. Domingo de Páscoa 22 de abril; dia 1º de janeiro domingo; indicação romana 4; período Juliano 6.409.

DCCVIII - "D. João de Lencastro. Amigo. - Eu el-rei vos envio muito saudar. Viu-se a vossa carta de 13 de abril deste ano, em que representais as impossibilidades que se vos oferecem à formatura das povoações do sertão, por entenderdes que na ordem que vos foi para esse efeito se não incluía o recôncavo dessa cidade, em que acháveis será fácil o reduzirem-se os moradores dele a povoações, e estas as.......... as convenientes para o meu serviço, e pareceu-me dizer-vos que o principal que se vos mandou, sobre se formarem estas povoações, foi no recôncavo desta cidade, que também se reconhece por sertão; e nessa consideração deveis obrar neste particular o que vós mesmo apontais, reduzindo a povoações o mesmo recôncavo, para evitar não só por este meio o desserviço de Deus, mas o meu, e também o dano que experimentavam meus vassalos por falta de terem quem lhes pudesse administrar justiça. Escrita em Lisboa a 5 de setembro de 1696. - Rei.- Para o governador geral do Estado do Brasil. - O conde de Alvor".

DCCIX - D. Joanna Pimentel, viúva de Francisco Gil de Araujo, donatário que foi da capitania do Espírito Santo, e seu filho Manuel Garcia Pimentel, queixam-se a el-rei que o jesuíta padre Manuel Pinto, prior da aldeia de Natuba, por artifício fraudulento, havia requerido à sua majestade e obtido uma provisão, para ela e seu filho despejarem quatro currais de gado, que possuem nas suas terras, a pretexto de que os ditos gados fazem mal às lavouras dos índios, o que era notoriamente falso o que expuseram à sua majestade, porque estando os antecessores do dito prior, com os seus índios, nas terras do padre Antonio Pereira, este os expulsou e despejou de suas terras, derribando-lhe as casas, a igreja que tinham os ditos jesuítas e índios; e vendo-se o dito prior corrido e vexado, se foi com os seus índios valer-se de seu marido e pai, que os acolheu com amor, nas ditas suas terras de Natuba, onde estiveram sempre em sossego e sem perturbação alguma até o presente; só agora os jesuítas, com o pretexto dos índios, querem se assenhorear de suas terras por terem nelas seus gados, e para cujo efeito alcançaram de má fé a provisão, com sinistra informação, para eles proprietários legítimos despejarem as ditas suas terras; o que com efeito mandou o governador geral do Estado, em virtude da provisão real, notificar a ela e a seu filho o despejo e desejando provar o seu direito, pedem a el-rei que mande nomear juiz para este fim.

El-rei, pela carta régia de 14 de dezembro de 1696, determina a d. João de Lencastro:

"Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Por parte de d. Anna Pimentel, viúva de Francisco Gil de Araujo, e seu filho Manuel Garcia Pimentel, donatário da capitania do Espírito Santo, se me fez aqui petição (cuja cópia vos envio) em que pedem lhes mande passar provisão, para lhe nomeardes juiz que possa conhecer da causa que intentam mover aos padres da Companhia de Jesus, sobre uma provisão que alcançaram em prejuízo da posse que os suplicantes têm de suas terras; e pareceu-me dizer-vos, informeis com o vosso parecer, neste requerimento, mandando cópia da provisão que se alega nele. Escrita em Lisboa a 14 de dezembro de 1696. - Rei."

Era assim, e por meios reprovados e criminosos, que os jesuítas se tornaram os maiores poderosos por suas riquezas e os maiores ricos dos tempos em que existiram.

DCCX - Cômputo eclesiástico. Áureo número 7; ciclo solar 26; epacta 7; lera dominical F.

DCCXI - Martirológio. Domingo de Páscoa 7 de abril; 1º de janeiro terça-feira; indicação romana5; período Juliano 6.410.

DCCXII - D. frei Themotheo do Sacramento (Paulista), nomeado e sagrado bispo para o Maranhão, toma posse do governo de sua diocese no dia 29 de maio de 1697.

DCCXIII - O padre Antonio Vieira, depois de ter assombrado toda a Europa com o esplendor da sua vastíssima inteligência, desejando morrer na Bahia, berço de seus verdes dias, embarcou-se na tarde do dia 26 de janeiro na nau S. Francisco, capitânea do comboio, de que era comandante o capitão-de-mar-e-guerra Diogo Ramires, cujo comboio saiu do Tejo no dia seguinte (27), e chegou à Bahia a salvamento.

Com quarenta anos de ausência, o grande padre Vieira foi recebido nos braços de parentes, amigos e de toda a população. Pouco tempo se demorou no colégio da cidade, e passou a residir na quinta do Tanque, hoje quinta dos Lázaros, pertencente aos jesuítas, com o seu fiel e inseparável amigo e companheiro o padre José Soares.

Por esses tempos, grandes calamidades de peste, esterilidade e fome pesavam sobre a Bahia. Reinava então, entre as famílias, o espírito de discórdia; e às dez horas do dia, em uma das ruas públicas, matou Antonio de Brito de Castro, irmão do provedor da alfândega, o alcaide-mor Francisco Telles de Menezes, todo da facção do governador.

D. Antonio de Souza Menezes (Braço de Prata), governador geral tendo a notícia do assassinato, vai à secretaria, injuria o secretário de Estado, e o mandou meter na enxovia; e argui conivente o padre Antonio Vieira, por se ter na noite antecedente resolvido a morte no Colégio de Jesus, com assistência do secretário.

O padre Vieira sai do seu retiro e vai a palácio entender-se com o governador que o injuria, mas saiu-se o padre Vieira muito galhardamente com suas respostas. A Bahia queixa-se do governador Braço de Prata; e vai a Lisboa Gonçalo Ravasco de Albuquerque, filho do secretário preso, e sobrinho do padre Vieira.

Por esse tempo cai enfermo gravemente o padre Vieira, porém restabeleceu-se. Depois que a frota saiu para Lisboa, tirou-se devassa, e ninguém pronunciou o nome de Bernardo Vieira Ravasco, secretário de Estado; e por isso foi mandado soltar.

Os queixosos contra o governador chegam à Corte; e sem demora chega à presença do príncipe Gonçalo Ravasco, e a quem disse o príncipe: -"que estava muito mal com seu tio, o padre Antonio Vieira, porque descompusera o governador". O sobrinho o informa estar ele no desagrado real.

No entanto, chegou a frota em 1684, e nela d. Antonio Luiz de Souza Menezes, marquês das Minas, para render a Braço de Prata, vindo com ele um sindicante para devassar do assassinato. O secretário Ravasco esconde-se. O padre Vieira sente estar no desagrado real; mas é muito honrado e estimado pelo marquês das Minas.

Chega à Bahia a notícia da morte da rainha d. Maria Francisca Izabel de Saboia; e o marquês das Minas encarrega ao secretário dos preparos funerários para as exéquias, e ao famoso padre Vieira do panegírico. Vieira recusa-se pelo seu estado de moléstias, falta de dentes e fraqueza de voz; mas o marquês insta e ele prega.

Na segunda devassa saíram culpados o secretário, seu filho e o padre Antonio Vieira, com a pena de ser castigado por seus superiores, cuja infame sentença foi repelida com desprezo.

Em abril de 1686 apareceu o flagelo da peste (bicha); o padre Vieira é atacado, escapa, e dela morre o arcebispo d. fr. João da Madre de Deus.

O secretário e seu filho, que estavam ocultos no mosteiro de S. Bento, e como obtivessem carta de seguro, se defenderam da injusta pronúncia, e só voltaram para sua casa e empregos em 1687. El-rei, bem informado de tudo oq ue se deu para o assassinato do alcaide-mor Antonio Telles de Menezes, chama Vieira aos seus conselhos, e restabelece-lhe os créditos na sua estima.

O padre Tyrso Gonzales, que em 6 de julho de 1687 tinha saído geral da Companhia de Jesus, em 17 de janeiro de 1688 nomeia o padre Vieira para visitador da província do Brasil. Em maio muda-se da quinta do Tanque para o colégio da cidade, e toma o governo da província, e cuida das missões do Maranhão e propaganda da fé.

Na ausência do governador Francisco de Sá de Menezes, que tinha ido para o Pará, se amotina o povo do Maranhão, e foi tão grande a sedição, que o marquês das Minas quuis ir pessoalmente àquele Estado castigar os culpados.

O padre Vieira toma providências, que constam todas da história da sua vida. Em 1689 pediu dispensa da prelazia, e acabou o tri~enio estando na quinta do Tanque e recebe uma carta de el-rei de 6 de fevereiro de 1692, escrita de Salvaterra em resposta a uma dele. Já muito enfraquecido em 1694 e 1695 deu duas quedas por uma escada de pedra, que o levou por muitos dias à cama.

Em 27 de outubro apareceu na Bahia um desmedido cometa em forma de espada, em que se lhe via somente a folha. Este cometa foi a origem do erudito tratado que Vieira escreveu, A voz de Deus ao mundo, a Portugal, à Bahia. Em novembro de 1695 ainda se via o cometa; e no ano seguinte de 1696 se passou o padre Vieira da quinta do Tanque para o colégio, na cidade, já muito falto de forças; e não obstante, ainda continua em seus estudos.

Sentindo-se morrer, pede o Santo Sacramento, e depois a Unção, e à uma hora da madrugada do dia 18 de julho de 1697 entregou a Deus a alma o mais esclarecido espírito deste século, sendo retratado depois de morto, com noventa anos de idade e setenta e cinco de roupeta, governando o Brasil d. João de Lencastro, que pegou no caixão com seu filho, d. Rodrigo de Lencastro, o bispo eleito de S. Thomé, d. fr. Antonio da Penha de França, e seu irmão João Calmon, vigário geral; o provincial de S. Bento e o reitor do Colégio de Jesus.

Afirma o padre André de Barros que, depois que o grande padre Antonio Vieira expirou, apareceu sobre o colégio da Bahia um facho luminoso, presenciado por todos os que estavam no terreiro de Jesus. O sentimento pela morte do celebérrimo padre Antonio Vieira foi geral em toda a América e em toda a Europa. (Vide o padre André de Barros, e o meu Brazil Historico).

DCCXIV - Dois dias depois do falecimento do sapientíssimo padre Antonio Vieira, morreu seu irmão e íntimo amigo, o secretário de Estado Bernardo Vieira Ravasco, e foi sepultado no dia 20 de julho de 1697, no altar do Sacramento, do convento do Carmo da Bahia, acima dos degraus onde os sacerdotes dizem missa; e os religiosos lhe deram esse lugar para jazigo perpétuo, pela oferta que ele fez ao convento de vinte arrobas de açúcar fino, e do melhor, tiradas perpetuamente do engenho Cotegipe.

Bernardo Vieira Ravasco era muito instruído nas letras humanas e poeta muito aplaudido. O abade Diogo Barbosa, na sua Bibliotheca Lusitana, encarece um manuscrito que viu de Bernardo Vieira Ravasco, que trata da descrição topográfica, eclesiástica e natural do Estado do Brasil.

DCCXV - Manuel Soares de Albergaria é nomeado governador da Paraíba do Norte; tomou posse da administração em setembro de 1697, e governou a Paraía dois anos e dez meses.

DCCXVI - Cômputo eclesiástico. Áureo número 8; ciclo solar 27; epacta 18; letra dominical E.

DCCXVII - Martirológio. Domingo de Páscoa 30 de março; dia 1º de janeiro quarta-feira; indicação romana 6; período Juliano 6.411.

DCCXVIII - No dia 24 de janeiro de 1698 se procedeu à primeira eleição dos funcionários do senado da Câmara da Bahia.

DCCXIX - No ano de 1698 foi ter a Santa Catarina o capitão Antonio Bicudo Camacho, com vinte casais de pessoas, para aumento da povoação, com sesmarias passadas em 11 de janeiro pelo capitão-mor Domingos Francisco Francisque, lugar-tenente do marquês de Cascais, nas terras ao Sul do Rio Maçambú, e o reverendo Matheus de Leão e mais companhias com sesmarias de duas léguas na ilha, desde a atual freguesia da Lagôa até o Rio Ratonis.

DCCXX - O capitão-mor do Rio Grande do Norte, Bernardo Vieira de Mello, em 14 de junho de 1698, comunica a el-rei que as extraordinárias chuvas, causando extraordinárias inundações, durante três anos em que ele assiste no Rio Grande do Norte, mataram as plantações, em modo a não haver mantimentos para o sustento dos moradores, e obrigá-lo a mandar embarcações à capitania de Goyana, comprar mantimentos, com notável detrimento para os habitantes das povoações e para o presídio do Assú.

Conta o mesmo capitão-mor que, na noite do Natal passado (1697) houve no dito presídio do Assú um imprevisto incêndio, que mal se puderam salvar as munições e alguns objetos da igreja, em ocasião em que o padre estava celebrando o santo sacrifício da missa, tornando o incêndio tudo em cinzas. Comunica a el-rei que em breves dias reedificou a igreja, à sua custa, e com adjutório de pouca consideração de alguns moradores, e como reconhece ser a conservação do presídio do Assú de grande utilidade, pede as ordens de el-rei, para o mais que deve obrar, para em tudo o servir conforme o seu grado.

Pela carta régia de 19 de dezembro, mandada ao governador geral do estado do Brasil, el-rei ordena: "D. João de Lencastro. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. O capitão-mor do Rio Grande do Norte me escreveu a carta, cuja cópia com esta vos envio, e representa que em presença da necessidade em que se acha se lhe o socorra. E me pareceu dizer-vos, mandeis infalivelmente socorrer esse presídio do Assú, como se vos tem ordenado. Escrita em Lisboa a 19 de dezembro de 1698. - Rei".

DCCXXI -  Por ordem de el-rei d. Pedro II, sendo governador geral do Estado d. João de Lencastro, foi pelo desembargador Estevão Ferraz de Campos ereta em vila a povoação do Rio de S. Francisco, ou de Sergipe do Conde, sobre um alto, à direita da barra do Rio Sergipe.

Pertencendo as erras de Marajú para o interior a Mem de Sá, onde edificou engenhos, que as deixou a seu genro d. Antonio de Noronha, conde de Linhares, mais tarde foram elas retalhadas e vendidas a diversos; em 1618 foi edificado o convento de S. Francisco, em terras doadas por Gaspar Pinto dos Reis e sua mulher d. Izabel Fernandes.

Passando as terras de Marajú a Antonio de Brito de Castro, requereu a sua alteza que em suas terras do Rio de S. Francisco, antes de Sergipe do Conde, pretendia fazer uma vila com igreja, casa de Câmara, pelourinho e casas, para trinta moradores, se sua alteza o fizesse donatário dela, o que foi concedido; mas falecendo Antonio de Brito de Castro, seu filho o capitão-mor Sebastião de Brito de Castro pediu a mesma graça para si, porque já havendo cinquenta e sete casas na povoação, e em 2 de janeiro de 1690, por mais de duzentos vizinhos no distrito, por carta régia de 29 de novembro de 1699 foi ordenado ao governador geral do Estado do Brasil, para mandar fazer vistoria no estado da vila, quanto juiz ordinário, com o seu escrivão, ou pelo ouvidor, fazendo de tudo auto, e sobre ele interpusesse o seu parecer, e também sobre a forma e jurisdição que na dita vila se deve usar, e terreno que pode abranger, e todas as mais circunstâncias em proveito dos povos e boa administração da justiça.

Por alvará de 2 de março de 1678 foi ereta em vila a povoação que Antonio de Brito de Castro e seu filho o capitão Sebastião de Brito de Castro fizeram, ficando com a denominação de vila do Rio de S. Francisco, e mais tarde, com a denominação de vila de S. Francisco, de Sergipe do Conde, sendo donatário dela o capitão Sebastião de Brito de Castro.

DCCXXII - El-rei ordenou a d. João de Lencastro, em 12 de novembro de 1698, que mandasse pelo engenheiro fazer uma planta de todas as casas existentes nas marinhas da cidade, seguindo a Rua da Praia, da parte do mar, de uma ponta a outra, com seu pitipé e dos chamados Fortes de S. Francisco, até o Real, que existe, e quer saber por que títulos possuem as pessoas que têm casas nas marinhas, e quem lh'as deu e que o senado da Câmara não tem foro algum, e nem sítio nelas, antes se queixam de não haver nenhum que seja livre para serventia do povo, em grande prejuízo seu.

El-rei mostra-se desgostoso com d. João de Lencastro por lhe não ter informado satisfatoriamente o que lhe havia ordenado a este respeito, porque os foreiros não só devem mostrar que lhes foram aforados os sítios, como mostrarem os títulos, como lhes pertenciam, e assim os senhorios como os possuidores das casas livres devem mostrar, como ao mar tem tomada muita parte que não era de nenhum deles, não só devem mostrar as braças que lhes foram dadas à face da rua, mas também as que tinham no fundo para a praia.

Ordena-lhe definitivamente que mande pelo engenheiro levantar uma planta fiel e circunstanciada, pare perfeito conhecimento das marinhas da cidade do Salvador.

DCCXXIII - Cômputo eclesiástico. Áureo número 9; ciclo solar 28; epacta 29; letra dominical D.

DCCXXIV  - Martirológio. Domingo de Páscoa 19 de abril; dia 1º de janeiro quinta-feira; indicação romana 7; período Juliano 6.412.

DCCXXV - "D. João de Lencastro. - Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Por ser em benefício da boa administração da Justiça que nessa cidade haja uma casa de segredo, pois há nela uma Relação em que se sentenciam à morte aqueles réus que por seus delitos merecem esta pena, me pareceu ordenar-vos mandeis fazer na cadeia dessa cidade uma casa de segredo, e que esta obra se faça à custa do dinheiro que está aplicado às despesas desta relação. Escrita em Lisboa a 16 de janeiro de 1699. - Rei. - O conde de Alvor. Para o governador geral da Bahia".

DCCXXVI - Refere Ignacio Accioli, nas suas Memorias Historicas da Bahia, que infestavam os índios das nações acoroáses, mocoáes e rodelleiros, os estabelecimentos da Câmara do Rio de S. Francisco e suas imediações, ao que tudo se dava nesse tempo o nome de Sertão de Rodellas e o conde de Attouguia, autorizado pelas cartas régias de 10 de novembro e 2 de dezembro de 1678, mandou fundar as povoações do Rio Preto, Paranaguá e Rio Grande, hoje cidade da Barra do Rio de S. Francisco, a fim de ue, reunidos os habitantes, pudessem opor mais resistência àqueles selvagens; como esses continuassem as suas excursões, os mandou bater, segundo lhe ordenou a carta régia de 17 de novembro de 1699.

A povoação da Barra do Rio Grande foi crescendo, e em 1754 foi elevada à vila da Barra do Rio Grande de S. Francisco. A sua matriz é consagrada a S. Francisco das Chagas.

DCCXXVII - As forças que se reuniram para a completa aniquilação do famoso Quilombo dos Palmares foram as de Bernardo Vieira, capitão-mor de Sergipe, coadjuvado pelos paulistas, e pelas forças das Alagoas, Porto Calvo, Penedo, S. Miguel e Santa Luiza do Norte, comandadas pelo sargento-mor Sebastião Dias Manelli, coronel Christovão da Rocha Barboza, alcaide Christovão Lins, e capitão-mor Rodrigo de Barros Pimentel.

DCCXXVIII - Convém a maior parte dos que têm escrito do Brasil, em que el-rei d. João III dera a Paraíba ao nosso historiador João de Barros, que este a mandara povoar por seus filhos, qe não puderam efetuá-lo, em razão de contratempos que encontraram no mar; que o cardeal-rei a mandara, depois de muitos anos, povoar, à custa dos bens da coroa, por Fructuoso Barbosa, e que naquela posse ficara sempre a coroa. (Rocha Pita, Historia da America Portugueza, pag. 97, n. 53, Pedro de Souza Castello Branco e outros).

Não fica, porém, muito satisfeito quem sabe que o cardeal-rei subiu ao trono em 4 de agosto de 1578, e faleceu em 31 de janeiro de 1580, e Fructuoso Barbosa governara a Paraíba desde 1589 até 1595, quando antes dele a havia já governado João Tavares, o que não padece dúvida, pois que a tiram assentos que se viram no arquivo de S. Bento da cidade da Paraíba, datas de sesmarias passadas por João Tavares no ano de 1587, e outras de Fructuoso Barbosa passadas em 1589.

O mesmo consta dos livros de registros que se acham na provedoria da Fazenda da capitania da Paraíba. Na instituição do morgado da Paraíba n. 5 idem, diz: "disse ele instituidor que vinculara mais à dita capela uma sorte de terras dada pelo capitão João Tavares, na testada, etc.", motivos por que parece se deve mais fé a fr. Vicente do Salvador, na sua Historia do Brazil, tomo 4º cap. X e XI, citado pelo autor do Santuario Mariano, tomo 9º, Liv. 2º tit. 33, pág. 331 etc.

João Tavares, capitão, 1581.

Fructuoso Barbosa, fidalgo da casa real e capitão-mor, 1589.

Feliciano Coelho de Carvalho, fidalgo da casa real, capitão-mor, em 1595.

Francisco de Souza Pereira, fidalgo da casa real, capitão-mor, em 1600.

André de Albuquerque, fidalgo da casa real, capitão-mor, em 1607.

Francisco Coelho de Carvalho, fidalgo da casa real, capitão-mor, em 1612.

João Rebello de Lima, fidalgo da casa real, capitão-mor, 1616.

Francisco Marinho de Sá, capitão-mor, 1619.

João de Brito Corrêa, capitão-mor, 1621.

Nesse ano de 1621 teve princípio o governo de Filippe IV, em Castella, e terceiro em Portugal, tempo em que tudo foi confusão no ministério; e nas memórias seguiram-se as perturbações com a guerra dos holandeses, motivos por que não foi possível saber se os governos que teve a Paraíba, de João de Brito Corrêa até João Fernandes Vieira, que governou esta capitania depois da restauração de Pernambuco; e somente se acha em fr. Raphael de Jesus, no seu Castrioto Lusitano, que, por ocasião da guerra, governara Antonio de Albuquerque Maranhão, e os três governadores que por causa dela se elegeram, o que melhor consta do dito historiador.

João Fernandes Vieira, fidalgo da casa de sua majestade e do seu conselho de guerra, alcaide-mor de Pinel etc., foi o primeiro que depois da restauração governou a Paraíba, com a mesma patente que tinha de mestre de campo.

Por carta de 19 de dezembro de 1656, escrita ao mesmo João Fernandes Vieira, lhe ordena a sereníssima sra. d. Luiza, rainha regente, que, por haver de ir para o governo de Angola, entregasse o seu terço a Antonio Dias Cardoso, que se achava com patente de mestre de campo, e que tivesse em governança a capitania da Paraíba, até que chegasse Mathias de Albuquerque Maranhão, a quem havia feito mercê de suceder-lhe no governo dela, e que se o dito Mathias de Albuquerque, que se achava no Rio de Janeiro, não chegasse a tempo de fazer-lhe entrega do governo da capitania, lhe sucederia interinamente o dito mestre de campo Antonio Dias Cardoso, para poder levantar-lhe a homenagem, jurando primeiro nas mãos das pessoas que governassem Pernambuco; e que Antonio Dias Cardoso entregaria o governo a Mathias de Albuquerque Maranhão, logo que chegasse etc.

Esta carta foi registrada na Paraíba a 19 de agosto de 1657.

Antonio Dias Cardoso, da Ordem de Cristo, mestre de campo da infantaria, governador interino, em 1657.

Mathias de Albuquerque Maranhão, fidalgo da casa real, comendador da comenda de S. Vicente de Figueira, na ordem de Christo, capitão-mor e governador das armas, 1657.

João do Rego Barros, fidalgo da casa real, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor e governador, 1663.

Luiz Nunes de Carvalho, capitão-mor e governador, 1670.

Ignacio Coelho da Silva, capitão-mor e governador, 1673.

Manuel Pereira de Lacerda, capitão-mor e governador, 1678.

Alexandre de Souza de Azevedo, capitão-mor e governador, 1679.

Antonio da Silva Barbosa, capitão-mor e governador, 1684.

Os primeiros livros que se acham na secretaria da Paraíba são os do tempo deste governador.

Amaro Velho Cerqueira, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor e governador, 1687.

Manuel Nunes Leitão, fidalgo da casa de sua majestade, seu moço da guarda-roupa, capitão-mor e governador, 1692.

Manuel Soares de Albergaria, capitão-mor e governador, 1687.

Francisco de Abreu Pereira, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor e governador, 1700.

DCCXXIX - "João de Lencastro. Amigo. Eu el-rei vos envio muito saudar. Por parte de João de Verdoa se me fez a petição (cuja cópia se vos envia) sobre o cais com que quer sair a tomar igual a testada das casas que tem na praia dessa cidade. Ordeno-vos me informeis com vosso parecer neste requerimento, ouvindo ao engenheiro no que toca ao prejuízo que pode fazer à fortificação e ao provedor-mor, pelo que toca à serventia do povo. Escrita em Lisboa, em 1º de fevereiro de 1761. - Rei. - Para o governador geral do Estado do Brasil. O conde de Alvor".

FIM DO PRIMEIRO VOLUME