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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SAGA NIPÔNICA
Os primeiros 70 anos

A história, em um álbum comemorativo de 1978...

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Quando se comemorou o 70º aniversário da chegada a Santos da primeira leva de imigrantes japoneses, foi editado um álbum especial pela Editora Cultura Brasileira, da capital paulista, coordenado pelo editor Massao Ohno. Desse álbum, "70 anos de imigração japonesa no Brasil", consta este relato:

 

A presença e os investimentos japoneses no Brasil (II)

[...]

V - O investimento das empresas japonesas no Brasil

Em primeiro lugar, veremos a evolução de investimentos japoneses no Brasil, quantitativamente, através do relatório do prof. Hajime Mizuno, da Universidade de Sophia.

De acordo com a tabela cinco, fica evidente que o investimento maciço começou na década de 70, o que é explicado em parte pela situação japonesa.

O Japão, antes da crise do petróleo, criou um excesso de liquidez monetária e também liberou os investimentos para outros países, e, no Brasil, que apresentava um clima favorável para tanto. Em 1975, essa onda de investimento ainda não tinha perdido a força, como o demonstra a tabela 2.

Desta forma, o volume de investimentos, que não passava de US$ 50 milhões, atingiu, em 1976, a cifra de US$ 1,59 bilhão, ou seja, um crescimento anual da ordem de 53,8%, enquanto que, no mesmo período, o investimento global de capital estrangeiro registrou um crescimento médio anual de 27%.

Se não computarmos os reinvestimentos, o Japão ocupa o segundo lugar como país investidor no Brasil, logo abaixo dos Estados Unidos, e se os considerarmos, fica em terceiro lugar, isto é, depois dos EUA e da República Federal da Alemanha (tabela 1).

Analisando mais detalhadamente a tabela 2, podemos concluir que em 1960 o investimento externo japonês era insignificante, porém a porcentagem para o Brasil já era de 20%, provando que, desde aquela época, o interesse dos japoneses por este país já era grande.

Histórico - Os primeiros investimentos voltaram-se, preponderantemente, para o setor têxtil e da indústria leve, consistindo no aproveitamento de matérias-primas abundantes no Brasil. Porém, a partir de 1958, a política favorável à entrada de capital estrangeiro, adotada pelo então presidente Kubitschek, tornou possível o investimento japonês nos setores da indústria de base. O grande e primeiro modelo foi o da Usiminas e, depois, surgiu a Ishikawajima do Brasil Estaleiros S.A. (Ishibras).

Em 1961, o investimento japonês no Brasil já alcançava o montante de US$ 100 milhões. Porém, a partir de 1962 começou a declinar, declínio este provocado, principalmente, pela inflação galopante no Brasil.

Naquela época, os investimentos limitaram-se pura e simplesmente ao necessário para manter o capital de giro das indústrias ou firmas já instaladas aqui.

A partir de 1967, porém, com a estabilidade política e sócio-econômica do Brasil, o investimento japonês retomou seu ritmo e, naquele ano, atingiu um total de US$ 23 milhões.

Em termos de porcentagem, este investimento se dividia da seguinte forma:

siderurgia 38%
estaleiros 18%
indústria têxtil 15%
indústria automobilística 12%
pesca e setor alimentício 5%
máquinas e outros 11%

Em 1971 começou o boom de investimentos japoneses, e uma das principais razões para tanto foi o alto índice de crescimento econômico japonês. A outra, foi a liberação do investimento externo, já citada.

Em 1973, o investimento japonês no Brasil atingiu o ápice de US$ 435 milhões, declinou em seguida e estabilizou-se em US$ 27 milhões.

Os japoneses investem principalmente na indústria de transformação (75%), e nesta se destacam os setores siderúrgico, têxtil e de estaleiros. O resto é distribuído entre bancos e seguros (10,5%) e trading-companies (8,9%).

As principais - A seguir, analisemos a posição que o Japão, enquanto investidor no Brasil, ocupa entre os demais países. Nesta comparação, não serão consideradas as empresas japonesas cuja participação acionária ou de capital seja inferior a 25%. Pela tabela 5, verificamos que o número de empresas japonesas instaladas no Brasil, em 1976, era de 537.

De acordo com a lista dos membros da Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, dentre as 163 principais empresas, 37% contam com 100% de capital japonês; 47% com 90%, e 10% têm participação minoritária, ou seja, situada entre 25 e 44%.

Quanto à sua constituição, segundo dados da Câmara, 107 são sociedades limitadas (65,6%) e 56, sociedades anônimas (tabela 6).

Se analisarmos os resultados obtidos, até hoje, por estas empresas japonesas, chegarmos à conclusão de que estão em posição inferior àquelas norte-americanas, ou de origem européia, num violento contraste com os vários números até aqui mencionados. De acordo com a revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas, as empresas japonesas que conseguiram classificar-se entre as 500 maiores, em 1969, foram apenas três e, em 1976, alcançaram o irrisório número de sete, das quais três eram de associação com o capital nacional. Ainda de acordo com a mesma revista, a soma de faturamento das 10 grandes empresas japonesas representa apenas 1,1% do total das 500 classificadas.

Em se considerando todas as empresas de capital estrangeiro (184 ao todo), a participação japonesa é de apenas 2,2%, enquanto que os EUA contavam com 40,5%; a RFA (N.E.; República Federal da Alemanha, a Alemanha Ocidental, antes da reunificação com o lado Oriental), com 16,2% e a Holanda, com 11,2%.

As causas - O professor Mizuno aponta os seguintes fatores, para explicar tal situação:

1) O problema de Late Come - a empresa japonesa partiu com um atraso para a conquista do mercado nacional e, em sua maioria, ainda não conseguiu integrar-se a este. A tabela 9 mostra que 50% das empresas americanas e 37% daquelas de  origem européia já tinham suas subsidiárias, ou filiais, aqui no Brasil, mesmo antes de 1949, ao passo que 60% das japonesas já se encontravam aqui instaladas desde 1960. Em conseqüência, as empresas que chegaram antes dominam os mercados vantajosos ou lucrativos e, por sua vez, as japonesas são obrigadas a explorar um setor com muita dificuldade. Por isso mesmo, o investimento da empresa japonesa no Brasil é praticamente nulo.

2) Motivação - O investimento japonês possui dois objetivos distintos: um é o de assegurar a fonte de matérias-primas; outro é o da obtenção de mercado.

A conceituada revista econômica japonesa Nikkei Business realizou recentemente uma pesquisa sobre a situação dos investimentos externos realizados por 53 países. Na pesquisa, foram considerados dois tipos de empregos de capitais: aquele que visa ao mercado e aquele que dá maior peso à obtenção de matéria-prima.

As indústrias que visam a conquista de mercado são, por exemplo, as indústrias automobilísticas, de eletrodomésticos, têxteis, alimentícias e o setor da construção civil.

De outro lado, as indústrias que visam a assegurar as matérias-primas são aquelas que se dedicam aos setores da siderurgia, metais não ferrosos e não metálicos, refinação de petróleo, petroquímica e outros.

De acordo com o resultado da pesquisa, o Brasil situar-se-ia em segundo lugar, logo depois do Canadá, como um país propício ao investimento destinado a assegurar matérias-primas. Como país para a conquista de mercado, classifica-se em nono (em primeiro, colocam-se os EUA).

Outro estudo, realizado pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo, mostra que 80% das empresas japonesas destacam o futuro promissor do mercado brasileiro e atribui a esta expectativa o motivo do investimento no Brasil. Um terço das empresas japonesas pesquisadas responderam que sua decisão em investir aqui baseou-se principalmente na estabilidade política do País. Diante disso, conclui-se que os japoneses investiram para obter resultados a longo prazo.

3) Setores de investimento - Até 1967, a característica do investimento japonês era uma forte concentração no setor siderúrgico e de estaleiros, que representavam mais da metade do total. Como exemplo, basta lembrar o caso da Usiminas.

Hoje, no setor de produção de bens de consumo duráveis, as empresas japonesas encontram acirrada concorrência com outras de capital estrangeiro, enquanto que, no setor de bens de capital, esbarram com uma forte resistência por parte de empresas nacionais.

4) Meios de investimento - As empresas japonesas investem partindo do pressuposto de que existe uma grande concorrência entre as empresas da mesma natureza. Assim, se um concorrente investe no Brasil, o outro também o fará. Este fenômeno já fora observado no setor têxtil, eletrodomésticos, trading-companies e mesmo nos bancos. Enfim, elas aceitam a concorrência entre si.

5) Capital - As empresas japonesas são, em sua maioria, de médio e pequeno porte e são bem menores se comparadas com as empresas de outras origens. Muitas delas, através de apresentações, trading ou bancos, associam-se a empresas nacionais. Aliás, este é o meio mais usado para estabelecer relações comerciais.

Algumas empresas japonesas encontram grande dificuldade em integrar-se perfeitamente à política econômica do Brasil, pois a estrutura, a organização, tradição, costumes e administração são diferentes. Não obtendo o resultado desejado, não raro se retiram do País.

6) O comportamento das empresas japonesas - É comum, na maioria delas, a existência de um rígido controle sobre suas filiais. No entanto, as do Brasil constituem-se em exceção.

O livro Empresas Multinacionais do Brasil, de William K. Brandt e James M. Habert, destaca que a cultura japonesa exerce uma grande influência na filial brasileira.

De acordo com os autores, a empresa japonesa, ao contrário de suas concorrentes estrangeiras, parece preferir o lucro a longo prazo. Mas, até encontrar a fórmula conciliatória entre as culturas japonesa e brasileira e, posteriormente, montar um sistema de integração perfeita capaz de enfrentar qualquer situação, os japoneses não conseguem, em geral, empregar diretores brasileiros.

Não há dúvidas, porém, que esse problema logo será solucionado, tal como ocorreu nos EUA.

Essas afirmações dos estudiosos confirmam em parte o comportamento da empresa japonesa no Brasil, pois, como havíamos dito anteriormente, 2/3 das empresas japonesas preferem constituir-se como sociedades limitadas, ao invés de sociedades anônimas, exatamente para manter-se fechadas até encontrar uma fórmula que julguem segura e que permita a abertura.

Tabela 1:

 Investimentos diretos estrangeiros no Brasil (em milhões de dólares)

Países 31/12/1969 31/12/1976 Taxa média anual de crescimento 1969-1976 (%)
Invest. Reinvest. Total % Invest. Reinvest. Total %
Estados Unidos 443,0 372,6 815,7 47,7 1.825,2 1.076,1 2.901,2 32,2 20,0
Alemanha 148,4 28,9 177,3 40,4 824,9 293,1 1.118,0 12,4 30,5
Japão 54,5 0,7 55,2 3,2 967,1 38,8 1.005,9 11,2 53,8
Suíça 93,0 11,8 104,8 6,1 725,5 255,2 980,7 10,9 38,0
Canadá 151,2 16,4 167,6 9,8 344,4 137,6 482,0 5,4 17,3
Reino Unido 68,0 41,4 109,3 6,4 180,6 240,0 420,7 4,7 24,1
França 27,5 7,2 34,7 2,0 156,1 170,1 326,3 3,6 54,2
Total (*) 1.185,2 525,2 1.710,4 100,0 6.193,9 2.811,2 9.005,1 100,0 27,0

Fonte: Banco Central do Brasil

(*) incluindo os outros países

Tabela 2:

Investimentos diretos japoneses no Brasil

(com base nas autorizações, em milhões de dólares)

Ano fiscal Brasil (A) Total (B) Participação do Brasil (%) A/B
1951-58 total 33 143 23,1
1959 9 53 17,0
1960 19 93 20,4
1961 35 166 21,1
1962 26 98 26,5
1963 16 126 12,7
1964 29 119 24,4
1965 17 159 10,7
1966 22 227 9,7
1967 23 275 8,3
1968 12 557 2,2
1969 20 665 3,0
1970 19 904 2,1
1971 120 858 14,0
1972 169 2.338 7,2
1973 435 3.494 12,4
1974 250 2.395 10,4
1975 271 3.280 8,3
1976 270 3.462 7,8
1951-76 total(A) 1.804 19.405 9,3

Nota: o total acumulativo não corresponde ao total das cifras redondas dos anos 1951-76

Fonte: Bank of Japan

Tabela 3:

Distribuição do capital japonês por indústrias (%)

 

31/12/1971

31/12/1973

Indústria extrativa mineral -- 2,8
Indústria de transformação 89,8 74,5
  Transformação de minerais não-metálicos 1,1 1,0
  Siderurgia 33,0 19,6
  Metalurgia -- 3,0
  Mecânica 12,7 13,7
  Material elétrico e de comunicações 5,7 5,5
  Construção naval 9,4 9,0
  Equipamento de transporte 10,7 4,5
  Madeira -- 1,8
  Química e petroquímica 1,0 1,6
  Adubo e fertilizantes 1,7 1,0
  Farmacêuticos 0,2 0,1
  Têxtil 11,9 9,0
  Vestuário -- 1,0
  Produtos alimentares 1,3 2,2
  Outros 1,1 1,5
Serviços de utilidade pública -- --
Agricultura 0,6 1,0
Construção e imóveis 0,2 2,2
Finanças 7,3 10,5
Serviços técnicos 0,3 0,1
Comércio e trading co. 1,7 8,9
Outros 0,1 0,1
Total (*) 100,0 100,0

Fonte: Banco Central do Brasil

(*) O total acumulado não corresponde ao total das cifras redondas.

Tabela 4:

Participação do Japão nos investimentos estrangeiros por indústrias

(em milhões de dólares - 31/12/1973)

 

Investimentos

estrangeiros (A)

Investimentos

 japoneses (B)

B/A

Mineração 76,7 8,8 11,5
Não-metálico 124,5 3,3 2,6
Siderurgia 143,8 62,5 4,,5
Metalurgia 216,6 9,5 4,4
Mecânica 234,0 43,5 18,6
Elétrico e Telecomunicação 335,8 17,4 5,2
Construção naval 35,4 28,5 80,5
Equipamento de transporte 636,5 14,3 2,2
Madeira 18,6 5,8 31,2
Celulose e papel 88,8 -- --
Borracha 116,3 2,5 --
Química e petroquímica 794,7 5,2 0,7
Fertilizantes 20,1 3,1 15,5
Farmacêuticos 197,2 0,4 0,2
Têxtil 122,6 28,6 23,4
Vestuário 18,1 3,1 17,2
Produtos alimentares 191,5 6,9 3,6
Outras indústrias 231,5 4,7 2,1
Servs. utilidade pública 190,9 -- --
Agricultura 31,7 3,3 10,5
Construção e imóveis 279,0 6,9 2,5
Finanças 186,9 33,5 18,0
Serviços técnicos 46,1 0,4 0,9
Tradind co. 173,4 28,2 16,3
Outros 68,2 0,3 6,9
Total (*) 4.579,2 318,3 7,0

Fonte: Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil

(*) O total acumulado não corresponde ao total das cifras redondas

Tabela 5:

Empresas japonesas instaladas no Brasil

 

Nº de empresas

Total acumulativo

Até 1959 45 45
1960-1969 52 97
1970 16 113
1971 13 126
1972 59 185
1973 120 305
1974 132 437
1975 78 515
1976 22 537

Fonte: Japan Overseas Enterprises Association Consulting

          - Escritório em São Paulo

Tabela 6:

Controle do capital japonês nas empresas nipônicas

 

Nº de empresas

% do total

100% 60 36,8
90% 76 46,6
80% 7 4,3
70% 2 1,2
60% 0 --
50% 3 1,8
40% 11 6,7
25% 4 2,5
Total: 163 100,0

Fonte: Dados colhidos da relação dos Membros da Câmara de Comércio e Indústria Japonesas do Brasil

Tabela 7:

Empresas japonesas nas

500 maiores sociedades anônimas do Brasil

1976
Classificação Nome da empresa
163 Siderúrgica Dedini
190 Ishikawajima do Brasil
323 Safron- Teijin Ind. Bras. de Fibras
398 Yanmar do Brasil
405 Karibe Ind. Com.
423 Furukawa Ind. Prod. Elétricos
480 CBC Inds. Pesadas
 
1969
Classificação Nome da empresa
201  Yanmar do Brasil
257 Ishikawajima do Brasil
367 Fiação e Tec. Kanebo
Fonte: FGV; Conjuntura Econômica, set. 1970 e set. 1977.

Tabela 8:

Participação das multinacionais nas 500 maiores empresas privadas brasileiras (1976)

  Nº de empresas Participação das 500 Nas vendas (%) das estrangeiras
E.U.A. 84 21,5 40,5
Alemanha 19 8,5 16,2
Holanda 14 5,8 11,2
Suíça 10 2,1 3,8
Japão 10 1,1 2,2
Itália 9 2,5 4,6
Argentina 7 2,3 4,5
Inglaterra 7 1,9 3,8
Canadá 6 2,9 5,4
Suécia 5 1,3 2,5
França 4 1,5 2,8
Bélgica 4 0,6 1,4
Outros 5 0,6 1,1
Fonte: Exame: Melhores e Maiores, 1977

Tabela 9:

Data de início de fabricação no Brasil por nacionalidade

Nacionalidade Antes de 1946 1946-1960 Depois de 1960 Total Nº de empresas
Americana 50% 38% 12% 100% (24)
Européia 37% 48% 15% 100% (27)
Japonesa 10% 30% 60% 100% (10)
Total 38% 41% 21% 100% (61)
Fonte: W. K. Brandt e J.M. Hubert, A Empresa Multinacional no Brasil, Zebran Editores, 1977, p. 40.

VI - Evolução da balança comercial Brasil-Japão

Comércio Brasil-Japão (US$ 1.000)
Ano Exportação (A) - FOB Importação (B) - CIF A-B
1958 41.874   27.201 14.773
1959 37.352   36.356 996
1960 47.736   32.795 12.941
1961 86.029   61.269 24.760
1962 43.558   40.076 3.482
1963 56.275   38.687 17.888
1964 29.019   37.190 -8.171
1965 26.556   49.573 -23.017
1966 44.017   60.602 -16.585
1967 54.556   85.633 -31.074
1968 102.069   87.118 14.951
1969 120.541   148.283 -27.742
1970 166.731   217.853 -51.122
1971 235.211   223.063 12.148
1972 395.337   249.403 145.934
1973 611.534   452.909 158.625
1974 1.389.057   657.185 731.872
1975 927.128   883.178 43.073
1976 881.630   818.557 63.073
1977 557.030

(1)

871.588 -314.558

(1) Os dados de 1977 referem-se ao período compreendido entre janeiro e novembro.

Fonte: Revista de Comércio Exterior do Ministério da Fazenda do Japão.

(N.E.: FOB - Frete a Bordo. CIF - Custo, Seguro e Frete)

A balança comercial Brasil-Japão sofre, quase que anualmente, grandes oscilações. Em 1961, refletindo o investimento maciço do Japão, aumentou consideravelmente a exportação japonesa ao Brasil de equipamentos de metalurgia, mineração, construção e motores elétricos, entre outros produtos. Por outro lado, cresceu de maneira espantosa a importação de açúcar, o que determinou também um incremento do comércio entre ambos os países, atingindo este um montante de US$ 150 milhões.

Num segundo período, iniciado em 1968, estimulada pela liberação das importações no Brasil, a venda de máquinas e equipamentos japoneses deu um grande salto, atingindo US$ 100 milhões, representando um recorde após a guerra. De outro lado, a importação de produtos brasileiros, principalmente minério de ferro e algodão, foi de US$ 87 milhões. Assim, o valor global das transações aproximou-se de US$ 200 milhões.

A terceira etapa, na década de 70, caracterizou-se por um constante incremento do intercâmbio comercial entre os dois países. Em 1974, atingiu a impressionante cifra de US$ 2 bilhões.

Ainda que o lado brasileiro tenha apresentado, paralelamente, uma tendência deficitária, a partir de 1976 o país encaminhou-se para uma situação de equilíbrio graças à restrição das importações e à política de contenção econômica, levada a cabo pelo ministro Roberto Simonsen.

Finalmente, em 1977, segundo dados oficiais japoneses, registrou-se um grande superávit a favor do Brasil.

Em termos estruturais, o Brasil envia ao Japão, principalmente, minério de ferro, algodão, açúcar não refinado, carne, soja e café. Por sua vez, o Japão exporta para o mercado brasileiro materiais de aço, máquinas e equipamentos e outros produtos manufaturados (v. quadro 2).

Um detalhe: ao se comparar os dados oficiais japoneses com aqueles fornecidos pelo Banco do Brasil S.A., surgem algumas discrepâncias. Isto porque no Japão esses informes são apurados através de alfândega, enquanto que no Brasil o levantamento é feito por meio das guias emitidas. Porém, não faltam aqueles que buscam uma aproximação entre ambas as fontes.

Quadro 2:

Produtos do Japão importados pelo Brasil

Mercadorias 1972 1973 1974 1975 1976
TOTAL 249.403 452.909 657.185 883.178 818.557
Alimentos 58.851 104.043 182.818 337.717 221.249
Carne 14.742 31.469 29.788 27.152 34.633
Peixe 6.981 5.706 4.208 1.998 53582
Milho -- 1.087 -- -- 5.622
Sorgo -- 1.405 319 -- --
Açúcar 18.056 19.292 100.566 260.259 57.843
Café e cacau -- 68.692 36.236 33.337 86.277
Matéria-prima ou têxtil 52.668 49.764 35.154 30.190 17.670
56 461 94 1.083 210
Algodão 46.599 35.143 18.841 22.858 9.153
Fios de seda -- 9.140 10.407 3.999 4.049
Matéria-prima de natureza mineral 103.861 152.993 269.400 396.766 452.764
Minérios de ferro 100.032 149.390 265.022 393.503 446.849
Sucata (ferro) 1 17 -- 1 3
Sucata (não-ferroso) 3.798 3.561 4.378 3.261 5.913
Outras matérias-primas 7.742 58.457 37.587 18.279 43.179
Couros crus 180 394 676 120 112
Soja 2.044 46.207 20.916 10.053 32.308
Madeira 445 1.179 2.461 1.329 1.855
Celulose -- 1 -- 17 --
Não-ferrosos 1.223 1.769 4.592 1.743 2.219
Combustível de natureza mineral 4.514 2.890 13.753 1 --
Carvão de pedra -- 1 -- -- --
Petróleo 1.276 -- -- -- --
Produtos petrolíferos 3.238 2.889 13.753 1 --
Produtos Químicos 1.315 8.847 23.659 16.702 20.719
Produtos Farmacêuticos 277 -- -- -- --
Máquinas e instrumentos 5.003 18.097 43.363 48.245 21.665
Materiais de escritório 917 17.691 42.791 47.376 20.370
Motores -- 16 4 10 894
Máquinas de fiação e tecelagem -- 46 52 1 1
Navios 3.927 -- -- -- --
Instrumentos de precisão -- 89 100 78 27
Outros 14.479 57.819 51.449 35.277 41.311
Produtos siderúrgicos 2.917 18.470 17.022 6.394 9.100
Produtos têxteis -- 12.237 8.744 7.623 15.682
Produtos não-metálicos 504 1.338 -- 1 --
Brinquedos -- 33 1 1 8

Quadro 3:

Exportação do Japão para o Brasil

Mercadorias 1972 1973 1974 1975 1976
TOTAL 395.337 611.534 1.389.057 927.128 881.630
Alimentos 472 787 566 940 616
Peixes e outros produtos marinhos 9 6 24 9 --
Produtos têxteis 14.595 14.707 34.644 15.690 14.969
Produtos sintéticos (fibra curta) 3.553 3.449 8.943 4.242 5.101
Fios sintéticos 4.720 4.698 6.179 729 443
Tecidos de algodão 6 -- 333 235 11
Tecidos de lã - -- -- 4 --
Tecidos de fios sintéticos 3.056 4.651 13.498 8.519 7.692
Tecidos de rayon 10 3 421 63 --
Fios de rayon 24 13 -- -- --
Malhas -- 179 159 24 14
Roupas 660 514 265 188 115
Produtos químicos 26.867 31.078 91.583 48.560 71.787
Fertilizantes 2.048 261 645 437 6.626
Produtos farmacêuticos -- 1.658 2.114 1.230 3.139
Plásticos 8.536 8.141 35.345 17.513 21.752
Produtos não-metálicos 5.738 11.368 14.879 10.115 11.251
Louças 97 120 202 133 33
Pérola 20 46 41 46 22
Produtos metálicos 76.204 170.299 566.535 370.170 199.129
Produtos siderúrgicos 59.856 151.907 513.460 345.011 166.552
Não metálicos -- 1.113 10.677 3.765 9.040
Produtos não metálicos 15.727 17.279 32.698 21.395 23.537
Máquinas e instrumentos 254.271 360.460 631.638 445.114 556.631
Motores -- 9.137 27.629 31.498 41.594
Materiais de escritório -- 29.416 35.663 32.236 40.813
Máquinas operatrizes -- 14.752 463577 43.250 30.707
Máquinas têxteis 5.126 9.883 28.423 16.445 4.425
Máquinas de costura 3.922 6.118 7.798 6.166 6.488
Rolamentos -- 8.016 12.065 13.065 10.755
Aparelhos elétricos pesados -- 6.112 19.387 13..983 17.621
Televisão 219 3.424 12.951 21.105 25.316
Rádio 2.172 5.635 7.297 9.865 13.606
Peças e acessórios eletrônicos -- 9.756 14.319 17.393 24.522
Automotrizes 343 1.653 403 451 11
Motocicleta 2.754 6.865 12.804 4.236 4.327
Navio 31.320 57.164 102.803 102 29.50
Aviões 117 -- -- -- --
Aparelhos científicos e óticos 11.964 15.383 14.653 20.795 23.561
Relógios -- 10.392 13.486 12.958 10.565
Fitas magnéticas 8.569 14.789 12.756 4.956 4.901
Outros 17.190 22.835 59.212 36.538 27.247
Chapas compensadas 68 78 172 138 125
Pneus e câmaras de ar -- 1.384 9.714 2.884 430
Chinelos -- 66 23 49 25
Brinquedos 690 560 1.294 1.058 819

Ainda que o intercâmbio entre o Brasil e o Japão tenha tomado rumos mais que satisfatórios, não deixaram de surgir problemas. A revista Indústria e Desenvolvimento, de janeiro de 1977, num artigo assinado por Victor Brunner (Samurais e Bandeirantes, Cooperação ou Confronto) aponta vários aspectos:

1) Examinando-se o intercâmbio comercial entre Brasil e Japão, pode-se perceber que o ponto nevrálgico localiza-se na balança comercial. "Só em 1968 o nosso déficit comercial representava cerca de 20% de nossas exportações (...) Portanto, decorridos oito anos a situação da balança comercial bilateral se deteriorou rapidamente com sucessivos e crescentes saldos negativos, cujo pico ocorreu em 1974".

2) "Em 1975, o Japão foi o nosso terceiro parceiro comercial, tendo absorvido 7,74% de nossas exportações gerais e respondido por 9,1% de nossas importações globais. Para o Japão, porém, representamos bem menos, pois, no mesmo ano, o Brasil absorveu 1,6% do total geral das exportações japonesas, e respondeu por 1,5% do total global das importações".

3) "A conjunção destes fatos ocasionou inevitável complementaridade comercial, em que fornecemos recursos naturais e produtos primários (90% da pauta) e importamos manufaturados (90% da pauta) com ênfase nos bens de capital. Por outro lado, enquanto nossas exportações para o Japão representam 405 itens, as nossas importações deste país são compostas por quase 3 mil. Presentemente, o Japão ocupa o primeiro ou o segundo lugar como consumidor dos seguintes produtos exportados pelo Brasil: minério de ferro, açúcar demerara em bruto, algodão em rama, carne eqüina congelada, camarão, cera de carnaúba e óleo de soja. Na realidade, o comportamento do comércio exterior nipo-brasileiro é um exemplo típico de relacionamento entre um país desenvolvido e outro, subdesenvolvido. Em outras palavras, não vendemos para o Japão; na realidade, somos comprados. Tal situação fica evidente ao se analisar os principais produtos exportados e importados. O fato de que somos comprados pode ser comprovado pela análise das recentes oportunidades comerciais divulgadas pela Cacex. O número e a qualidade delas não condiz, de forma alguma, com a importância deste país em relação às importações mundiais (é o terceiro maior importador e absorve mais de 7% das importações globais)".

4) "Porém - fato curioso - apesar de sermos exportadores, essencialmente, de produtos primários, ainda aparecemos como fornecedores marginais, perdendo de longe para os EUA, Canadá e Austrália, os quais vendem mais de 50% dos cereais comprados pelo Japão. Até o governo japonês tem procurado novas fontes supridoras, abrindo ótimas perspectivas para o Brasil".

5) "Uma das chaves para a expansão e diversificação das exportações brasileiras para o Japão é, sem dúvida, a função das trading companies (TCs) daquele país. Instaladas há vários anos no Brasil, as principais tradings japonesas estão participando ativamente de nosso comércio exterior; tudo, porém, parece indicar que seu objetivo prioritário é o de assegurar o suprimento de produtos primários para a economia japonesa. Nesta ótica, até que ponto é possível induzir as TCs a exportarem manufaturados para o Japão e outras regiões? De quem deve ser a iniciativa (das TCs ou do governo brasileiro)? Além disso, a empresa brasileira enfrenta sérias dificuldades para penetrar de forma direta no mercado japonês, devido às condições locais de comercialização. Outrossim, como podem nossas empresas concorrerem com as poderosas TCs? As alternativas mais sensatas parecem ser a associação em termos de comercialização externa ou deixar esta operação por conta das TCs".

Na resolução dos problemas expostos no item 4, relativos ao incremento das exportações brasileiras de produtos agrícolas para o Japão, esbarra-se em diversas dificuldades, assim colocadas pela Revista ID:

a) "A concorrência de países desenvolvidos é já tradicional naquele mercado.

b) "Preços não competitivos em termos internacionais, fato que pode ser analisado sob vários ângulos, entre eles, o custo de fretes internacionais e internos, armazenagem, sistemática interna de controles administrativos (através do registro prévio obrigatório, na Cacex, dos contratos de venda, cuja finalidade é, em média, de noventa dias), a existência do sistema de preços mínimos para os produtos agrícolas e a evolução das operações hedging no país.

c) "Qualidade (necessitamos manter um sistema de controle de qualidade para obter padrão internacional).

d) "Regularidade (é indispensável atender a demanda japonesa de forma contínua, para adquirir confiança)".

No que tange ao item 5, o Departamento de Comércio Exterior da Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, já em 1976, na solicitação dirigida às autoridades brasileiras, destacou o quanto o comércio brasileiro seria beneficiado, se fosse dado, às firmas de origem estrangeira dedicadas à exportação e importação, o mesmo tratamento que é dispensado às trading companies nacionais.

Os executivos japoneses afirmam que a contribuição de suas trading companies às exportações brasileiras é muito maior que aquela constante nos dados oficiais, e lamentam apenas que os números reais não apareçam exatamente porque os incentivos fiscais à exportação beneficiam principalmente as empresas nacionais, fundamentando tal argumentação.

[...]

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