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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 5/1/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:03:51
ARQUITETURA
Planta telemática se torna indispensável em casas e prédios 

Edificações inteligentes começam no projeto de cabeamento de dados

Carlos Pimentel Mendes
Editor

Terminou o tempo em que, para se fazer um prédio, era necessário ter apenas plantas hidráulica, elétrica e arquitetônica. Na era da computação intensiva e com a participação da Internet em mais e mais atividades cotidianas, um novo item precisa entrar no planejamento: a planta telemática. Casamento das telecomunicações com a informática, a telemática ganha uma série de aplicações numa residência ou num edifício comercial: controle de acesso e segurança, serviços tipo delivery (tele-encomenda), monitoramento da edificação (bombas de água e recalque, consumo de energia elétrica, controle de elevadores, temperatura ambiente etc.) e até serviços menos comuns, como a conexão a serviços externos de vigilância ou telemedicina. Sem falar das telecomunicações, aí incluídas a televisão a cabo, a telefonia, o acesso à Internet e o uso de webcams.

Não chegamos ainda ao tempo de se popularizar uma experiência que vem sendo feita na cidade norte-americana de Atlanta, onde um prédio é totalmente controlado via Internet: o vigia reside na África do Sul. Mas os chamados edifícios (e casas) inteligentes já são realidade no Brasil, especialmente em São Paulo, e agora estão chegando a Santos. Conforme o nível de avanço tecnológico adotado, pode-se desde usar um cartão magnético de acesso (no lugar do tradicional chaveiro) até controlar à distância ou pré-programar o nível de temperatura ambiente, o funcionamento de diversos aparelhos domésticos ou de escritório, o acendimento automático das luzes quando alguém entra numa sala etc.

Na verdade, nada de fantástico, trata-se apenas da reunião de uma série de equipamentos e tecnologias já corriqueiras, como as células foto-elétricas, os sensores de fumaça e temperatura, os sensores de presença e intrusão (como os embutidos nos alarmes anti-furto das lojas) e a possibilidade de um computador devidamente programado comandar o liga-desliga de equipamentos os mais diversos.

A mesma tecnologia que nos permite enviar um sinal pela linha telefônica para que a secretária eletrônica transmita as mensagens que registrou também possibilita comandar de qualquer lugar do mundo o funcionamento dos aparelhos de uma casa. Quando às telecomunicações, qualquer internauta sabe o que pode fazer com uma webcam, um microfone e um computador ligado à Internet.

Filão – Um prédio que possua a infra-estrutura básica para o uso intensivo da telemática (o cabeamento por toda a edificação e os pontos de acesso em cada sala) permite oferecer uma série de serviços aos moradores, além dos já citados. Se tiver relacionamento estreito com um provedor de acesso, ou se tornar ele mesmo um provedor Internet para os condôminos, pode firmar parcerias com bancos, drogarias, supermercados e outros estabelecimentos, para oferecer aos condôminos facilidades como home-banking e delivery simplificados.

Em pouco tempo, conforme as empresas forem descobrindo essa possibilidade e começarem a disputar tal clientela, o condomínio pode até se auto-sustentar usando a renda obtida com tais convênios para pagar as despesas com eletricidade, água e empregados. Quantos fornecedores não gostariam de ter uma clientela praticamente cativa (pela lei do menor esforço: para quê procurar concorrente, se tal serviço é mais fácil de usar, é só apertar um botão?). Para a publicidade, um novo campo de trabalho: dirigir mensagens personalizadas, apresentando os produtos dos clientes aos moradores dos prédios inteligentes, com muito mais eficiência mercadológica que por outros meios de comunicação.

Um provedor de Internet que ofereça links dedicados e rápidos a esse prédio também terá vantagens sobre os demais concorrentes. Um serviço médico que tenha o cadastro dos moradores e preste atendimento imediato, a um simples clique de mouse ou apertar de botão também contará pontos. Não é difícil imaginar até uma prosaica feira condominial: cada morador faz uma relação de frutas e verduras que deseja, e o condomínio faz uma compra coletiva, com preços bem mais reduzidos devido ao maior poder de barganha com os supermercados e feirantes. As opções são infinitas.

Mudanças – Nos prédios inteligentes atuais, as instalações elétricas e telemáticas são separadas, mas a IBM já faz demonstrações de uma smart home norte-americana em que a antiga "caixa de luz" é substituída por uma central computadorizada, que controla todo o fluxo de energia elétrica e de dados para a unidade (o apartamento ou conjunto de escritórios). 

Tal casa pode "sentir" a chegada do morador, acionar portões e porta de garagem, abrir em seguida a porta principal, acender as luzes, já estar com a temperatura interna adequada às preferências do morador, ligar a cafeteira, o microondas e a televisão, preparar seu banho e até "conversar" com o morador, transmitindo os recados recebidos por telefone ou e-mail e recebendo comandos de voz para ações específicas. Isso já é realidade, embora o custo de todos os equipamentos necessários para esse nível de tecnologia ainda possa representar tanto quanto o valor de um imóvel comum de iguais dimensões.

Mas, o custo da tecnologia está baixando rapidamente, apoiado no barateamento dos microprocessadores e no avanço dos próprios computadores, o que já possibilita a integração de várias dessas funções. E, havendo o cabeamento básico, o acréscimo de componentes se torna simplificado, já que depois do surgimento das fibras óticas não tem havido desenvolvimentos que impliquem na troca desses cabos.

Além disso, a disputa entre os fornecedores de serviços ao condomínio pode trazer até uma renda - proveniente de convênios para inserção publicitária ou autorizações para serviços delivery - que amortize tais custos e mesmo pague as demais despesas condominiais. Um edifício inteligente pode ter uma central de escaneamento e impressão com equipamentos de alta qualidade (que se tornariam onerosos para cada usuário adquirir para uso individual), central de som e vídeo por demanda e outros equipamentos, afora os já encontrados nos flats (lavanderia, restaurante/lanchonete, serviços de quarto, área de ginástica etc.)

Pode-se, portanto, controlar do sofá da sala se o bebê está chorando no quarto ou se as crianças estão brincando em ordem no quintal, através de câmeras de televisão. Num edifício inteligente, pode-se inclusive fazer tal controle pela Internet, com o uso de senhas de acesso, a partir de qualquer lugar do planeta... ou fora dele. 

Reveses – Mas, aí começam os reveses, pois o sistema precisa garantir que o voyeur do primeiro andar não espie pela câmera instalada no quarto da bela moradora do 13º pavimento. Uma central em cada apartamento, que impeça a saída de dados indesejáveis, pode ser uma solução, embora mais custosa que a administração centralizada de dados do condomínio - que tende a ser mais utilizada nos atuais prédios.

É preciso balancear tecnologias para controle de acesso: uma chave baseada em código de barras poderia ser copiada em qualquer máquina tipo xerox, e o sensor que abre automaticamente a porta só se justifica em portas internas. O controle de acesso apenas por senha pode ser burlado por alguém que espie a pessoa digitando a senha ou consiga adivinhar as senhas fáceis que muitas pessoas usam, daí a necessidade de uma chave fisicamente existente - a ideal é um cartão magnético ou bottom (do tipo usado pelos vigias de muitas empresas para registrar a passagem periódica por um local).

Em tese, só o webmaster do prédio tem a senha de acesso a todo o sistema. Mas, com tantos interesses em jogo, e quando sabemos que mesmo um empregado doméstico com ótimas qualificações pode ser um ladrão com credenciais falsas, o problema de confiança fica mais agudo. É com ele que teremos de conviver cada vez mais nos próximos anos, pois cada barreira de proteção sempre tem um hacker pronto a desmontá-la, num eterno jogo de gato e rato...

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