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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática
do jornal A Tribuna de Santos/SP, em 7 de outubro de 1997
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/04/00 04:30:48

HISTÓRIA DO COMPUTADOR - 5
Multimídia traz novos recursos

Já se pode ter em casa recursos que até recentemente só os diretores de cinema e produtores de televisão  tinham

Surdo e mudo, além de cego e incapaz de mostrar imagens em movimento, o computador podia ser um ótimo instrumento para o trabalho convencional (escrever uma carta, fazer uma conta), mas frustrante para qualquer outra coisa. A indústria do entretenimento, empurrada pelos games, foi entretanto abrindo seu caminho, até transformar o computador no eixo central de todo um sistema de diversão caseira.

O computador ganhou voz e audição com as placas de som, aprendeu a ver com as placas de captura de vídeo e as micro-câmaras de vídeo, passou a se relacionar com os instrumentos musicais através das conexões MIDI, aproveitou sua memória para funcionar como secretária-eletrônica e correio de voz, e até incorporou funções impensáveis apenas alguns anos atrás, como a substituição dos instrumentos musicais e criação de novos sons, impossíveis até então.

Mais: permitiu que qualquer pessoa, em sua própria casa, produzisse apresentações incluindo edição de som e vídeo. No fim, até o mundo dos negócios mudou: que o Interface MIDI da Roland para computadoresdiga o gerente de empresa que não preparar um verdadeiro show de som e imagens para apresentar aos chefes as estatísticas do desempenho de seu departamento...

Multimídia é o aportuguesamento da expressão inglesa multimedia, ou multimeios. Midia é, por exemplo, um livro ou jornal (palavra escrita), programa de rádio (palavra falada) ou de televisão (informação visual, em movimento). Multimídia é a reunião de todos esses recursos. Uma apresentação multimídia é, portanto, a que utiliza textos, sons e imagens para expor uma informação.

Mudanças - Até pouco tempo atrás, apresentação multimídia significava uma sequência de slides projetados, talvez em conjunto com um retroprojetor para apresentação de gráficos e textos, quem sabe uma vitrola (quem lembra desse aparelho?) apresentando alguma música ambiente, e um chato ao microfone explicando os gráficos ou os slides. E os espectadores bocejando, até que algum imprevisto ocorra, como a lâmpada do retroprojetor não acender, ou aquele slide de mulher pelada - que não deveria fazer parte da apresentação, mas estava entre os outros - seja projetado...

Agora, em poucos instantes, um gerente de empresa pode preparar uma apresentação com sons, imagens em movimento e gráficos atraentes, apenas usando o mouse e alguns comandos no computador. O mesmo software permite juntar textos, sons e imagens, colocando-os na ordem desejada para a apresentação, ou alterar uma apresentação anterior, trocando a ordem de determinados quadros ou substituindo uma tabela desatualizada. Pode-se usar imagens prontas estáticas (conhecidas como cliparts) ou em movimento (clipes de vídeo), sons (clipes sonoros), fontes de letras diferentes para dar efeitos especiais (tudo isso obtido em CD-ROMs com milhares de exemplos de cada tipo).

O fundo (conhecido em inglês como background) de uma tela de texto, por exemplo, pode receber não apenas um entre milhares de tons de cores, como uma imagem padronizada (conhecida como textura), para parecer por exemplo que o texto está sendo escrito sobre um pergaminho, ou sobre um tecido, talvez num céu azul cheio de nuvens.

Com todos esses recursos, uma apresentação pode se transformar de uma sonolenta exposição de números e textos infindáveis, atraindo a atenção do ouvinte com efeitos sonoros e visuais, e permitindo explicar melhor o tema tratado. Com a vantagem de que o palestrante não precisa carregar filmadoras, projetores e magazines de slides, retroprojetores e suas transparências etc. Cabe tudo no seu pequeno computador portátil (notebook), basta ligá-lo ao sistema de som e a um monitor de televisão (ou a um adaptador usado sobre os retroprojetores). Aí, o sucesso da apresentação depende apenas da capacidade do gerente... de não ter feito uma apresentação chata...

Enciclopédia - Da mesma forma, um estudante ou pesquisador não precisa mais se enfiar sob montanhas de livros para estudar um tema. Ele pode aprender com animações, depoimentos sonoros, a narração do tema, fotos e trechos de vídeos, tudo reunido num CD-ROM de uma enciclopédia eletrônica. Pode copiar imagens e sons para seu próprio trabalho, de modo mais simples que fazer uma fotocópia (basta clicar com o mouse sobre a foto e literalmente arrastá-la para o outro ponto da tela onde está o documento de destino.

O próprio conceito de documento muda um pouco. Ele não precisa mais ter valor oficial, receber carimbo de cartório, para ser reconhecido como tal. Um documento é o trabalho que fazemos, incluindo ou não os recursos multimídia - esta matéria jornalística, por exemplo.

Fotograma de um arquivo tipo QuickTime MOV (áudio e vídeo) transmitido via Internet pela rede de televisão CNN, quando da morte do pesquisador Jacques Cousteau, em 25 de junho de 1997

Com os modernos recursos, e lembrando que sons, textos e imagens são apenas arquivos dentro do computador, podemos transmitir eletronicamente para outros lugares, dentro de uma rede de computadores. Assim, podemos enviar uma cópia desse documento para alguém que pode estar na Europa, na Ásia ou em qualquer outro ponto do mundo, em instantes - via Internet, por exemplo. Da mesma forma que faríamos para enviar esse documento pelo cabo telefônico para o computador da sala ao lado. Distância é algo que não tem a menor importância, no mundo eletrônico.

No moderno computador multimídia, podemos por exemplo escrever este texto ao mesmo tempo em que um disco laser de música é tocado pelo computador e um arquivo de vídeo é transmitido junto com uma mensagem de correio eletrônico para um amigo na Europa, só para citar um exemplo das possibilidades.

Compressão - Como as imagens requerem grandes quantidades de espaço para armazenamento, existem sistemas de compressão, em que tudo o que é repetido (uma sucessão de pontos negros ou azuis, por exemplo) é transformado num código, através de um sistema de algoritmos. Para entender melhor, lembremos aquela famosa frase: [O rato roeu a roupa do rei romano]. Existem três grupos de letras [ro]. Se entendermos que o número [1] vale o mesmo que [ro], podemos deixar a frase assim: [O rato 1eu a 1upa do rei 1mano]. Parece estranho, mas veja que economizamos três caracteres. São menos três dígitos para guardar, transmitir etc.

Lógico que gastaríamos mais dígitos para informar que [1=RO], porque o exemplo é pequeno. Mas, num texto longo, o uso intenso desse recurso pode fazer com que um arquivo diminua para a décima parte do tamanho original, sem perder informações. Com imagens e sons, é a mesma coisa. Posso substituir todos os pontos de certa tonalidade de azul por um código simples, identificado no início do arquivo, em vez de ter que definir todas as características de cada ponto. Se a imagem está em movimento, como num trecho de vídeo, o truque é só apresentar as mudanças havidas de um quadro da imagem para o outro.

O padrão mais aceito pelo setor tem sido o MPEG-1 (existe o MPEG-2, usado em televisão). Para que a imagem seja exibida, é necessário que seja traduzida (descomprimida), e isso pode ser feito por programas especiais (geralmente mais lentos no resultado) ou por placas MPEG, que possuem um processador dedicado a esse trabalho de decodificação.

Hardware - Além dos programas adequados, o computador precisa ter alguns equipamentos para o trabalho multimídia. Precisa que a placa controladora de vídeo (que faz a conversão dos sinais do computador para envio ao monitor) tenha memória de vídeo suficiente para processar todo o volume de dados requerido por imagens em movimento; precisa que o próprio monitor tenha condições de exibir essas imagens; há necessidade de uma placa de som que permita receber o som de uma fonte externa (um gravador, por exemplo) e, depois de processado, fazer novamente a saída do som para as caixas acústicas ou o mesmo gravador. Da mesma forma, com o vídeo. E as conexões para a ligação com os equipamentos de leitura de discos laser.

Há também periféricos especiais, como as conexões MIDI - que permitem ao computador conversar com instrumentos musicais, já que ambos seguem o mesmo padrão (o MIDI) e as placas de compressão de imagem, geralmente no padrão MPEG. Já a sigla MPC, geralmente acompanhada de um número, serve para definir se um conjunto mínimo de recursos existe para compatibilizar o software com o hardware. Por exemplo, MPC-1 é o padrão básico de um computador multimídia, com drive leitor de CD-ROM, placa básica de vídeo, placa de som. O MPC-2 é um padrão mais sofisticado, em que o drive de CD-ROM tem de ter acesso mais rápido, a placa de vídeo precisa ter mais memória etc.

Para trabalhar com videoconferência - em que várias pessoas, situadas em lugares diferentes - trocam idéias vendo e ouvindo umas às outras, conversando através do computador -, também será necessária uma pequena câmara de vídeo, um microfone e um voice-modem. Numa sessão de videoconferência, pessoas situadas em salas vizinhas ou em outros países podem ver e ouvir seus interlocutores, escrever ou desenhar simultaneamente numa mesma lousa eletrônica, trocar documentos, como se estivessem todas juntas numa mesma sala de reuniões.

E os novos recursos permitem até jogar um game com centenas de parceiros de lugares distantes, tudo ao mesmo tempo, da mesma forma como conversam entre si ou entrevistam um artista num sistema de bate-papo eletrônico, via BBS ou Internet, cada um na frente de seu computador num horário previamente agendado.

Há também recursos que lêem textos para os cegos, recebem instruções de voz de quem não pode usar as mãos, permitem que deficientes físicos (como o físico inglês Stephen Hawking) passem suas mensagens e se comuniquem com o mundo. Ou seja, não apenas o computador deixou de ser surdo-mudo e cego, mas até auxilia deficientes visuais e auditivos a ouvirem ou verem melhor...