Imagem: reprodução da capa da publicação
A imigração japonesa no Brasil
A modernização japonesa começou com a
queda do Shogunato de Tokugawa, propiciada pela Renovação Meiji, em 1867. Porém, já no século XVIII havia sido iniciado o processo de desintegração
da camada de camponeses, fomentada pela transformação das relações feudais de produção, desintegrando esta que desempenharia papel determinante no
impulso à emigração.
Dados os parcos frutos obtidos com a agricultura e mesmo com o artesanato doméstico, o camponês
japonês viu-se forçado a deslocar-se para a cidade, desempenhando ali funções meramente de subsistência. Como sói ocorrer nestes casos, os centros
urbanos não reuniam condições nem a infra-estrutura necessária para absorver grande massa humana, condenando parte dela à miséria.
Para quem havia ficado no campo, a situação também não era das melhores, desenvolvendo-se ali a
chamada arte da resistência.
A era dos Tokugawas se caracterizou pela existência de guerras internas mas os ciclos de fome
ocorridos nesse período produziram grande número de vítimas.
A revolução que derrubou, em 1867, o Shogunato dos Tokugawas foi realizada sob a direção de
samurais de baixa hierarquia e samurais desvinculados de suseranos, ajudados financeiramente por comerciantes abastados. Os camponeses, no entanto,
não tiveram a menor participação.
O INÍCIO
No período final do Shogunato dos Tokugawas, o Japão já
havia sido obrigado a firmar tratados comerciais com países do continente europeu e americano. Em conseqüência disso, saíram os primeiros emigrantes
modernos do país para a Ilha de Guam e as ilhas do Hawai, em 1868.
Este primeiro contingente foi formado principalmente por aqueles marginalizados do sistema
sócio-econômico, espalhados em grande número pelas cidades japonesas carentes de condições para absorver mão-de-obra. Tratavam-se de desempregados e
indigentes reunidos em Yokohama pelos agentes dos governos da Alemanha e Hawai.
Em 1869, cerca de 500 desocupados foram recolhidos na cidade de Tóquio e enviados para a
colonização de Hokaido.
Com o advento do governo de Meiji, foram anuladas as licenças de imigração. Procurando construir um
país total mente novo e moderno, o governo acabou com o tráfico de coolies, utilizando-se mesmo da coerção legal para tanto. Mas autorizou a
saída para o exterior daqueles que pudessem trabalhar livremente, apenas pelo período de um ano, o que praticamente coibia os contratos oferecidos
por outros países, sempre por um prazo maior.
Mesmo com as renovações do governo Meiji, não se pode conter o processo de desintegração do setor
camponês. O homem do campo, seja por não poder pagar os pesados tributos territoriais ou por outros motivos, acabava por vender suas terras e
dirigir-se para a cidade, onde o ritmo de industrialização ainda não era suficiente para absorver grandes contingentes populacionais. Assim, acabava
por somar-se ao grande número de desempregados já existente.
Face a tal situação, o governo viu-se obrigado a estimular, primeiro, a emigração para Hokaido e,
finalmente, para o exterior. Em 1884, foi assinado o Tratado de Navegação Japão-Hawai, através do qual reiniciou-se a emigração japonesa para o
Hawai.
Com a vitória japonesa na Guerra Sino-Japonesa, a revolução industrial progrediu rapidamente, mas
quase que nenhuma modificação se registrou na vida dos camponeses. Homens desempregados permaneceram na zona rural ou se integravam à camada pobre
dos centros urbanos e a emigração passou a funcionar como uma válvula de escape para o excesso populacional rural, principalmente para os jovens do
sexo masculino.
NO BRASIL...
Logo após a Guerra Russo-Japonesa, os imigrantes japoneses começaram a chegar ao Brasil. Em 1895,
foi assinado o tratado de comércio entre os dois países e, em 1897, uma das empresas de emigração existentes na época obteve um contrato pelo qual
se propunha a enviar 2 mil emigrantes trabalhadores para o Brasil, porém a crise cafeeira, ocorrida um ano antes, impediu a concretização da viagem.
Em 1905, o ministro Suguimura, chefe da legação japonesa no Brasil, informou a seu governo sobre as
necessidades de pessoal no Estado de São Paulo, incentivando a imigração japonesa. Um outro desbravador do caminho para a vinda de imigrantes
japoneses para o Brasil foi Ryu Mizuno, que fundou a Companhia Imperial de Imigração e, em 1907, obteve do governo do Estado de São Paulo a
autorização para o transporte de três mil emigrantes, em parcelas anuais de mil pessoas.
Assim, a 18 de junho de 1908, aportou em Santos o vapor japonês Kasato Maru, trazendo 165
famílias num total de 781 pessoas, abaixo do contingente estabelecido de mil imigrantes em função das exigências de imigração familiar, ou seja, um
mínimo de três pessoas capazes de trabalhar em cada uma das famílias aqui chegadas.
Estes emigrantes tencionavam trabalhar por alguns anos nas fazendas de café e obter uma poupança
para voltar às suas terras. Porém, sob o regime de mesadas então vigentes, tornava-se difícil tal poupança. No primeiro ano de Brasil, a colheita de
café foi ruim para os japoneses e o trabalho de três pessoas não alcançou a diária de um trabalhador de fazenda.
Apesar disso, a 28 de junho de 1910, chegaram a Santos 247 famílias japonesas, compreendendo 906
pessoas, trazidas pelo navio Ryokun-Maru. Como o contingente anterior, este foi destinado à região da Alta Mogiana.
Entre os anos de 1912 e 1914 foi registrada no porto de Santos a entrada de oito navios de
emigrantes japoneses, trazendo 13.289 pessoas, segundo dados estatísticos.
Ao imigrante japonês, desejoso de reunir dinheiro rapidamente para poder voltar a seu país,
indiferente à aquisição de terras e conseqüente sedimentação no Brasil, se ofereceu o trabalho de formador ou contratista de cafeeiro,
e da cultura de arroz, batata e, um pouco mais tarde, de algodão, sempre com vistas à comercialização realizada em prazos relativamente curtos em
terras arrendadas.
O primeiro trabalho de contratista realizado por imigrantes japoneses foi na região de Araraquara,
em 1912, onde o administrador da grande fazenda Guatapara comprou um extenso lote e formou sua própria fazenda, encarregando 40 famílias de
imigrantes japoneses de cuidar da formação de 400 mil cafeeiros. Foi daí que saíram os fundadores do primeiro núcleo de proprietários japoneses
plantadores de café, em 1918.
Uma outra corrente de imigrantes japoneses dirigiu-se para a região litorânea de São Paulo, nas
proximidades da Estrada de Ferro Santos-Juquiá, iniciando núcleos de cultivo de arroz e da banana. Uma terceira corrente
dirigiu-se para as proximidades de São Paulo a partir de 1913, dedicando-se à cultura da batata inglesa.
NÚCLEOS DE COLONIZAÇÃO
A região Noroeste de São Paulo, compreendida entre os rios Tietê e Peixe, começou a ser colonizada
em 1915, com a construção da Estrada de Ferro Noroeste.
Para o desbravamento e colonização da região foi elaborado um projeto de introdução de lavradores
independente, sendo fundada a Companhia de Terras, Madeiras e Colonização de São Paulo, que adquiriu do governo a região de Birigui. Em poucos anos,
imigrantes das mais diversas origens ali se estabeleceram. Os primeiros colonos japoneses a tomar parte do empreendimento foram 13 famílias que
chegaram à região em 1915, dando início à fundação do núcleo de pequenos produtores japoneses em Birigui. Simultaneamente a este, surgiu na região
do Noroeste outro núcleo, no local denominado Cafelândia.
Em fins de 1916, surgiu um terceiro tipo de colônia de imigrantes japoneses, na região litorânea de
São Paulo, à margem direita do Rio Ribeira de Iguape.
Estes núcleos, denominados shokuminchi, constituíam comunidades com seu próprio substrato,
estruturadas hierarquicamente.
Porém, foi entre os anos de 1925 e 1935 que a emigração japonesa no Brasil atingiu sua época
culminante, pois neste período ingressaram no País 139.059 pessoas daquela procedência. Ao contrário do primeiro período, no qual o governo
brasileiro subsidiara as vindas dos colonos, na época mencionada quem financiava as despesas da viagem era o governo japonês.
Entre 1935 e 1941, registrou-se uma sensível queda nas emigrações, em conseqüência da entrada em
vigência da Lei dos Dois por Cento, segundo a qual a quota de emigrantes foi fixada em 2.849 pessoas por ano.
Com a eclosão da II Guerra Mundial foi interrompido o fluxo de imigração. Até a guerra, as
principais companhias colonizadoras a atuar no Brasil foram a Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (Companhia Ultramarina de Empreendimentos S.A.);
a Fazenda Juqueri, no Município de Franco da Rocha; a Fazenda Hirano, em Cafelândia; a Fazenda Brejão e a Fazenda Vae-Bem,
na Alta Sorocabana; a Fazenda Vetsuka, em Promissão; a Sociedade Colonizadora do Brasil; a Nambei Taku Shoku K.K. (Sociedade
Colonizadora Sul-Americana S.A.); a Amazon Kogyo K.K. (Companhia Amazônica de Empreendimentos S. A.); a Fazenda Kôtaku (Escola
Superior de Colonização) e a Fazenda Ultramarina de Colonização, na Bacia Amazônica.
A emigração japonesa depois da guerra foi realizada em escala limitada. Desde então e até 1960,
37.444 japoneses vieram para o Brasil. A partir de 1961, em virtude do espantoso desenvolvimento da indústria japonesa, o fluxo imigratório diminuiu
ainda mais.
Depois da guerra, a colonização japonesa no Brasil foi realizada principalmente pela Fazenda da
JAMIC - Imigração e Colonização Ltda. e por outras fazendas particulares e núcleos coloniais, estaduais e federais.
De acordo com o Consulado Geral do Japão, o número de imigrantes japoneses entrados no Brasil a
partir de 1908:
EMIGRANTES JAPONESES ENTRADOS NO BRASIL |
1908 |
830 |
|
1943 |
-- |
1909 |
31 |
|
1944 |
-- |
1910 |
948 |
|
1945 |
-- |
1911 |
28 |
|
1946 |
6 |
1912 |
2.909 |
|
1947 |
1 |
1913 |
7.122 |
|
1948 |
1 |
1914 |
3.675 |
|
1949 |
4 |
1915 |
65 |
|
1950 |
33 |
1916 |
165 |
|
1951 |
106 |
1917 |
3.899 |
|
1952 |
261 |
1918 |
5.599 |
|
1953 |
1.928 |
1919 |
3.022 |
|
1954 |
3.119 |
1920 |
1.013 |
|
1955 |
4.051 |
1921 |
840 |
|
1956 |
4.912 |
1922 |
1.225 |
|
1957 |
6.147 |
1923 |
895 |
|
1958 |
6.586 |
1924 |
2.673 |
|
1959 |
7.123 |
1925 |
6.330 |
|
1960 |
7.746 |
1926 |
8.407 |
|
1961 |
6.824 |
1927 |
9.084 |
|
1962 |
3.257 |
1928 |
11.169 |
|
1963 |
2.124 |
1929 |
16.648 |
|
1964 |
1.138 |
1930 |
14.076 |
|
1965 |
903 |
1931 |
5.632 |
|
1966 |
937 |
1932 |
11.678 |
|
1967 |
1.070 |
1933 |
24.494 |
|
1968 |
597 |
1934 |
21.930 |
|
1969 |
496 |
1935 |
9.611 |
|
1970 |
435 |
1936 |
3.306 |
|
1971 |
452 |
1937 |
4.557 |
|
1972 |
352 |
1938 |
2.524 |
|
1973 |
492 |
1939 |
1.414 |
|
1974 |
239 |
1940 |
1.268 |
|
1975 |
254 |
1941 |
1.548 |
|
|
|
1942 |
-- |
|
Total: |
250.209 |
COLÔNIA JAPONESA DE HOJE
A colônia japonesa radicada atualmente (N.E.:
em 1978) no Brasil, segundo estimativa recente, é calculada em mais de 743.000 elementos. Desse
total, 150.000 aproximadamente são japoneses natos, deduzindo-se verificamos portanto a existência de um imigrante para quatro descendentes
brasileiros.
Da colônia, 76% residem no Estado de São Paulo, 18% no Paraná, 2,2% no Mato Grosso e 1,1% no Pará,
conforme a estatística seguinte:
Brasília |
5.363 |
|
Pernambuco |
666 |
São Paulo |
551.149 |
|
Paraíba |
16 |
Paraná |
137.102 |
|
R.G. do Norte |
51 |
Sta. Catarina |
1.458 |
|
Ceará |
49 |
R. G. do Sul |
2.702 |
|
Piauí |
25 |
Mato Grosso |
14.003 |
|
Maranhão |
303 |
Goiás |
5.618 |
|
Pará |
7.351 |
Minas Gerais |
5.242 |
|
Amapá |
208 |
Rio de Janeiro |
8.234 |
|
Amazonas |
1.620 |
Espírito Santo |
135 |
|
Roraima |
67 |
Bahia |
1.433 |
|
Acre |
44 |
Sergipe |
18 |
|
Rondônia |
90 |
Alagoas |
42 |
|
Total: |
742.989 |
As maiores concentrações estão na capital de São Paulo (200.000), Mogi das Cruzes (16.000),
Presidente Prudente (15.000), Marília (13.000), e nas demais cidades, como Lins, Araçatuba, Bastos, Suzano, Londrina, Assaí e Maringá etc.
Quanto às atividades, atualmente 50% da colônia dedicam-se à agricultura, 38% no comércio e 12% na
indústria. No momento da chegada ao Brasil, 94% dos emigrantes vinham para a agricultura. Desses, 77,9% empregavam-se como colonos, 12,6%
tornavam-se meeiros e 9,5% compravam terras.
Atualmente os dados mostram que 75,1% dos agricultores de origem japonesa são proprietários, 22,7%
meeiros e 2,2% colonos. A análise esclarece a capacidade de trabalho da colônia japonesa.
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Segundo pesquisa feita pela Associação Brasileira para Estudos Técnicos de Agricultura (Abeta), a
participação dos agricultores de origem japonesa na produção agrícola brasileira é a seguinte:
Café |
8,8% |
|
Ovos |
43,8% |
Algodão |
13,7% |
|
Hortelã |
90,0% |
Bicho da Seda |
80,0% |
|
Chá |
94,1% |
Batatinha |
71,0% |
|
Morango |
90,0% |
Tomate |
58,1% |
|
Pêssego |
21,2% |
Pimenta do Reino |
81,0% |
|
Rami |
91,7% |
Soja |
60,0% |
|
Kiri |
80,0% |
No Estado de São Paulo, os agricultores de origem japonesa que correspondem menos de 10% da
população agrícola, do mesmo Estado, produzem aproximadamente 30%, constituindo uma contribuição espantosa. |