A presença e os investimentos japoneses no Brasil (II)
[...]
V - O investimento das empresas japonesas no Brasil
Em primeiro lugar, veremos a evolução de investimentos japoneses no Brasil, quantitativamente,
através do relatório do prof. Hajime Mizuno, da Universidade de Sophia.
De acordo com a tabela cinco, fica evidente que o investimento maciço começou
na década de 70, o que é explicado em parte pela situação japonesa.
O Japão, antes da crise do petróleo, criou um excesso de liquidez monetária e também liberou os
investimentos para outros países, e, no Brasil, que apresentava um clima favorável para tanto. Em 1975, essa onda de investimento ainda não tinha
perdido a força, como o demonstra a tabela 2.
Desta forma, o volume de investimentos, que não passava de US$ 50 milhões, atingiu, em 1976, a
cifra de US$ 1,59 bilhão, ou seja, um crescimento anual da ordem de 53,8%, enquanto que, no mesmo período, o investimento global de capital
estrangeiro registrou um crescimento médio anual de 27%.
Se não computarmos os reinvestimentos, o Japão ocupa o segundo lugar como país investidor no
Brasil, logo abaixo dos Estados Unidos, e se os considerarmos, fica em terceiro lugar, isto é, depois dos EUA e da República Federal da Alemanha (tabela
1).
Analisando mais detalhadamente a tabela 2, podemos concluir que em 1960 o
investimento externo japonês era insignificante, porém a porcentagem para o Brasil já era de 20%, provando que, desde aquela época, o interesse dos
japoneses por este país já era grande.
Histórico - Os primeiros investimentos voltaram-se, preponderantemente, para o setor têxtil
e da indústria leve, consistindo no aproveitamento de matérias-primas abundantes no Brasil. Porém, a partir de 1958, a política favorável à entrada
de capital estrangeiro, adotada pelo então presidente Kubitschek, tornou possível o investimento japonês nos setores da indústria de base. O grande
e primeiro modelo foi o da Usiminas e, depois, surgiu a Ishikawajima do Brasil Estaleiros S.A. (Ishibras).
Em 1961, o investimento japonês no Brasil já alcançava o montante de US$ 100 milhões. Porém, a
partir de 1962 começou a declinar, declínio este provocado, principalmente, pela inflação galopante no Brasil.
Naquela época, os investimentos limitaram-se pura e simplesmente ao necessário para manter o
capital de giro das indústrias ou firmas já instaladas aqui.
A partir de 1967, porém, com a estabilidade política e sócio-econômica do Brasil, o investimento
japonês retomou seu ritmo e, naquele ano, atingiu um total de US$ 23 milhões.
Em termos de porcentagem, este investimento se dividia da seguinte forma:
siderurgia |
38% |
estaleiros |
18% |
indústria
têxtil |
15% |
indústria
automobilística |
12% |
pesca e
setor alimentício |
5% |
máquinas e
outros |
11% |
Em 1971 começou o boom de investimentos japoneses, e uma das principais razões para tanto
foi o alto índice de crescimento econômico japonês. A outra, foi a liberação do investimento externo, já citada.
Em 1973, o investimento japonês no Brasil atingiu o ápice de US$ 435 milhões, declinou em seguida e
estabilizou-se em US$ 27 milhões.
Os japoneses investem principalmente na indústria de transformação (75%), e nesta se destacam os
setores siderúrgico, têxtil e de estaleiros. O resto é distribuído entre bancos e seguros (10,5%) e trading-companies (8,9%).
As principais - A seguir, analisemos a posição que o Japão, enquanto investidor no Brasil,
ocupa entre os demais países. Nesta comparação, não serão consideradas as empresas japonesas cuja participação acionária ou de capital seja inferior
a 25%. Pela tabela 5, verificamos que o número de empresas japonesas instaladas no Brasil, em 1976, era de 537.
De acordo com a lista dos membros da Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, dentre as
163 principais empresas, 37% contam com 100% de capital japonês; 47% com 90%, e 10% têm participação minoritária, ou seja, situada entre 25 e 44%.
Quanto à sua constituição, segundo dados da Câmara, 107 são sociedades limitadas (65,6%) e 56,
sociedades anônimas (tabela 6).
Se analisarmos os resultados obtidos, até hoje, por estas empresas japonesas, chegarmos à conclusão
de que estão em posição inferior àquelas norte-americanas, ou de origem européia, num violento contraste com os vários números até aqui mencionados.
De acordo com a revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas, as empresas japonesas que conseguiram classificar-se entre as 500
maiores, em 1969, foram apenas três e, em 1976, alcançaram o irrisório número de sete, das quais três eram de associação com o capital nacional.
Ainda de acordo com a mesma revista, a soma de faturamento das 10 grandes empresas japonesas representa apenas 1,1% do total das 500 classificadas.
Em se considerando todas as empresas de capital estrangeiro (184 ao todo), a participação japonesa
é de apenas 2,2%, enquanto que os EUA contavam com 40,5%; a RFA (N.E.; República Federal da
Alemanha, a Alemanha Ocidental, antes da reunificação com o lado Oriental), com 16,2% e a
Holanda, com 11,2%.
As causas - O professor Mizuno aponta os seguintes fatores, para explicar tal situação:
1) O problema de Late Come - a empresa japonesa partiu com um atraso para a conquista
do mercado nacional e, em sua maioria, ainda não conseguiu integrar-se a este. A tabela 9 mostra que 50% das empresas americanas
e 37% daquelas de origem européia já tinham suas subsidiárias, ou filiais, aqui no Brasil, mesmo antes de 1949, ao passo que 60% das japonesas
já se encontravam aqui instaladas desde 1960. Em conseqüência, as empresas que chegaram antes dominam os mercados vantajosos ou lucrativos e, por
sua vez, as japonesas são obrigadas a explorar um setor com muita dificuldade. Por isso mesmo, o investimento da empresa japonesa no Brasil é
praticamente nulo.
2) Motivação - O investimento japonês possui dois objetivos distintos: um é o de assegurar a
fonte de matérias-primas; outro é o da obtenção de mercado.
A conceituada revista econômica japonesa Nikkei Business realizou recentemente uma pesquisa
sobre a situação dos investimentos externos realizados por 53 países. Na pesquisa, foram considerados dois tipos de empregos de capitais: aquele que
visa ao mercado e aquele que dá maior peso à obtenção de matéria-prima.
As indústrias que visam a conquista de mercado são, por exemplo, as indústrias automobilísticas, de
eletrodomésticos, têxteis, alimentícias e o setor da construção civil.
De outro lado, as indústrias que visam a assegurar as matérias-primas são aquelas que se dedicam
aos setores da siderurgia, metais não ferrosos e não metálicos, refinação de petróleo, petroquímica e outros.
De acordo com o resultado da pesquisa, o Brasil situar-se-ia em segundo lugar, logo depois do
Canadá, como um país propício ao investimento destinado a assegurar matérias-primas. Como país para a conquista de mercado, classifica-se em nono
(em primeiro, colocam-se os EUA).
Outro estudo, realizado pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo, mostra que 80% das empresas
japonesas destacam o futuro promissor do mercado brasileiro e atribui a esta expectativa o motivo do investimento no Brasil. Um terço das empresas
japonesas pesquisadas responderam que sua decisão em investir aqui baseou-se principalmente na estabilidade política do País. Diante disso,
conclui-se que os japoneses investiram para obter resultados a longo prazo.
3) Setores de investimento - Até 1967, a característica do investimento japonês era uma
forte concentração no setor siderúrgico e de estaleiros, que representavam mais da metade do total. Como exemplo, basta lembrar o caso da Usiminas.
Hoje, no setor de produção de bens de consumo duráveis, as empresas japonesas encontram acirrada
concorrência com outras de capital estrangeiro, enquanto que, no setor de bens de capital, esbarram com uma forte resistência por parte de empresas
nacionais.
4) Meios de investimento - As empresas japonesas investem partindo do pressuposto de que
existe uma grande concorrência entre as empresas da mesma natureza. Assim, se um concorrente investe no Brasil, o outro também o fará. Este fenômeno
já fora observado no setor têxtil, eletrodomésticos, trading-companies e mesmo nos bancos. Enfim, elas aceitam a concorrência entre si.
5) Capital - As empresas japonesas são, em sua maioria, de médio e pequeno porte e são bem
menores se comparadas com as empresas de outras origens. Muitas delas, através de apresentações, trading ou bancos, associam-se a empresas
nacionais. Aliás, este é o meio mais usado para estabelecer relações comerciais.
Algumas empresas japonesas encontram grande dificuldade em integrar-se perfeitamente à política
econômica do Brasil, pois a estrutura, a organização, tradição, costumes e administração são diferentes. Não obtendo o resultado desejado, não raro
se retiram do País.
6) O comportamento das empresas japonesas - É comum, na maioria delas, a existência de um
rígido controle sobre suas filiais. No entanto, as do Brasil constituem-se em exceção.
O livro Empresas Multinacionais do Brasil, de William K. Brandt e James M. Habert, destaca
que a cultura japonesa exerce uma grande influência na filial brasileira.
De acordo com os autores, a empresa japonesa, ao contrário de suas concorrentes estrangeiras,
parece preferir o lucro a longo prazo. Mas, até encontrar a fórmula conciliatória entre as culturas japonesa e brasileira e, posteriormente, montar
um sistema de integração perfeita capaz de enfrentar qualquer situação, os japoneses não conseguem, em geral, empregar diretores brasileiros.
Não há dúvidas, porém, que esse problema logo será solucionado, tal como ocorreu nos EUA.
Essas afirmações dos estudiosos confirmam em parte o comportamento da empresa japonesa no Brasil,
pois, como havíamos dito anteriormente, 2/3 das empresas japonesas preferem constituir-se como sociedades limitadas, ao invés de sociedades
anônimas, exatamente para manter-se fechadas até encontrar uma fórmula que julguem segura e que permita a abertura.
Tabela 1:
Investimentos diretos estrangeiros no Brasil (em milhões de dólares) |
Países |
31/12/1969 |
31/12/1976 |
Taxa média anual de crescimento 1969-1976 (%) |
Invest. |
Reinvest. |
Total |
% |
Invest. |
Reinvest. |
Total |
% |
Estados Unidos |
443,0 |
372,6 |
815,7 |
47,7 |
1.825,2 |
1.076,1 |
2.901,2 |
32,2 |
20,0 |
Alemanha |
148,4 |
28,9 |
177,3 |
40,4 |
824,9 |
293,1 |
1.118,0 |
12,4 |
30,5 |
Japão |
54,5 |
0,7 |
55,2 |
3,2 |
967,1 |
38,8 |
1.005,9 |
11,2 |
53,8 |
Suíça |
93,0 |
11,8 |
104,8 |
6,1 |
725,5 |
255,2 |
980,7 |
10,9 |
38,0 |
Canadá |
151,2 |
16,4 |
167,6 |
9,8 |
344,4 |
137,6 |
482,0 |
5,4 |
17,3 |
Reino Unido |
68,0 |
41,4 |
109,3 |
6,4 |
180,6 |
240,0 |
420,7 |
4,7 |
24,1 |
França |
27,5 |
7,2 |
34,7 |
2,0 |
156,1 |
170,1 |
326,3 |
3,6 |
54,2 |
Total (*) |
1.185,2 |
525,2 |
1.710,4 |
100,0 |
6.193,9 |
2.811,2 |
9.005,1 |
100,0 |
27,0 |
Fonte: Banco Central do Brasil
(*) incluindo os outros países |
Tabela 2:
Investimentos diretos japoneses no Brasil
(com base nas autorizações, em milhões de dólares) |
Ano fiscal |
Brasil (A) |
Total (B) |
Participação do Brasil
(%) A/B |
1951-58 total |
33 |
143 |
23,1 |
1959 |
9 |
53 |
17,0 |
1960 |
19 |
93 |
20,4 |
1961 |
35 |
166 |
21,1 |
1962 |
26 |
98 |
26,5 |
1963 |
16 |
126 |
12,7 |
1964 |
29 |
119 |
24,4 |
1965 |
17 |
159 |
10,7 |
1966 |
22 |
227 |
9,7 |
1967 |
23 |
275 |
8,3 |
1968 |
12 |
557 |
2,2 |
1969 |
20 |
665 |
3,0 |
1970 |
19 |
904 |
2,1 |
1971 |
120 |
858 |
14,0 |
1972 |
169 |
2.338 |
7,2 |
1973 |
435 |
3.494 |
12,4 |
1974 |
250 |
2.395 |
10,4 |
1975 |
271 |
3.280 |
8,3 |
1976 |
270 |
3.462 |
7,8 |
1951-76 total(A) |
1.804 |
19.405 |
9,3 |
Nota: o total acumulativo não corresponde ao total das cifras
redondas dos anos 1951-76
Fonte: Bank of Japan |
Tabela 3:
Distribuição do capital japonês por indústrias (%) |
|
31/12/1971 |
31/12/1973 |
Indústria
extrativa mineral |
-- |
2,8 |
Indústria de
transformação |
89,8 |
74,5 |
|
Transformação de minerais
não-metálicos |
1,1 |
1,0 |
|
Siderurgia |
33,0 |
19,6 |
|
Metalurgia |
-- |
3,0 |
|
Mecânica |
12,7 |
13,7 |
|
Material elétrico e de
comunicações |
5,7 |
5,5 |
|
Construção naval |
9,4 |
9,0 |
|
Equipamento de transporte |
10,7 |
4,5 |
|
Madeira |
-- |
1,8 |
|
Química e petroquímica |
1,0 |
1,6 |
|
Adubo e fertilizantes |
1,7 |
1,0 |
|
Farmacêuticos |
0,2 |
0,1 |
|
Têxtil |
11,9 |
9,0 |
|
Vestuário |
-- |
1,0 |
|
Produtos alimentares |
1,3 |
2,2 |
|
Outros |
1,1 |
1,5 |
Serviços de
utilidade pública |
-- |
-- |
Agricultura |
0,6 |
1,0 |
Construção e
imóveis |
0,2 |
2,2 |
Finanças |
7,3 |
10,5 |
Serviços técnicos |
0,3 |
0,1 |
Comércio e
trading co. |
1,7 |
8,9 |
Outros |
0,1 |
0,1 |
Total (*) |
100,0 |
100,0 |
Fonte: Banco Central do Brasil
(*) O total acumulado não corresponde ao total das cifras redondas. |
Tabela 4:
Participação do Japão nos investimentos estrangeiros
por indústrias
(em milhões de dólares - 31/12/1973) |
|
Investimentos
estrangeiros (A) |
Investimentos
japoneses (B) |
B/A |
Mineração |
76,7 |
8,8 |
11,5 |
Não-metálico |
124,5 |
3,3 |
2,6 |
Siderurgia |
143,8 |
62,5 |
4,,5 |
Metalurgia |
216,6 |
9,5 |
4,4 |
Mecânica |
234,0 |
43,5 |
18,6 |
Elétrico e Telecomunicação |
335,8 |
17,4 |
5,2 |
Construção naval |
35,4 |
28,5 |
80,5 |
Equipamento de transporte |
636,5 |
14,3 |
2,2 |
Madeira |
18,6 |
5,8 |
31,2 |
Celulose e papel |
88,8 |
-- |
-- |
Borracha |
116,3 |
2,5 |
-- |
Química e petroquímica |
794,7 |
5,2 |
0,7 |
Fertilizantes |
20,1 |
3,1 |
15,5 |
Farmacêuticos |
197,2 |
0,4 |
0,2 |
Têxtil |
122,6 |
28,6 |
23,4 |
Vestuário |
18,1 |
3,1 |
17,2 |
Produtos alimentares |
191,5 |
6,9 |
3,6 |
Outras indústrias |
231,5 |
4,7 |
2,1 |
Servs. utilidade pública |
190,9 |
-- |
-- |
Agricultura |
31,7 |
3,3 |
10,5 |
Construção e imóveis |
279,0 |
6,9 |
2,5 |
Finanças |
186,9 |
33,5 |
18,0 |
Serviços técnicos |
46,1 |
0,4 |
0,9 |
Tradind co. |
173,4 |
28,2 |
16,3 |
Outros |
68,2 |
0,3 |
6,9 |
Total (*) |
4.579,2 |
318,3 |
7,0 |
Fonte: Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil
(*) O total acumulado não corresponde ao total das cifras redondas |
Tabela 5:
Empresas japonesas instaladas no Brasil |
|
Nº de empresas |
Total acumulativo |
Até 1959 |
45 |
45 |
1960-1969 |
52 |
97 |
1970 |
16 |
113 |
1971 |
13 |
126 |
1972 |
59 |
185 |
1973 |
120 |
305 |
1974 |
132 |
437 |
1975 |
78 |
515 |
1976 |
22 |
537 |
Fonte: Japan Overseas Enterprises Association Consulting
- Escritório
em São Paulo |
Tabela 6:
Controle do capital japonês nas empresas nipônicas |
|
Nº de empresas |
% do total |
100% |
60 |
36,8 |
90% |
76 |
46,6 |
80% |
7 |
4,3 |
70% |
2 |
1,2 |
60% |
0 |
-- |
50% |
3 |
1,8 |
40% |
11 |
6,7 |
25% |
4 |
2,5 |
Total: |
163 |
100,0 |
Fonte: Dados colhidos da relação dos Membros da Câmara de Comércio e
Indústria Japonesas do Brasil |
Tabela 7:
Empresas japonesas nas
500 maiores sociedades anônimas do Brasil |
|
1976 |
Classificação |
Nome da empresa |
163 |
Siderúrgica Dedini |
190 |
Ishikawajima do Brasil |
323 |
Safron- Teijin Ind. Bras. de
Fibras |
398 |
Yanmar do Brasil |
405 |
Karibe Ind. Com. |
423 |
Furukawa Ind. Prod.
Elétricos |
480 |
CBC Inds. Pesadas |
|
|
1969 |
Classificação |
Nome da empresa |
201 |
Yanmar do Brasil |
257 |
Ishikawajima do Brasil |
367 |
Fiação e Tec. Kanebo |
Fonte: FGV;
Conjuntura Econômica, set. 1970 e set. 1977. |
Tabela 8:
Participação das multinacionais nas 500 maiores empresas privadas brasileiras (1976) |
|
Nº de empresas |
Participação das 500 |
Nas vendas (%) das
estrangeiras |
E.U.A. |
84 |
21,5 |
40,5 |
Alemanha |
19 |
8,5 |
16,2 |
Holanda |
14 |
5,8 |
11,2 |
Suíça |
10 |
2,1 |
3,8 |
Japão |
10 |
1,1 |
2,2 |
Itália |
9 |
2,5 |
4,6 |
Argentina |
7 |
2,3 |
4,5 |
Inglaterra |
7 |
1,9 |
3,8 |
Canadá |
6 |
2,9 |
5,4 |
Suécia |
5 |
1,3 |
2,5 |
França |
4 |
1,5 |
2,8 |
Bélgica |
4 |
0,6 |
1,4 |
Outros |
5 |
0,6 |
1,1 |
Fonte: Exame: Melhores e
Maiores, 1977 |
Tabela 9:
Data de início de fabricação no Brasil por nacionalidade |
Nacionalidade |
Antes de 1946 |
1946-1960 |
Depois de 1960 |
Total |
Nº de empresas |
Americana |
50% |
38% |
12% |
100% |
(24) |
Européia |
37% |
48% |
15% |
100% |
(27) |
Japonesa |
10% |
30% |
60% |
100% |
(10) |
Total |
38% |
41% |
21% |
100% |
(61) |
Fonte: W. K. Brandt e J.M.
Hubert, A Empresa Multinacional no Brasil, Zebran Editores, 1977, p. 40. |
VI - Evolução da balança comercial Brasil-Japão
Comércio
Brasil-Japão (US$ 1.000) |
Ano |
Exportação
(A) - FOB |
Importação (B) - CIF |
A-B |
1958 |
41.874 |
|
27.201 |
14.773 |
1959 |
37.352 |
|
36.356 |
996 |
1960 |
47.736 |
|
32.795 |
12.941 |
1961 |
86.029 |
|
61.269 |
24.760 |
1962 |
43.558 |
|
40.076 |
3.482 |
1963 |
56.275 |
|
38.687 |
17.888 |
1964 |
29.019 |
|
37.190 |
-8.171 |
1965 |
26.556 |
|
49.573 |
-23.017 |
1966 |
44.017 |
|
60.602 |
-16.585 |
1967 |
54.556 |
|
85.633 |
-31.074 |
1968 |
102.069 |
|
87.118 |
14.951 |
1969 |
120.541 |
|
148.283 |
-27.742 |
1970 |
166.731 |
|
217.853 |
-51.122 |
1971 |
235.211 |
|
223.063 |
12.148 |
1972 |
395.337 |
|
249.403 |
145.934 |
1973 |
611.534 |
|
452.909 |
158.625 |
1974 |
1.389.057 |
|
657.185 |
731.872 |
1975 |
927.128 |
|
883.178 |
43.073 |
1976 |
881.630 |
|
818.557 |
63.073 |
1977 |
557.030 |
(1) |
871.588 |
-314.558 |
(1) Os dados de 1977 referem-se ao período compreendido entre
janeiro e novembro.
Fonte: Revista de Comércio Exterior do Ministério da
Fazenda do Japão.
(N.E.: FOB - Frete a Bordo. CIF - Custo, Seguro e
Frete) |
A balança comercial Brasil-Japão sofre, quase que anualmente, grandes oscilações. Em 1961,
refletindo o investimento maciço do Japão, aumentou consideravelmente a exportação japonesa ao Brasil de equipamentos de metalurgia, mineração,
construção e motores elétricos, entre outros produtos. Por outro lado, cresceu de maneira espantosa a importação de açúcar, o que determinou também
um incremento do comércio entre ambos os países, atingindo este um montante de US$ 150 milhões.
Num segundo período, iniciado em 1968, estimulada pela liberação das importações no Brasil, a venda
de máquinas e equipamentos japoneses deu um grande salto, atingindo US$ 100 milhões, representando um recorde após a guerra. De outro lado, a
importação de produtos brasileiros, principalmente minério de ferro e algodão, foi de US$ 87 milhões. Assim, o valor global das transações
aproximou-se de US$ 200 milhões.
A terceira etapa, na década de 70, caracterizou-se por um constante incremento do intercâmbio
comercial entre os dois países. Em 1974, atingiu a impressionante cifra de US$ 2 bilhões.
Ainda que o lado brasileiro tenha apresentado, paralelamente, uma tendência deficitária, a partir
de 1976 o país encaminhou-se para uma situação de equilíbrio graças à restrição das importações e à política de contenção econômica, levada a cabo
pelo ministro Roberto Simonsen.
Finalmente, em 1977, segundo dados oficiais japoneses, registrou-se um grande superávit a favor do
Brasil.
Em termos estruturais, o Brasil envia ao Japão, principalmente, minério de ferro, algodão, açúcar
não refinado, carne, soja e café. Por sua vez, o Japão exporta para o mercado brasileiro materiais de aço, máquinas e equipamentos e outros produtos
manufaturados (v. quadro 2).
Um detalhe: ao se comparar os dados oficiais japoneses com aqueles fornecidos pelo Banco do Brasil
S.A., surgem algumas discrepâncias. Isto porque no Japão esses informes são apurados através de alfândega, enquanto que no Brasil o levantamento é
feito por meio das guias emitidas. Porém, não faltam aqueles que buscam uma aproximação entre ambas as fontes.
Quadro 2:
Produtos do Japão importados pelo Brasil |
Mercadorias |
1972 |
1973 |
1974 |
1975 |
1976 |
TOTAL |
249.403 |
452.909 |
657.185 |
883.178 |
818.557 |
Alimentos |
58.851 |
104.043 |
182.818 |
337.717 |
221.249 |
Carne |
14.742 |
31.469 |
29.788 |
27.152 |
34.633 |
Peixe |
6.981 |
5.706 |
4.208 |
1.998 |
53582 |
Milho |
-- |
1.087 |
-- |
-- |
5.622 |
Sorgo |
-- |
1.405 |
319 |
-- |
-- |
Açúcar |
18.056 |
19.292 |
100.566 |
260.259 |
57.843 |
Café e cacau |
-- |
68.692 |
36.236 |
33.337 |
86.277 |
Matéria-prima ou têxtil |
52.668 |
49.764 |
35.154 |
30.190 |
17.670 |
Lã |
56 |
461 |
94 |
1.083 |
210 |
Algodão |
46.599 |
35.143 |
18.841 |
22.858 |
9.153 |
Fios de seda |
-- |
9.140 |
10.407 |
3.999 |
4.049 |
Matéria-prima de natureza mineral |
103.861 |
152.993 |
269.400 |
396.766 |
452.764 |
Minérios de ferro |
100.032 |
149.390 |
265.022 |
393.503 |
446.849 |
Sucata (ferro) |
1 |
17 |
-- |
1 |
3 |
Sucata (não-ferroso) |
3.798 |
3.561 |
4.378 |
3.261 |
5.913 |
Outras matérias-primas |
7.742 |
58.457 |
37.587 |
18.279 |
43.179 |
Couros crus |
180 |
394 |
676 |
120 |
112 |
Soja |
2.044 |
46.207 |
20.916 |
10.053 |
32.308 |
Madeira |
445 |
1.179 |
2.461 |
1.329 |
1.855 |
Celulose |
-- |
1 |
-- |
17 |
-- |
Não-ferrosos |
1.223 |
1.769 |
4.592 |
1.743 |
2.219 |
Combustível de natureza mineral |
4.514 |
2.890 |
13.753 |
1 |
-- |
Carvão de pedra |
-- |
1 |
-- |
-- |
-- |
Petróleo |
1.276 |
-- |
-- |
-- |
-- |
Produtos petrolíferos |
3.238 |
2.889 |
13.753 |
1 |
-- |
Produtos Químicos |
1.315 |
8.847 |
23.659 |
16.702 |
20.719 |
Produtos Farmacêuticos |
277 |
-- |
-- |
-- |
-- |
Máquinas e instrumentos |
5.003 |
18.097 |
43.363 |
48.245 |
21.665 |
Materiais de escritório |
917 |
17.691 |
42.791 |
47.376 |
20.370 |
Motores |
-- |
16 |
4 |
10 |
894 |
Máquinas de fiação e tecelagem |
-- |
46 |
52 |
1 |
1 |
Navios |
3.927 |
-- |
-- |
-- |
-- |
Instrumentos de precisão |
-- |
89 |
100 |
78 |
27 |
Outros |
14.479 |
57.819 |
51.449 |
35.277 |
41.311 |
Produtos siderúrgicos |
2.917 |
18.470 |
17.022 |
6.394 |
9.100 |
Produtos têxteis |
-- |
12.237 |
8.744 |
7.623 |
15.682 |
Produtos não-metálicos |
504 |
1.338 |
-- |
1 |
-- |
Brinquedos |
-- |
33 |
1 |
1 |
8 |
Quadro 3:
Exportação do Japão para o Brasil |
Mercadorias |
1972 |
1973 |
1974 |
1975 |
1976 |
TOTAL |
395.337 |
611.534 |
1.389.057 |
927.128 |
881.630 |
Alimentos |
472 |
787 |
566 |
940 |
616 |
Peixes e outros produtos marinhos |
9 |
6 |
24 |
9 |
-- |
Produtos têxteis |
14.595 |
14.707 |
34.644 |
15.690 |
14.969 |
Produtos sintéticos (fibra curta) |
3.553 |
3.449 |
8.943 |
4.242 |
5.101 |
Fios sintéticos |
4.720 |
4.698 |
6.179 |
729 |
443 |
Tecidos de algodão |
6 |
-- |
333 |
235 |
11 |
Tecidos de lã |
- |
-- |
-- |
4 |
-- |
Tecidos de fios sintéticos |
3.056 |
4.651 |
13.498 |
8.519 |
7.692 |
Tecidos de rayon |
10 |
3 |
421 |
63 |
-- |
Fios de rayon |
24 |
13 |
-- |
-- |
-- |
Malhas |
-- |
179 |
159 |
24 |
14 |
Roupas |
660 |
514 |
265 |
188 |
115 |
Produtos químicos |
26.867 |
31.078 |
91.583 |
48.560 |
71.787 |
Fertilizantes |
2.048 |
261 |
645 |
437 |
6.626 |
Produtos farmacêuticos |
-- |
1.658 |
2.114 |
1.230 |
3.139 |
Plásticos |
8.536 |
8.141 |
35.345 |
17.513 |
21.752 |
Produtos não-metálicos |
5.738 |
11.368 |
14.879 |
10.115 |
11.251 |
Louças |
97 |
120 |
202 |
133 |
33 |
Pérola |
20 |
46 |
41 |
46 |
22 |
Produtos metálicos |
76.204 |
170.299 |
566.535 |
370.170 |
199.129 |
Produtos siderúrgicos |
59.856 |
151.907 |
513.460 |
345.011 |
166.552 |
Não metálicos |
-- |
1.113 |
10.677 |
3.765 |
9.040 |
Produtos não metálicos |
15.727 |
17.279 |
32.698 |
21.395 |
23.537 |
Máquinas e instrumentos |
254.271 |
360.460 |
631.638 |
445.114 |
556.631 |
Motores |
-- |
9.137 |
27.629 |
31.498 |
41.594 |
Materiais de escritório |
-- |
29.416 |
35.663 |
32.236 |
40.813 |
Máquinas operatrizes |
-- |
14.752 |
463577 |
43.250 |
30.707 |
Máquinas têxteis |
5.126 |
9.883 |
28.423 |
16.445 |
4.425 |
Máquinas de costura |
3.922 |
6.118 |
7.798 |
6.166 |
6.488 |
Rolamentos |
-- |
8.016 |
12.065 |
13.065 |
10.755 |
Aparelhos elétricos pesados |
-- |
6.112 |
19.387 |
13..983 |
17.621 |
Televisão |
219 |
3.424 |
12.951 |
21.105 |
25.316 |
Rádio |
2.172 |
5.635 |
7.297 |
9.865 |
13.606 |
Peças e acessórios eletrônicos |
-- |
9.756 |
14.319 |
17.393 |
24.522 |
Automotrizes |
343 |
1.653 |
403 |
451 |
11 |
Motocicleta |
2.754 |
6.865 |
12.804 |
4.236 |
4.327 |
Navio |
31.320 |
57.164 |
102.803 |
102 |
29.50 |
Aviões |
117 |
-- |
-- |
-- |
-- |
Aparelhos científicos e óticos |
11.964 |
15.383 |
14.653 |
20.795 |
23.561 |
Relógios |
-- |
10.392 |
13.486 |
12.958 |
10.565 |
Fitas magnéticas |
8.569 |
14.789 |
12.756 |
4.956 |
4.901 |
Outros |
17.190 |
22.835 |
59.212 |
36.538 |
27.247 |
Chapas compensadas |
68 |
78 |
172 |
138 |
125 |
Pneus e câmaras de ar |
-- |
1.384 |
9.714 |
2.884 |
430 |
Chinelos |
-- |
66 |
23 |
49 |
25 |
Brinquedos |
690 |
560 |
1.294 |
1.058 |
819 |
Ainda que o intercâmbio entre o Brasil e o Japão tenha tomado rumos mais que satisfatórios, não
deixaram de surgir problemas. A revista Indústria e Desenvolvimento, de janeiro de 1977, num artigo assinado por Victor Brunner (Samurais
e Bandeirantes, Cooperação ou Confronto) aponta vários aspectos:
1) Examinando-se o intercâmbio comercial entre Brasil e Japão, pode-se perceber que o ponto
nevrálgico localiza-se na balança comercial. "Só em 1968 o nosso déficit comercial representava
cerca de 20% de nossas exportações (...) Portanto, decorridos oito anos a situação da balança comercial bilateral se deteriorou rapidamente com
sucessivos e crescentes saldos negativos, cujo pico ocorreu em 1974".
2) "Em 1975, o Japão foi o nosso terceiro
parceiro comercial, tendo absorvido 7,74% de nossas exportações gerais e respondido por 9,1% de nossas importações globais. Para o Japão, porém,
representamos bem menos, pois, no mesmo ano, o Brasil absorveu 1,6% do total geral das exportações japonesas, e respondeu por 1,5% do total global
das importações".
3) "A conjunção destes fatos ocasionou
inevitável complementaridade comercial, em que fornecemos recursos naturais e produtos primários (90% da pauta) e importamos manufaturados (90% da
pauta) com ênfase nos bens de capital. Por outro lado, enquanto nossas exportações para o Japão representam 405 itens, as nossas importações deste
país são compostas por quase 3 mil. Presentemente, o Japão ocupa o primeiro ou o segundo lugar como consumidor dos seguintes produtos exportados
pelo Brasil: minério de ferro, açúcar demerara em bruto, algodão em rama, carne eqüina congelada, camarão, cera de carnaúba e óleo de soja. Na
realidade, o comportamento do comércio exterior nipo-brasileiro é um exemplo típico de relacionamento entre um país desenvolvido e outro,
subdesenvolvido. Em outras palavras, não vendemos para o Japão; na realidade, somos comprados. Tal situação fica evidente ao se analisar os
principais produtos exportados e importados. O fato de que somos comprados pode ser comprovado pela análise das recentes oportunidades comerciais
divulgadas pela Cacex. O número e a qualidade delas não condiz, de forma alguma, com a importância deste país em relação às importações mundiais (é
o terceiro maior importador e absorve mais de 7% das importações globais)".
4) "Porém - fato curioso - apesar de sermos
exportadores, essencialmente, de produtos primários, ainda aparecemos como fornecedores marginais, perdendo de longe para os EUA, Canadá e
Austrália, os quais vendem mais de 50% dos cereais comprados pelo Japão. Até o governo japonês tem procurado novas fontes supridoras, abrindo ótimas
perspectivas para o Brasil".
5) "Uma das chaves para a expansão e
diversificação das exportações brasileiras para o Japão é, sem dúvida, a função das trading companies (TCs) daquele país. Instaladas há
vários anos no Brasil, as principais tradings japonesas estão participando ativamente de nosso comércio exterior; tudo, porém, parece indicar
que seu objetivo prioritário é o de assegurar o suprimento de produtos primários para a economia japonesa. Nesta ótica, até que ponto é possível
induzir as TCs a exportarem manufaturados para o Japão e outras regiões? De quem deve ser a iniciativa (das TCs ou do governo brasileiro)? Além
disso, a empresa brasileira enfrenta sérias dificuldades para penetrar de forma direta no mercado japonês, devido às condições locais de
comercialização. Outrossim, como podem nossas empresas concorrerem com as poderosas TCs? As alternativas mais sensatas parecem ser a associação em
termos de comercialização externa ou deixar esta operação por conta das TCs".
Na resolução dos problemas expostos no item 4, relativos ao incremento das exportações brasileiras
de produtos agrícolas para o Japão, esbarra-se em diversas dificuldades, assim colocadas pela Revista ID:
a) "A concorrência de países desenvolvidos é
já tradicional naquele mercado.
b) "Preços não competitivos em termos
internacionais, fato que pode ser analisado sob vários ângulos, entre eles, o custo de fretes internacionais e internos, armazenagem, sistemática
interna de controles administrativos (através do registro prévio obrigatório, na Cacex, dos contratos de venda, cuja finalidade é, em média, de
noventa dias), a existência do sistema de preços mínimos para os produtos agrícolas e a evolução das operações hedging no país.
c) "Qualidade (necessitamos manter um sistema
de controle de qualidade para obter padrão internacional).
d) "Regularidade (é indispensável atender a
demanda japonesa de forma contínua, para adquirir confiança)".
No que tange ao item 5, o Departamento de Comércio Exterior da Câmara de Comércio e Indústria
Japonesa do Brasil, já em 1976, na solicitação dirigida às autoridades brasileiras, destacou o quanto o comércio brasileiro seria beneficiado, se
fosse dado, às firmas de origem estrangeira dedicadas à exportação e importação, o mesmo tratamento que é dispensado às trading companies
nacionais.
Os executivos japoneses afirmam que a contribuição de suas trading
companies às exportações brasileiras é muito maior que aquela constante nos dados oficiais, e lamentam apenas que os números reais não apareçam
exatamente porque os incentivos fiscais à exportação beneficiam principalmente as empresas nacionais, fundamentando tal argumentação.
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