Imagem: reprodução parcial da matéria original
NA POLÍCIA MARÍTIMA
Fita tragicômica - O sr. Anthero Moura não é bispo
Causaram grande
impressão as revelações que ontem fizemos sobre o escandaloso fato de ter o indivíduo Francisco Soares das Neves servido, durante mais de dois
meses, na Polícia Marítima sob o nome de Ambrozio Bernardo dos Santos (e não das Neves, como por engano saiu).
Logo que saiu o nosso jornal houve grande movimentação na repartição de Polícia Marítima, sendo
chamados ali, pelo telefone, os repórteres de todos os jornais da terra. Foi uma assembléia imponente, sendo esta folha representada pelo sr. Júlio
de Santiago, diretor da nossa sucursal em S. Vicente.
O sr. dr. Vieira de Campos, delegado de polícia da 2ª circunscrição, fez chamar à sua presença o
falso Ambrozio e interrogou-o à vista do sr. capitão Anthero de Moura e dos representantes do 4º poder, ali congregados.
- Foi aqui o sr. Anthero de Moura que o mandou tomar conta do lugar, com o nome de Ambrosio?
- Não, senhor - respondeu ele. - O sr. Anthero de Moura me havia prometido um emprego, mas como
nunca mais que vinha, eu, um dia, encontrando com o seu Plínio (seu Plínio é o escrivão dali), este me perguntou:
- Você conhece o Ambrosio Bernardo dos Santos?
- É este seu criado - respondi eu, que sabia da nomeação do outro e sabia também que ele estava
fora.
- Pois então - disse o seu Plínio - vá tomar posse amanhã. E eu vim.
- É verdade - perguntou o sr. Anthero de Moura - que eu procurei sustentar aqui que você é mesmo o
Ambrosio?
- Não, senhor, que eu saiba.
- Ainda um dia destes - perguntou ainda o sr. Anthero - eu não prendi você por ter furtado umas
bolas de bilhar, em S. Vicente?
- Sim, senhor, é verdade.
Ficou, pois, patente, pela confissão do criminoso, que não é o sr. Anthero de Moura o bispo
que crismou o Francisco das Neves em Ambrosio dos Santos e nós folgamos em retificar nesta parte a nossa notícia, pois doía-nos que uma autoridade,
e, ainda mais, um homem que tínhamos em bastante consideração, se prestasse a ser cúmplice desse conto do vigário de nova espécie.
Resta ainda, porém, um ponto obscuro nessa questão.
Por quê o sr. dr. Vieira de Campos não prendeu e nem processou Francisco Soares das Neves pelo
crime gravíssimo que cometeu?
S. s. não pode, sequer, alegar que o culpado se furtara, pela fuga, ao castigo, pois ontem soube
rapidamente onde encontrá-lo.
Há, portanto, um poder oculto que fez com que um indivíduo fosse recebido como funcionário numa
repartição pública, sem se lhe exigir a menor prova de identidade e que, descoberto o seu crime, passeia impunemente pelas ruas de S. Vicente e de
Santos.
Qual esse poder?
Eis o que havemos de descobrir. |