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NAVIO FANTASMA NO ESTUÁRIO DE SANTOS - O caso do Rio das Antas, em
Recife, teve uma repetição neste porto e, segundo o que soubemos, um outro navio fantasma assombra Porto Alegre.
O de Santos surgiu lá do lado do rio Sandi e já faz tempo. Trata-se do Cananéia,
que fazia a linha Itajaí ao Rio, e que acabou se enterrando no mangue àquela altura do estuário, dizem que por motivo de dar a sua atividade
prejuízo aos armadores.
Há cerca de sete meses jaz, ali, o barco cada vez mais se tornando ferrugem e cada vez
mais se destruindo pelo abandono a que foi relegado. Quando a companhia armadora tomou a resolução de encostar o Cananéia do outro lado do
canal, fê-lo com os seus 16 tripulantes, inclusive o comandante.
Mas, naturalmente, uma companhia que tem prejuízos, fica também apertada para poder
pagar o seu pessoal, e aconteceu que um a um os membros da equipagem foram deixando a embarcação, pagos ou não, até que só ficou a bordo um moço de
convés, Jair Santana, tornado vigia do navio fantasma.
Aconteceu que este, igualmente, não recebendo os seus salários, ficou sem meios de
subsistência a bordo, e embora com atrasados que já vão a muitos cruzeiros, acredita que se não abandonar o Cananéia poderá ainda recebê-los.
Como não tinha mais meios de pagar o aluguel de casa para sua mulher, levou-a para o navio, onde, porém, subsiste o problema da alimentação para os
dois.
Só de alimentação? O casal também não tem água, fora a que recolhe das chuvas. Sem
água e sem alimentos, lá está vivendo da esperança de que o pagamento chegue, e com isso aumenta ainda mais o número dos espectros de bordo,
assaltados de noite pelos mosquitos do mangue.
Um gato preto, que era a mascote do Cananéia, como que sublinha o quadro de
pavor, de onde emergem, apenas, para iluminar um pouco o ambiente de desolação de bordo, as cores da bandeira paulista, pintadas na chaminé. Estas
cores, sempre, querem dizer prosperidade. Por quê, agora, o contrário?
- No cliché, aspectos de bordo do Cananéia: um
escaler quebrado, com a lona que o cobria, rasgada; o gato que preenche a desolação do barco com a negrura do seu pelo; a inquilina clandestina
pondo roupas a secar; e por último o Cananéia, abandonado no mangue.
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