INTEGRAÇÃO
O desafio da nova metrópole
Como participar das vantagens da integração regional
Carlos Pimentel Mendes (*)
Os brasileiros sempre conviveram com a imagem de uma
metrópole distante. Nos tempos de Brasil-Colônia, poderia demorar três meses ou mais para viajar até "lá", pois a metrópole era Lisboa. Dom João VI
aproximou um pouco esse conceito, trazendo o "lá" para o Rio de Janeiro, mas o isolamento do resto do país, pela deficiência de comunicações
terrestres, marítimas e eletro-eletrônicas, garantia um certo distanciamento. O que ocorria na "metrópole" era sabido na periferia só um mês depois.
E quando surgiram as metrópoles estaduais, como a da capital paulista, pouco mudou: Santos só ficou sabendo que era cidade um mês depois de assinado
o decreto em São Paulo. Em 1960, a grande metrópole se mudou para o Planalto Central: virou a "ilha da fantasia", bem distante da realidade do resto
do país, apesar de hoje termos Internet e telefone celular.
Agora, porém, os brasileiros experimentam uma mudança significativa: de repente, a
metrópole somos nós, os habitantes de cidades antes da periferia. Santos é sede de uma metrópole, a da Baixada Santista, que reúne nove municípios,
mesmo que entre si eles formem praticamente três áreas distintas de interesse. E nem bem nos acostumamos a isso, surge um novo conceito, a da região
metropolitana expandida. Que em área e em evolução econômica é bem maior do que muitos países. E o desafio é: como fazer essa nova mecânica de
relacionamento interurbano trabalhar a favor do progresso de cada cidade e da região como um todo?
A Região Metropolitana Expandida
Imagem: Plano Diretor de Cubatão - 2007 - Prefeitura
Municipal de Cubatão
Primeiro, a definição, como foi apresentada em Cubatão em fins de 2006, pelo
presidente do Instituto Metrópolis, Eduardo Fontes Hotz. O chamado Complexo Metropolitano Expandido, conceito que antes compreenderia apenas a
Baixada Santista e a Grande São Paulo, hoje inclui a área metropolitana de Campinas, chegando às divisas com Minas Gerais e Rio de Janeiro. Esta
nova área de ação corresponde a 17% do território paulista e 0,5% do território nacional. Porém, concentra um Produto Interno Bruto (PIB) de 165
bilhões de dólares, correspondente a 80% do PIB paulista e a 27,7% do PIB nacional.
O que Santos (por exemplo) pode proporcionar de benefício à economia de todo esse
grupo de municípios? Como São Vicente pode atrair todos os turistas dessas cidades? Que novos serviços poderiam ser criados em Guarujá que
interessariam a quem mora em Campinas?
E, de forma inversa, é preciso perguntar: o que há em Viracopos que poderia interessar
a Itanhaém (um aeroporto, com a possibilidade de se criar uma linha aérea regional?) Será que os sindicatos de Taubaté teriam interesse em
intercâmbio com as instalações da Avenida dos Sindicatos de Praia Grande? Moradores de Jundiaí talvez se sintam atraídos pelas praias de Bertioga, e
os de Bragança Paulista poderão se interessar pelos atrativos de Mongaguá... Valinhos e São Roque talvez pudessem ter um ponto de apoio em Santos
para as exportações de seus produtos. E o parque industrial das vizinhanças de Campinas não poderia ter maior integração com o de Cubatão?
Comparativo de regiões metropolitanas
Dados: Plano Diretor de Cubatão - 2007 - Prefeitura
Municipal de Cubatão
Se no aspecto econômico as possibilidades são imensas – afinal, não é qualquer região
que movimenta US$ 165 bilhões -, nos aspectos social e cultural podem ser ainda maiores. Temos uma diversidade de experiências que vai desde a
convivência numa megalópole até os vilarejos caiçaras ou interioranos. Temos todo o ciclo do café, que mesmo tendo perdido alguma importância
econômica tem muito potencial a ser explorado em termos turísticos e culturais. Temos toda a base da colonização do Brasil, começando na cellula
mater, São Vicente, e continuando planalto acima com os exploradores, os bandeirantes que triplicaram o território brasileiro antes delimitado
no Tratado de Tordesilhas.
Em termos culturais, quase tudo no Brasil surgiu primeiro por aqui – o ciclo da
cana-de-açúcar e a introdução de diversas culturas inéditas nas Américas, a exploração de ouro e minerais preciosos, a experiência das missões
jesuíticas, os primeiros conceitos de democracia na América Latina e assim por diante. E o que não surgiu aqui, quando chegou já foi em grande
estilo, como a ferrovia através da Serra do Mar, as hidrelétricas, as instalações portuárias... a força econômica levando ao desenvolvimento social
(abolicionismo, as idéias republicanas) e cultural (lembrando de Bartolomeu de Gusmão...), atraindo capacidades intelectuais em todas as áreas, num
processo que se auto-impulsiona, gerando um capital intelectual inestimável, capaz de por sua vez criar as bases para novos ciclos de
desenvolvimento.
Só para lembrar: Rio de Janeiro foi fundado com o apoio logístico e de recursos
humanos que Santos/São Vicente deram a Estácio de Sá, e as primeiras idéias para a criação de Brasília partiram de um santista, José Bonifácio...
esta região tem muito o que contar ao Brasil e ao mundo...
Então, já que o conceito de região metropolitana expandida veio para ficar, em vez de
ficarmos atolados nas pequenezas que dificultaram até agora um maior desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista, temos uma nova
oportunidade histórica de nos alinharmos com as demais cidades desta região, criando as condições infra-estruturais para um novo período de
crescimento, em todos os sentidos.
A hora é de pensar macro.
Cubatão e a Baixada Santista, vistos por satélite (Clique
na imagem para ampliá-la)
Imagem integrante do Plano Diretor de Cubatão - 2007
- Prefeitura Municipal de Cubatão
(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do
Jornal Eletrônico Novo Milênio |