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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos/SP, em 27 de janeiro de 1998
Publicado em Novo Milênio em (mês/dia/ano/horário): 12/04/00 04:45:46
HISTÓRIA DO COMPUTADOR - 52 - O futuro que vem aí
Computador também poderá usar neurônios
no seu cérebro

Testes nos EUA mostram ser possível, o problema é a vida curta

Existem muitos caminhos possíveis na evolução do computador, alguns deles já mostrados nesta série. Até mesmo o DNA que forma os genes humanos já foi testado, com excelentes resultados nos cálculos. Outro sistema experimental é o que utiliza neurônios como os do cérebro humano, colados numa placa de silício, formando uma rede viva capaz de processar informações em grande velocidade. 

A pesquisa vem sendo feita na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), por cientistas como Richard Potember. Ele experimentou utilizar uma cola produzida com enzimas para prender neurônios numa placa de silício, desenhando os circuitos com uma tinta de enzimas que atrai os axônios (os prolongamentos dos neurônios). Assim, obteve um chip que funciona como os atuais processadores, com duas diferenças importantes: a maior capacidade de processamento e o fato de ser esta uma rede de comunicação viva, que obriga o pesquisador a renovar a “cola” a cada três dias, mantendo a temperatura entre 15 e 25 graus centígrados para que o processador não morra. 

Logomarca da revista '21st Challenge' na Internet
Existem ainda outras formas de se construir um computador para as futuras necessidades da informática. Em artigo na publicação eletrônica 21st Challenge, Franco Vitaliano conta que em 25 de junho de 1992, o ônibus espacial Columbia levou um passageiro incomum: a bactéria Halobacterium halobium, comumente encontrada na área da Baía de San Francisco, nos EUA. Essa bactéria tem sua cor formada por um único pigmento encontrado em sua membrana celular, chamado bacteriarhodopsin (bR). A proteína bR captura fótons de luz e os converte em energia celular para a bactéria, conforme o experimento conduzido pelo professor Robert Birge, diretor do Centro para Eletrônica Molecular da Universidade de Siracusa, com apoio da Keck Foundation e da BioServe Space Technologies. 

Para os pesquisadores moleculares, a bR tem uma propriedade importante: permite construir aplicações que alternam seu estado, exatamente como na lógica binária dos sistemas atuais baseados em materiais semicondutores. Os pesquisadores acreditam que podem alterar essa molécula para que reaja a estímulos de raios laser verde e vermelho, alternando sua cor. Como um aplicativo assim construído poderia armazenar algo como 480 gigabytes de dados (o equivalente a 20 milhões de páginas de texto datilografado) num espaço de apenas cinco centímetros cúbicos, com a possibilidade de tal material ser lido, escrito ou apagado em cinco pico-segundos (pico-segundo é a trilionésima parte do segundo), usando a atual tecnologia de laser, a pesquisa se torna bastante interessante... 

Microscópio – O mesmo Richard Potember já patenteou também uma nova forma de armazenagem de dados que utiliza um microscópio eletrônico de tunelamento (STM – Scanning Tunneling Microscope). No processo descrito por ele, é usada uma substância denominada tetracyanoquinodimethane (TCNQ), que alterna de estados elétricos de alta para baixa impedância em nível atômico, mediante estímulos do próprio microscópio STM, da mesma forma como o campo magnético na cabeça do drive altera os dados no disquete do computador. 

Assim, tem condições de armazenar o equivalente ao conteúdo dos livros de uma biblioteca municipal num espaço super-reduzido: enquanto a nova tecnologia DVD permite colocar num disco prateado até 20 gibabytes de dados (usando os dois lados do disco, em camada dupla), o sistema proposto por Potember com o microscópio STM permitiria armazenar centenas de terabytes de informação no mesmo espaço. De imediato, com uma vantagem: não haveria mais necessidade de se comprimir dados sonoros e visuais com sistemas tipo MPEG para caberem no disco, o que significa um nível bem maior de qualidade audiovisual resultante. 

Ilustração da revista '21st Challenge'
Dificuldades – Existem problemas a sanar: desenvolver um chip de 64 MB de memória significa hoje um investimento de US$ 1 bilhão, e o valor tende a aumentar em relação à capacidade do chip pretendido, tanto que a IBM precisou se unir à Toshiba e à Siemens para desenvolverem os chips de 256 MB. Mas, alguns tipos de sistemas biomoleculares poderão ter seus custos de desenvolvimento drasticamente reduzidos, para poucos milhões de dólares, por dispensarem a criação de complexos e caros circuitos de controle, já que os experimentos podem ser controlados por química simples. 

Por outro lado, quando se trabalha no nível da teoria quântica, o princípio estabelecido por Heidelberg estabelece que os elementos atômicos alteram seu comportamento quando são observados, ou seja, ver o processo acontecer já modifica o próprio processo. Assim, torna-se impossível saber precisamente o que acontece no mundo atômico, o que causa toda sorte de problemas, especialmente para os engenheiros encarregados de criar sistemas semicondutores nesse nível. 

Para evitar esse problema, uma das formas é criar circuitos redundantes, de forma a tornar predizível o comportamento dos circuitos, mas isso implica em maiores custos de desenvolvimento. Já na tecnologia biomolecular isso se torna simples, com a possibilidade de milhares de moléculas serem usadas para transportar a mesma informação codificada, sem grandes implicações quanto ao espaço necessário a essa armazenagem de dados. 

O outro grande problema dos processadores clássicos é a dissipação do calor nos chips. A idéia é imitar a Natureza, que prefere usar a química, conseguindo grandes resultados em processamento com um gasto mínimo de energia – como na formulação do ácido desoxiribonucléico (o DNA).