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O "Diamante de Porter" em estudo exploratório multicaso no setor pesqueiro exportador de Santos
João Ribeiro Natário Neto
3.2 Produção pesqueira nacional e a discrepância estatística
A produção pesqueira marítima no Brasil apresentou um aumento considerável de 1965 a 1979, passando de 294 mil toneladas para 728 mil toneladas (Tabelas 3 e 4).
A partir de 1985 os volumes capturados foram decrescendo do recorde de 967 mil toneladas para níveis de 700 mil toneladas (92-93-94-95-96 aproximado). A partir de 1994, o IBAMA passou a divulgar a Produção Total da Pesca e Aqüicultura; nesse ano foram contabilizadas 701 mil 260 toneladas, e em 2002 atingiu-se mais de 1 milhão de toneladas.
Regiões |
Estimativa em milhares de toneladas/ano |
Espécies pelágicas |
Espécies demersais |
Norte |
385 - 475 |
150 - 240 |
Nordeste |
200 - 275 |
100 - 175 |
Sudeste |
265 - 290 |
70 - 75 |
Sul |
550 - 660 |
180 - 290 |
Bacia Amazônica |
200 |
|
Tabela 3: Participação de cinco macro-regiões na produção pesqueira - 2002 Fonte: Instituto de Pesca (IP) - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) (2005)
Regiões |
% de produção |
Norte |
15 - 18 |
Nordeste |
19 - 24 |
Sudeste |
29 - 35 |
Sul |
25 - 30 |
Centro-Oeste |
1 |
Tabela 4: Participação de cinco macro-regiões do país na produção pesqueira - 2002 Fonte: Instituto de Pesca (IP) - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) (2005)
Há discrepância entre os valores apresentados pelo IBAMA, inseridos na Figura 6 e na Tabela 5, relativos aos anos de 2002, 2001, 1999, 1998 e 1994. Houve conciliação nos anos de 2000, 1997, 1996 e 1995, na totalização que representou a evolução da aqüicultura e pesca segundo categorias, em 1.000 toneladas, e que representou a produção total.
Figura 6: Produção Total da Pesca e Aqüicultura Fonte: IBAMA (2004)
Ano |
Extrativa Costeira |
% |
Continental |
% |
Oceânica |
% |
Aqüi- cultura |
% |
Total |
1994 |
469,02 |
64,38 |
203,22 |
27,90 |
24,23 |
3,33 |
32,00 |
4,39 |
728,47 |
1995 |
391,41 |
59,95 |
193,04 |
29,57 |
22,26 |
3,41 |
46,20 |
7,08 |
652,91 |
1996 |
394,56 |
56,92 |
210,28 |
30,34 |
27,62 |
3,98 |
60,72 |
8,76 |
693,18 |
1997 |
433,09 |
59,14 |
178,87 |
24,43 |
32,63 |
4,46 |
87,67 |
11,97 |
732,26 |
1998 |
419,00 |
57,79 |
173,00 |
23,86 |
40,00 |
5,52 |
93,00 |
12,83 |
725,00 |
1999 |
403,00 |
54,09 |
158,90 |
21,33 |
44,00 |
5,91 |
139,10 |
18,67 |
745,00 |
2000 |
406,00 |
47,21 |
228,00 |
26,51 |
54,00 |
6,28 |
172,00 |
20,00 |
860,00 |
2001 |
410,00 |
45,61 |
223,00 |
24,81 |
62,00 |
6,90 |
204,00 |
22,69 |
899,00 |
2002 |
420,00 |
42,64 |
230,00 |
23,35 |
75,00 |
7,61 |
260,00 |
26,40 |
985,00 |
Tabela 5: Evolução da Aqüicultura e Pesca segundo categorias em 1.000 Toneladas Fonte: IBAMA (2004)
A Balança Comercial de Pescados, no ano de 2003, apresentou saldo positivo de US$ 222.672.028, em valores FOB, conforme a tabela 6. Para o ano de 2006, a SEAP (2003), pretende aumentar o valor deste superávit para US$ 333 milhões, espera que o crescimento da produção aqüícola/pesqueira atinja 1,5 milhão de toneladas/ano. Haverá incentivos para um maior consumo humano per capita de pescados, para que se aproxime do padrão recomendado pela Organização Mundial de Saúde - OMS, que é de 12 kg/hab/ano. Atualmente, o consumo no País é de 6,8 kg/hab/ano.
O governo pretende implementar o Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentado da Aqüicultura e Pesca e estruturar o Sistema de Informações Pesqueiras para atingir esses objetivos.
VALORES EM US$ FOB |
Mês |
Exportação |
Importação |
Saldo |
Jan |
26.508.l72 |
10.852.983 |
15.655.189 |
Fev |
22.491.406 |
16.955.735 |
5.535.671 |
Mar |
28.324.460 |
33.841.497 |
-5.517.037 |
Abr |
30.178.568 |
22.221.650 |
7.956.918 |
Mai |
41.116.203 |
9.285.675 |
31.830.528 |
Jun |
37.609.663 |
9.866.823 |
27.742.840 |
Jul |
42.778.940 |
10.794.783 |
31.984.157 |
Ago |
38.457.983 |
10.503.094 |
27.954.789 |
Set |
38.575.232 |
12.831.883 |
25.743.349 |
Out |
37.112.303 |
14.564.561 |
22.547.742 |
Nov |
37.872.736 |
18.229.348 |
19.643.388 |
Dez |
30.690.179 |
19.095.685 |
11.594.494 |
Acumulado |
411.715.745 |
189.043.717 |
222.672.028 |
Tabela 6: Balança Comercial de Pescados - 2003 Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (Secex) (2005)
Santos e Guarujá, onde estão sediadas grande parte da frota comercial e embarcações arrendadas, receberam 72,9% de toda a produção e 5,6% dos desembarques (Tabela 7).
Os desembarques totais foram de 26.441 toneladas, o que representou 2,3% a mais do que as 25.846 toneladas realizadas em 2001, e um decréscimo de 10,2% em relação a produção média de 28.840 toneladas, nos anos de 1998 a 2001. Em 2002 a produção de peixes representou 89,9%, a de moluscos 1,4% e a de crustáceos 8,7%.
Dentro da categoria peixes, os ósseos representaram 95,5% e os cartilaginosos 4,5%. As pescarias de profundidade direcionadas ao caranguejo-de-profundidade Chaceon ramosae e C. notialis e ao peixe-sapo Lophius gastrophysus também foram importantes; no entanto, suas capturas foram inferiores às de 2001; espécies como o espadarte, Xiphias gladius, goete, Cynoscion jamaicensis, e camarão-rosa Farfantepenaeus
paulensis e F. brasiliensis apresentaram declínio da produção (CARNEIRO et al.., 2000; ÁVILA DA SILVA e
CARNEIRO, 2003).
MUNICÍPIO |
DESEMBARQUES |
% |
CAPTURA (Kg) |
% |
Santos/Guarujá |
1.561 |
5,6 |
19.281.822 |
72.9 |
Cananéia |
6.619 |
23,8 |
3.133.870 |
11,9 |
Ubatuba |
3.696 |
13,3 |
2.472.778 |
9,4 |
Iguape |
15.504 |
55,8 |
1.518.791 |
5,7 |
Ilha Comprida |
404 |
1,5 |
33.786 |
0,1 |
TOTAL |
27.784 |
100,0 |
26.441.047 |
100,0 |
Tabela 7: Produção pesqueira no Estado de São Paulo - 2002 Fonte: Instituto de Pesca (IP) - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) (2005)
A produção mundial de pescados, segundo dados da FAO, foi da ordem de 126 milhões de toneladas em 2000. Desse total, 97 milhões tiveram origem na captura e 29 milhões da aqüicultura. A produção da pesca extrativa encontra-se estagnada, próxima do seu limite sustentável. Em contrapartida, a produção da aqüicultura vem ganhando importância na oferta total de pescados, com um crescimento mundial médio de 7% ao ano, nos últimos cinco anos.
Apesar dessa expansão da produção, estima-se que em 2010 o déficit de pescado será de 25 milhões de toneladas, isso se a expansão da demanda mundial mantiver o nível atual de 14 kg/ano de consumo per capita (SEAP, 2003).
Sob a ótica do comércio internacional, as exportações mundiais de pescado representam atualmente cerca de US$ 55 bilhões anuais - é o maior mercado internacional dentre os produtos do agronegócio. A participação do Brasil nesse setor, porém, tem sido pequena. Por outro lado, o País possui cerca de 8,5 mil km de costa e uma ZEE com mais de 3,5 milhões de km², além de aproximadamente 12% do total mundial da reserva de água doce, o que lhe confere um enorme potencial para o desenvolvimento da aqüicultura. Apesar disso, em 2002, o Brasil produziu apenas 985 mil toneladas de pescado (SEAP, 2003).
Em 1998, o déficit do setor pesqueiro na balança comercial brasileira
foi de US$ 353 milhões, mas em 2001 essa situação foi alterada, com um superávit de US$ 22,65 milhões. Em 2002, estima-se que as exportações brasileiras de pescado tenham chegado a US$ 283,54 milhões, com um superávit de US$ 129 milhões. Em 2003 as exportações atingiram US$ 411.715.745,00 e geraram um superávit de US$ 222.672.028,00. Embora isso reflita uma participação muito baixa no mercado internacional de pescados, também demonstra um potencial de crescimento.
O Brasil pode elevar o montante de suas exportações, aproveitando o potencial produtivo presente na aquicultura e desenvolvendo a pesca oceânica - modalidade em que apresenta vantagens em relação a países com grande tradição pesqueira como Japão, Taiwan, Coréia, Espanha e Portugal, tendo em conta que a ocorrência de cardumes está mais próxima dos portos brasileiros do que dos portos daqueles países.
Segundo a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca - SEAP (2003) foram focados os principais problemas que dificultam a implementação de políticas para desenvolver os setores da aqüicultura e pesqueiro de forma sustentável, sob as perspectivas econômica, social e ambiental, e até 2006 serão destinados 1,1 bilhão de reais para o incentivo da pesca artesanal e 1,5 bilhão de reais para reequipar a frota pesqueira brasileira.
O desenvolvimento do segmento pesqueiro exportador no Brasil não foi considerada prioridade dos governos até a década de 90, período em que não se registrou ação pública efetiva para o setor: somente em 1998 foi criado o Departamento de Pesca e Aqüicultura no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tentando a articulação, entre as esferas governamentais, algumas iniciativas isoladas de fomento para a pesca e a aqüicultura.
A atividade da pesca extrativa no Brasil ainda se baseia preponderantemente na utilização dos mesmos procedimentos de há quarenta anos. Por falta de investimentos estratégicos no setor, o Brasil não conseguiu, por exemplo, competir com os países asiáticos na exploração da pesca oceânica no próprio Atlântico Sul, e no Atlântico Norte não tem qualquer presença na exploração dos recursos pesqueiros.
Os Governos Federal, Estadual e Municipal relegaram a atividade pesqueira a segundo plano; o empresariado não se capacitou profissionalmente em todos os níveis e não investiu; planos econômicos, taxas de juros, câmbio baixo, globalização e a falta de uma política setorial, fizeram com que a performance econômica dessa atividade no Brasil fosse inexpressiva; considerando as vantagens comparativas do País para essa atividade. O Brasil produz menos de 1% da produção mundial de pescado, quando poderia estar produzindo, de forma sustentável, cerca de 10%. (SEAP, 2003)
Os principais objetivos da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP, 2003) para os próximos anos são: Aumentar a produção da aqüicultura e da pesca extrativa em 50%, passando de 1,0 milhão de toneladas/ano para 1,5 milhão de toneladas/ano até 2006;
Incentivar o aumento do consumo per capita de pescado para que se aproxime do padrão recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 12 kg/hab./ano. Hoje, o consumo no País é de 6,8 kg/hab./ano;
Modernizar
a cadeia produtiva da aqüicultura e da pesca; Reduzir substancialmente o desperdício de pescado; Aumentar a renda média familiar do produtor/pescador;
Aumentar
o superávit comercial pela elevação do valor exportado, passando de US$ 111 milhões em 2002 para US$ 333 milhões até 2006;
Reduzir a diferença entre o preço da primeira e da última comercialização; e
Eliminar o analfabetismo entre os pescadores.
Para alcançar esses objetivos, o Governo pretende adotar as seguintes medidas:
Promover amplo debate em torno do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentado da Aqüicultura e Pesca e garantir sua aprovação na Conferência Nacional de Aqüicultura e Pesca;
Assegurar
a sustentabilidade das atividades aqüícola e pesqueira pelo reforço institucional e pela estruturação do Sistema de Informação Pesqueira;
Estruturar o setor aqüícola, priorizando as diretrizes colocadas pelo Programa Fome Zero, incrementando as pesquisas e a produção de larvas e alevinos, formulando políticas de uso das águas públicas, realizando o zoneamento das áreas aqüícolas, integrando as cadeias produtivas das espécies, estimulando a implantação de fazendas e sítios de engorda, em especial sob a forma de micro e pequenas empresas, e intensificando o uso de tecnologias avançadas;
Estruturar
o setor pesqueiro em águas fluviais e costeiras, priorizando as diretrizes do Programa Fome Zero e as necessidades dos pescadores artesanais e familiares e dos micro e pequenos armadores, aprimorando a infra-estrutura de distribuição e comercialização, fomentando renovação da frota, estimulando a implantação de indústrias de processamento dos pescados e intensificando a proteção das áreas de repovoamento pesqueiro; Estruturar o setor pesqueiro em águas oceânicas, fomentando o aprimoramento de sua infra-estrutura, mediante a construção de terminais, postos e entrepostos, incentivando a indústria naval na construção e na manutenção de embarcações modernas para a substituição dos barcos estrangeiros arrendados por barcos nacionais, intensificando o estudo e a pesquisa sobre estoques pesqueiros
na Zona Econômica Exclusiva e nas áreas pelágicas e reforçando a regulação da pesca de alto-mar;
Revitalizar o setor de comercialização de pescados reduzindo a extensa cadeia de intermediários na distribuição e na comercialização e ampliando a oferta de pescados de qualidade a preços módicos. Garantir o aproveitamento da fauna acompanhante (pescados não-comerciais capturados) e estimular o consumo de pescados industrialmente processados, implantando mecanismos de fornecimento de pescados que atendam às prioridades do Programa Fome Zero.
Estruturar políticas de crédito e extensão acessíveis, mediante a criação do Fundo Nacional de Pesca, abrindo linhas de crédito específicas para as diversas modalidades de criação e pesca, estabelecendo parcerias com estados e municípios e com instituições nacionais e internacionais voltadas para o desenvolvimento sustentado da produção pesqueira;
Fomentar o desenvolvimento tecnológico para expandir a produção e reduzir o desperdício, realizando estudos sobre as áreas de implantação de atratores e recifes artificiais, intensificando as pesquisas e os experimentos de cultivos de espécies autóctones, marinhas e de água doce, prospectando a potencialidade pesqueira da Zona Econômica Exclusiva e das águas oceânicas, estudando o aproveitamento da fauna acompanhante (pescados não-comerciais capturados), qualificando a mão-de-obra nos diversos elos das cadeias produtivas pesqueira e de aqüicultura, implantando escolas para pescadorese a Universidade da Aqüicultura e Pesca e ampliando a cooperação técnica e científica internacional.
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