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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática
do jornal A Tribuna de Santos/SP em 19/12/1995
Publicado em Novo Milênio em (mês/dia/ano/horário): 12/13/00 14:47:40
Quem

 
Identidade:
A pessoa: Papai Noel, cidadão universal, centenas de anos de idade; profissão: distribuidor de alegrias e esperanças

Seu micro: PN-95 Super-Special, Heart Disk (HD) de 34 Terabytes, hipermídia, impressora a cores, placa fax-modem extra-performance, em rede com o mundo inteiro

Sou Papai Noel ou um ajudante dele? Como é que estou aqui agora e instantes atrás me viram na televisão, numa outra cidade, com uma fisionomia diferente? Costumo responder que Papai Noel é o que você quiser que seja, basta você querer. Papai Noel veio do céu, está lá e aqui e está dentro de cada um de nós: é o sentido da alegria, do perdão, da esperança, de pensar que somos todos irmãos, de procurarmos nos entender, ajudar uns aos outros.

Quando estou conversando com as crianças, presto atenção não só nas que estão comigo, mas nas que estão por perto, e dificilmente me engano, sei quando a criança acredita em mim ou não, e sempre tomo a iniciativa de fazer perguntas a ela, sobre o que estava fazendo, se ela gostou da visita à tia Leila... Muitas vezes acabo surpreendendo a criança - e mesmo seus pais, que costumam estar por perto - com o que sei da vida dela!

Também não pergunto o que ela quer ganhar, mas se já tomou sua decisão sobre seus desejos natalinos. Procuro incentivá-la a estudar, a praticar esportes. Se a criança me pede uma prancha de surfe, pergunto se ela sabe nadar, sugiro que estude natação... Sei que muitas vezes os pedidos são difíceis de atender, mas nunca digo que são impossíveis, e procuro deixar uma opção, de elas ganharem um presente-surpresa.

Meu primeiro trabalho, quando a criança chega, é “quebrar o gelo”: ela muitas vezes chega assustada, por que os pais dizem sempre que se ela não se comportar, não estudar, não largar a chupeta, Papai Noel não vai dar presente. Gostaria que os pais não agissem assim, isso pode deixar a criança traumatizada. Às vezes, ela acabou de mexer onde não devia, por exemplo, e chega apavorada para falar comigo, chorando, pensando que vou castigá-la. Procuro superar esse bloqueio, e é muito gratificante quando vejo que ela volta a sorrir.

Tento sempre mostrar à criança que Papai Noel gosta dela, que não vai levar em conta suas travessuras. Busco valorizar a criança, saber se ela está se esforçando para melhorar na escola, incentivá-la a se cuidar, praticar esportes, pois sei que ela é inteligente e vai ser uma pessoa cada vez melhor - por quê não haveria de ser assim?

Situações especiais - Quando visito as creches, os hospitais, o assunto é outro. Existem crianças que querem ganhar comida, mas também as que me pedem de volta os pais que estão presos, a avó que morreu. No caso da avó, por exemplo, coloco o lado religioso, procuro explicar que ela está ao lado de Deus, fazendo um outro tipo de trabalho, muito importante, mas que também está com aquela criança em pensamento. No caso do pai preso, não me interessa por que motivo, sei que a criança quer desabafar, procuro apelar pela paciência dessa criança, explicando que logo ele estará de volta. 

É um papo franco e aberto com a criança, ajudando em seu bem-estar, mas que não pode ser muito demorado, por que as outras crianças também querem minha atenção, não posso dar mais atenção a uma que a outra. Mesmo assim, felizmente nunca tive uma situação constrangedora ou por resolver, ou em que tenha percebido que errei.

Computadores - Principalmente nestes últimos três anos, a informática vem invadindo o Natal. Recebo pelo menos um pedido de computador por dia, dias atrás fui até surpreendido por um menino de uns doze anos de idade que chegou com o pedido super-detalhado, incluindo a capacidade de memória, a marca do kit multimídia, o acesso à Internet. Achei fantástico, um pedido desses, assim completo. E eu que apenas aprendi a usar o básico do computador, nem sei direito todos aqueles nomes, preciso me atualizar...

De qualquer forma, as crianças brasileiras ainda não me perguntam muito sobre Internet ou sobre a casa de Papai Noel na Finlândia. As crianças estrangeiras às vezes falam sobre isso, mas, com meu inglês e espanhol básicos, sempre procuro tomar a iniciativa de fazer as perguntas, antecipar suas reações...

Recebo muitas cartas todos os anos, são cerca de 600 a 800, e respondo a todas elas, com o auxílio de meus assistentes (minha família). Talvez no ano que vem, consiga um computador para me ajudar nessas respostas, um amigo disse que me ajudaria com um editor de textos a preparar as respostas, em letra cursiva...

Algumas são cartas simples, outras são super-elaboradas, exigem uma resposta mais pensada, alguma solução. Como no caso (ocorrido anos atrás) de uma criança, excelente aluna, mas que iria perder o ano letivo, porque o pai, repentinamente desempregado, não tinha podido pagar a mensalidade escolar de novembro, e ela não poderia fazer as provas de final de ano... 

E o que fazer, quando uma criança de seis anos me conta numa carta muito caprichada que seu Natal vai ser mais difícil, porque seu pai morreu há pouco tempo e a mãe, em dificuldade financeira para criá-la e aos seus irmãos, não vai poder lhe dar a boneca que ela queria ganhar?  Bem, converso com meus amigos, minha equipe, a gente se junta e procura ajudar. A Patrícia, que me escreveu neste ano, vai ter uma surpresa no Natal...

Campanha - Anos atrás, tinha uma equipe maior me ajudando, no trabalho com as creches e nos hospitais. Esse trabalho ficou menor, não porque as pessoas não ajudem materialmente, mas pela falta de mais pessoas dispostas a participarem com seus conhecimentos, sua prática, seus contatos empresariais, ajudando a coordenar esse trabalho (que é o meu maior problema, quando penso em expandir essa atuação). 

Gostaria que houvesse maior participação das pessoas, não com doações materiais, mas que elas me procurassem para oferecer seu trabalho efetivo, com esse espírito de participação. Gostaria muito de repartir com outras pessoas a alegria que sinto ao estar fazendo esse trabalho, e que também elas ganhassem um presente muito maior do que os presentes dados às crianças. Esse presente maior, que é ver a alegria e a esperança nos rostinhos delas...
 

Minha relação com a informática é:   *<:-)

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Quem - Introdução
Quem - Carlos Brites, funcionário da Refinaria Presidente Bernardes