A presença e os investimentos japoneses no Brasil (V)
[...]
Missão Uemura e instalação do Comitê Empresarial Brasil-Japão
A 3 de dezembro de 1972, veio ao Brasil uma grande missão econômica privada japonesa, chefiada pelo
então presidente do Keindaren, composta ao todo por 31 pessoas. Entre elas: Toshio Dokoh, presidente da Toshiba; Sohei Nakayama, conselheiro do
Kohgyo Bank; Arakazu Ojima, conselheiro da Nihon Sitetsu; Toyoshiburo Taniguti, presidente da Toyhobo; Fumihiro Kawano, diretor das Indústrias
Pesadas da Mitsubishi; Kohji Kobayashi, presidente da NEC; Hohroku Ando, da Cimento Onoda; Hideo Shinojima, presidente da Química Mitsubishi; Eiji
Toyota, presidente da Toyota e Saitiro Kaneko, presidente das Indústrias de Papel Juhjoh.
A missão, após sucessivos encontros com o presidente Medici, ministros e outras importantes
autoridades brasileiras, visitou várias localidades como a Usiminas, a Transamazônica, a zona industrial de Aratu e Urubupungá, encontrando-se
finalmente, em São Paulo, com empresários japoneses radicados no Brasil.
Pouco antes, o ministro Delfim Netto havia visitado o Japão e obtido financiamento para importações
da ordem de US$ 180 milhões, destinado às grandes siderúrgicas; US$ 3 milhões para instalações portuárias e US$ 56 milhões para equipamentos
destinados aos corredores de exportação.
A missão Uemura, por seu lado, trouxe outros importes ao caráter permanente do diálogo Brasil-Japão
a nível empresarial. Deu lugar à instalação, em novembro de 1973, ao Comitê Empresarial Brasil-Japão, inaugurado em Tóquio, e cujas centrais
passariam a localizar-se no Keindanren, do lado japonês, e em São Paulo. As principais metas de tal comitê podem ser assim resumidas:
a) troca de informações destinada a reforçar o intercâmbio empresarial;
b) evitar bitributação;
c) esforçar-se para obter o equilíbrio da balança comercial;
d) no caso de problemas de difícil resolução, a nível empresarial, levar o caso aos respectivos
governos, solicitando providências e fornecendo sugestões;
e) facilitar os investimentos;
f) estudar a colaboração do Japão nos setores de siderurgia, química e outros;
g) do lado brasileiro, estudar o sistema japonês no que concerne a financiamento, leasing
etc.;
h) investimento japonês na agricultura brasileira;
i) manter o pessoal capacitado, i. e., elementos que conheçam ambos os idiomas. dos dois países.
Porém, a crise do petróleo abalou profundamente a economia japonesa e pôs termo, ao menos
temporariamente, à manutenção do alto nível de crescimento da economia japonesa. Aquele país que importa a quase totalidade do seu consumo de
produtos primários, principalmente de países em desenvolvimento, obrigou-se a aumentar sua colaboração para com estes. Por isto, a venda de ORTN
(N.E.: Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional),
na ordem de 10 bilhões de ienes, teve uma aceitação incomum, esgotando-se em apenas cinco dias.
A visita ao Brasil do primeiro-ministro Tanaka
A 10 de setembro de 1974 foi publicado no Brasil o II PND, cujas perspectivas podem ser
sintetizadas no seguinte quadro:
Perspectivas da economia brasileira: 1979 |
Magnitudes globais |
Previsão para
1974 |
Indicador
para 1979 |
Aumento no
período (%) |
Produto Interno Bruto (PIB)
(Cr$ bilhões de 1975) (*) |
785,0 |
1.264,0 |
61 |
População (milhões) |
104,2 |
119,7 |
15 |
PIB Per Capita (Cr$ mil de
1975) |
7,5 |
10,5 |
40 |
PIB (US$ bilhões de 1973) (**) |
78,0 |
125,0 |
61 |
PIB Per Capita (US$ de
1973)(**) |
748,0 |
1.044,0 |
40 |
Investimento Bruto Fixo (Cr$
Bilhões de 1975) |
196,0 |
316,0 |
61 |
Consumo Pessoal (Cr$ bilhões
de 1975) |
546,0 |
847,0 |
55 |
Produto Industrial (Cr$
bilhões de 1975) |
212,0 |
374,0 |
76 |
Produto da Indústria de
Transformação (Cr$ bilhões de 1975) |
154,0 |
274,0 |
78 |
Produto Agrícola (Cr$ bilhões
de 1975) |
93,0 |
130,0 |
40 |
População Economicamente Ativa
(milhões) |
32,9 |
38,0 |
16 |
Emprego Industrial (milhões) |
6,1 |
8,1 |
33 |
Emprego na Indústria de
Transformação (milhões) |
3,3 |
4,2 |
27 |
Exportações de Mercadorias
(US$ bilhões) |
8,0 |
20,0 |
150 |
(*) Valores correspondentes aos dados revistos das Contas Nacionais
para o período 1970-1973 (FGV).
(**) Taxa de conversão: Cr$/US$ 6,776, estimado pelo IPEA, para
1973. Como se vê, o cálculo do valor do PIB em US$ foi feito através da taxa de conversão estimada para 1973 (aplicada ao PIB em cruzeiros de
1973), de modo a evitar todo o emaranhado de realinhamentos, desvalorizações e valorizações verificado posteriormente. Tentar obter uma taxa de
câmbio esperada para 1975 pela divisão do valor do PIB em Cr$ de 1975 pelo em US$ e, pois, desprovido de qualquer sentido por serem magnitudes
não comparáveis. A propósito da política cambial em 1975 a única coisa que se pode dize é que continuará o sistema de minidesvalorizações. |
Uma semana após, a 16 de setembro do mesmo ano, Kakuei Tanaka, primeiro-ministro japonês, visitou o
Brasil. De seu encontro com o presidente Geisel resultou um comunicado conjunto, cujos principais pontos foram os seguintes:
a) ênfase nos pontos comuns, no que se refere à conjuntura internacional;
b) manifesto de satisfação quanto ao aumento do intercâmbio comercial Brasil-Japão;
c) acordo para a constituição de uma empresa bilateral destinada a explorar as jazidas de bauxita
da Amazônia;
d) colaboração no setor de produção de celulose;
e) colaboração nos setores de agricultura e pesca brasileiros;
f) instalação de uma reunião conjunta a nível ministerial, em ambos os países;
g) convite ao presidente Geisel para uma visita ao Japão;
h) agradecimento de Tanaka pela ótima receptividade encontrada no Brasil.
Em termos gerais, a visita de Kakuei Tanaka abriu novos horizontes no relacionamento entre os dois
países. Embora tenha deixado como saldo concreto apenas dois projetos, a Albrás e a Flonibra, aliados a quatro outros já definidos anteriores, é
importante ressaltar que todos se caracterizaram pela participação majoritária do Brasil e minoritária do Japão, este representado pelos grupos
empresariais privados.
O projeto Albrás representa um investimento total de Cr$ 100 milhões, com aumento previsto para Cr$
2,5 bilhões, em 1985. A CVRD entra com 51% e a Light Metal, japonesa, com 49%. Prevê-se uma produção anual de alumínio da ordem de 640 milhões de
toneladas em 1985. Por seu lado, o Projeto Flonibra exigirá um investimento de Cr$ 600 milhões em sua primeira etapa, com a participação de 51% da
CVRD, 41% da Nippak Pulp e 8% da Cenibra, e uma produção anual prevista em 800 mil toneladas de celulose e 3 milhões de toneladas e chips.
Um terceiro projeto, o Cenibra, representa um investimento total de Cr$ 672 milhões, com
participação da CVRD em 50,625% e 49,375% do Japão, dos quais 38% originam-se do Fundo de Colaboração Econômica no exterior e o resto de um
consórcio de 16 empresas japonesas do setor de papel.
As missões Yamashita e Fukuda
No segundo semestre de 1974, a economia japonesa foi marcada pelo fim dos altos índices de
crescimento. Naquele ano, o índice de crescimento econômico do Japão foi de 2%, enquanto que o Brasil alcançava a taxa de 8,7%, num momento em que a
economia mundial mergulhava numa profunda depressão.
Refletindo esta conjuntura internacional, a economia japonesa apresentou duas graves distorções:
uma na balança comercial e outra na protelação forçada de grandes projetos. Assim, a visita ao Brasil de duas missões político-econômicas, a
Yamashita e a Fukuda, nada mais foi que uma conseqüência da situação japonesa e ambas estavam voltadas para o reajustamento destas distorções.
Na época, a balança comercial Brasil-Japão era nitidamente favorável ao último, na ordem de US$ 700
_______ (N.E.: espaço em branco no original. bilhões, conforme tabela publicada
em outra parte do álbum) e não faltavam críticas do gênero: "O
investimento japonês traz uma oneração paralela indesejável ao Brasil. Um exemplo é a balança comercial".
O intuito do governo japonês, portanto, era terminar com este tipo de má interpretação através de missões comerciais competentes.
Hideaki Yamashita, o chefe de uma das missões, foi secretário-geral do Ministério da Indústria e
Comércio do Japão, e seu objetivo era promover a importação de produtos brasileiros para seu país. Durante sua visita, Yamashita teve oportunidade
de destacar sérios problemas da economia japonesa, como um grande aumento das exportações daquele país, o recrudescimento da inflação e, em
conseqüência, o encarecimento brutal de mão-de-obra, aliada ao aumento de pedidos de falência e o crescimento vertiginoso de reservas de divisas,
uma vez que a importação não acompanhava o ritmo da exportação. Assim, tornava-se necessário adotar medidas eficientes, tais como o aumento da
importação.
A visita de Yamashita, ainda que não tenha promovido um aumento substancial das exportações
brasileiras para o Japão, pois as barreiras burocráticas não são removíveis de um dia para o outro, permitiu que fossem estabelecidas certas bases
para que tal esforço tivesse resultados positivos.
Em 1975, veio ao Brasil outra importante missão japonesa chefiada pelo então
vice-primeiro-ministro, Fukuda, para resolver o caso do projeto Albrás, para o qual o primeiro-ministro Tanaka prometera colaboração, em sua visita
ao Brasil, época em que o mercado internacional era muito favorável à produção de alumínio. O mesmo já não acontecia após a depressão econômica
internacional, resultando em uma situação pouco cômoda ao Japão que, além do mais, estava comprometido com outro projeto, semelhante ao da Albrás,
na Indonésia.
Em várias oportunidades, o governo daquele país pediu o adiamento do projeto brasileiro que, porém,
era considerado de grande importância para o nosso governo. Assim, a missão Fukuda veio para cá com o objetivo de resolver o impasse criado, de
maneira definitiva, resolução esta assim traduzida, sinteticamente: em outubro de 1975 seria constituída uma companhia-piloto para uma pesquisa nas
jazidas de bauxita da Amazônia e uma vez caracterizada a viabilidade do projeto, seria imediatamente implantada uma empresa bilateral, na qual o
Brasil participaria com 51% e o Japão, com o restante. Essa decisão, embora tardia, refletia em parte o sistema decisório japonês, de um modo geral
bem recebido pelas autoridades e pela imprensa brasileira.
Entre as importantes visitas realizadas por personalidades japonesas, há ainda que se destacar a
visita do ministro da Indústria e Comércio do Japão, Toshio Koomoto, um ano depois da vinda da Missão Fukuda, a 4 de julho de 1976. Como a visita do
presidente Geisel ao Japão estava programada para setembro do mesmo ano, Koomoto veio para acertar, antecipadamente, com autoridades brasileiras,
problemas provocados pelos atrasos de projetos nipo-brasileiros, como o Albrás, a Cenibra, Tubarão e outros.
Durante sua visita, num encontro com membros da Câmara de Comércio Japonesa, Koomoto afirmou: "O
Brasil é grande não apenas sob o ponto de vista territorial e de recursos naturais, mas sobretudo pela dedicação ao ensino, ao trabalho, a
iniciativa própria e a criatividade dos brasileiros, aspectos que reputo muito importantes".
IX - A visita do presidente Geisel ao Japão
Em setembro de 1976, esteve em visita ao Japão o presidente Ernesto Geisel, que se fez acompanhar
pelos ministros das Relações Exteriores, Azeredo da Silveira; da Indústria e do Comércio, Severo Gomes; das Minas e Energia, Shigeaki Ueki; e do
Planejamento, Reis Veloso. Na oportunidade, durante um almoço que lhe foi oferecido pelo Keidanren, o presidente declarou que "os
níveis alcançados na cooperação econômica e comercial entre os nossos países estão longe de representar, significativamente, as potencialidades
dessa cooperação".
O presidente do Keindaren, por sua vez, acrescentou que "alcançamos
uma nova etapa nas relações de amizade entre o Japão e o Brasil".
Durante a visita, foram estes os principais itens negociados:
a) Fornecimento adicional de minério de ferro às indústrias japonesas. A Vale do Rio Doce assinou
contratos para o fornecimento de 370 milhões de toneladas, a partir de 1977, envolvendo uma receita calculada em 6 bilhões de dólares, em 15 anos.
b) Fornecimento de minério de ferro beneficiado ao Japão, através da Nibrasco, resultando na
exportação de 6 milhões de toneladas a partir de 1977 e englobando uma receita estimada em 2,7 bilhões de dólares, em 15 anos.
c) Fornecimento ao Japão de celulose, através da Cenibra, ou seja, a exportação anual de 50% da
produção, também a partir de 1977, com uma receita estimada de 1,0 bilhão de dólares, em 15 anos.
d) Fornecimento ao Japão de 25% da produção anual de aço em placas, da Usina de Tubarão, a partir
de 1977, com uma receita estimada em 2,3 bilhões de dólares;
e) Exportação de soja, milho e açúcar.
f) Implantação do projeto da Albrás e posterior exportação de bauxita e alumínio em lingotes para o
Japão.
g) O financiamento, em parte, pelo Japão, da construção da primeira etapa de uma siderúrgica em
Vitória (ES).
h) Crédito stand by aberto pelo governo nipônico para a aquisição de equipamentos destinados
à usina de Ipatinga
i) Exame da concessão de empréstimo para projetos industriais brasileiros na área do BNDE.
j) Exame sobre a abertura de uma linha de crédito para repasse a pequenas e médias empresas
brasileiras, na área do Banco do Brasil.
k) Concessão de empréstimos pelo Eximbank japonês destinados a financiar a melhoria e expansão dos
portos brasileiros.
l) Financiamento para implantação do terminal marítimo no Norte de Vitória (ES).
m) Recursos para aquisição de produtos japoneses (suppliers credits).
n) Acordos genéricos para a transferência de tecnologia para empreendimentos brasileiros.
o) Experiência piloto para a exploração agrícola em Minas Gerais.
p) Empréstimos para o desenvolvimento de diversos projetos, inclusive construção naval.
X - Futuro do relacionamento Brasil-Japão
Problemas atuais - Em 1977, o crescimento econômico brasileiro limitou-se a aproximadamente
5,8%, cifra quase idêntica àquela registrada pelos países em desenvolvimento que, em média, situou-se em torno de 5,7%. Assim mesmo, o índice obtido
pelo Brasil foi superior ao de 4,4% obtido nos países desenvolvidos.
O governo brasileiro esforçou-se para concretizar uma desaceleração da economia brasileira, medida
inadiável para a contenção da inflação e do aumento gradativo da dívida externa.
Nesse contexto, muitos dos grandes projetos nacionais enumerados no II PND tiveram que ser
protelados ou, então, realizados em parte. A 29 de setembro de 1976, o governo anunciou os projetos que teriam prioridade no orçamento governamental
do exercício seguinte, que sofreu uma redução de 15% (cerca de Cr$ 40 bilhões).
Desta forma, alguns projetos nipo-brasileiros também tiveram que ser adiados e, entre eles, o
chamado Projeto Tubarão, que previa de início uma produção anual da ordem de 300 mil toneladas de aço. Na constituição do capital, 51% caberiam à
Siderbrás e o resto seria dividido entre o Consider (Itália) e a Kawatetsu (Japão).
Histórico - Em julho de 1977, a Siderbrás pediu ao governo Cr$ 61 bilhões destinados à
consecução do projeto no exercício de 1978. Porém, os ministros da área econômica não aceitaram a proposta e a 15 de agosto de 1977 o ministro
Calmon de Sá, da Indústria e Comércio, comunicou a Alfredo Américo de Silva, presidente da Siderbrás, e a Aluísio Marins, secretário do Consider,
que o limite máximo seria de Cr$ 45 bilhões, 16 a menos do que o pedido.
Com isto, a Siderbrás não teve outra alternativa senão a de dar prioridade ao plano de expansão de
três outras grandes siderúrgicas, relegando o Projeto Tubarão a segundo plano.
A 19 de maio de 1977, após um estudo conjunto da Consider e da Siderbrás, decidiu-se que em 1978 o
citado projeto não seria incluído no orçamento global.
Retrocedendo um pouco, nota-se que o ministro da Indústria e Comércio dava a entender, até meados
de 1977, que a protelação da realização do Projeto Tubarão traria vantagens para ambos os lados. Porém, a 17 de agosto, Kenzuo Yoshida, embaixador
do Japão no Brasil, afirmou que seu país tinha interesse na realização do projeto, conforme o programado.
No dia seguinte, Calmon de Sá encontrou-se com Yoshida e ambos deram início ao reexame do assunto,
enquanto prosseguiam as negociações entre Brasil, Japão e Itália. A 16 de março de 1978, chegou-se finalmente a um acordo, cujos principais pontos
eram os seguintes:
a) o investimento do governo brasileiro seria financiado pelos bancos japoneses;
b) a produção seria absorvida em 60% pelo Brasil e ao Japão e à Itália caberiam 15%,
respectivamente.
Outro projeto em recesso é o da Cenibra que, embora tenha entrado em fase de produção em 1977, está
enfrentando a redução da procura de papel e celulose no mercado internacional, retração esta que reflete a desaceleração da economia, provocada pela
crise do petróleo. Esta situação trouxe agora um problema não previsto no início do projeto, principalmente no que se refere ao preço de exportação.
Se, de um lado, certos projetos nipo-brasileiros sofreram problemas provocados pela conjuntura
internacional, portanto inteiramente alheios à vontade de ambas as partes, o Projeto de Desenvolvimento do Cerrado Brasileiro está em fase de ótimo
andamento, evidenciando o sucesso de colaboração entre ambos os países. Em março do corrente ano, os investidores decidiram-se pela constituição de
uma empresa bilateral destinada à sua consecução.
De outro lado, o problema da balança comercial entre Brasil e Japão, que já foi um ponto
nevrálgico, atingiu o equilíbrio.
No relacionamento econômico entre o Brasil e o Japão não existe qualquer ponto de atrito de grande
monta e tudo indica que ambos os países marcharão lado a lado para o ano 2000.
Recentemente, Hiroshi Saito, professor de uma das cadeiras de Comunicação da Universidade de São
Paulo, opinou que a expressão "marcha das empresas japonesas", comumente usada no Japão para designar o investimento japonês em outros
países, não é uma expressão feliz. Deve ser substituída por "imigração das empresas japonesas", ponto de vista defendido há vários anos por
Seigui Fujihira, diretor-presidente da Howa Indústria de Máquinas Têxteis, e por Katuszo Yamamoto, presidente da Sadokin Lâmpadas S.A.
Dentro desta mesma linha de raciocínio, Ikuso Hirokawa, presidente da Câmara de Comércio Japonesa,
por ocasião da visita do presidente Geisel ao Japão, afirmou categoricamente que "as empresas
japonesas são os novos membros da indústria nacional brasileira".
Os imigrantes agricultores japoneses, em épocas anteriores, foram severamente criticados por alguns
que os classificavam de contingentes "não assimiláveis", conceito este totalmente desmentido, pois os japoneses demonstraram ser os elementos
que melhor se fixam na terra, vencendo todas as barreiras religiosas, étnicas e culturais, e integrando-se perfeitamente à sociedade brasileira,
conforme mostram as estatísticas oficiais.
Por que não podemos esperar o mesmo do futuro relacionamento econômico Brasil-Japão?
As relações comerciais entre o Brasil e o Japão
Para credenciamento das empresas estrangeiras para acesso a crédito a longo prazo, há necessidade
de novas regras, que caberiam à Finame firmar. O fato de restringir-se o acesso a empresas que pratiquem remessa de royalties que têm índice
de nacionalização inferior aos praticados no mercado, são vistos pelos investidores japoneses como uma discriminação ao capital estrangeiro.
Desejam esses investidores uma garantia de mercado antecipada que o financiamento ao comprador de
um equipamento faculta. Entendem eles que a sistemática reflete uma discriminação ao capital estrangeiro no Brasil. Há também entre esses mesmos
empresários apreensão quanto à política brasileira de tecnologia, na qual, para os mesmos, a falta de organicidade torna-a confusa e indefinida.
Entre o Keidanren (Confederação dos Negócios Japoneses - Federação das Organizações Econômicas -
órgão do empresariado japonês) e a Embaixada do Brasil em Tóquio já houve debates em torno de vários problemas, inclusive aquele.
O comércio internacional deve pautar-se pela diminuição dos superávits dos países da Opep, dos
industrializados, e dificilmente haverá estabilidade sem esse entendimento por parte de inúmeras nações - as ricas. Entende o Japão, segundo
autoridades no assunto, que tal solução é difícil, além do que já se fez no passado, no sentido de reduzir a concentração de exportações japonesas e
abrir um pouco mais o País ao mercado exterior, o que seria boa saída para o alargamento de investimentos japoneses no Brasil.
As sutilezas da política industrial brasileira, a contrabalançar incentivos para o industrial
nacional e o investidor estrangeiro, tem dificultado o diálogo objetivo com os japoneses. Além da retórica da complementariedade, os dois países
deveriam inaugurar algo novo em seu relacionamento. Existem no Brasil empresários que podem negociar joint ventures
(N.E.: parcerias) com seus colegas japoneses.
O Brasil dispõe-se agora a assinar um contrato a longo prazo para garantir o fornecimento de
produtos agrícolas e minérios. O déficit do Brasil em sua balança comercial com o Japão vem diminuindo à medida que aumentam as trocas entre os dois
países e os investimentos japoneses no Brasil.
Em 1970 o comércio entre os dois países alcançava apenas US$ 300 milhões por ano. Nos últimos três
anos somente o aumento anual vem sendo de US$ 1.550 milhões. O Brasil com 117 milhões de habitantes e um Produto Nacional Bruto representa inúmeras
oportunidades para investidores estrangeiros.
Não há problemas para a coexistência entre investidores estrangeiros e empresas nacionais. No
Brasil, diante da grande oportunidade, há inúmeras possibilidades para investimentos. Difícil se torna obter a estabilidade mundial se os países que
sempre conseguem superávits comerciais não chegaram a acordos para diminuir o desequilíbrio com os países que registram déficits.
Quanto ao panorama geral dos mecanismos que compõem a política oficial no setor tecnológico, do
lado japonês se colocam manifestações de apreensões (com relação a esses mecanismos), sempre como fatores inibidores à expansão dos investimentos de
suas empresas ou mesmo empecilhos a novos projetos.
O governo brasileiro deve publicar, regularmente, uma relação dos produtos e tecnologias
considerados "bem-vindos". Os japoneses pretendem uma definição sobre os problemas da transferência de tecnologia e pagamento de royalties
das subsidiárias e matrizes. Eles como proprietários da tecnologia consideram a política brasileira indefinida e confusa.
Reclamam os japoneses sobre um detalhe da legislação brasileira (Circular nº 30 da Finame). Os
pontos que provocaram reação no meio empresarial japonês estão traçados justamente nessa Circular. O problema de pagamento dos royalties é
objeto de um decreto de 1965 que regulamenta a lei que trata do capital estrangeiro. Consolida a nova política industrial, apenas esboçada, pela
Resolução nº 9, ao criar condições para empresas estrangeiras conseguirem créditos favorecidos no Brasil, além de direcionar os setores industriais,
a especialização e o aprimoramento técnico através do impedimento de novos cadastros em áreas onde operam quatro empresas japonesas. Os japoneses
perceberam as sutilezas dessa mudança. O governo brasileiro procura demonstrar que não irá ceder se uma empresa decide investir no Brasil - hoje não
deve contar ela com as mesmas condições oferecidas às outras que se instalaram antes.
Quanto ao problema dos royalties o investidor tem um compromisso firmado com o país e que
está acima de um simples rateio de custos, de uma pesquisa da matriz. A pesquisa já é muito bem paga com o aprimoramento do produto e com os
rendimentos produzidos em sua sofisticação. Os japoneses tendem a aceitar plenamente a posição brasileira porque eles enfrentaram situação
semelhante em passado recente, quando tiveram que adquirir tecnologia.
Todos os projetos negociados, durante a visita do presidente Geisel ao Japão em 1976, foram
decididos ou estão em fase de detalhamento. A retomada do crescimento da economia japonesa, que deverá apresentar este ano uma taxa de 7%, significa
mais importação para o Japão, redução de seu superávit comercial e sobretudo pode propiciar a concretização de uma proposta apresentada pelo Brasil,
durante aquela visita, segundo a qual seria aberta uma linha de crédito sem vinculação a produtos determinados; eis, em suma, de maneira simples,
essas relações entre os dois países.
Em maio do corrente ano (1978), o ministro do Planejamento Reis Veloso
participou de um seminário com empresários japoneses em Tóquio, visando dirimir pontos conflitantes e encontrar um denominador comum de interesses
no relacionamento comercial entre o Brasil e o Japão. |
Arigatô Gozaimasu Perdem-se
nas noites do tempo as origens do povo nipônico. Lenta, mas seguramente, os japoneses vêm sedimentando sua cultura própria, sua História, sem
evolver, ora fechados para outros povos, ora abertos, sem perderem, entretanto, as características originalíssimas que fizeram do Império do Sol
Nascente uma extraordinária síntese de cultura universal, ímpar em qualquer latitude.
Embora insulado no oriente extremo, nos antípodas do Velho Mundo, já no alvorecer do século XVI o Japão recebera
os primeiros reflexos do cristianismo e da civilização ocidental levados por São Francisco Xavier, a serviço de Portugal. E pouco mais adiante, em
1603, missionários jesuítas publicavam o primeiro dicionário Japonês-Português, em que se inseriam algumas palavras lusitanas incorporadas para
sempre no vocabulário nipônico.
Era a ligação, que se estreitava; a aproximação, que se fazia; e, pois, a integração cultural ao lado oposto do
globo. E, singular: desde aí, não mais se poderia dizer que o Dai-Nipon seria totalmente estranho aos países de língua portuguesa, principalmente o
Brasil, onde o dia 18 de junho de 1908 se alçou em importantíssimo marco nas relações entre os dois povos, eis que naquela data o já histórico navio
Kasato Maru aqui aportou com 165 famílias, num total de 781 pessoas, dispostas a se dedicarem aos trabalhos exigidos pelos cafezais
paulistas.
Nestes 70 anos bem vividos depois da aventura do Kasato Maru, o japonês, sem perder as suas admiráveis
características multisseculares, vem desenvolvendo magnífico processo de plena integração à vida brasileira. De tal sorte que não há ramo do saber,
das artes, da ciência, da representação política, da administração pública ou privada em que não se deparem filhos brasileiríssimos desse admirável
país dos crisântemos e das cerejeiras.
E agora que tudo se tornou mais fácil, que já não há falar-se em problemas de integração, nada mais natural do
que reverenciarmos, com todo o nosso espírito e o nosso coração, aqueles audazes pioneiros de 1908. Até porque não exageraremos ao afirmar que o
Brasil não seria tão próspero se não houvesse contado com o concurso dos descendentes daquele punhado de oportunos imigrantes que, investindo sobre
as benesses do futuro, avistaram pela primeira vez a Terra de Santa Cruz da amurada do Kasato Maru.
Integração, sim, mas também a irresistível vocação ecumênica do brasileiro que, mercê de suas raízes lusitanas,
tem sabido receber, amalgamar, aculturar os filhos de todas as nações da terra, abrasileirando-os no cadinho que o devir naturalmente condiciona.
Entre as potências internacionais, o Japão hoje figura como nação de enorme desenvolvimento técnico, cultural e
econômico. Recorde-se que já em 1949 o físico Hideo Yukawa, alteando mais ainda a glorificação de sua pátria, conquistou o primeiro prêmio Nobel; e
em 1965, seguindo-lhe a trilha, Shin-Ichiro Tomonaga repete-lhe o triunfo e, por fim, no ramo da literatura, em 1968, Yasunari Kawabata empolga
novamente esse galardão internacional. Se assim se eleva nas luzidas áreas da ciência e da cultura, no campo empresarial suas conquistas não se
revelam menos expressivas. Em 1971, contribuiu com 48,2% da produção naval do mundo; em 1974 atingiu o 2º lugar mundial na produção de automóveis
com 3.718.000 unidades. E no tocante à fabricação internacional de aparelhos de TV a cores, 30% são japoneses. Hoje o país concorre com 7,8% das
exportações mundiais e com 6,2% das importações. E mais: sua renda per capita já atingiu US$ 3.500.
As inversões japonesas em nosso meio atingiram em 1976 a US$ 1 bilhão; e com investimentos nipônicos a nossa
Usiminas é uma das maiores siderúrgicas da América Latina, tendo produzido 2,7 milhões de toneladas em 1977. Inestimável, ainda, a contribuição
desse povo exemplarmente trabalhador e ordeiro em nosso desenvolvimento agrícola: começaram na cafeicultura; passaram, prosperamente, a
arrendatários, foram a meeiros e, finalmente, a donos de suas próprias terras, sendo de salientar que com os seus valiosos conhecimentos agrários
trouxeram novas variedade de plantas e métodos outros de trabalho até então inéditos em nosso País. Além disso, a difusão da mentalidade
cooperativista aqui verificada muito lhes deve, sobretudo a partir de 1930, quando eles começaram a se expandir no comércio vinculado à agricultura
e, mais tarde, num magnífico exemplo de integração, alcançaram todas as atividades produtivas e técnico-científicas no Brasil.
É a esse aglomerado humano, composto de mais de 700.000 pessoas, e que representa o maior contingente japonês
fora do arquipélago, que Suas Altezas o príncipe herdeiro Akihito e a princesa Michiko, numa demonstração de carinho, e com o elogiável intuito de
nos conhecer mais de perto e, por certo, mais nos quererem, virão visitar.
Antecipando-lhes os nossos respeitosos cumprimentos e desejando-lhes, neste ensejo, uma estada amplamente feliz,
deixamos aqui consignadas, mais uma vez, a esse grande e nobre povo, que se distingue entre os lídimos fautores do progresso brasileiro, as nossas
sinceras e profundas homenagens de gratidão.
Theobaldo De Nigris
Presidente
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
Serviço Social da Indústria
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Instituto Roberto Simonsen |