ARQUITETURA
Planta telemática se torna
indispensável em casas e prédios
Edificações
inteligentes começam no projeto de cabeamento de dados
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Terminou
o tempo em que, para se fazer um prédio, era necessário ter
apenas plantas hidráulica, elétrica e arquitetônica.
Na era da computação intensiva e com a participação
da Internet em mais e mais atividades cotidianas, um novo item precisa
entrar no planejamento: a planta telemática. Casamento das telecomunicações
com a informática, a telemática ganha uma série de
aplicações numa residência ou num edifício comercial:
controle de acesso e segurança, serviços tipo delivery
(tele-encomenda), monitoramento da edificação (bombas de
água e recalque, consumo de energia elétrica, controle de
elevadores, temperatura ambiente etc.) e até serviços menos
comuns, como a conexão a serviços externos de vigilância
ou telemedicina. Sem falar das telecomunicações, aí
incluídas a televisão a cabo, a telefonia, o acesso à
Internet e o uso de webcams.
Não chegamos ainda ao tempo
de se popularizar uma experiência que vem sendo feita na cidade norte-americana
de Atlanta, onde um prédio é totalmente controlado via Internet:
o vigia reside na África do Sul. Mas os chamados edifícios
(e casas) inteligentes já são realidade no Brasil, especialmente
em São Paulo, e agora estão chegando a Santos. Conforme o
nível de avanço tecnológico adotado, pode-se desde
usar um cartão magnético de acesso (no lugar do tradicional
chaveiro) até controlar à distância ou pré-programar
o nível de temperatura ambiente, o funcionamento de diversos aparelhos
domésticos ou de escritório, o acendimento automático
das luzes quando alguém entra numa sala etc.
Na verdade, nada de fantástico,
trata-se apenas da reunião de uma série de equipamentos e
tecnologias já corriqueiras, como as células foto-elétricas,
os sensores de fumaça e temperatura, os sensores de presença
e intrusão (como os embutidos nos alarmes anti-furto das lojas)
e a possibilidade de um computador devidamente programado comandar o liga-desliga
de equipamentos os mais diversos.
A mesma tecnologia que nos permite
enviar um sinal pela linha telefônica para que a secretária
eletrônica transmita as mensagens que registrou também possibilita
comandar de qualquer lugar do mundo o funcionamento dos aparelhos de uma
casa. Quando às telecomunicações, qualquer internauta
sabe o que pode fazer com uma webcam, um microfone e um computador
ligado à Internet.
Filão – Um prédio
que possua a infra-estrutura básica para o uso intensivo da telemática
(o cabeamento por toda a edificação e os pontos de acesso
em cada sala) permite oferecer uma série de serviços aos
moradores, além dos já citados. Se tiver relacionamento estreito
com um provedor de acesso, ou se tornar ele mesmo um provedor Internet
para os condôminos, pode firmar parcerias com bancos, drogarias,
supermercados e outros estabelecimentos, para oferecer aos condôminos
facilidades como home-banking e delivery simplificados.
Em pouco tempo, conforme as empresas
forem descobrindo essa possibilidade e começarem a disputar tal
clientela, o condomínio pode até se auto-sustentar usando
a renda obtida com tais convênios para pagar as despesas com eletricidade,
água e empregados. Quantos fornecedores não gostariam de
ter uma clientela praticamente cativa (pela lei do menor esforço:
para quê procurar concorrente, se tal serviço é mais
fácil de usar, é só apertar um botão?). Para
a publicidade, um novo campo de trabalho: dirigir mensagens personalizadas,
apresentando os produtos dos clientes aos moradores dos prédios
inteligentes, com muito mais eficiência mercadológica que
por outros meios de comunicação.
Um provedor de Internet que ofereça
links
dedicados e rápidos a esse prédio também terá
vantagens sobre os demais concorrentes. Um serviço médico
que tenha o cadastro dos moradores e preste atendimento imediato, a um
simples clique de mouse ou apertar de botão também
contará pontos. Não é difícil imaginar até
uma prosaica feira condominial: cada morador faz uma relação
de frutas e verduras que deseja, e o condomínio faz uma compra coletiva,
com preços bem mais reduzidos devido ao maior poder de barganha
com os supermercados e feirantes. As opções são infinitas.
Mudanças – Nos prédios
inteligentes atuais, as instalações elétricas e telemáticas
são separadas, mas a IBM já faz demonstrações
de uma smart home norte-americana em que a antiga "caixa de luz"
é substituída por uma central computadorizada, que controla
todo o fluxo de energia elétrica e de dados para a unidade (o apartamento
ou conjunto de escritórios).
Tal casa pode "sentir" a chegada
do morador, acionar portões e porta de garagem, abrir em seguida
a porta principal, acender as luzes, já estar com a temperatura
interna adequada às preferências do morador, ligar a cafeteira,
o microondas e a televisão, preparar seu banho e até "conversar"
com o morador, transmitindo os recados recebidos por telefone ou e-mail
e recebendo comandos de voz para ações específicas.
Isso já é realidade, embora o custo de todos os equipamentos
necessários para esse nível de tecnologia ainda possa representar
tanto quanto o valor de um imóvel comum de iguais dimensões.
Mas, o custo da tecnologia está
baixando rapidamente, apoiado no barateamento dos microprocessadores e
no avanço dos próprios computadores, o que já possibilita
a integração de várias dessas funções.
E, havendo o cabeamento básico, o acréscimo de componentes
se torna simplificado, já que depois do surgimento das fibras óticas
não tem havido desenvolvimentos que impliquem na troca desses cabos.
Além disso, a disputa entre
os fornecedores de serviços ao condomínio pode trazer até
uma renda - proveniente de convênios para inserção
publicitária ou autorizações para serviços
delivery
- que amortize tais custos e mesmo pague as demais despesas condominiais.
Um edifício inteligente pode ter uma central de escaneamento e impressão
com equipamentos de alta qualidade (que se tornariam onerosos para cada
usuário adquirir para uso individual), central de som e vídeo
por demanda e outros equipamentos, afora os já encontrados nos flats
(lavanderia, restaurante/lanchonete, serviços de quarto, área
de ginástica etc.)
Pode-se, portanto, controlar do sofá
da sala se o bebê está chorando no quarto ou se as crianças
estão brincando em ordem no quintal, através de câmeras
de televisão. Num edifício inteligente, pode-se inclusive
fazer tal controle pela Internet, com o uso de senhas de acesso, a partir
de qualquer lugar do planeta... ou fora dele.
Reveses – Mas, aí começam
os reveses, pois o sistema precisa garantir que o voyeur do primeiro
andar não espie pela câmera instalada no quarto da bela moradora
do 13º pavimento. Uma central em cada apartamento, que impeça
a saída de dados indesejáveis, pode ser uma solução,
embora mais custosa que a administração centralizada de dados
do condomínio - que tende a ser mais utilizada nos atuais prédios.
É preciso balancear tecnologias
para controle de acesso: uma chave baseada em código de barras poderia
ser copiada em qualquer máquina tipo xerox, e o sensor que abre
automaticamente a porta só se justifica em portas internas. O controle
de acesso apenas por senha pode ser burlado por alguém que espie
a pessoa digitando a senha ou consiga adivinhar as senhas fáceis
que muitas pessoas usam, daí a necessidade de uma chave fisicamente
existente - a ideal é um cartão magnético ou bottom
(do tipo usado pelos vigias de muitas empresas para registrar a passagem
periódica por um local).
Em tese, só o webmaster
do prédio tem a senha de acesso a todo o sistema. Mas, com tantos
interesses em jogo, e quando sabemos que mesmo um empregado doméstico
com ótimas qualificações pode ser um ladrão
com credenciais falsas, o problema de confiança fica mais agudo.
É com ele que teremos de conviver cada vez mais nos próximos
anos, pois cada barreira de proteção sempre tem um hacker
pronto a desmontá-la, num eterno jogo de gato e rato...
Veja mais:
Surge
a figura do consultor de dados do prédio
Instalação
é dividida em módulos |