Se o projeto fosse aprovado, poderia ser usado o tratamento "senhor"
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
CÂMARA
Termo "excelência" é mantido
Da redação
Monarquia brasileira, hábitos de tratamento pessoal e
rock nacional. Por quase duas horas, a discussão sobre o projeto que dispensa os vereadores de utilizar o termo excelência quando se
referirem uns aos outros suscitou temas os mais díspares. No final, a votação decretou que a maior parte dos parlamentares quer a continuação da
exigência. A matéria foi rejeitada por 8 votos a 3.
O projeto, de autoria do petista Reinaldo Martins, tinha o objetivo e permitir aos
parlamentares se referirem a um companheiro apenas como senhor. "Vivemos numa República e devemos acabar com esses resquícios monárquicos,
que dão a impressão de que um vereador é melhor que qualquer cidadão", disse.
A polêmica foi instaurada quando Cassandra Maroni (PT) se disse indignada com a defesa
do termo mais formal por alguns colegas de Legislativo. "Fiquei passada de ver aqui esta alma elitista revelada". Então ela citou a música Vossa
Excelência, do grupo de rock Titãs, em cuja letra os políticos são chamados de corruptos e bandidos, além de serem alvos de palavrões.
Irritado, Benedito Furtado (PSB) disse não admitir ser jogado na mesma "vala comum"
que os criminosos. "Quantos quilos de maconha foram fumados ou litros de cachaça bebidos para escrever essa obra-prima?", indagou.
O vereador Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB) citou os versos A tua piscina está
cheia de ratos/Tuas idéias não correspondem aos fatos, de O tempo não pára, de Cazuza. "A piscina do PT está cheia de ratos, após tantas
denúncias", provocou.
Cassandra replicou – mantendo-se no campo musical – também com uma composição do
cantor já falecido. E emendou os versos Vamos pedir piedade/Senhor, Piedade/Pra essa gente careta e covarde, de Blues da Piedade.
Inútil – O ataque ao projeto continuou. "Não traz nenhum benefício à
população", argumentou o líder governista, Manoel Constantino (PMDB). Braz Antunes (PPS) concordou: "Considero que, quando alguém me trata dessa
forma, está se referindo à minha atividade de vereador".
"Se era uma proposta inútil, como alguns disseram aqui, por que todos os vereadores se
inscreveram para falar?", alfinetou Reinaldo, após uma hora e quarenta e seis minutos de discussão. Ao final, somente a bancada petista votou
favoravelmente à matéria. Cassandra ainda fez uma última ironia. Indagada se votava "sim" ou "não", respondeu: "Sim, excelência". |