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TRILHOS (10)
No tempo dos bondes da City... (5)

Página 32 (última) do jornal santista A Tribuna, em 14 de janeiro de 1951 (ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da página com a matéria

Termina hoje o contrato do serviço de bondes entre a Prefeitura e a City

Compromete-se a empresa canadense a continuar executando esse serviço, mas responsabiliza o governo municipal pelo prejuízo que venha a sofrer de amanhã em diante - O prefeito municipal examina atentamente a minuta do contrato da água

Termina hoje o prazo do contrato entre a Cia. City e a Prefeitura Municipal de Santos, para a execução do serviço de transporte de passageiros em carros elétricos.

Como de praxe, e de acordo com as próprias cláusulas contratuais, não poderia a empresa canadense, agora filiada ao grupo Light, deixar, de um dia para o outro, de executar esse serviço, tanto mais que o município não está apto a assumir tão pesada responsabilidade, embora já desde há alguns meses o problema venha sendo estudado, pelo Executivo e pelo Legislativo, tendo sido votada pela Câmara Municipal a lei n. 1.167, que estabelece as condições em que o Executivo poderá solucionar a questão dos transportes, adquirindo o velho material referente á secção de bondes, com que a Cia. Melhoramentos da Cidade de Santos, tradução portuguesa da The City Santos Improvements Co. vem executando há 40 anos o transporte urbano de passageiros.

Continuará a City provisoriamente o serviço - Ontem, estiveram na Prefeitura, sendo recebidos pelo prefeito municipal, sr. Sócrates Aranha de Menezes, os srs. H. T. W. Pilbeam, gerente da Cia. City, e dr. Eduardo de Lamare, advogado da mesma empresa, os quais fizeram entrega ao chefe do Executivo de um ofício, pelo qual comunicam a continuação do serviço, até que o poder público municipal esteja apto a assumir essa obrigação.

Responsabiliza a Prefeitura pelo prejuízo - Desde longa data, a Cia. City vem alegando sofrer déficits com a execução do serviço de bondes, os quais continuariam, apesar das sucessivas elevações dos preços das passagens que passaram de 20 para 40 e 50 centavos. No mesmo ofício, a empresa responsabiliza a Prefeitura pelo prejuízo que venha a ter, de hoje em diante, enquanto estiver executando o serviço em questão.

À entrevista dos representantes da City com o prefeito, assistiram também os membros da Comissão nomeada para fazer o levantamento do acervo da Cia. City, no que tange aos bondes, situação do respectivo pessoal etc.

O ofício da Cia. City - É do seguinte teor o ofício da Cia. City, ontem entregue pessoalmente ao prefeito municipal:

"
Exmo. Sr. Sócrates Aranha de Menezes - D. D. Prefeito Municipal de Santos - Saudações cordiais. - Vimos pela presente comunicar a V. Excia. que, apesar da terminação, em 14 de janeiro do corrente ano, do prazo estabelecido pelo contrato unificado de serviço de bondes, datado de 14 de janeiro de 1911, resolveu esta Companhia, a título precário, manter, da melhor maneira possível, o transporte de passageiros em bondes, enquanto aguarda a solução do problema nas condições estabelecidas na Lei Municipal 1.167, de 21 de dezembro de 1950.

Salientamos que essa nossa atitude, inspirada em propósitos de inteira colaboração com essa M. D. Prefeitura,não importa no reconhecimento de qualquer obrigação de continuar a prestar o serviço, além do termo final expressamente fixado no contrato, isto é, 14 do corrente.

Em consequência, comunicamos ainda a V. Excia. que, a partir de 15 do mês em curso, passaremos a escriturar, em separado, todos os elementos relacionados com o serviço acima referido, a fim de que, em tempo oportuno, tenha essa Prefeitura os dados necessários para ressarcir esta Companhia dos prejuízos que venha a sofrer, em virtude da manutenção do serviço já mencionado.

Aproveitamos a oportunidade para apresentar nossos protestos de elevada estima e distinta consideração.- H. T. W. Pilbeam - Representante
".


"Flagrante da entrega do ofício da Cia. City ao prefeito municipal, pelos srs. H. T. Pilbeam e dr. Eduardo de Lamare, aparecendo também na foto o engenheiro Mário Lopes Leão, presidente da comissão de estudos do problema dos bondes"

Foto e legenda publicadas com a matéria

Iniciou seus trabalhos a comissão que estudará a questão dos bondes - Reuniu-se ontem pela primeira vez a comissão nomeada pelo prefeito municipal, para, sob a presidência do engenheiro Mario Lopes Leão, técnico abalizado em transportes coletivos, estudar a questão dos bondes e a encampação do material da Cia. City pela Prefeitura.

Os seus membros trocaram as primeiras impressões, estabelecendo normas para a orientação a seguir, a fim de dar cabal desempenho à sua espinhosa tarefa, dentro do prazo determinado que é de 60 dias.

Após receber o relatório da referida comissão, o prefeito municipal encaminhará o mesmo, acompanhado de mensagem, à Câmara Municipal, para estudo e pronunciamento.

Contrato da água - Já se encontra em mãos do prefeito municipal a minuta enviada pela secretaria da Viação, do contrato para o fornecimento de água a Santos, com a qual será contemplada a mesma Cia. City. O sr. Socrates Aranha de Menezes, falando à nossa reportagem, declarou que está fazendo um meticuloso exame desse documento, que oportunamente enviará à Câmara, a qual, como oportunamente noticiamos, fez uma série de ressalvas, pleiteando a introdução de diversos dispositivos no contrato, julgando acauteladores do interesse do município e do público.

Reunião periódica de diretores de companhias do Grupo "Light" - Todos os meses os diretores das empresas entrosadas no grupo "Light", espalhadas por todo o Brasil, reúnem-se para trocar impressões e examinar aspectos dos serviços executados por cada uma dessas organizações.

Este mês, em homenagem à cidade de Santos, a reunião respectiva teve lugar, em Santos, realizando-se anteontem. Aqui estiveram cerca de 22 diretores de cias. filiadas à "Light", entre eles o sr. J M. Bell, diretor executivo das empresas associadas do Grupo "Light", o qual aproveitou sua vinda a Santos para fazer uma visita de cortesia ao governador da cidade, em companhia do sr. H. T. Pilbeam, gerente da City.

A presença da City em Santos terminou definitivamente em 1967, quando a distribuição de eletricidade foi assumida pela Light. Mas, a empresa (sob austera administração canadense - daí o nome do Colégio Canadá, construído em terreno cedido pela City no Boqueirão) deixou saudades entre os santistas, pelo padrão dos serviços prestados e principalmente pelos baixos preços cobrados...

Bonde 12, passando pelo final da Avenida Ana Costa, ao lado do Atlântico Hotel, no Gonzaga, nos anos 40/50
Bonde 12, passando pelo final da Avenida Ana Costa, ao lado do Atlântico Hotel
no Gonzaga, nos anos 40/50

No próximo trilho, começa a história dos bondes de Santos. Tem muita curiosidade... você sabia que já existiram bondes fúnebres e irrigadores?

Carlos Pimentel Mendes