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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 21/9/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/05/00 11:35:18
Laboratório de hardware será modelo de referência na região 

Valorizando a segurança no manuseio de equipamentos eletrônicos sensíveis, a Universidade Santa Cecília (Unisanta) está finalizando a instalação de uma sala especial de hardware para os cursos de Engenharia Eletrônica, de Computação e de Telemática. As instalações, inéditas na região, seguem os requisitos da norma de referência IEE-1000-4-2.

Os engenheiros da Unisanta tiveram preocupação especial com o chamado aterramento das cargas eletrostáticas que podem atingir componentes da placa de um micro-computador, como os semicondutores complementares de óxido metálico (CMOS), se forem manuseados sem cuidados especiais.

As cargas eletrostáticas - como explicam os professores e engenheiros José Roberto Abbud, Paulo Roberto Schroeder de Souza, além do coordenador dos cursos, professor Jadir Denis P.Albino - são fenômenos naturais em que cargas elétricas estacionárias, produzidas por fricção ou separação de materiais distintos, se acumulam em materiais condutores não aterrados ou em superfície condutiva (isso inclui o corpo humano), produzindo pequenas correntes e altas tensões, que são potenciais elétricos muito elevados (em comparação com a grande sensibilidade dos circuitos de computador).

Edificação – As salas devem possuir piso falso para aterramento, ao qual devem ser ligados todos os móveis metálicos e as bancadas de trabalho. O sistema de aterramento de cada sala deve ser ligado ao sistema geral de ligação equipotencial do prédio (um anel de material condutor instalado no solo em volta do edifício, para distribuir e compensar as cargas elétricas trocadas com a terra, equilibrando-as).

Os cuidados básicos com a infra-estrutura incluem a criação de um quadro de alimentação elétrica exclusivo para os equipamentos eletrônicos sensíveis; deve-se evitar que os circuitos de energia e telecomunicação tenham trechos em paralelo e fiquem próximos às descidas dos pára-raios (estes devem ficar afastados uns 20 cm da estrutura do prédio e isolados adequadamente); não se deve usar a ferragem estrutural para proteção contra descargas atmosféricas (ligar fio-terra a prego na parede, nem pensar!).

No sistema de aterramento para edificações que abrigarão equipamentos eletrosensíveis (como os computadores), há necessidade de se construir duas malhas, sendo uma delas dedicada ao aterramento do sistema de força da instalação e outra própria para o aterramento daqueles equipamentos. Porém, ambas deverão ser interligadas, atendendo requisitos de segurança do indivíduo e do patrimônio às condições de compatibilidade eletromagnética.

Todos os equipamentos eletrônicos sensíveis protegidos devem ser instalados num mesmo ambiente. Todos os condutores de alimentação elétrica e de sinal eletrônico dos equipamentos devem estar afastados pelo menos dois metros dos cabos de alta corrente e de pelo menos um metro de condutores alimentando cargas indutivas sem proteção de surto de tensão. Com tais medidas, é criada na edificação uma espécie de gaiola de Faraday (veja o glossário), para a proteção externa (contra raios e picos de tensão na energia elétrica que chega ao prédio).

Critérios – Os ambientes de trabalho com hardware (os equipamentos de computação) devem dispor de piso e bancadas especiais, além de equipamentos para dissipação estática apropriados, além dos sopradores especiais de ar ionizado (ionizadores). Circuitos com diferentes graus de susceptibilidade devem ser separados. Todos os equipamentos eletro-eletrônicos devem ter condição de suportar sobretensões de valores compatíveis com seus níveis de suportabilidade. 
Nos quadros de alimentação elétrica das salas devem existir equipamentos para proteção ("volume protegido"). Deve-se usar filtros de linha para controlar os níveis de harmônicos (aqueles sinais que viajam na corrente elétrica, como quando você liga um liqüidificador e isso causa falhas na imagem do televisor).

As mesas de trabalho (bancadas) devem ser recobertas com chapas de alumínio e emborrachadas, para neutralização das cargas eletrostáticas, tendo pontos especiais para colocação de pulseiras de aterramento a serem usadas por quem manipulará os equipamentos.

Antes de iniciar o trabalho, as pessoas devem colocar pulseiras anti-estáticas, conectadas diretamente ao fio terra, mantendo assim potencial elétrico nulo (o que evita que a eletricidade estática acumulada no corpo humano passe para os componentes eletrônicos, danificando-os). Essas pulseiras devem estar justas no braço, sendo retiradas só no momento em que a pessoa deixar o local.
Para evitar as descargas secundárias, deve-se aterrar partes metálicas do encapsulamento dos equipamentos eletrônicos ao chassis ("terra" de proteção), facilitando a distribuição das cargas elétricas. Deve-se isolar as partes metálicas do chassis dos circuitos eletrônicos (1 cm de distância dos componentes não aterrados e 1 mm dos aterrados). 

Cuidados – Os componentes eletrônicos ou as placas que os contêm só devem ser removidos das embalagens protetoras (aquelas azuladas, de plástico metalizado, que costumam envolver as placas e os equipamentos que chegam de fábrica) na área de trabalho protegida. Depois de retirados da embalagem original, os componentes devem ser armazenados e transportados em recipientes protetores contra descargas eletrostáticas.

As placas só estão protegidas quando completamente dentro de sacos protetores antiestáticos. Este hábito, segundo os professores, deveria ser observado mesmo em relação às placas com defeito retiradas dos equipamentos, para a proteção dos componentes que ainda estão bons.

As normas de procedimento incluem manter materiais não condutores fora das áreas protegidas de trabalho. Deve-se ter cuidado com materiais plásticos (inclusive os copos de café - lembre-se, são 18 mil volts!). Nylon, espuma sintética e papel celofane devem ser mantidos longe da área protegida de trabalho (lembre-se: por não serem condutores, armazenam a eletricidade estática). Tenha cuidado com luvas, gravata e cachecol, pois eles armazenam grande quantidade de cargas eletrostáticas.

Como a eletricidade estática é produzida pela fricção (que arranca elétrons de um material e os deposita em outro), quando você anda seu corpo está em atrito com o ar (é por isso que um motorista, depois de longa viagem de carro em alta velocidade, pode levar um choque ao sair do veículo: o pneu evitava o contato da carroceria com o solo, e ao pisar no chão, em contato com ela, o motorista completa o circuito, transferindo a carga eletrostática através de seu corpo). Para a manipulação de equipamentos sensíveis, é necessário portanto considerar até mesmo a velocidade com que a pessoa se aproxima dos circuitos eletrônicos, e a movimentação de pessoas no ambiente.

Ambientes secos facilitam o acúmulo de cargas eletrostáticas, razão pela qual a umidade relativa do ar deve ser controlada. Deve-se ainda considerar a resistência e capacitância dos objetos que produzem descargas, mecanismos da produção de carga por separação e indução, além da existência de móveis metálicos no ambiente de trabalho.

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