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BAIXADA SANTISTA/temas - A QUESTÃO PESQUEIRA
Capítulo 2

 
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O "Diamante de Porter" em estudo exploratório multicaso no setor pesqueiro exportador de Santos

João Ribeiro Natário Neto


2.1 As condições do Diamante de Porter

Para sua criação, Porter (1993) efetuou estudos de casos em inúmeras empresas espalhadas pelos continentes europeu, americano e asiático, no segmento exportador, e constatou que elas tinham êxito internacional em função de quatro atributos:

1) condições de fatores;

2) condições de demanda;

3) indústrias correlatas e de apoio; e

4) estratégia, estrutura e rivalidade das empresas, que formam um sistema interativo no qual as partes se reforçam mutuamente.

Estes atributos trabalham interligados e são os determinantes da vantagem competitiva, individualmente e como um sistema, criam o contexto em que as empresas nascem e competem: disponibilidade de recursos e competência necessários à vantagem em uma indústria; as informações que condicionam quais as oportunidades percebidas e as direções nas quais os recursos e a competência são orientados, as metas dos proprietários, diretores e empregados que estão envolvidos na competição e a realizam; e, o mais importante, as pressões sobre as empresas para investir e inovar.

"Os países obtêm êxito em determinadas indústrias porque o ambiente nacional é o mais dinâmico e o mais desafiador e estimula e pressiona as firmas para que aperfeiçoem e ampliem suas vantagens, no decorrer do tempo. De fato, quanto mais dinâmico o ambiente nacional, mais provável que algumas empresas fracassem, porque nem todas têm competência e recursos iguais nem exploram o ambiente nacional com a mesma eficiência. Não obstante, as companhias que surgem desse ambiente prosperarão na competição internacional". (PORTER, 1993, p.88)

Os quatro conjuntos de fatores microeconômicos criam as vantagens competitivas para as empresas, que são dependentes do estado de cada um; assim, veremos que a rivalidade estimula a criação de RH especializados e um nível de investimentos sustentáveis, fatores especializados proporcionam o desenvolvimento dos fornecedores e serviços de assistência à empresa, serviços correlatos e de apoio, além de incrementar o nível de sofisticação nacional, acostumada com os melhores padrões e constantes inovações.

1. Condições de fatores: Focaliza a posição da região ou do país em relação aos fatores de produção, como recursos humanos especializados, quantidade de instituições com nível superior; infra-estruturas principalmente portos, aeroportos, ferrovias, hidrovias e estradas modernizados para escoamento adequado da produção, disponibilidade de energia elétrica, telecomunicações, todos necessários à competição global. Os fatores mão-de-obra e matéria prima básicos deixaram de ser os mais importantes. Os fatores escassos, aqueles que são de difícil imitação, e que precisam de altos e sustentáveis investimentos para sua criação, são os mais importantes.

2. Condições de Demanda: Natureza de demanda interna (incluindo-se composição e intensidade) ajudam as empresas a perceberem com antecipação as necessidades dos clientes. Caso a empresa tenha uma base de clientes exigente e sofisticada, poderá, também, antecipar a procura externa. Este processo provoca inovações e pode garantir vantagem contra os rivais.

3. Indústrias correlatas e de apoio no país: Presença de fornecedores locais melhores qualificados, que possam contribuir para o processo de inovação, e inseridos em uma competição internacional, fornecendo insumos com menores custos, maior rapidez e de forma preferencial. A proximidade entre fornecedores e usuários finais irá permitir uma comunicação mais direta e eficaz, com troca de informações e um constante intercâmbio de idéias e inovações.

4. Estratégia, estrutura e rivalidade de empresas: A competitividade de determinado setor de um país é a resultante das condições e formas como as empresas são criadas, organizadas e dirigidas, enfim, são dependentes dos modelos organizacionais adotados, das práticas gerenciais, dos objetivos empresariais, da qualidade, do comprometimento dos trabalhadores e de uma forte concorrência. A rivalidade doméstica capacitada e competitiva permite menores custos, maior qualidade, resultando em inovação, novos processos e novos produtos. A rivalidade também anula as vantagens tradicionais da localização de uma determinada região ou país, gera vantagens sustentáveis.

Para as empresas exportadoras que competem em mercado global, segundo Porter (1993), são necessárias vantagens por todo o diamante para obter e manter o sucesso competitivo nas indústrias que exigem conhecimento intensivo e constituem a espinha dorsal das economias adiantadas. "O jogo mútuo das vantagens em muitos determinantes proporciona benefícios autofortalecedores que os rivais estrangeiros têm muita dificuldade para neutralizar ou reproduzir." (PORTER, 1993, p.89).

Ultrapassamos a época em que a vantagem comparativa baseada em fatores de produção como terra, mão-de-obra e recursos naturais abundantes explicavam a produtividade e a competitividade de determinados países, regiões e indústrias em relação aos concorrentes.

Bech (1999), lembra que a internacionalização dos mercados tornou-se uma nova realidade para a indústria mundial, que passou a produzir em um país, pagar imposto em outro e exigir investimentos públicos sob a forma de aprimoramento da infra-estrutura em um terceiro.

Porter (1993) salienta que o aumento da concorrência, das exigências dos clientes, a segmentação de mercados, a formação de cadeias de produção global, inovações, o aumento de cooperação empresarial são fatores definidores do atual cenário mundial no mundo dos negócios.

Nota-se de forma acentuada que a competitividade das empresas passou a demarcar as novas fronteiras econômicas, com produções em escala, sofisticação das linhas de produção, aumento e melhor qualidade na produtividade.

Dentro do atual contexto, tornar-se competitiva é uma obrigação da empresa, é sobreviver e crescer a longo prazo, estar preparada para acompanhar e se antecipar as exigências e transformações do mercado, habituar-se a rotina de mudanças e encará-las como oportunidade de negócios. As vantagens que uma determinada exportadora tem irão determinar sua competitividade no mercado, tanto no interno como no externo.

A competitividade setorial ocorre quando as vantagens, como geografia do país, recursos humanos especializados, localização privilegiada, consumidores exigentes, infra-estrutura, indústrias correlatas, demanda interna aquecida e rivalidade atuam de forma sincronizada.

Para o setor exportador, a competitividade é o fator mais importante para manter e incrementar as relações comerciais com o exterior. O expressivo valor no volume de exportação, de forma sustentada a longo prazo, com diversificação de sacados e sem concentração de valores, geram entrada de investimentos externos, que por sua vez geram ativos internos que são indicadores da vantagem competitiva da região/nação.

Nos setores em que as indústrias são mais produtivas, o comércio internacional e os investimentos externos irão favorecer o segmento exportador, e quando a produção for fraca, o segmento importador. Porém, o país ou a região poderão ficar ameaçados, caso sua produtividade não seja mais elevada que a dos rivais externos, ao enquadrar-se nos padrões internacionais. Porter (1999) constata que a produtividade explica a competitividade da economia nacional.

Para Porter (1993), muitas das vantagens competitivas duradouras num mundo globalizado dependem de fatores locais, sendo que o agrupamento ou aglomeração de empresas, indústrias ou setores rivais sobre uma determinada região gera condições favoráveis para criação e multiplicação de fatores especializados ou adiantados (como o desenvolvimento de capacitação profissional com habilidades específicas, tecnologias correlatas, conhecimento específico do mercado e infra-estrutura especializada), além daqueles tradicionais, baseados de forma genérica em recursos humanos, recursos físicos, conhecimento, capital e infra-estrutura. Os dois tipos básicos de vantagem competitiva são custos e diferenciação de produtos.

"O menor custo é a capacidade de uma empresa de projetar, produzir e comercializar um produto comparável com mais eficiência do que seus competidores. A diferenciação é a capacidade de proporcionar ao comprador um valor excepcional e superior, em termos de qualidade do produto, características especiais ou serviços de assistências. A vantagem competitiva de qualquer dos dois tipos se traduz em produtividade superior à dos concorrentes."(PORTER, 1993 p.48)

"As empresas não terão êxito se não basearem suas estratégias na melhoria e na inovação, numa disposição de competir e no conhecimento realista de seu ambiente nacional e de como melhorá-lo". (PORTER, 1993 p. 31)

Para os exportadores participarem do mercado global, a inovação é mais um fator importante, porque eles criam vantagem competitiva ao perceberem ou descobrirem novas e melhores formas para competir em determinado segmento. Esta percepção gera novas oportunidades de mercado, o que já é um ato inovador.

Porter (1993) definiu inovação de maneira ampla, incluindo tanto melhorias na tecnologia como melhores métodos ou maneiras de fazer as coisas. "As causas mais típicas das inovações que influem na vantagem competitiva são: (PORTER, 1993, p.57-58):

1. Novas tecnologias: "A mudança tecnológica pode criar novas possibilidades para o projeto de um produto, a maneira pela qual é comercializado, produzido ou entregue e os serviços suplementares proporcionados. É a mais comum precursora da inovação tecnológica. As indústria nascem quando a mudança tecnológica torna possível um novo produto. É difícil para empresas mergulhadas num velho paradigma tecnológico perceberem o significado de um paradigma novo. É ainda mais difícil reagir a ele."

2. Necessidades novas ou renovadas do comprador: "A vantagem competitiva é criada com freqüência (ou se modifica) quando os compradores desenvolvem novas necessidades, ou as suas prioridades se modificam de maneira significativa. Concorrentes estabelecidos deixam de compreender as novas necessidades ou são incapazes de reagir, porque para atendê-las precisariam de nova cadeia de valores.

3. Aparecimento de novo segmento de indústria: "A oportunidade de criar vantagem surge quando nasce um novo segmento distinto de uma indústria ou é concebida uma nova maneira de reagrupar os segmentos existentes. As possibilidades abrangem não só novos segmentos de clientela, mas, também, novas maneiras de produzir determinados itens na linha de produtos ou novas maneiras de atingir determinado grupo de clientes. Quando há percepção de um segmento mal atendido, o melhor atendimento cria um novo segmento, que terá, freqüentemente, o poder de reconfigurar substancialmente a cadeia de valores, que poderá ser difícil para os concorrentes estabelecidos."

4. Custos ou disponibilidade oscilante de insumos: "A vantagem competitiva se modifica freqüentemente quando ocorre mudança significativa nos custos absolutos ou relativos de insumos como mão-de-obra, matérias-primas, energia, transporte, comunicações, mídia ou maquinaria. Isto pode refletir novas condições nas indústrias abastecedoras ou, talvez, a possibilidade de usar um tipo novo (ou diferente) de qualidade de insumo. Uma empresa adquire vantagem competitiva otimizando com base nas novas condições, enquanto os competidores estão amarrados a instalações e processos projetados para condições antigas."

5. Mudanças nos regulamentos governamentais: "Os ajustes na natureza da regulamentação governamental, em áreas como padrões dos produtos, controles ambientais, restrições à entrada e barreiras comerciais são outros estímulos comuns às inovações que resultam em vantagem competitiva. Os líderes de indústrias existentes projetaram suas atividades para certos regulamentos e pode ser-lhes impossível acompanhar uma modificação nesse regime."


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