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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SAGA NIPÔNICA
Os primeiros 70 anos

A história, em um álbum comemorativo de 1978...

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Quando se comemorou o 70º aniversário da chegada a Santos da primeira leva de imigrantes japoneses, foi editado um álbum especial pela Editora Cultura Brasileira, da capital paulista, coordenado pelo editor Massao Ohno. Desse álbum, "70 anos de imigração japonesa no Brasil", consta esta história:

 


Imagem: reprodução da capa da publicação

A imigração japonesa no Brasil

A modernização japonesa começou com a queda do Shogunato de Tokugawa, propiciada pela Renovação Meiji, em 1867. Porém, já no século XVIII havia sido iniciado o processo de desintegração da camada de camponeses, fomentada pela transformação das relações feudais de produção, desintegrando esta que desempenharia papel determinante no impulso à emigração.

Dados os parcos frutos obtidos com a agricultura e mesmo com o artesanato doméstico, o camponês japonês viu-se forçado a deslocar-se para a cidade, desempenhando ali funções meramente de subsistência. Como sói ocorrer nestes casos, os centros urbanos não reuniam condições nem a infra-estrutura necessária para absorver grande massa humana, condenando parte dela à miséria.

Para quem havia ficado no campo, a situação também não era das melhores, desenvolvendo-se ali a chamada arte da resistência.

A era dos Tokugawas se caracterizou pela existência de guerras internas mas os ciclos de fome ocorridos nesse período produziram grande número de vítimas.

A revolução que derrubou, em 1867, o Shogunato dos Tokugawas foi realizada sob a direção de samurais de baixa hierarquia e samurais desvinculados de suseranos, ajudados financeiramente por comerciantes abastados. Os camponeses, no entanto, não tiveram a menor participação.

O INÍCIO

No período final do Shogunato dos Tokugawas, o Japão já havia sido obrigado a firmar tratados comerciais com países do continente europeu e americano. Em conseqüência disso, saíram os primeiros emigrantes modernos do país para a Ilha de Guam e as ilhas do Hawai, em 1868.

Este primeiro contingente foi formado principalmente por aqueles marginalizados do sistema sócio-econômico, espalhados em grande número pelas cidades japonesas carentes de condições para absorver mão-de-obra. Tratavam-se de desempregados e indigentes reunidos em Yokohama pelos agentes dos governos da Alemanha e Hawai.

Em 1869, cerca de 500 desocupados foram recolhidos na cidade de Tóquio e enviados para a colonização de Hokaido.

Com o advento do governo de Meiji, foram anuladas as licenças de imigração. Procurando construir um país total mente novo e moderno, o governo acabou com o tráfico de coolies, utilizando-se mesmo da coerção legal para tanto. Mas autorizou a saída para o exterior daqueles que pudessem trabalhar livremente, apenas pelo período de um ano, o que praticamente coibia os contratos oferecidos por outros países, sempre por um prazo maior.

Mesmo com as renovações do governo Meiji, não se pode conter o processo de desintegração do setor camponês. O homem do campo, seja por não poder pagar os pesados tributos territoriais ou por outros motivos, acabava por vender suas terras e dirigir-se para a cidade, onde o ritmo de industrialização ainda não era suficiente para absorver grandes contingentes populacionais. Assim, acabava por somar-se ao grande número de desempregados já existente.

Face a tal situação, o governo viu-se obrigado a estimular, primeiro, a emigração para Hokaido e, finalmente, para o exterior. Em 1884, foi assinado o Tratado de Navegação Japão-Hawai, através do qual reiniciou-se a emigração japonesa para o Hawai.

Com a vitória japonesa na Guerra Sino-Japonesa, a revolução industrial progrediu rapidamente, mas quase que nenhuma modificação se registrou na vida dos camponeses. Homens desempregados permaneceram na zona rural ou se integravam à camada pobre dos centros urbanos e a emigração passou a funcionar como uma válvula de escape para o excesso populacional rural, principalmente para os jovens do sexo masculino.

NO BRASIL...

Logo após a Guerra Russo-Japonesa, os imigrantes japoneses começaram a chegar ao Brasil. Em 1895, foi assinado o tratado de comércio entre os dois países e, em 1897, uma das empresas de emigração existentes na época obteve um contrato pelo qual se propunha a enviar 2 mil emigrantes trabalhadores para o Brasil, porém a crise cafeeira, ocorrida um ano antes, impediu a concretização da viagem.

Em 1905, o ministro Suguimura, chefe da legação japonesa no Brasil, informou a seu governo sobre as necessidades de pessoal no Estado de São Paulo, incentivando a imigração japonesa. Um outro desbravador do caminho para a vinda de imigrantes japoneses para o Brasil foi Ryu Mizuno, que fundou a Companhia Imperial de Imigração e, em 1907, obteve do governo do Estado de São Paulo a autorização para o transporte de três mil emigrantes, em parcelas anuais de mil pessoas.

Assim, a 18 de junho de 1908, aportou em Santos o vapor japonês Kasato Maru, trazendo 165 famílias num total de 781 pessoas, abaixo do contingente estabelecido de mil imigrantes em função das exigências de imigração familiar, ou seja, um mínimo de três pessoas capazes de trabalhar em cada uma das famílias aqui chegadas.

Estes emigrantes tencionavam trabalhar por alguns anos nas fazendas de café e obter uma poupança para voltar às suas terras. Porém, sob o regime de mesadas então vigentes, tornava-se difícil tal poupança. No primeiro ano de Brasil, a colheita de café foi ruim para os japoneses e o trabalho de três pessoas não alcançou a diária de um trabalhador de fazenda.

Apesar disso, a 28 de junho de 1910, chegaram a Santos 247 famílias japonesas, compreendendo 906 pessoas, trazidas pelo navio Ryokun-Maru. Como o contingente anterior, este foi destinado à região da Alta Mogiana.

Entre os anos de 1912 e 1914 foi registrada no porto de Santos a entrada de oito navios de emigrantes japoneses, trazendo 13.289 pessoas, segundo dados estatísticos.

Ao imigrante japonês, desejoso de reunir dinheiro rapidamente para poder voltar a seu país, indiferente à aquisição de terras e conseqüente sedimentação no Brasil, se ofereceu o trabalho de formador ou contratista de cafeeiro, e da cultura de arroz, batata e, um pouco mais tarde, de algodão, sempre com vistas à comercialização realizada em prazos relativamente curtos em terras arrendadas.

O primeiro trabalho de contratista realizado por imigrantes japoneses foi na região de Araraquara, em 1912, onde o administrador da grande fazenda Guatapara comprou um extenso lote e formou sua própria fazenda, encarregando 40 famílias de imigrantes japoneses de cuidar da formação de 400 mil cafeeiros. Foi daí que saíram os fundadores do primeiro núcleo de proprietários japoneses plantadores de café, em 1918.

Uma outra corrente de imigrantes japoneses dirigiu-se para a região litorânea de São Paulo, nas proximidades da Estrada de Ferro Santos-Juquiá, iniciando núcleos de cultivo de arroz e da banana. Uma terceira corrente dirigiu-se para as proximidades de São Paulo a partir de 1913, dedicando-se à cultura da batata inglesa.

NÚCLEOS DE COLONIZAÇÃO

A região Noroeste de São Paulo, compreendida entre os rios Tietê e Peixe, começou a ser colonizada em 1915, com a construção da Estrada de Ferro Noroeste.

Para o desbravamento e colonização da região foi elaborado um projeto de introdução de lavradores independente, sendo fundada a Companhia de Terras, Madeiras e Colonização de São Paulo, que adquiriu do governo a região de Birigui. Em poucos anos, imigrantes das mais diversas origens ali se estabeleceram. Os primeiros colonos japoneses a tomar parte do empreendimento foram 13 famílias que chegaram à região em 1915, dando início à fundação do núcleo de pequenos produtores japoneses em Birigui. Simultaneamente a este, surgiu na região do Noroeste outro núcleo, no local denominado Cafelândia.

Em fins de 1916, surgiu um terceiro tipo de colônia de imigrantes japoneses, na região litorânea de São Paulo, à margem direita do Rio Ribeira de Iguape.

Estes núcleos, denominados shokuminchi, constituíam comunidades com seu próprio substrato, estruturadas hierarquicamente.

Porém, foi entre os anos de 1925 e 1935 que a emigração japonesa no Brasil atingiu sua época culminante, pois neste período ingressaram no País 139.059 pessoas daquela procedência. Ao contrário do primeiro período, no qual o governo brasileiro subsidiara as vindas dos colonos, na época mencionada quem financiava as despesas da viagem era o governo japonês.

Entre 1935 e 1941, registrou-se uma sensível queda nas emigrações, em conseqüência da entrada em vigência da Lei dos Dois por Cento, segundo a qual a quota de emigrantes foi fixada em 2.849 pessoas por ano.

Com a eclosão da II Guerra Mundial foi interrompido o fluxo de imigração. Até a guerra, as principais companhias colonizadoras a atuar no Brasil foram a Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (Companhia Ultramarina de Empreendimentos S.A.); a Fazenda Juqueri, no Município de Franco da Rocha; a Fazenda Hirano, em Cafelândia; a Fazenda Brejão e a Fazenda Vae-Bem, na Alta Sorocabana; a Fazenda Vetsuka, em Promissão; a Sociedade Colonizadora do Brasil; a Nambei Taku Shoku K.K. (Sociedade Colonizadora Sul-Americana S.A.); a Amazon Kogyo K.K. (Companhia Amazônica de Empreendimentos S. A.); a Fazenda Kôtaku (Escola Superior de Colonização) e a Fazenda Ultramarina de Colonização, na Bacia Amazônica.

A emigração japonesa depois da guerra foi realizada em escala limitada. Desde então e até 1960, 37.444 japoneses vieram para o Brasil. A partir de 1961, em virtude do espantoso desenvolvimento da indústria japonesa, o fluxo imigratório diminuiu ainda mais.

Depois da guerra, a colonização japonesa no Brasil foi realizada principalmente pela Fazenda da JAMIC - Imigração e Colonização Ltda. e por outras fazendas particulares e núcleos coloniais, estaduais e federais.

De acordo com o Consulado Geral do Japão, o número de imigrantes japoneses entrados no Brasil a partir de 1908:

EMIGRANTES JAPONESES ENTRADOS NO BRASIL

1908

830

 

1943

--

1909

31

 

1944

--

1910

948

 

1945

--

1911

28

 

1946

6

1912

2.909

 

1947

1

1913

7.122

 

1948

1

1914

3.675

 

1949

4

1915

65

 

1950

33

1916

165

 

1951

106

1917

3.899

 

1952

261

1918

5.599

 

1953

1.928

1919

3.022

 

1954

3.119

1920

1.013

 

1955

4.051

1921

840

 

1956

4.912

1922

1.225

 

1957

6.147

1923

895

 

1958

6.586

1924

2.673

 

1959

7.123

1925

6.330

 

1960

7.746

1926

8.407

 

1961

6.824

1927

9.084

 

1962

3.257

1928

11.169

 

1963

2.124

1929

16.648

 

1964

1.138

1930

14.076

 

1965

903

1931

5.632

 

1966

937

1932

11.678

 

1967

1.070

1933

24.494

 

1968

597

1934

21.930

 

1969

496

1935

9.611

 

1970

435

1936

3.306

 

1971

452

1937

4.557

 

1972

352

1938

2.524

 

1973

492

1939

1.414

 

1974

239

1940

1.268

 

1975

254

1941

1.548

 

 

 

1942

-- 

 

Total:

250.209

COLÔNIA JAPONESA DE HOJE

A colônia japonesa radicada atualmente (N.E.: em 1978) no Brasil, segundo estimativa recente, é calculada em mais de 743.000 elementos. Desse total, 150.000 aproximadamente são japoneses natos, deduzindo-se verificamos portanto a existência de um imigrante para quatro descendentes brasileiros.

Da colônia, 76% residem no Estado de São Paulo, 18% no Paraná, 2,2% no Mato Grosso e 1,1% no Pará, conforme a estatística seguinte:

Brasília

5.363

 

Pernambuco

666

São Paulo

551.149

 

Paraíba

16

Paraná

137.102

 

R.G. do Norte

51

Sta. Catarina

1.458

 

Ceará

49

R. G. do Sul

2.702

 

Piauí

25

Mato Grosso

14.003

 

Maranhão

303

Goiás

5.618

 

Pará

7.351

Minas Gerais

5.242

 

Amapá

208

Rio de Janeiro

8.234

 

Amazonas

1.620

Espírito Santo

135

 

Roraima

67

Bahia

1.433

 

Acre

44

Sergipe

18

 

Rondônia

90

Alagoas

42

 

Total:

742.989

As maiores concentrações estão na capital de São Paulo (200.000), Mogi das Cruzes (16.000), Presidente Prudente (15.000), Marília (13.000), e nas demais cidades, como Lins, Araçatuba, Bastos, Suzano, Londrina, Assaí e Maringá etc.

Quanto às atividades, atualmente 50% da colônia dedicam-se à agricultura, 38% no comércio e 12% na indústria. No momento da chegada ao Brasil, 94% dos emigrantes vinham para a agricultura. Desses, 77,9% empregavam-se como colonos, 12,6% tornavam-se meeiros e 9,5% compravam terras.

Atualmente os dados mostram que 75,1% dos agricultores de origem japonesa são proprietários, 22,7% meeiros e 2,2% colonos. A análise esclarece a capacidade de trabalho da colônia japonesa.

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Segundo pesquisa feita pela Associação Brasileira para Estudos Técnicos de Agricultura (Abeta), a participação dos agricultores de origem japonesa na produção agrícola brasileira é a seguinte:

Café

8,8%

 

Ovos

43,8%

Algodão

13,7%

 

Hortelã

90,0%

Bicho da Seda

80,0%

 

Chá

94,1%

Batatinha

71,0%

 

Morango

90,0%

Tomate

58,1%

 

Pêssego

21,2%

Pimenta do Reino

81,0%

 

Rami

91,7%

Soja

60,0%

 

Kiri

80,0%

No Estado de São Paulo, os agricultores de origem japonesa que correspondem menos de 10% da população agrícola, do mesmo Estado, produzem aproximadamente 30%, constituindo uma contribuição espantosa.

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