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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
No tempo das caixas de gasolina

Criticava-se a especulação estrangeira que fazia combustível faltar na cidade

Nos primeiros anos do século XX, a gasolina e o querosene consumidos pelos ainda poucos automóveis que circulavam em Santos eram importados por via marítima e chegavam em caixas. Não havia produção nacional e refinarias no país, e assim era possível provocar especulativamente a falta e a alta de preço desses combustíveis. E quem intervinha era a Prefeitura, como demonstra esta matéria publicada no jornal santista A Tribuna em 27 de novembro de 1920, um sábado (ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da matéria original

A falta de gasolina

A The Texas Company recusa-se a suprir convenientemente a nossa praça - As providências do governador da cidade

Como é notório, há dias já, a nossa praça luta com sérios embaraços para fornecer gasolina a automóveis e lanchas, tornando-se essa situação insustentável, pois de um momento para outro pode produzir a paralisação completa do tráfego terrestre e marítimo.

Para que essa anomalia não persista, o sr. coronel Joaquim Montenegro, governador da cidade, solicitou uma conferência com os agentes das companhias Standard Oil e Texas, que são as principais fornecedoras desse combustível.

O representante da Standard declarou ao chefe do executivo não ter elementos para atenuar a situação, por não dispor nem de uma caixa, sequer, em depósito.

O agente da Texas, entretanto, depois de alguma relutância e de consultar os diretores da empresa, em S. Paulo, resolveu vender à Prefeitura 200 caixas de gasolina, das 13.500 que havia em depósito, em Santos.

O sr. prefeito, de posse desse combustível, mandou recolhê-lo ao Almoxarifado Municipal, revendendo-o aos respectivos consumidores eqüitativamente, na expectativa de que a situação melhorasse, visto como a Standard aguardava, dentro de poucos dias, a entrada de um vapor em que lhe vem consignado um carregamento de 25.000 caixas de gasolina.

Convém notar que essa companhia é a maior fornecedora desse combustível à nossa praça, e que, além dessa e da companhia Texas, a firma Wilson, Sons & C. também o fornece, por sua vez, a embarcações.

Mas, voltando ao assunto: o estoque de 200 caixas esgotou-se rapidamente, e a mesma difícil situação vem novamente à baila, desta vez, porém, com cores mais carregadas.

Há em Santos para mais de 450 automóveis, entre oficiais, particulares e de aluguel, inclusive os auto-caminhões. Esses veículos, conjuntamente com as lanchas, pequenas embarcações e motores movidos a gasolina, consomem, em média, cerca de 200 caixas, diariamente, desse precioso produto.

Como podia a Prefeitura, apesar de sua reconhecida boa vontade em intervir no mercado, remediar essa situação, com um depósito de apenas 200 caixas, fornecidas pela Texas, a única companhia que presentemente possui um bom estoque?

Por esse motivo, o sr. coronel Joaquim Montenegro solicitou ontem, do representante da Texas nesta cidade, a venda de uma nova partida, a fim de amenizar a situação.

A intervenção do sr. prefeito não produziu, desde logo, resultado satisfatório, porque aquele representante se recusou a atender à solicitação, sob o pretexto de que carecia da autorização dos diretores da empresa.

Em vista disso, o governador da cidade enviou um telegrama ao superintendente da The Texas Company, no Rio, pedindo autorizar a agência, nesta cidade, a dispor do produto, ante a ameaça da paralisação do tráfego e de que virá acarretar sérios prejuízos e transtornos ao comércio e à indústria, por falta desse meio de transporte.

É de admirar que uma empresa que possui para o consumo local um estoque de cerca de 13.000 caixas de gasolina, feche em seus armazéns esse combustível, reduzindo consideravelmente a venda.

De passagem, vem a propósito salientar que o preço da gasolina, já bastante elevado, pois era, até ontem, de 35$600 a caixa, teve um aumento de mais 2$000, e tende a crescer até que a situação se normalize, porque a Texas imporá os preços que estiverem ao seu sabor, sem receio de concorrência.

Essa atitude da Texas tem despertado os mais sérios reparos, sendo visível a ganância do lucro neste momento, quando é certo que ela, sem prejuízo para os seus interesses e com vantagem para o tráfego de automóveis, poderia dispor de uma boa parte do combustível, atendendo não só à conveniência pública, como ao apelo que a autoridade executiva municipal fez.

Como vêem os leitores, a situação atual se nos afigura, como a todos, muitíssimo embaraçosa, quando poderia ter uma solução satisfatória, se não fosse os inconfessáveis propósitos da The Texas Company.

Aguardamos, porém, a resposta do superintendente dessa empresa ao telegrama do sr. coronel Joaquim Montenegro, e confiamos na ação de s. s., sempre solícito na defesa dos interesses da população.

Não há razão para a alta da gasolina - No Rio estão armazenadas 38.991 caixas

 

RIO, 26 - Não deve influir nos mercados de gasolina e querosene o incêndio na Ilha do Caju. Mesmo que se houvesse inutilizado todo o estoque ali existente, seriam apenas queimadas 9.425 caixas daquele combustível, sendo 9.554 de querosene e as restantes de gasolina.

 

Sendo a existência desses combustíveis, nos principais depósitos de inflamáveis, de 111.134 caixas, das quais 60.284 de querosene e 40.806 de gasolina, restam ainda no mercado, na pior das hipóteses, 101.721 caixas, sendo 52.730 de petróleo e 38.991 de gasolina, segundo informa a Superintendência do Abastecimento. (N.E.: notada a diferença nas contas de 10 mil caixas, ou pelo menos 575 caixas, descontada a perda no sinistro carioca).

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