Imagem: reprodução parcial da matéria original
A falta de gasolina
A The Texas Company recusa-se a suprir convenientemente a nossa praça - As providências do
governador da cidade
Como é notório, há dias já, a nossa praça luta com sérios embaraços para fornecer gasolina a
automóveis e lanchas, tornando-se essa situação insustentável, pois de um momento para outro pode produzir a paralisação completa do tráfego
terrestre e marítimo.
Para que essa anomalia não persista, o sr. coronel Joaquim Montenegro,
governador da cidade, solicitou uma conferência com os agentes das companhias Standard Oil e Texas, que são as principais fornecedoras desse
combustível.
O representante da Standard declarou ao chefe do executivo não ter elementos para atenuar a
situação, por não dispor nem de uma caixa, sequer, em depósito.
O agente da Texas, entretanto, depois de alguma relutância e de consultar os diretores da empresa,
em S. Paulo, resolveu vender à Prefeitura 200 caixas de gasolina, das 13.500 que havia em depósito, em Santos.
O sr. prefeito, de posse desse combustível, mandou recolhê-lo ao Almoxarifado Municipal,
revendendo-o aos respectivos consumidores eqüitativamente, na expectativa de que a situação melhorasse, visto como a Standard aguardava, dentro de
poucos dias, a entrada de um vapor em que lhe vem consignado um carregamento de 25.000 caixas de gasolina.
Convém notar que essa companhia é a maior fornecedora desse combustível à nossa praça, e que, além
dessa e da companhia Texas, a firma Wilson, Sons & C. também o fornece, por sua vez, a embarcações.
Mas, voltando ao assunto: o estoque de 200 caixas esgotou-se rapidamente, e a mesma difícil
situação vem novamente à baila, desta vez, porém, com cores mais carregadas.
Há em Santos para mais de 450 automóveis, entre oficiais, particulares e de aluguel, inclusive os
auto-caminhões. Esses veículos, conjuntamente com as lanchas, pequenas embarcações e motores movidos a gasolina, consomem, em média, cerca de 200
caixas, diariamente, desse precioso produto.
Como podia a Prefeitura, apesar de sua reconhecida boa vontade em intervir no mercado, remediar
essa situação, com um depósito de apenas 200 caixas, fornecidas pela Texas, a única companhia que presentemente possui um bom estoque?
Por esse motivo, o sr. coronel Joaquim Montenegro solicitou ontem, do representante da Texas nesta
cidade, a venda de uma nova partida, a fim de amenizar a situação.
A intervenção do sr. prefeito não produziu, desde logo, resultado satisfatório, porque aquele
representante se recusou a atender à solicitação, sob o pretexto de que carecia da autorização dos diretores da empresa.
Em vista disso, o governador da cidade enviou um telegrama ao superintendente da The Texas Company,
no Rio, pedindo autorizar a agência, nesta cidade, a dispor do produto, ante a ameaça da paralisação do tráfego e de que virá acarretar sérios
prejuízos e transtornos ao comércio e à indústria, por falta desse meio de transporte.
É de admirar que uma empresa que possui para o consumo local um estoque de cerca de 13.000 caixas
de gasolina, feche em seus armazéns esse combustível, reduzindo consideravelmente a venda.
De passagem, vem a propósito salientar que o preço da gasolina, já bastante elevado, pois era, até
ontem, de 35$600 a caixa, teve um aumento de mais 2$000, e tende a crescer até que a situação se normalize, porque a Texas imporá os preços que
estiverem ao seu sabor, sem receio de concorrência.
Essa atitude da Texas tem despertado os mais sérios reparos, sendo visível a ganância do lucro
neste momento, quando é certo que ela, sem prejuízo para os seus interesses e com vantagem para o tráfego de automóveis, poderia dispor de uma boa
parte do combustível, atendendo não só à conveniência pública, como ao apelo que a autoridade executiva municipal fez.
Como vêem os leitores, a situação atual se nos afigura, como a todos, muitíssimo embaraçosa, quando
poderia ter uma solução satisfatória, se não fosse os inconfessáveis propósitos da The Texas Company.
Aguardamos, porém, a resposta do superintendente dessa empresa ao telegrama do sr. coronel Joaquim
Montenegro, e confiamos na ação de s. s., sempre solícito na defesa dos interesses da população.
Não há razão para a alta da gasolina - No Rio estão
armazenadas 38.991 caixas
RIO, 26 - Não deve influir nos mercados de gasolina e
querosene o incêndio na Ilha do Caju. Mesmo que se houvesse inutilizado todo o estoque ali existente, seriam apenas queimadas 9.425 caixas daquele
combustível, sendo 9.554 de querosene e as restantes de gasolina.
Sendo a existência desses combustíveis, nos principais
depósitos de inflamáveis, de 111.134 caixas, das quais 60.284 de querosene e 40.806 de gasolina, restam ainda no mercado, na pior das hipóteses,
101.721 caixas, sendo 52.730 de petróleo e 38.991 de gasolina, segundo informa a Superintendência do Abastecimento.
(N.E.: notada a diferença nas contas de 10 mil caixas, ou pelo menos 575 caixas, descontada a perda no
sinistro carioca). |