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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 21/9/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/05/00 11:35:12
Eletricidade estática: cuidado com ela! 

Zips e zaps de um copo de cafezinho podem acabar com o seu computador

Você já deve ter feito a experiência de esfregar a ponta de uma caneta num tecido e com ela atrair e levantar fios de cabelo e pedacinhos de papel. Também já sabe o que ocorre quando levanta uma capa plástica de livro e a aproxima do braço ou do cabelo (os pelos ficam eriçados). Aprendeu provavelmente na escola que isso se deve ao fenômeno da eletricidade estática. O que poucas pessoas lembram é como isso pode afetar e até destruir um computador. Basta uma descarga de 30 volts para danificar os componentes eletrônicos mais sensíveis do seu micro. Em geral, quase todos eles podem ser literalmente torrados com uma descarga de mil volts.

Mas, você não precisa encostar um fio elétrico para destruir os chips: basta a sua mão. Confira: simplesmente caminhando sobre um carpete, você está acumulando uma carga de eletricidade estática acima de 35 mil volts (em dias secos), ou de pelo menos 2 mil volts (em dias úmidos). Em pisos de vinil, os números são de respectivamente 12 mil volts e 400 volts. Mesmo que fique sentado(a) numa cadeira, a carga de eletricidade estática provavelmente já está acima de 18 mil volts, valor igual ao de quando você segura um copo plástico de café.

Saiba ainda: mais de 5 mil volts estão envolvidos na manipulação de uma simples fita adesiva, enquanto a capa plástica de arquivos ou livros apresenta uns 8 mil volts. E você só começa a sentir alguma coisa diferente quando a carga em seu corpo já está acima de 3.500 volts, mil vezes maior que a necessária para causar danos ao micro.

Perigo? – Por quê você mesmo(a) não torra com tal voltagem? Primeiro, devido à baixíssima amperagem, muito menor que a encontrada na rede elétrica de sua casa. Isto é, o problema não é a carga elétrica em si, mas a rapidez com que ela é transferida de/para seu corpo. O choque é o resultado da transferência rápida de cargas elétricas, como quando você encosta em fios energizados e desprotegidos.

Repare como muitos eletricistas tocam num fio elétrico energizado e continuam trabalhando normalmente: o choque é muito fraco porque eles não estão fazendo grande transferência de cargas, já que não tocam simultaneamente no outro fio e usam sapatos que isolam o corpo do chão. Pela mesma razão, os passarinhos nada sentem ao pousarem nos fios de alta tensão, entre os postes da rua: a distância entre os fios impede que os pássaros toquem em dois fios de cargas elétricas diferentes e criem o curto-circuito.

Curiosidade: um raio, durante a tempestade, além de ter até um bilhão de volts, começa a descer com 100 mil ampères e, ao atingir as proximidades do solo, mesmo com a dissipação na atmosfera, ainda registra uns 6 mil ampères. Entretanto, a energia que o raio transfere para a terra é de em média 1.012 watts, algo como o consumo de uma lâmpada elétrica comum acesa durante uma noite.

E, na verdade, uma pessoa pode até receber a descarga de um raio e sair ilesa (o recorde é possivelmente do guarda-florestal norte-americano Roy Sullivan, atingido sete vezes por raios entre 1942 e 1977, com pequenas escoriações): o que mata é a violência do choque em si (impedindo a realização de funções normais do corpo, como a respiração e o batimento cardíaco) e o calor produzidos pela alta voltagem ao atravessar o corpo (o tema 'Raios!' foi abordado na edição especial de Informática de 10/2/1998).

Sensibilidade – Voltando aos computadores: como os microcircuitos trabalham com quantidades mínimas de energia, precisam ser altamente sensíveis à variação da voltagem. Por isso, a carga eletrostática de seu corpo, ao ser transferida para esses circuitos, provoca grandes danos, mesmo que você não encoste neles. Da mesma forma como o raio transfere energia entre a nuvem e o solo, a proximidade do seu corpo com o chip pode provocar pequenas faíscas elétricas que você até nem percebe, ou mesmo a formação de um campo elétrico contrário na placa eletrônica (é a chamada indução elétrica).

Se você não é técnico em Eletrônica, pule este parágrafo. Trata-se de uma relação da sensibilidade de componentes eletrônicos à voltagem: VMOS, 30 a 1.800 volts; MOSFET (Metal Oxide Semiconductor Field Effect Transistor), 100 a 200 v; GaAsFet, 100 a 300 v; EPROM (tipo de memória usada para guardar as configurações do BIOS, o programa que assume o controle do computador quando você o liga), 100 v; JFET, 140 a 7.000 v; SAW, 150 a 500 v; OP AMP, 190 a 2.500 v; CMOS, 250 a 3.000; díodos Scho5ttky, 300 a 2.500 v; resistores de filme, 300 a 3.000 v; transistores bipolares, 380 a 7.000 v; ECL (nível de PCB), 500 a 1.500 v; SCR, 680 a 1.000 v; Schottky TTL, 1.000 a 2.500 v.

Muitos pensam que a eletricidade estática não é um grande problema: com um mínimo de controle, dizem, conseguem manter um índice de falhas de 0,5% nos componentes. Raciocine, porém: com a média de 20 componentes por placa, isto significa que, de cada dez placas, pelo menos uma deve conter algum componente defeituoso. Um sistema médio usa cinco placas (computador com placas de som, memória, vídeo, modem e placa-mãe, por exemplo). Com esse índice médio de falhas, a cada dois sistemas, pelo menos um deve conter defeitos. Você aceitaria esse risco?

Zips e Zaps – No jargão dos especialistas internacionais em eletricidade, Zap significa golpe definitivo, queima completa dos componentes por cargas eletrostáticas; Zip - ou Zing - é um golpe parcial de cargas eletrostáticas nos componentes (bastam para o Zing 25% da voltagem que causaria o Zap). Não são siglas, mas sim onomatopéias originadas das histórias em quadrinhos (isto é, palavras que o leitor associa a sons como os de um raio, por exemplo).

Os especialistas dizem que um componente zapiado é o que foi completamente queimado por uma carga eletrostática, enquanto o componente zingado é o que passa a apresentar, após a descarga, defeitos intermitentes.

Em média, 10% dos componentes são zapiados (totalmente queimados) e 90% zingados, quando atingidos por descargas eletrostáticas. Se o componente é zapiado, simplesmente não funciona mais, e isso é facilmente percebido. O pesadelo dos eletrotécnicos é quando o componente é zingado apenas, pois ele até passa nos testes elétricos, mas pode apresentar falhas - causadas por vibrações, variações de temperatura ou de carga elétrica - seis dias, seis semanas ou mesmo seis meses depois...

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